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As Pimentas na Historia
                       A origem da palavra “pimenta” está diretamente ligada ao comercio de especiarias entre o oriente e a Europa durante a idade média.  O nome provêm do latim pigmentum (de pingere, tingir), que no espanhol tomou a forma pimienta. O seu sentido originariamente era de "matéria corante", passando depois a ter o de "especiaria aromática".                       
                    As principais especiarias (as pigmenta, plural de pigmentum) eram o gengibre, o açafrão, a canela, o cominho, a noz-moscada, a cânfora, o cravo, o cinamomo, e esses picantes grãozinhos pretos que eram os mais procurados e mais valiosos de todos, tanto que o termo pigmentum que antes era usado para todas as especiarias passou a ser uma referência exclusiva à pimenta preta, que chamamos de pimenta do reino porque o Brasil colônia a importava de Portugal.
                         Mas as rotas comerciais que levavam as especiarias para a Europa foram interrompidas com a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453. O preço da pimenta disparou e urgia descobrir um novo caminho até as Índias, assim, Portugal e Espanha lançaram-se ao mar nessa empreitada.
                        E decorria a ano de 1492 quando o famoso navegador genoves Cristóvão Colombo, a procura da nova rota, aporta nas Américas em nome dos Reis da Espanha.  Tudo era novidade, e a partir daí o mundo iria conhecer muitas plantas que iriam modificar radicalmente os hábitos de todos os povos do mundo, como a batata, o milho, o cacau, o fumo, o algodão, o tomate, a abóbora, o abacaxi, o abacate e tantas outras, que embarcadas nas caravelas começaram a viajar pelo planeta. Entre elas estavam as PIMENTAS!!!   Sim, as nossas vermelhinhas tão conhecidas de todos. Eu daria tudo para ver a cara de surpresa dos primeiros europeus a provarem os apetitosos frutinhos, que logo depois de mordidos, transformavam suas bocas em uma fornalha, uma deliciosa fornalha.  Colombo as chamou "pimiento", palavra espanhola para pimenta preta (do gênero Piper), porque sua picância lembrava a mesma. Assim, as nossas pimentas do gênero Capsicum começaram a conquistar o mundo.
                         Mas entre os nativos americanos o consumo de pimentas não era novidade. Acreditam alguns estudiosos que eles já a usavam na alimentação a 10.000 anos, provavelmente de frutos colhidos de plantas
silvestres.  Já os primeiros indícios de cultivo organizado apontam para após 5.200 A.C.  Quando os espanhóis chegaram, já encontraram dezenas de variedades desenvolvidas pelos agricultores pré-colombianos.
                            No Brasil, com a chegada dos portugueses não foi muito diferente.  Os índios não davam grande valor ao sal como tempero e quase tudo que comiam era acompanhado de pimentas. Existem muitos relatos históricos sobre as ardidas.  Em 1587, Gabriel Soares de Souza em seu Tratado Descritivo do Brasil, Capítulo XLVIII , escreveu:
      
     “À sombra destes legumes, e na sua vizinhança, podemos ajuntar quantas castas de pimentas há na Bahia, segundo nossa notícia; e digamos logo da que chamam cuiém, que são tamanhas como cerejas, as quais se comem em verdes, e, depois de maduras, cozidas inteiras com o pescado e com os legumes, e de uma maneira e de outra queimam muito, e o gentio come-a inteira, misturada com a farinha.
             Costumam os portugueses, imitando os costumes dos índios, secarem esta pimenta, e depois de estar bem seca a pisam de mistura com o sal ao que
chamam de juquiraí na qual molham o peixe e a carne, e entre os brancos se traz no saleiro e não descontenta ninguém. Os índios a comem misturada com a farinha, quando não têm que comer com ela. Estas pimentas fazem árvores de quatro e de cinco palmos de alto, e duram muitos anos sem se secar.
              Há outra pimenta, a que pela língua dos negros se chamam cuiemoçu; esta é grande e comprida e depois de madura faz-se vermelha; e usam dela como da de cima; e faz árvores da altura de um homem e todo o ano dá novidade; sempre tem pimentas vermelhas, verdes e flor, e dura muitos anos sem secar.
Há outra casta, que chamam de cuiepiá, a qual tem bico, feição e tamanho dos gravanços; come-se em verde, crua e cozida como a de cima, e como é madura faz-se vermelha, a qual queima muito; a quem as galinhas e pássaros têm grande afeição; e faz árvore meã que em todo ano dá novidade.
Há outra casta que chamam sabãa que é comprida e delgada, em verde não queima tanto quanto é madura, que faz-se vermelha, cuja árvore é pequena, dá fruto todo o ano, e também se usa dela como da mais.
Há outra casta que chama cuiejurimum por ser da feição de abóbora assim amassada; esta, quando é verde, tem a cor azulada, e como é madura se faz vermelha; da qual e em todo ano dá novidade,
Há outra casta que chama cumari, que é bravia e nasce pelos matos, campos e pelas roças, a qual nasce do feitio dos pássaros que a comem muito, por ser mais pequena que gravanços; mas queima mais que todas que dissemos, e é mais gostosa que todas; e quando é madura faz-se vermelha, e quando se acha desta não se come outra; faz-se árvore pequena tem as flores brancas como as mais, e dá novidade em todo ano.”

             O sucesso dessas pimentas foi tanto pelo mundo afora, que se tornou produto de contrabando pelos franceses, junto com o pau-brasil. O padre José de Anchieta em 1563, em seu poema FEITOS DE MEM DE SÁ escreve:
             “Com eles tratam, ávidos do comércio da bárbara gente,
               os Franceses; trocam mercadorias, e com luzentes espadas,
               foices, anzóis, tesouras em grande número, amansam
               os corações ferozes dos índios e recebem em troca
               o pau brasil, que serve para tingir de vermelho
               as vestes, a acre
pimenta, aves variegadas
               e os animais que imitam as maneiras humanas.” 
            
            Hans Staden, alemão que  ficou cativo dos Tupinambás durante 8 anos em Ubatuba, descreve seu aprisionamento:
“[...] sabendo que havia franceses na região e que era comum a chegada de naus daquela nação, insisti em continuar dizendo ser amigo deles, e roguei-lhes que me poupassem até que aqueles chegassem e me reconhecessem. Mantiveram-me cautelosamente prisioneiro até a chegada de alguns franceses que as naus haviam deixado com esses selvagens para que fossem em busca de pimenta”.
Depois, descreve os costumes indígenas:
“Entre os povos selvagens há muitas tribos que não comem sal (...) a tribo dos Carajás (...) retira sal da palmeira para comer. Mas afirmam que quem se habitua a comer muito sal não tem vida longa (...) a maioria dos selvagens não come sal nenhum. Ao cozinharem (...) acrescentam pimenta verde.
             Também descreve o uso das pimentas em guerras, quando queriam desalojar os inimigos de suas defesas:
"Ouvi-lhes dizer também que utilizam pimenta, que há em sua terra, e com que conseguem afugentar das fortificações seus inimigos. Isto se dá da seguinte maneira: quando o vento sopra, fazem uma grande fogueira e lançam-lhe dentro um montão de pés de pimenta. Se a fumaça dá de encontro às cabanas, o inimigo tem então de sair para fora."
                                     E o povo brasileiro, miscigenado, misturou com os seus, alguns costumes indígenas. Veja essa receita retirada do Cozinheiro Nacional, sobre o que os cariocas comiam no século XIX:
                           
Araras, papagaios, periquitos, etc., assados no espeto
Toma-se a ave gorda, esfrega-se-a por dentro e por fora com sal e
pimenta comari, enfia-se-a no espeto e assa-se sobre fogo moderado, e umedecendo-a com nata de leite; estando assada, deitam-se às colheres sobre a mesma duas gemas de ovos amassadas com uma colher de fubá mimoso, pouco sal e canela, e diluídas em uma xícara de leite; estando a ave cozida, serve-se com alguma salada ou compota.
(CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro; notícia histórica e descritiva da cidade)

                  Todos os estados do Brasil receberam em sua culinária influência das três principais raças que formaram o nosso povo. Mas nos estados da região Norte, principalmente no Pará, a influência indígena foi, e ainda é, imensa. A pimenta está presente em quase todos os pratos. Não dá pra imaginar um pato no tucupi sem pimenta.
                  No estado da Bahia, com grande influência da cultura afro, usa-se mais a pimenta malagueta. Aliás, é um engano muito grande pensar, como já li em muitos livros, que a pimenta malagueta é natural da África e foi trazida pelos escravos, incorporando-se a nossa cultura.  A verdade é que não existiam pimentas do gênero Capsicum fora das Américas antes do descobrimento. Ademais, como poderia um povo que
foi aprisionado muitas vezes em batalhas, acorrentado, jogado nos porões de navios imundos e sofrendo quase sempre de doenças pelos maus tratos, se lembrar de por em sua bagagem os petiscos que tanto gostava? O que aconteceu, é que no litoral africano, mais precisamente na Costa da Malagueta, havia um tempero chamado pimenta malagueta, um grãozinho picante da família das zingiberáces, a mesma do cardamomo. Após o descobrimento do Brasil, os portugueses levaram para lá a nossa pimenta, que é da família das solanáceas. O sucesso dessa nova pimenta foi tão grande que passou a ser preferida pelos habitantes do local, em detrimento da malagueta original, que foi “aposentada” e perdeu o nome para o novo tempero. Os escravos, ao chegarem no Brasil, reconheceram a pimenta nativa como sendo a “pimenta de malagueta”, e a utilizaram em suas receitas, modificando ao seu modo a culinária indígena e portuguesa, o que resultou nos pratos brasileiros, principalmente os baianos que fazem tanto sucesso, sempre bem apimentados.
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