Cassiano Viriato Branco

 

Biografia

Cassiano Viriato Branco nasceu em Lisboa, junto aos Restauradores na freguesia de S. José, a 13/15 de Agosto de 1897 (13 de Agosto segundo Raul Ferreira e Fernando Silva e 15 de Agosto segundo Augusta Maia), filho de Maria de Assumpção Viriato e Cassiano José Branco (pequeno industrial de Alcácer do Sal). Augusta Maia descreve-o como sendo “alto, espadaúdo, vestido de escuro, fato largo mas de bom corte”, “de olhos azuis-cinzentos, irónicos e solitários”.

Frequentou a Escola Primária que existia entre a Calçada da Gloria e as Escadinhas do Duque onde conheceu um futuro engenheiro e colaborador de muitas obras, Ávila Amaral.

Segundo Raul Ferreira e Fernando Silva , Cassiano Branco como todos os jovens da sua geração “viveu anos férteis em acontecimentos políticos que nele alicerçaram convicções democráticas de tradição familiar”, revelando desde cedo ter uma personalidade “forte e nada disposta a compromissos”, o que ao longo da vida lhe trouxe alguns dissabores.

Segundo Augusta Maia, Cassiano, com quinze anos, inscreve-se na Escola de Belas Artes, companheiro de João Antunes, Vasco Santana, Jorge Segurado, entre tanto outros. Mas, desentende-se com o “Desenho de Figura e de Ornato”, a que reprova duas vezes. Irreverente e ousado, é então suspenso “por indisciplina” e, meses depois abandona a Escola, no vetusto Convento de S. Francisco. Segundo Raul Ferreira e Fernando Silva, Cassiano é então forçado pela família a empregar-se.

Em 1917 casou-se com D. Maria Elisa Soares Branco.

E é em 1919 que concluí os exames do antigo Curso Geral de Desenho, preparatórios da sua admissão ao Curso de Arquitectura, vindo entretanto, segundo Raul Ferreira e Fernando Silva, a ser empregado bancário.

Finalmente em 1920 matriculou-se no Curso de Arquitectura da Escola de Belas Artes, onde foi aluno do Mestre José Luís Monteiro. Segundo Raul Ferreira e Fernando Silva, julga-se que Cassiano viveu intensamente o ensino Beaux Arts, “o que por um lado lhe permitiu o seu desenvolvimento em termos de desenho e composição, não possibilitando por outro a estruturação de um pensamento arquitectónico coordenado com uma prática coerente”.

Em 1925 visitou a importante Exposição de Artes Decorativas de Paris, que segundo Raul Ferreira e Fernando Silva, foi sob o signo desta exposição que se iniciaria em Portugal a nova corrente moderna. Para além da viagem a Paris, Cassiano efectuou outras viagens a França, Espanha, Bélgica, Inglaterra e Holanda.

Concluiu o Curso de Arquitectura em 1926, tendo feito o seu tirocínio nos dois anos posteriores com o arquitecto José da Purificação Coelho, começando também a exercer uma actividade independente.

Foi aprovado em 1927  no Curso de Desenho de Construção Arquitectónica da Escola Normal para o Ensino, requerendo em 1932 o diploma de Arquitectura, o qual lhe é concedido.

Concorreu a professor da Escola de Belas Artes em 1933, tendo sido preterido, conjuntamente com Carlos Ramos e Paulino Montez, em favor de Luís Cristino Silva. No ano seguinte, concorreu a professor de Desenho Arquitectónico, Construções e Salubridade das Construções da Escola de Belas Artes, tendo sido preterido relativamente a Luís Alexandre da Cunha.

A partir de 1937, para além da actividade desenvolvida em Lisboa, iniciou trabalhos na região de Coimbra e em 1939 fixou-se temporariamente no Porto, para desenvolver o projecto do Coliseu do Porto, obra que abandonou em 1940.

Mais tarde, em 1958, apoiou a candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República, tendo então sido detido pela P.I.D.E.

Acabou por falecer a 24 de Abril de 1970 em Lisboa, com 72 anos de idade.

 

A Importância de Cassiano

A arquitecta Ana Tostões In “Arquitectura Portuguesa do século XX” refere-se a Cassiano como “talvez a personalidade mais poderosa e inventiva do modernismo”, destacando o Éden Teatro e o Hotel Vitória como “duas das obras mais certamente marcantes na cidade neste período” (anos 30) “de afirmação dos códigos modernistas transcendem a fronteira cultural portuguesa da época”. O afastamento das grandes obras públicas do regime, leva Cassiano a projectar diversos prédios de rendimento que, segundo a mesma autora, torna-o “o arquitecto de vanguarda que mais influenciou a arquitectura corrente da cidade, impondo um estilo e uma moda baseados num vigoroso equilíbrio, balanço entre a presença do edifício enquanto peça autónoma, mas também como elemento do conjunto urbano, assim respondendo eficazmente a um gosto modernista dentro de exigências de rentabilidade”.

Neste seguimento, José França In “A Arte em Portugal no século XX”, descreve Cassiano Branco como sendo “um arquitecto exemplar da sua geração – exemplo de intransigência ao fim vencida, num fundo desprezo pela involução das formas arquitecturais de Lisboa”.

Augusta Maia, num artigo publicado na revista “Artes Plásticas” A.2, N.15, enaltece Cassiano dizendo que “projectou mais do que lhe permitiu uma Terra e uma Gente que pouco o entendem quando era viva a sua mão”, pois em toda a sua obra, denota-se uma moldagem do “ferro e do betão como matérias dúcteis e formas escultóricas percorrendo-os, por vezes, de grafismos abstractos ou esotéricos. Mas entre o exterior e o interior dos edifícios domina a luz, como única realidade subjacente e envolvente ao Homem. A luz que Cassiano sempre perseguiu”.

 

Obras e Projectos

Tentando analisar a estrutura formal da obra de Cassiano, segundo Pedro de Almeida e José Fernandes In “História da Arte em Portugal” Vol. XIV, entendem-se duas linhas de carácter bem definido, que se vão alternando sem ordem imediatamente legível, independentes uma da outra, sendo raras as obras em que convergem as duas tendências. Uma primeira linha “de investigação formal, espessa, rica de valores tácteis, onde está ausente em sentido de uma difusa sensualidade plástica; uma segunda linha de grande depuração formal, de maior rigor e talvez de maior frieza de concepção.

Como exemplos da primeira linha temos o terceiro projecto para o Éden, o prédio da Rua de São Mamede, o prédio da Av. Defensores de Chaves, entre outros.

Como exemplos da segunda tendência temos a Cidade do Filme Português, as moradias da Av. António José de Almeida, a moradia da Av. Columbano Bordalo Pinheiro, o Café Cristal, entre outros.

Há que salientar o edifício do Hotel Vitória, que segundo os mesmos autores, “constitui precisamente um exemplo (o melhor?) de projecto em que se cruzam as duas tendências”.

Segundo estes autores, existe ainda outro paralelismo  que “torna a obra de Cassiano paradigmática da situação arquitectónica da época”, que consiste “na sua surpreendente versatilidade para o simultâneo desenvolver de obras de linguagem moderna e um «estilo tradicional português»” (exemplo disso é Portugal dos Pequeninos); para além de uma compreensão da cidade que pode ser vista no Plano para a Costa da Caparica.

 


Ao longo de quatro décadas, Cassiano Branco assinou numerosos projectos de arquitectura, aqui enumerados por ordem cronológica.

(cronologia retirada do catálogo “Cassiano Branco uma Obra para o Futuro” da autoria da Câmara Municipal de Lisboa – Pelouro da Cultura de Dezembro de 1991)

 

1921

Proposta para o Mercado Municipal da Vila da Sertã.

 

1924

Proposta para uma piscina coberta em Lisboa.

 

1925

Início do projecto para a Câmara Municipal da Sertã.

 

1927

Conclusão do Projecto da Câmara Municipal da Sertã.

 

1928

Projecto para o Stand Rios de Oliveira na Av. Da Liberdade em Lisboa.

 

1929

Proposta para o Pavilhão de Portugal na Feira de Sevilha.

Projecto para um armazém em Lucira, Angola.

Projecto para um armazém em Moçâmedes, Angola.

Proposta para alterações a efectuar no antigo Éden Teatro.

Projecto de alterações nas instalações do Coliseu dos Recreios.

Primeira proposta para o Éden Teatro. Alterações no antigo edifício.

Primeiro projecto para um novo edifício no Éden Teatro.

 

1930

Segundo projecto para o edifício do Éden Teatro.

Projecto de urbanização da Costa da Caparica.

Projecto para uma Cidade do Filme Português, Cascais.

 

1931-1932

Terceiro projecto para o edifício do Éden Teatro.

 

1932

Plano de alterações na Fábrica Esperança situada na Av. 24 de Julho.

 

1932-1933

Concorre ao lugar de professor da 8ª cadeira (Desenho Arquitectónico, Construção e Salubridade das Edificações) na EBAL.

 

1933

Projecto para uma Academia das Belas Artes, como prova de concurso para professor de Arquitectura na EBAL.

Proposta para um Monumento ao Infante D. Henrique.

Projectos para moradias: Av. António José de Almeida, n.ºs 10, 14, 16 e 24.

Moradia na R. Xavier Cordeiro, n.º 19.

Prédio na R. Eiffel, n.º 9.

Prédio na R. S. Mamede, n.º 17A.

Prédio na Av. Rovisco Pais, n.º 18.

Projecto para um quiosque ao cimo dos Restauradores.

Projecto na Av. Rovisco Pais, nº22.

Projecto de uma nova estrada que circunda a cidadela de Cascais até à ponte de Santa Marta e para a construção de um molhe para barcos de pequena tonelagem.

 

1934

Projecto de urbanização dos terrenos situados entre as ruas do Sol ao Rato, a Travessa da Barbosa e a R. Das Amoreiras.

Prédio na R. Artilharia Um, n.º 18.

Prédio na R. Artilharia Um, n.º 22.

Prédio na R. Do Salitre, n.º 179A.

Prédio na Av. Ressano Garcia, n.º 20.

Prédio na R. Actor Carlos Mardel.

Prédio na Av. Santos Dummond, nº76

Prédios na Calçada do Desterro.

Prédio na Estrada de Benfica, n.º76.

Moradia na Av. Óscar Monteiro Torres, n.ºs 28/32.

Prédio na Av. Almirante Reis, Lisboa.

Hotel Vitória.

Proposta para a reintegração do Rossio.

 

1935

Prédio na Av. Álvares Cabral, n.º 34.

Prédio na Av. Álvares Cabral, n. 30.

Prédio na R. António Pedro, n.º 25.

Prédio na Trav. Arcos S. Mamede, n.º 93E.

Prédios no Largo de Andaluz, n.ºs 25 e 28.

Prédios na Calçada do Desterro, n.ºs 3 e 5.

Prédios na R. D. Francisco de Melo, n.ºs 28 e 30.

Prédio na R. Nova do Desterro, n.ºs 7 e 7A.

Prédio na Av. da República, n.º 88.

 

1936

Projecto para a Estação de Caminhos-de-Ferro do Lobito e Regularização da Praça onde ela fica situada.

Proposta para um Monumento aos Mortos da Grande Guerra em Santa Comba Dão.

Prédios na Av. Álvares Cabral, n.ºs 14 e 46.

Prédios na R. Joaquim António Aguiar, n.ºs 35 e 37.

Prédio na R. Padre António Vieira, n.º 6.

Prédios na R. Palmira, n.ºs 33A e 35.

Barragem de Santa Catarina no Vale do Sado.

 

1937

Projecto do Grande Hotel do Luso.

Projecto do Monumento ao Infante D. Henrique, em Sagres.

Prédio na Av. António Augusto de Aguiar.

Prédio na R. Padre António Vieira.

Prédio na Av. Defensores de Chaves.

Moradia na Av. Columbano Bordalo Pinheiro.

Prédios na Av. Almirante Reis, n.ºs 183, 200 e 204.

Prédio na Av. João XXI, n.º 60.

 

1939

Coliseu do Porto na Rua Passos Manuel.

 

1940

Consulado francês no Porto. Projecto de alterações ao edifício antigo.

Exposição do Mundo Português: Plano de urbanização.

Primeiro projecto do Café Cristal, em Lisboa (Rejeitado).

Inauguração oficial do Portugal dos Pequeninos.

Início do primeiro projecto da Cervejaria Portugália.

Segundo projecto da Cervejaria Portugália (Rejeitado).

Projecto definitivo do Café Portugal (Demolido).

 

1943

Proposta para um arranha-céus na Av. da Liberdade.

Prédios de habitação na Av. António Augusto de Aguiar, n.ºs 19, 21 e 25.

Proposta para um hotel em Bragança.

 

1945

Projecto para a sua moradia na Trav. da Fábrica das Sedas (“ao gosto de sua mulher”), em Lisboa.

 

 

 

1947

Central Hidroeléctrica de Belver: Plano de urbanização e projectos para moradias do pessoal administrativo.

Primeiros estudos para o Cinema Império.

 

1948

Primeiro e segundo projectos para o Cinema Império. (Não aprovados).

Prédio na Av. Fontes Pereira de Melo, n.º 25A.

 

1950

Moradia na Av. Gago Coutinho, n.º166.

Primeiro projecto do Bar Europa na R. Nova do Carvalho, em Lisboa.

Projecto para o Texas Bar. (Completamente alterado).

 

1951

Projecto de alterações do edifício antigo da Ourivesaria Sarmento.

Projectos para o Bar Europa.

Prédio de habitação na Av. de Roma.

Prédio na Praça de Londres.

Café Londres, em Lisboa.

 

1952

Segundo projecto do Bar Europa.

Barragem de Pracana: arranjo urbanístico para o pessoal administrativo.

 

1955

3.º Concurso para o Monumento ao Infante D. Henrique em Sagres.

 

1957

Prédio na R. dos Navegantes.

Proposta para o Hotel Infante de Sagres na Praia da Rocha. (Não aprovada).

Proposta para um novo edifício da Sede da Junta Nacional do Vinho, em Lisboa. (Não aprovada).

 

1958

Proposta para um filme de temática histórica – cartões.

 

1961

Concluído o Portugal dos Pequeninos.

 

1963

Restaurante em S. Pedro de Sintra.

 

1964-1969

Projecto para o posto fronteiriço de Galegos, em Marvão.

Estudos para um edifício na Rebela.

 

1965

Proposta para o Banco de Portugal. Agência em Évora.

Proposta para o restaurante Furnas Lagosteiras, no Guincho.

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