THOMAS  EDISON
1847  -  1931   d.C.
 
 

Breve Biografia
 

Charles  Edison



 
 
 

          "Arrastando os pés pelo seu laboratório de Menlo Park, Nova Jersey, com uma madeixa de cabelos caindo-lhe sobre a testa, uns olhos azuis penetrantes, a roupa amarrotada e queimada pelos ácidos, Thomas Alva Edison não teria parecido a ninguém um homem cujas invenções estavam a revolucionar o mundo. Também nunca se comportou como tal, diga-se. Certa vez, ao ser visitado por uma alta individualidade que lhe perguntou se já tinha recebido muitas medalhas e distinções, respondeu: «Ah! sim! Mom já tem uma série delas em casa.» Mom era a mulher dele, minha mãe. No entanto, na intimidade, tornava-se bem evidente a grandeza do seu gênio e todos que com ele privavam podiam observa-lo abertamente.

          Não é, porém, pelos seus grandes contributos em prol do progresso da humanidade (durante a sua vida registou mil e noventa e três inventos) que o recordo, mas sim pela sua coragem incomparável, pela sua imaginação e tenacidade, pela sua humildade e grande inteligência.

         Por força do seu rígido horário de trabalho era obrigado a limitar, de certo modo, a vida familiar, mas encontrava sempre uma oportunidade para pescar, andar de automóvel ou para outras atividades semelhantes, nas quais todos nós o acompanhávamos.

         Quando éramos crianças, costumava brincar conosco e deitava-se até no chão para cabriolar a nosso lado. Nunca esquecerei como comemorávamos o Dia da Independência em Glenmont, a nossa casa de três andares em West Orange, Nova Jersey, hoje monumento nacional. Era o dia da festa que o pai preferia. Ao amanhecer, fazia sempre explodir um petardo dentro de um barril, despertando assim toda a gente do prédio, bem como da vizinhança. Depois, pelo dia fora, costumávamos queimar as mais diversas combinações de fogo de artificio:
          «Mom não vai gostar disto», dizia, «mas vamos fazer explodir vinte de uma vez para ver o que acontece.»

          Nunca deixava de nos encorajar nas nossas pesquisas e experiências. Fornecia-nos relógios e outros artefactos para trabalharmos e incitava-nos a fazer ensaios, desafiando-nos e formulando perguntas. Quando fiz seis anos levou-me ao laboratório para que eu lavasse as provetas e, aos dez anos, comecei, com a sua ajuda, a construir um automóvel. Nunca chegou a ter carroçaria, mas possuía um pequeno motor a dois tempos com correia de transmissão. Funcionava perfeitamente e nós, miúdos, divertindo-
nos bastante com ele. Às vezes, jogávamos também o pólo na relva do jardim, eu e o meu irmão Theodore, munidos de bastões de croquet e de carros, sem que ninguém, exceto a minha mãe e o jardineiro, se opusesse.

          Sem deixar de dar ordens que entendia necessárias, meu pai agia, preferentemente, de molde a inspirar os outros com o seu próprio exemplo. Este foi um dos grandes segredos do seu êxito, pois ele não era, como muitos julgam, um cientista que trabalhava sozinho num laboratório.

Logo que vendeu o seu primeiro invento — um teleindicador de cotações da Bolsa — por quarenta mil dólares, começou a contratar químicos, matemáticos, mecânicos e todos aqueles cujas aptidões o pudessem ajudar a resolver árduos problemas. Uniu assim a ciência à indústria, crente nos bons resultados que adviriam da investigação em grupo, procedimento que é hoje apontado como padrão.

Trabalhava, geralmente, dezoito horas por dia. «A realização de uma obra é a única satisfação verdadeira na vida», costumava-nos dizer. A sua faculdade, largamente divulgada, de poder suportar tal ritmo de trabalho, dormindo apenas quatro horas diárias — salvo algum pequeno sono que ocasionalmente fazia —, não era um exagero. «O sono é como uma droga», afirmava. «Dormir demasiado deixa-nos entorpecidos e, além disso, representa uma perda de tempo, de vitalidade e de oportunidades.» Os seus êxitos são sobejamente conhecidos. Aos trinta anos, inventou o fonógrafo, captando sons num disco; com a descoberta da lâmpada incandescente, iluminou o mundo; inventou ainda o microfone, o mimeógrafo, o fluoroscópio, o acumulador alcalino em ferro-níquel e o filme cinematográfico; modificou diversos inventos, já existentes, com o fim de lhes dar uma aplicação pratica e comercial, tais como o telefone, o telégrafo e a máquina de escrever; concebeu, ainda, todo o sistema de distribuição elétrica dos Estados Unidos.

          «Edison nunca fracassou?», pergunta-se, por vezes. A resposta é «sim». Thomas Edison também conheceu, freqüentemente, o fracasso. O primeiro invento para o qual requereu patente —encontrava-se, então, em péssimas condições financeiras — foi um contador elétrico, para votos, que os legisladores recusaram comprar. Noutra ocasião, tendo inventado um processo de separação magnética, capaz de obter maior pureza no minério de ferro de qualidade inferior, deliberou investir em diversa maquinaria todo o dinheiro de que dispunha. Todo esse dinheiro veio a perdê-lo porque, entretanto, foram abertos diversos jazigos de minério de ferro de alta qualidade e o seu processo tornou-se obsoleto e antieconómico.

          Nunca o receio de fracasso o fez, porém, vacilar. «Paciência», disse um dia a um dos seus colaboradores, que se mostrava desalentado após uma larga série de ensaios. «Não podemos dar-nos por vencidos. Já conhecemos mil processos que não resultam. Quer dizer que nos encontramos mais perto daquele que resultará.»

          Pouca importância ligava ao dinheiro — ou â sua falta. Considerava-o uma matéria-prima, tal como o metal, que deve ser utilizado e não amontoado. Investia, assim, em novos empreendimentos, tudo o que ia ganhando. Por diversas vezes esteve à beira da ruína, mas nem por isso subordinou, de qualquer modo, as suas atividades ao dinheiro ou permitiu que fosse este o orientador da sua vida.

          Um dia verificou, contrariado, que uma trituradora de minério que existia na sua fábrica não dava o devido rendimento. Ordenou, então, ao operário que a manejava que aumentasse a velocidade. Respondeu este que não se atrevia a fazê-lo, pois receava que a máquina rebentasse. Meu pai, então, dirigiu-se ao capataz e perguntou-lhe: «Quanto custou esta máquina, Ed?» — «Vinte e cinco mil dólares, Sr. Edison.» «Temos essa importância no banco, não é verdade? Então, aumentemos a velocidade.»
O maquinista obedeceu mas, pouco depois, avisou: «A máquina está a funcionar pessimamente e decerto acabará por se desfazer em pedaços que nos quebrarão as cabeças.» «Imprima-lhe a velocidade máxima!», gritou meu pai.

          Todos se foram afastando à medida que o barulho da trituração aumentava de intensidade. De repente, ouviu-se um grande estrondo e diversos pedaços, aos quais a máquina tinha ficado reduzida, se viram voar em todas as direções. Quando o capataz perguntou, depois, a meu pai, que conclusão dali havia tirado, respondeu-lhe ele, sorrindo: «Ficamos a saber que a máquina resiste uns quarenta por cento mais do que os fabricantes afirmam. Como a máquina só rebentou quando lhe imprimimos a última velocidade, isto significa que posso fabricar uma trituradora melhor e aumentar assim a produção.»

          Recordo-me, muito especialmente, de uma gélida noite de Dezembro de 1914, época em que meu pai se encontrava numa situação econômica difícil, dadas as infrutíferas experiências do acumulador alcalino de ferro-níquel a que havia dedicado uma boa parte dos últimos dez anos. Apenas os lucros provenientes dos filmes e da produção de discos estavam a sustentar o laboratório. Nessa noite o grito de Fogo! ecoou por toda a fábrica. Uma combustão espontânea, verificada na sala de projeções, havia originado a tragédia. Material de embalagem, celulóide para discos, películas e outros materiais inflamáveis arderam instantaneamente. Para ali acorreram as companhias de bombeiros das oito cidades vizinhas, mas o calor era tão intenso e a pressão da água tão baixa que o jacto das mangueiras não produzia qualquer efeito. Como não via o meu pai, comecei a preocupar-me. Ter-lhe-ia sucedido alguma coisa? A perda de todo o seu capital não lhe teria abatido por completo o ânimo? Aos sessenta e sete anos não era fácil começar de novo. Foi então que o vi, no pátio, correndo na minha direção.

          «Onde está a mãe?», gritou. «Vai buscá-la e diz-lhe que traga os amigos! Não terão outra oportunidade de ver um fogo com este! »

          As cinco e meia da manhã, mal o fogo fora dado como extinto, reuniu todo o pessoal e anunciou que tudo iria ser reconstruído. Um dos homens foi imediatamente encarregado de arrendar todas as oficinas de construção ou reparação de máquinas da área e um
outro ficou incumbido de obter, da companhia de caminhos de ferro local, uma grua de salvamento. Só depois, numa reflexão tardia, como quem se lembra de um pormenor sem importância: «A propósito, algum de vós sabe acaso onde poderemos arranjar dinheiro?» E continuou: «É sempre possível tirar partido de qualquer revés que surja. Acabamos de nos ver livres de um monte de coisas velhas. Sobre as ruínas edificaremos mais e melhor! »

          Posto isto, despiu o casaco, enrolou-o para servir de almofada, debruçou-se sobre uma mesa e adormeceu.

          A notável série de inventos que realizou quase fez com que o considerassem um homem dotado de poderes mágicos, e de tal modo que lhe chamavam O Mago de Menlo Park. Esta concepção absurda que dele faziam, se por vezes o divertia, outras irritava-o.

          «Mago, eu?», costumava dizer. «O segredo está apenas em trabalhar de forma firme e árdua. O gênio é um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração.» É esta uma das suas frases mais freqüentemente citadas.

          Depois da morte da sua primeira mulher, o pai casou com Mina Miller, minha mãe. Nela encontrou um perfeito complemento para a sua existência. Era ponderada, afável, independente e de bom grado se adaptou á vida laboriosa que meu pai levava. Foi um casamento irradiante de felicidade.

          No único diário que meu pai conservou e que cobre os nove dias que antecederam o casamento, em 1885, transparece o amor que por ela sentia: «Seguia pela rua tão absorvido com o pensamento em Mina que quase me deixei atropelar por um carro elétrico.» Quando lhe propôs casamento, fê-lo em alfabeto Morse, código que lhe havia ensinado durante o período de namoro.

          Thomas Edison tem, por vezes, sido descrito como um homem de escassa cultura. Na realidade, esteve apenas seis meses na escola. No entanto, sob a orientação de sua mãe, já aos oito ou nove anos lia obras clássicas, tais como A História do Declínio e Queda do Império Romano.

          Desde criança que este homem, destinado a levar a cabo uma obra tão vasta, sofria de uma surdez quase total. Gritos ou ruídos fortes eram os únicos sons que conseguia ouvir, mas isso pouco ou nada o afligia. A quem lhe perguntava porque não tinha ainda inventado um aparelho auxiliar da audição, respondia invariavelmente: «Um homem que tem de gritar quando fala nunca diz mentiras.»

          Gostava de música e, se a composição acentuava a melodia, ele podia «ouvir» segurando um dos extremos de um lápis entre os dentes e apoiando o outro na caixa de um fonógrafo. Deste modo captava perfeitamente as vibrações e o ritmo, O fonógrafo era, talvez por isso, entre os seus inventos, aquele que mais apreciava.

          Meu pai foi alvo de varias homenagens. Duas, porém, lhe produziram uma satisfação muito especial. Foi uma por ocasião do cinqüentenário da lâmpada incandescente, em 21 de Outubro de 1929, quando Henry Ford reproduziu na sua vasta exposição de Greenfield Vilíage, em Dearborn (Michigan), o laboratório de meu pai em Menlo Park, que passou a figurar naquela exposição como lugar histórico. A outra teve lugar em 1928, ao ser-lhe outorgada uma medalha de ouro do Congresso dos Estados Unidos, como reconhecimento da sua obra.

          Edison nunca se aposentou nem se preocupou com o peso da idade. Aos oitenta anos iniciou o estudo da Botânica, ciência que lhe era completamente nova. Propunha-se encontrar uma fonte natural da borracha e, depois de haver analisado e classificado dezessete mil variedades de plantas, conseguiu, com os seus assistentes, determinar um método para extrair o látex da vergáurea em quantidades substanciais.

          Aos oitenta e três anos, tendo ouvido dizer que o aeroporto de Newark era o mais movimentado de toda a parte Oriental e das Américas, arrastou minha mãe até lá «para ver como funcionava um verdadeiro aeroporto». Quando viu pela primeira vez um helicóptero, comentou, radiante: «Foi assim que sempre o imaginei», e logo ali começou a esboçar algumas modificações para o seu aperfeiçoamento.

          Tinha oitenta e quatro anos quando faleceu, vitima de uma uremia. Dezenas de repórteres montaram uma guarda permanente em redor de nossa casa. De hora a hora eram-lhe fornecidas notícias: «A luz ainda está acesa.» Porém, às 3 horas e 24 minutos do dia 18 de Outubro de 1931, foi-lhes anunciado que «a luz se havia extinguido».

          Como última homenagem, pensou-se em cortar a corrente elétrica, no dia do seu funeral, pelo espaço de um minuto em todos os Estados Unidos. Mas, dados o custo e o perigo que a realização de tal idéia implicaria, ponderou-se que, em vez disso, só determinadas luzes fossem reduzidas. Assim, as rodas do progresso não cessariam de girar, nem sequer por uma fração de minuto.

Estou certo de que Thomas Edison assim o teria desejado".


 
 
 


 
 

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