Plíno, o Moço,
e O Código da Vinci
Carlos Osvaldo Cardoso Pinto


Daqui a nove dias Tom Hanks vai chegar às telas de todo o mundo como o mocinho de O Código DaVinci, versão para a telona do livro homônimo de Dan Brown.

Muito já se tem dito contra o referido livro. Recentemente a rede ABC de televisão, que nem de longe pode ser acusada de puxar a brasa para a sardinha cristã, veiculou uma reportagem que desmontava um dos frágeis suportes da tese de Brown (seria dele mesmo?) - a existência secular do Priorado de Sião.

Leio agora, na versão virtual da Folha de São Paulo, que um grupo de
católicos indianos quer Dan Brown vivo ou morto, versão mais moderada (e menos milionária) do que os muçulmanos fizeram com Salman Rushdie alguns anos atrás. Prefiro recorrer à história a fazer história de maneira tão anti-cristã.

Por volta do fim da primeira década do segundo século (i.e., a.D. 110),
o imperador Trajano nomeou como governador da Bitínia um amigo chamado Plínio.

Este conduziu na área de sua jurisdição, com métodos que fariam a
Anistia Internacional enviar para lá uma bela comitiva, uma investigação sobre a natureza e atividades da seita dos cristãos. A certa altura de sua tarefa inquisitiva, achou por bem enviar uma carta-relatório a seu patrão-amigo.

Essa carta, providencialmente preservada, serve como argumento notável contra outro dos frágeis pilares brownianos para o suposto código.

Em primeiro lugar, observa-se que não é um documento cristão. Foi escrito por um fervoroso adepto do culto ao imperador, que investigava o cristianismo como heresia. Assim, nem mesmo um ardente revisionista da história como Brown, poderia argumentar que foi fabricado.

Em segundo lugar, revela sobre os antigos cristãos o tipo de ética que
teria impedido a perpetração de uma mentira como a que Brown tenta
impingir aos bispos cristãos no Concílio de Nicéia – a “fabricação” da
divindade de Jesus.

Em terceiro lugar, revela que os primeiros cristãos, duzentos anos, acho até que merece um grifo, duzentos anos antes de Constantino se declarar cristão, declaravam sob tortura, que Jesus Cristo era igual a Deus.

Creio que não é de admirar que Brown – que advoga crer naquilo que
escreveu – tivesse “acidentalmente” deixado de lado tal carta em suas
pesquisas. Certamente trata-se de um caso de varrer para debaixo do
tapete literário a evidência que contrarie a tese proposta.

Assim, se você, amigo cristão, protestante, ortodoxo ou católico, quiser
(ou tiver que) argumentar com os desmiolados que se deixarão enredar por Brown, Hanks & Cia., peça que eles leiam o texto de Plínio, o Moço, com um mínimo de isenção. O texto fundamental segue abaixo, em latim (para os mais fanáticos) e em português. Qualquer livro de documentos históricos do mundo romano o trará, colocando a evidência à disposição daqueles cujo cérebro ainda não foi embotado pela mídia.

(7) Affirmabant autem hanc fuisse summam vel culpae suae vel erroris, quod essent soliti stato die ante lucem convenire, carmenque Christo quasi deo dicere secum invicem seque sacramento non in scelus aliquod obstringere, sed ne furta ne latrocinia ne adulteria committerent, ne fidem fallerent, ne depositum appellati abnegarent.

(7) Afirmavam, todavia, que o resumo e a essência de sua falta ou erro
era o estarem acostumados a reunir-se num dia determinado antes do
nascer do sol, e cantarem responsivamente um hino a Cristo como Deus, e a de se unirem por juramento, comprometendo-se a não cometer crimes, não praticarem fraude, roubo ou adultério, não faltarem a palavra empenhada, nem deixarem de efetuar a devolução de algum patrimônio quando esta lhes fosse solicitada.1

Aí está. Simples como a verdade. Ponto de partida para uma conversa um pouco mais honesta sobre essa fraude histórica e ideológica chamada O Código Da Vinci. Não foi Constantino, não foram os bispos de Nicéia, não foi a máquina da Igreja institucionalizada, quem “inventou” a divindade de Cristo.

Simples cristãos da Bitínia, alguns dos quais poderiam ter tido contato pessoal com o apóstolo João e seus discípulos imediatos, ao serem torturados por sua fé, descreveram sua crença fundamental; esta, contida e progressivamente revelada nas Escrituras, forjada pelo Espírito de Deus na consciência da cristandade primitiva por meio do fogo ardente da perseguição, e preservada em documentos históricos, pagãos e cristãos, sobreviveu a ataques semelhantes por muitos séculos (afinal Dan Brown não se apropria apenas de idéias e autores do século XX), e continuará viva depois que O Código Da Vinci for apenas uma nota de rodapé na história da civilização.


1 Tipo comum de crime no império romano. Amigos deixavam bens com outros quando tinham que fazer uma viagem. Uma simples negativa em juízo permjtia ao “muy amigo” apropriar-se dos bens deixados sob sua guarda pela vítima.


Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, é reitor do Seminário Bíblico Palavra da Vida(Atibaia - São Paulo), onde Exegese e Teologia Bíblica desde 1979. Tem o Mestrado (Th.M.) em Antigo Testamento e o Doutorado (Ph.D.) em Hermenêutica e Exposição Bíblica pelo Dallas Theological Seminary. Participou da Comissão de Tradução da Nova Versão Internacional, tem livros publicados na área de exegese e participa de congressos evangélicos na área de teologia e liderança. Carlos é casado com Artemis desde 1973. Têm três filhas (Lailah, Yerusha e Tirzah) que estão servindo ao Senhor em três continentes diferentes.


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