Contribuição ao Conhecimento


Aurélio Molina

Contribuição ao Conhecimento


(Resumos de 127 Estudos e Trabalhos Científicos Originais Publicados, Apresentados ou Defendidos)

EDUPE, 2006


Universidade de Pernambuco - UPE 2006

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Diêgo Rogério Silva de Lira

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Aurélio Molina

-Médico pela UFRJ;

-Ph.D em Saúde Reprodutiva pela Universidade de Leeds (Inglaterra);

-Coordenador Geral de Pesquisas da UPE;

-Professor Adjunto de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas/UPE;

-Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da UPE;

-Responsável pela disciplina de Bioética no Curso de Ciências Biológicas do ICB/UPE;

-Responsável pela disciplina de Ética e Bioética na Pesquisa Científica na Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP);

-Membro da Academia Pernambucana de Ciências;

-Coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Tocoginecologia da FCM/UPE;

-Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (TCBC);

-Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Bioética (Regional de Pernambuco);

-Membro das Câmaras Técnicas da Área da Saúde da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE);

-Membro da Direção Nacional da Sociedade Brasileira de Bioética;

-Membro da Comissão Estatutária de Ética da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia;

-Membro da Comissão Nacional Especializada de Psicossomática da FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).


Sumário

Apresentação, 13

Emprego da Ocitocina no Trabalho de Parto e Índice de Apgar, 17

Tabagismo na Gravidez: uma Agressão ao Feto?,19

Enteroparasitoses e Gestação, 21

Carcinoma da Trompa de Falópio, 23

Tumor do Seio Endodérmico: Apresentação de um Caso, 25

Indução de Amenorréia Permanente em Paciente Portadora de Afibrinogenemia Hereditária, 27

Quimioterapia Antineoplásica no Câncer de Ovário, 29

Family Planning in Brazil: An Instrument of Health or Illness?, 31

Conhecimento e Atitudes Relativos a AIDS em Mulheres de Baixa Renda no Recife, 33

Mulher Negra, Pobreza e Saúde Reprodutiva, 35

Eugemismo (Racismo Internacional) e Esterilização Feminina, 37

Modelo Teórico dos Determinantes da Esterilização Feminina, 39

A Ética e o Planejamento Familiar, 41

Alterações Menstruais e Esterilização Feminina, 43

Riscos Teóricos de Longo Prazo da Ligadura Tubária, 45

Vasectomia e Estado Auto-Imune: Informação Sonegada, 47

A Influência do Chauvinismo Masculino no Planejamento Familiar, 49

Análise Crítica da Hormonioterapia para a Osteoporose, 51

Perfil Demográfico das Mulheres de Baixa Renda nas Maternidades do SUS-Recife, 53

Efeitos Colaterais dos Progestogênios, 55

Conselhos Populares de Saúde: A Experiência de Jaboatão, Pernambuco, 57

O Desconhecimento dos Efeitos Colaterais da Ligadura Tubária Como Fator Determinante na Escolha Contraceptiva, 59

Como o Desconhecimento dos Efeitos Colaterais da Ligadura Tubária Interfere na Atitude e na Prática dos Médicos no Planejamento Familiar, 61

01.

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04.

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24.

A Falácia do Controle Populacional e suas Consequências sobre a Prática Médica Relativa ao Planejamento Familiar, 63

Escolhendo a Laqueadura Tubária (Usuárias do SUS, Cidade do Recife, Pernambuco), 65

Acesso à Laqueadura Tubária para as Usuárias das Maternidades do SUS, Recife, Pernambuco, 67

The Determinants of Tubal Ligation in Recife, Northeast of Brazil, 69

O Paradigma Ético Científico e a Saúde da Mulher, 71

Conhecimento, Atitudes e Práticas sobre Aleitamento Materno Entre Usuárias da Maternidade da Encruzilhada, 73

Práticas Sexuais de Risco entre Mulheres Jovens e de Baixa Renda no Recife, 75

Aborto Provocado com Misoprostol entre Mulheres de Baixa Renda em Recife, 77

Caso Sônia. Exemplo das Distorções da Esterilização Feminina no Brasil, 79

Acesso ao Misoprostol para Interrupção da Gravidez Indesejada no Grande Recife, 81

Uma Nova Técnica de Laqueadura Tubária. Simples, com Menos Efeitos Colaterais e de Fácil Reversibilidade , 83

Série Histórica (1993-96) sobre Conhecimento e Atitudes Relativa à AIDS na População Recifense de Baixa Renda, 85

A Ética, a Bioética, a Terapia de Reposição Hormonal e o Câncer de Mama, 87

Terapia de Reposição Hormonal e Proteção Cardio Vascular. Sugestões ou Evidências de uma Associação Causal?, 89

Mola Hidatiforme Coexistente com Gravidez de Gêmeos um dos quais Anencefálico, 91

A Safer and Easier Tubal Ligation Technique, 93

O Tocoginecologista, o Misoprostol e o Aborto Provocado. Atitudes em Relação a um Cenário Teórico, 95

Considerações Epistemológicas Pragmáticas, 97

Análise das Novas Tecnologias Contraceptivas sob a Ótica da Bioética, 99

Análise do Custo-Benefício da Histerectomia Subtotal, 101

Uma Nova Hipótese para a Eversão ou Ectopia da Mucosa Endocervical, 103

Otimização do Custo-Benefício-Malefício do Acompanhamento Pós Molar, 105

Sexualidade Pós-Parto Vaginal, 107

Práticas Sexuais de Risco para DSTs/AIDS em Estudantes de Medicina, do Sexo Masculino, da Universidade de Pernambuco , 109

A Ética, a Bioética e a Tocoginecologia, 111

A Libido e o Ciclo Menstrual. Uma Avaliação Entre Enfermeiras, 113

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50.

Discussão do Valor da Mamografia na Pré-Menopausa Sob a Ótica da Epidemiologia, da Ética e da Bioética, 115

A Lei de Murphy e o Estudo Piloto, 117

Uso de Fármacos nas Mastalgias em uma População de Estudantes Universitárias, 119

A Pesquisa Científica e a Ética e a Bioética, 121

Avaliação do Conhecimento dos Efeitos Benéficos Oncológicos dos Anticoncepcionais Orais pelosTocoginecologistas do SUS, 123

Avaliação do Conhecimento dos Efeitos Benéficos Oncológicos dos Anticoncepcionais Orais pelas Pacientes do SUS, 125

Conhecimentos, Atitudes, Práticas e Autonomia em Relação à Terapia de Reposição Hormonal em Mulheres do Recife, 127

Atualização dos Conhecimentos e Práticas Relativas ao Uso da Laqueadura Tubária entre os Médicos do Recife, 129

A Bioética no Ensino da Saúde, 131

Avaliação da Prevenção do Câncer de Colo de Útero no Pré-Natal, 133

Conhecimento, Aceitação e Uso da Contracepção de Emergência entre as Mulheres Internadas por Interrupção Precoce da Gestação, 135

Interrupção Voluntária da Gravidez. A Visão dos Estudantes de Medicina, 137

A Libido e o Ciclo Menstrual: Avaliação entre Médicas da Cidade do Recife, 139

Avaliação dos Conhecimentos, Atitudes e Práticas em Relação ao DIU Entre as Usuárias do CISAM-Maternidade da Encruzilhada, 141

Abortamentos Provocados com Cytotec no Recife, 143

Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG) em 184 Adolescentes na Maternidade da Encruzilhada, 145

Avaliação do Conhecimento Sobre o Uso do Método Contraceptivo de Emergência por Tocoginecologistas e sua Repercussão sobre a Saúde da Mulher, 147

O Comportamento dos Médicos como Sujeitos de Pesquisa, 149

Práticas Sexuais de Risco para DSTs/AIDS em Estudantes de Medicina, do Sexo Feminino, da Universidade de Pernambuco, 151

Breves Reflexões Sobre Aspectos Éticos e Bioéticos Envolvidos na Pesquisa Biomédica, 153

Laqueadura Tubária; Situação Internacional e Efeitos Colaterais, 155

Anticoncepción, Salud Reproductiva y Ética, 157

Breves Considerações sobre Ética, Moral e Bioética, 159

Arrependimento da Laqueadura Tubária, 161

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74.

Estudo Multicêntrico, Aberto, Não Comparativo, da Eficácia e Tolerabilidade da Associação do Tioconozol com o Tinidazol, noTratamento de Pacientes com Vulvovaginites, 163

A Regra dos 10 Cs: Uma Contribuição para a Formação de "Massa Crítica" na Criação, Aplicação e Ensino do Conhecimento Científico, 165

Mestrado em Tocoginecologia: Oito Anos de Vivências e Vitórias para a Pós-Graduação do CISAM, da FCM e da UPE, 167

Trasnfixação Cervical por DIU e Cistos de Naboth: Diagnóstico Diferencial, 169

Peso ao Nascer e Mortalidade Neonatal na Maternidade da Encruzilhada, 171

Hepatite B e Gravidez, 173

Mãe de Hemofílicos: Filhos, Família, Contracepção. Um Chamado a uma Saúde Reprodutiva mais Justa, 175

500 Anos de Brasil...Tantos de Anemia Falciforme. A Realidade e as Dificuldades na Assistência à Saúde Reprodutiva dessas Clientes, 177

Tocoginecologia Baseada em Evidências, 179

Initial Results of the Use of a New Tubal Ligation Technique, 181

Factors Associated to Requesting Reversal of Tubal Sterilization, 183

Conceito de Saúde: Conhecimento de Discentes dos Cursos de Enfermagem e Medicina da Universidade de Pernambuco, 185

Parto: Qualidade Atribuída à Assistência Prestada a Usuárias de uma Maternidade_Escola da Cidade do Recife, 187

Exencefalia com Feto de Termo: Relato de Caso, 189

Mastalgia Cíclica. Tratamento Não Medicamentoso (Orientação Verbal), 191

Mastalgia Cíclica: O Impacto do Medo de Câncer no Tratamento, 193

Prevalência do Marcardor de Superfície para Hepatite B (HBsAg) em Gestantes que Frequentam o Pré-Natal do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM), 195

Características Reprodutivas de 103 Mães de Hemofílicos Atendidas no HEMOPE, 197

Mulheres com Filhos Portadores de Anemia Falciforme: Uma Realidade Reprodutiva Desconhecida e a Necessidade de Aconselhamento Genético, 199

Fatores que Influenciam os Resultados do Tratamento não Medicamentoso das Mastalgias Cíclica, 201

Breves Reflexões Acerca da Clonagem e Reprodução Assistida, 203

Por Que se Tornar um Intelectual Humanista?, 205

Qualidade Atribuída à Assistência Humanizada Prestada ao Parto por Usuárias em uma Maternidade-Escola do Recife: Estudo Comparativo 2000-2002, 207

A Importância da Erudição e da Formação Intelectual para o Profissional de Saúde, 209

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Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento: Avaliação da Implantação a Partir da Opinião dos Profissionais Prestadores da Assistência em uma Maternidade-Escola Recife-PE, 211

Atitudes e Práticas para se Tornar um Aprendiz de Intelectual Humanista, 213

Características Clínicas e Psicológicas em Mulheres Portadoras de Mastalgia Cíclica Tratadas com os Ácidos Gamalinolênico e Linolênico, 215

Construindo o Pai Grávido, 217

Humanização da Assitência à Saúde. Bases Teórico-Filosóficas e Sugestões Pragmáticas, 219

O Porquê e o Para Quê da Pós-Graduação Brasileira, 221

Interrupção Voluntária da Gravidez. A Visão dos Estudantes de Medicina em uma Série Histórica (1998-2003), 223

Educação para Ciência, Tecnologia e Inovação, 225

Eficácia e Morbidade de uma Nova Técnica de Laqueadura Tubária, 227

Conhecimento, Atitudes e Práticas em Relação à Terapia de Reposição Hormonal, entre Mulheres do Recife, 229

Os 10 Mandamentos de um Bom Estudante da Área de Saúde, 231

A Importância da Bioética e da Ética da Responsabilidade nas Relações Humanas, 233

Máximas Epistemiológicas, 235

Mastalgia Cíclica - Clínica e Experiência dos Ácidos Graxos Poli-insaturados, 237

Fórum Pernambucano dos Comitês de Ética em Pesquisa: Nova Forma de Contribuição e Articulação à Prática de Análise Ética, 239

Metodologia de Pesquisa: Ferramentas para a Análise de Projeto (Curso Promovido pelo Fórum Pernambucano dos Comitês de Ética em Pesquisa), 241

O Tocoginecologista e o Aborto Provocado. Atitudes em Relação a um Cenário Teórico (Série Histórica), 243

Estudo Comparativo de Midazolam com Cetaminas+ Versus Midazolam com Bloqueio Paracervical Para Aspiração Manual Intrauterina, 245

Changes in Family Structure and Regret Following Tubal Sterilization (Mudanças na Estrutura Familiar e Arrependimento da Laqueadura Tubária) , 247

Risk Factors for Regret After Tubal Sterilization: Findings From a Case-Control Study in Brazil, 249

Conhecimento, Atitudes e práticas do uso da Contracepção de Emergência em Mulheres Internadas por Motivo de Aborto no Recife (Série Histórica), 251

O Crescimento Quali-Quantitativo da Iniciação Científica na UPE, 253

O Erro na Ciência, 255

Diminuindo os Erros na Ciência, 257

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122.

Uma Década de Avaliações sobre Abortamentos Provocados com Cytotec no Recife (1995-1998/9-2005), 259

Atualização e Comparação das Práticas Sexuais de Risco para DSTs/AIDS entre Estudantes de Medicina da Universidade de Pernambuco, 261

Mastalgias Cíclicas: Quando Tratar Medicamentosamente, 263

Comparação entre o Óleo de Borragem e o Óleo de Girassol Quanto à Eficácia no Tratamento de Mulheres com Mastalgia Cíclica, 265

Série Histórica sobre Conhecimento, Atitudes e Práticas em Relação ao Aleitamento Materno em uma Maternidade Universitária do Recife, 267

Atualização de Série Histórica sobre Conhecimento e Atitudes Relativas à AIDS Entre as Usuárias do CISAM, 269

123.

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127.


Apresentação

Numa sequência histórica que se inicia desde da época de estudante de medicina em 1976, apresento neste livro, quer como autor principal, quer como orientador ou colaborador, parte importante de minha produção científica.

Entre muitos outros, nosso objetivo com esta publicação é deixar registrada para a comunidade científica (particularmente para todos aqueles e aquelas que fazem a Faculdade de Ciências Médicas e a Universidade de Pernambuco), uma contribuição ao Conhecimento, que além do seu valor intrínseco, suporta nossa tese de que, mesmo com as enormes dificuldades que temos ao labutar numa universidade pública, relativamente pobre, localizada num estado igualmente pobre do Nordeste brasileiro, podemos servir a Humanidade, contribuindo para a construção de um mundo mais justo, fraterno, livre e feliz e, no caso específico, mais saudável, dando o melhor de nós, mesmo nos mais difíceis cenários, na linha do "faça o que puder, com o que tiver, onde estiver" de Theodore Roosevelt.

Este livro é dedicado a todos aqueles e aquelas que, de forma direta e indireta, colaboraram para que esse conhecimento fosse produzido. Embora impossível de nominá-los individualmente, agradeço-lhes do fundo do meu coração, nas pessoas dos muito amados Almir (in memoriam), Judite, Ana Elizabeth, Marcela, Rodrigo, Tiago e Gabriela.

Contribuição ao Conhecimento


Resumos de 127 Estudos e Trabalhos Científicos Originais Publicados, Apresentados ou Defendidos


Emprego da Ocitocina no Trabalho de Parto e Índice de Apgar

01

• Arnaldo Prata Barbosa, Aurélio Molina da Costa, Antonio José Ledo. A. da Cunha, Antonio Fernando G. Dias, Carlos de Camargo

• 33ª Enfermaria (Maternidade) da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e Maternidade Escola da UFRJ


A Ocitocina, descoberta em 1906 por Sir Henry Dale e sintetizada laboratorialmente em 1953 por Du Vigneaud, é um hormônio produzido no lobo posterior da hipófise, semelhante à vasopressina, que causa contração uterina e promove a ejeção do leite. Além disso, causa natriúria (excreção de sódio pela urina) e, em doses altas, vaso dilatação e antidiurese, características essas responsáveis por muitos dos seus efeitos colaterais. Há muito, a ocitocina vem sendo utilizada para a indução e aceleração do parto e para controlar hemorragias do pós-parto causada por hipotonia uterina. Por outro lado é sabido que a anoxia fetal é uma das complicações mais temíveis e relativamente comuns dentre aquelas que ocorrem durante o trabalho de parto sendo que o incremento exagerado da atividade uterina pode acarretar redução do fluxo placentário e, consequentemente, causar uma hipóxia fetal. No caso do uso da Ocitocina vários autores defendem que se a aceleração for bem dosada e a hipertonia for evitada, a incidência de anoxia, teoricamente será a mesma da de um trabalho de parto espontâneo. Já o Índice de Apgar, uma fácil e eficaz maneira de avaliar o bem-estar do recém-nato, foi criado em 1949, por Virginia Apgar, e apresentado à comunidade científica em 1952, tornando-se um procedimento obrigatório a ser realizado no primeiro e no quinto minuto de vida do recém-nascido onde o mesmo é avaliado pela tonalidade de sua pele, sua freqüência cardíaca, sua respiração, seu tônus muscular e a sua irritabilidade reflexa, atribuindo-se notas de 0 a 2 a cada um desses cinco itens totalizando o máximo de dez. A fim de averiguar a relação da aceleração do trabalho de parto utilizando Ocitocina, com ou sem analgesia, e a vitalidade do recém-nascido, através do Índice de Apgar, os autores investigaram 219 mulheres que tiveram seus partos na 33ª Enfermaria (Maternidade) da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, no período entre Julho de 1975 e

Janeiro de 1976, comparando quatro grupos: 1) trabalho de parto sem aceleração (grupo controle); 2) trabalho de parto com aceleração via uso de ocitocina; 3) trabalho de parto com analgesia e aceleração com ocitocina; 4) trabalho de parto com analgesia. Para a aceleração foi utilizada a ocitocina na dose de duas UI diluídas em 500 ml de soro glicosado a 5%. Para a analgesia a meperidina (Demerol), um entorpecente não opiáceo, foi a droga de escolha na dose de 100 mg (01ampola) intramuscular. Estratificamos nossa casuística em primíparas, secundíparas e multíparas. Nossos resultados indicaram que a média do Índice de Apgar nas primíparas foi igual para o grupo controle e grupo com aceleração (7,9) e um pouco menor naquelas em que se fez uso de analgesia com aceleração (7,3) e apenas analgesia (7,5). Nas secundíparas a média do Índice de Apgar foi um pouco menor no grupo com aceleração (7,8) do que no grupo controle (7,9). Ambos foram inferiores ao Apgar do grupo analgesia+aceleração e analgesia (8,0). Já nas multíparas os resultados foram bastante diferentes sendo bem melhor no grupo com aceleração (8,2) do que no controle (7,3). Já o grupo aceleração com analgesia obteve o pior índice de Apgar de todas as situações examinadas (7,0) enquanto que o grupo que só utilizou a analgesia teve uma média de 7,8. Os autores concluem que a aceleração do trabalho de parto com Ocitocina, quando bem indicada e corretamente acompanhada para evitar hiper-sistolias, não possui impacto negativo no recém-nato, quando avaliado pelo índice de Apgar. O mesmo parece ser verdade em relação à associação do uso de Ocitocina com a analgesia. Entretanto o pior resultado entre as multíparas que utilizaram analgesia e aceleração sugere a necessidade de cautela até que outros estudos afastem uma associação negativa e deletéria para o recém-nato até porque nossa casuística em relação à analgesia foi pequena para conclusões definitivas.


Descritores: Trabalho de Parto, Ocitocina, Apgar, Aceleração, Bem-estar fetal, Analgesia

Publicação/Apresentação: VIII Encontro Científico de Estudantes de Medicina do Brasil, Universidade Federal de Alagoas, Julho 1976; Semana de Debates Científicos do Centro de Ciências da Saúde, UFRJ, Setembro, 1976

Contribuição ao Conhecimento


Tabagismo na Gravidez: uma Agressão ao Feto?

02

• Valéria Lyra Freire, Arnaldo Prata Barbosa, Aurélio Molina, Wagner Buono

•33ª Enfermaria (Maternidade) da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e Maternidade Escola da UFRJ.


INTRODUÇÃO: Diversos são os efeitos que o fumo produz no organismo humano. A nicotina, por exemplo, além de causar irritação nasofaríngea e brônquica, tem ação em uma variedade de sinapses e junções neuro-efetoras. Possui atuações estimulantes e depressoras, aumentando a freqüência cardíaca, abolindo reflexamente as contrações de fome do estômago, aumentando a atividade motora do cólon e elevando a pressão arterial, entre muitos outros efeitos. Mais recentemente surgiram indícios de que o fumo durante a gestação teria uma ação maléfica sobre o concepto levando a uma maior incidência de baixo peso ao nascer, aumento da mortalidade perinatal, maior hiperbilirrubinemia e menor desenvolvimento intelectual, o que talvez possa ser explicado pelos altos níveis de nicotina e cotidina (principal metabólito da nicotina) no líquido amniótico e pelas alterações da túnica íntima das arteríolas umbilicais dos recém-natos nos filhos de mães fumantes. Além disso, encontrou-se também redução do fluxo sanguíneo placentário, redução dos movimentos respiratórios intrauterinos e hipóxia fetal.

OBJETIVO: Verificar se o tabagismo durante a gestação influi negativamente no concepto (abortamento espontâneo, peso e comprimento dos recém-natos) entre as mulheres que pariram em 2 maternidades públicas, nas cidades do Rio de Janeiro (33a Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia) e Niterói (Hospital Universitário Antônio Pedro).

SUJEITOS E MÉTODO: Duzentos e quarenta e nove parturientes foram entrevistadas, utilizando-se um questionário padronizado, entre janeiro e maio de 1976, tendo sido excluídas aquelas em que outros fatores agravantes poderiam influenciar a avaliação. Dessas, 214 foram selecionadas e comparadas (95 fumantes versus 119 não fumantes). Coletamos dados de suas fichas de pré-natal (altura, peso habitual, número de

consultas, medicamentos administrados) e dos prontuários dos recém-natos nos berçários.

RESULTADOS: Nossos resultados demonstraram uma maior incidência de abortamentos espontâneos no grupo das fumantes; maior incidência de recém-natos de baixo peso (igual ou inferior a 2500g); maior incidência de baixa estatura (menor ou igual a 45 cm), principalmente entre aquelas que não fizeram acompanhamento pré-natal.

CONCLUSÕES: Apesar do pequeno número de pacientes estudadas, dos riscos em relação à confiabilidade dos dados colhidos nos prontuários (diferentes enfermeiras pesando os RNs) e informações nem sempre precisas oferecidas pelas pacientes, nossos achados sugerem que, influenciados ou não por outros fatores agravantes (deficiência alimentar; baixo nível sócio-econômico-cultural; fatores constitucionais; hábitos higiênicos, etc) o fumo parece ter uma ação negativa sobre o feto, determinando déficit pondo-estatural, devendo ser evitado ou diminuído durante a gestação.


•Descritores: Fumo, Tabagismo, Efeitos-colaterais, Gravidez, Gestação, Baixo-peso, Abortamento.

•Publicação/Apresentação: VIII Encontro Cientifíco de Estudantes de Medicina do Brasil, Universidade Federal de Alagoas, Julho 1976; Semana de Debates Científicos do Centro de Ciências da Saúde, UFRJ, Setembro, 1978.

Contribuição ao Conhecimento


Enteroparasitoses e Gestação

03

• Arnaldo Prata Barbosa, Aurélio Molina da Costa, Antonio José Ledo Alves da Cunha, Alberto Chacur

• 33ª Enfermaria (Maternidade) da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e Maternidade Escola da UFRJ


Parasitoses intestinais são infecções do intestino causadas por protozoários ou helmintos. São mais comuns nas regiões tropicais e subtropicais e em populações mais carentes em função das precárias condições de saneamento e higiene. No Brasil se constitui em um problema de saúde pública, variando a sua prevalência de região para região. Os parasitas intestinais mais comuns em nosso meio são o Ascaris Lumbricoides, as Ameba Histolytica e Coli, as Taenias (Saginata e Solium), o Balantidium Coli, o Enterobius Vermiculares, a Endolimax Nana, o Ancylostoma Duodenale (ou Necator Americanus), o Trichuris Trichiura, a Giárdia Lambia, o Strongyloides Stercoralis e o Hymenolepis Nana, podendo cursar com sintomas digestivos leves como dor abdominal, náuseas, diarréia ou constipação intestinal, "digestão difícil", flatulência, prurido anal e, algumas vezes, com anemias severas e de difícil tratamento, principalmente no caso do Ancylostoma duodenalis, assim como com desnutrição e deficiência no aprendizado e desenvolvimento físico. As relações negativas entre parasitoses intestinais e gravidez, apesar de algumas controvérsias (particularmente em relação à toxicidade dos agentes terapêuticos para o binômio mãe-feto, a melhor época do tratamento e o problema das reinfestações), há muito é uma preocupação dos profissionais de saúde. Em 1899 Pinetti afirmava que os ancilostomídeos podiam provocar trabalho de parto prematuro por uma ação tóxica sobre o útero e Suares Herrera (1957) relatava lesões renais e alto índice de abortamentos causados por Ancilostomídeos.. Pachi (1964) verificou que a infestação por Ascaris Lumbricoides causaria reflexos sobre a musculatura lisa o que levaria a uma hipertonia, que causaria parto prematuro. Autores nacionais também se manifestaram sobre a temática, como por exemplo Martins (1969) que associava enteroparasitoses com toxemia gravídica e prematuridade e Grelle (1970) que, afirma que as enteroparasitoses podem ser responsaveis por intensa

anemia ferropriva. Por sua vez Rezende (1975) defende a visão de que as enteroparasitoses na gestação merecem tratamento enérgico. Investigamos 154 gestantes que frequentaram o pré-natal da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, no período de Fevereiro a Maio de 1976 através da avaliação do hematócrito e do protoparasitológico de fezes. Só as que apresentavam todos os exames pré-natais (103) foram incluídas na análise final. Sessenta e duas (cerca de 62%) apresentavam positividade para enteroparasitoses sendo que a metade (31 casos) apresentava apenas um parasita e as outras 50% estavam infestadas por mais de uma parasita (21 com duas espécies e 10 com três espécies ou mais). O valor médio do hematócrito foi inferior no grupo infectado (36.9% X 39.8%) assim como os valores médios da hemoglobina (10,5 g/dl versus 11,5 g/dl). Além disso, houve uma grande incidência de pacientes com hemoglobina com valores entre 9 e 10 g/dl no grupo infestado. Uma paciente com infestação por Necatur Americanus e Truchuris Trichuria apresentava um valor de hemoglobina de 7g/dl. Apesar do risco de falhas em estudos com dados secundários (no caso, fichas de pré-natal e prontuários) e da influência que as reposições de ferro e vitaminas prescritas pelos obstetras (não analisadas pelos autores) podem ter tido nos resultados, nossos dados suportam a necessidade de discussões sobre as vantagens e desvantagens do tratamento das enteroparasitoses durante a gestação. Os autores sugerem que outros estudos sejam realizados para avaliar o impacto das enteroparasitoses no parto, puerpério e para o recém-nato.

Descritores: Parasitoses Intestinais, Gestação, Enteroparasitoses, Anemias, Parto prematuro

Publicação/Apresentação: VIII Encontro Científico de Estudantes de Medicina do Brasil, Universidade Federal de Alagoas, Julho 1976; Semana de Debates Científicos do Centro de Ciências da Saúde, UFRJ, Setembro, 1976


Contribuição ao Conhecimento


Carcinoma da Trompa de Falópio

04

•Rubia Villar, Aurélio Molina, Alfredo Cunha

•Serviço de Ginecologia do Hospital da Polícia Militar do Rio de Janeiro


Introdução: O câncer, um dos grandes males do século XX, permanece sendo uma importante causa de morbidade e mortalidade, atingindo anualmente cerca de 8 milhões de seres humanos e levando ao óbito 5 milhões de pessoas em todo o mundo, apesar de décadas de pesquisa básicas e clínicas, e de várias novas terapias promissoras. As neoplasias ginecológicas correspondem a aproximadamente 13% dos casos de câncer em mulheres. Os cânceres de ovário e de útero estão entre as cinco causas mais comuns de morte por câncer em mulheres, sendo ultrapassados apenas pelos de mama, cólon e pulmão. Em verdade, o câncer ginecológico sempre se constituiu em um flagelo para as mulheres, principalmente em regiões desprovidas de recursos sócio-econômicos e de assistência à saúde, que apresentam os maiores índices de mortalidade.

Objetivo: Este trabalho visa comunicar um caso de câncer de tuba devido a sua raridade (0,16 a 1,81% dos cânceres genitais) e também pelas poucas informações sobre sua epidemiologia, sintomas, sinais, assim como pelo difícil estabelecimento de um padrão terapêutico.

Descrição: Nosso caso clínico é o de uma paciente (CSL), de 51 anos, negra, viúva, com queixas de "caroço e dor na barriga", algia essa contínua, de pequena intensidade, que se irradiava para todo o abdômen e que desaparecia quando o "caroço sumia". O exame físico apresentava hérnia epigástrica sendo indicado tratamento cirúrgico. No inventário da cavidade, durante a hernioplastia, encontrou-se tumoração semelhante a prenhez rota, tendo sido realizado salpingectomia unilateral. O histopatológico revelou adenocarcinoma de tuba. Foi re-operada e submetida a Pan Histerectomia com omentectomia, com laudo histopatológico mostrando ausência de doença residual. A paciente foi submetida a oito séries de poliquimioterapia com

ciclofosfamida, methotrexate, vincristina e fluorouracil. Apresentou metástase em septo reto-vaginal, tendo sido utilizada radioterapia (5000 rads em toda a pelve), seguida de medroxiprogesterona, 500 mg de 15 em 15 dias. Não houve resposta da tumoração ao tratamento, evoluindo com hidronefrose e óbito.

Conclusões: No presente artigo mostramos uma patologia de primitividade histologicamente comprovada, rara, de difícil diagnóstico e que evoluiu mal. A revisão da literatura demonstrou escassez de informações, o que impede a formação de um consenso quanto à melhor abordagem diagnóstica e, principalmente, terapêutica. Entretanto, acredita-se que 90% desses tumores são metastáticos do ovário, colon, estômago e mama sendo que os outros 10% são de etiologia desconhecida. Alguns autores defendem que como sua histologia e comportamento são semelhantes ao câncer ovariano, a avaliação, o estadiamento, o tratamento e o seguimento (follow-up) do câncer de tuba uterina deve ser o mesmo dos tumores malignos do ovário.


•Descritores: Carcinoma, Tuba, Trompa de Falópio, Câncer, Quimioterapia, Tratamento.

•Publicação/Apresentação: Jornal Brasileiro de Ginecologia, 94 (10): 441-44, 1984

Contribuição ao Conhecimento


Tumor do Seio Endodérmico: Apresentação de um Caso

05

•Paulo César do Amaral; Sandra Regina Carvalho Gonçalves; Maria Izabel Ferreira Constante; Alfredo de Almeida Cunha; Aurélio Molina da Costa; Luiz Gonzaga Manhäes .

•Serviço de Ginecologia do Hospital da Polícia Militar do Rio de Janeiro


Introdução: Os tumores malignos não epiteliais correspondem a cerca de 10% de todos os cânceres ovarianos e incluem os tumores de células germinativas, os do cordão sexual e estroma gonadal (mesenquimais), os metastáticos para o ovário (ex: Krukenberg), e, finalmente, uma variedade de cânceres extremamente raros (sarcomas, tumores de células lipóicas, gonadoblatomas e os inclassificáveis). O tumor de seio endodérmico do ovário, também conhecido como tumor de Teilum, ou tumor do Saco Vitelino (Yolk Sac Carcinomas) e que também pode afetar os testículos, é um câncer não epitelial, classificado como sendo um dos tipos de tumores de células germinativas que são aqueles derivados das células primordiais ovarianas (os outros são: disgerminomas, teratomas imaturos/maduros com transformação maligna/monodérmicos, altamente especializados, carcinomas embrionários, poliembriomas, coriocarcinoma, formas mistas). São mais freqüentes em crianças e jovens (60-70% de todos os tumores em mulheres com menos de 20 anos). A média de idade para os tumores de seio endodérmico é de 16-18 anos, mas, em cerca de um terço, o diagnóstico é feito antes da menarca. Existe uma boa relação entre os níveis de alfa-fetoproteína e a extensão da doença. A sobrevida em 5 anos é em torno de 50% para casos com estadiamento II-IV. O tratamento preferencial é o cirúrgico acompanhado de quimioterapia.

objetivo: Apresentar um caso de tumor ovariano raro, de linhagem germinativa, diagnosticado como sendo tumor de seio endodérmico.

DESCRIÇÃO: O caso em tela trata-se de uma paciente com 11 anos cuja a queixa era aumento do volume abdominal com evolução rápida. A palpação e toque retal encontraram massa que ocupava toda a pelve e o abdômen inferior. A paciente

foi submetida a laparotomia exploradora onde se encontrou tumor sólido-cístico com áreas de hemorragia, medindo aproximadamente 18 x 18 cm, sendo realizada anexectomia unilateral. O exame histopatológico revelou tratar-se de tumor de seio endodérmico.

CONCLUSÃO: Embora sejam, na grande maioria das vezes, passíveis de um tratamento cirúrgico mais conservador (anexectomia unilateral, nos casos de tumores que acometem apenas um ovário), após discussão clínica e com os familiares, optou-se por uma segunda laparotomia, sendo realizada histerectomia total com anexectomia contralateral e omentectomia. O tratamento foi complementado com poliquimioterapia (vimblastina-bleomicina-cisplatinum), porém na terceira série a paciente recusou-se a continuar o tratamento. Um ano após a cirurgia a paciente encontrava-se assintomática e sem sinais clínicos ou laboratoriais de recidivas ou metástases.


•Descritores: Câncer, Ovário, Quimioterapia, Seio endomérmico, Teilum

•Publicação/Apresentação: Jornal Brasileiro de Ginecologia; 96(3):129-32, 1986.

Contribuição ao Conhecimento


Indução de Amenorréia Permanente em Paciente Portadora de Afibrinogenemia Hereditária

06

•Paula Loureiro, Aurélio Molina, Lauro José Pessoa Lins

•Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE), Serviço de Ginecologia do Hospital Agamenon Magalhães (INAMPS-PE), Instituto de Radioterapia da Casa de Saúde São Marcos


introdução: Sangramento uterino anormal é qualquer sangramento com frequência, duração ou quantidade diferente do que se considera o padrão menstrual normal para as mulheres em idade reprodutiva, isto é, ciclos de 28 + 7 dias, com duração de 5 + 2 dias e fluxo de 60 + 20 ml. Dentre as causas mais comuns de sangramento anormal na adolescência destacam-se a anovulação, a gravidez, o uso de hormônios e as coagulopatias. Em adolescentes, com sangramento menstrual aumentado, as doenças hematológicas devem ser sempre consideradas, sendo as mais comuns a púrpura trombocitopênica idiopática e a doença de Von Willebrand.

objetivo: Relatar e discutir o caso de uma paciente do sexo feminino, de 19 anos, parda, natural de Pernambuco, residente no município de Petrolina, distante 721 km da cidade do Recife.

Descrição: Desde sua menarca aos 13 anos, a paciente apresentava hemorragia vaginal intensa quando de sua menstruação, necessitando intervenção médica mensal para controle do quadro hemorrágico, que chegava a exigir transfusão sanguínea. Procurou o serviço do HEMOPE (Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco), onde pesquisa diagnóstica revelou que a mesma era portadora de Afibrinogenemia Hereditária, raro transtorno sanguíneo congênito em que o sangue não coagula normalmente devido à ausência ou ao mal funcionamento do fibrinogênio, proteína necessária para a coagulação. Graves e fatais complicações hemorrágicas são comuns nesta patologia, sendo que a hemorragia cerebral é a maior causa de morte. Após discussão do caso com profissionais do serviço de Ginecologia do Hospital Agamenon Magalhães, optou-se pelo uso de anticoncepcional hormonal oral, de forma contínua, isto é, sem interrupções para sangramento mensal. A paciente evoluiu com sangramentos "de escape" sendo cogitado, então, a realização de

histerectomia total abdominal. Após avaliação de riscos e benefícios dessa opção cirúrgica, optou-se pela utilização de tratamento radioterápico. A técnica usada foi a da braquiterapia, onde uma fonte radioativa é colocada dentro ou perto do local alvo (no caso, o endométrio). A escolha foi a utilização de radium intracavitário, no útero, para destruição do endométrio, levando a paciente a uma amenorréia actínica. Durante cerca de um ano de follow-up a paciente evoluiu sem intercorrências e sem apresentar sangramento.

conclusão: Os autores concluem que a radioterapia (braquiterapia) pode ser considerada, após contextualização e individualização, como uma boa opção terapêutica em casos de afibrinogenemia hereditária, em pacientes do sexo feminino, quando outras formas de tratamento não obtenham sucesso, ou estejam contra-indicadas.


•Descritores: Afibrinogenemia, Hemorragia genital, Tratamento, Radioterapia, Braquiterapia, Adolescência.

•Publicação/Apresentação: XI Congresso Nacional do Colégio Brasileiro de Hematologia, Maio de 1987.

Contribuição ao Conhecimento


Quimioterapia Antineoplásica no Câncer de Ovário

07

•Aurélio Molina

•Instituto de Ginecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)


O objetivo deste estudo foi a análise de vinte e três casos de pacientes portadoras do câncer de ovário (vinte casos prospectivamente e três retrospectivamente), tratadas em três instituições (Hospital Universitário da UFRJ e Instituto de Ginecologia da UFRJ e Hospital da Polícia Militar/RJ), entre março de 1979 e fevereiro de 1985, nas quais foi utilizado algum tipo de tratamento quimioterápico. Foi feita também uma revisão bibliográfica acerca dos aspectos que influenciam o tratamento e o prognóstico no câncer de ovário, tais como a classificação histopatológica, o correto estadiamento, o seguimento (follow-up) e, principalmente, a utilização de drogas antineoplásicas. A idade média das pacientes era de 47 anos (52 anos para os epiteliais), sendo que o grupo histológico de maior incidência foi o epitelial com 17 casos (74%), sendo 6 serosos, 5 indiferenciados, 3 endometrióides e 3 mucinosos, seguidos dos metastáticos, conhecidos como Krukemberg (13%), dos de células germinativas (8,7%) e dos mesenquimais (4,3%). O diagnóstico foi sempre tardio (80% em estádio III e 20% em estádio IV), sendo o estadiamento inadequado na maioria dos casos por não atender aos atuais preceitos de abordagem do câncer do ovário. O tratamento cirúrgico foi insuficiente em boa parte dos casos, sendo que a pan-histerectomia (retirada do útero, trompas e ovários) com omentectomia foi realizada em 41% dos casos com tumores epiteliais. O tempo decorrido entre a cirurgia e o início da quimioterapia foi elevado (média de 37 dias). A cirurgia de revisão (second-look) foi adotada esporadicamente (3 casos, correspondendo a 13%), e os critérios de resposta ao tratamento não foram adequadamente padronizados. Apesar disso, considerou-se que o tempo médio livre de doença, nas pacientes com resposta completa, foi de 20 meses (40 meses para os endometrióides). Foram utilizados vários esquemas terapêuticos nos tumores epiteliais e metastáticos [AVC ( Adriamicina, Vincristina, Cicloposfamida); FAC (Fluorouracil, Adriamicina, Ciclofosfamida); AC

(Adriamicina, Ciclofosfamida); CMFV (Ciclogosfamida, Methotrexate, Fluorouracil, Vincristina); PAC (Cisplatina, Adriamicina, Ciclofosfamida) e L-PAM (Melphal)], e somente o VBP (Vimblastina, Bleomicina, Eisplatina) nos tumores de células germinativas. O tratamento quimioterápico não foi completado em 78% dos casos (18 pacientes), sendo 50% por abandono do tratamento e 50% por suspensão do mesmo (7 recidivas/evolução e 2 por toxicidade). O percentual de não aderência ao controle também foi alto (7 pacientes, correspondendo a 30%). A sobrevida média foi de 20 meses para aquelas no estádio III e 13 meses para o estádio IV. Para as portadoras de tumores epiteliais a sobrevida média foi de 17 meses, enquanto que para aquelas com neoplasias endometrióides a sobrevida se elevou para 35 meses. O autor conclui que faz-se necessário maior esforço, tanto para melhorar a prevenção secundária (diagnóstico precoce, talvez com o uso mais sistemático da ultra-sonografia), quanto para a padronização do tratamento, do estadiamento e dos critérios de respostas. Um aperfeiçoamento dos protocolos de tratamento com drogas menos tóxicas e mais efetivas, assim como do tratamento a nível ambulatorial, pode e deve levar a uma melhor assistência oncológica e melhor qualidade de sobrevida de nossas enfermas.


•Descritores: Carcinoma, Câncer, Ovário, Quimioterapia, Tratamento, Resultados

•Publicação/Apresentação: Tese de Mestrado defendida em 09/05/1989

Contribuição ao Conhecimento


Family Planning in Brazil: An Instrument of Health or Illness?

08

•Aurélio Molina

•Department of Community Medicine, University of Leeds, England


The purpose of this dissertation was to identify, analyse and discuss how family planning programmes are being undertaken in Brazil. To help me in this task I had tried to answer some questions such as: What is occurring in Brazil? Family Planning, or Birth Control Programme? Who is planning what, for whom, why and how? Who is controlling what, for whom, why and how? What is, and what should be the state and the private sector role in family planning programs? What comprises the family planning services? And, finally, is the family planning programme in Brazil an instrument of health, or illness? After analysing the available data I have concluded that: The myth of overpopulation created by the ideology surrounding birth control and "family planning" is destructive, because, instead of clarifying our understanding about population and reproductive issues, it obfuscates our vision and limits our ability to see the real problems and find workable solutions. The analysis from the last demographic data has shown that the great changes in the Brazilian population were caused mainly by the important decrease in fertility rate. Brazil's transition to low fertility has occurred in the absence of a government-sponsored national family planning program, but was supported by private organizations with international connections. In Brazil, the use of contraceptive methods is commonly carried out without an offer of adequate medical screening, supervision, or follow-up. As a result, many women experience negative side effects of the contraceptive methods and become disillusioned with contraception. Family planning in Brazil is essentially a "no choice" program based, in most situations, on hormonal contraceptives (mainly the pill) and female sterilization. The percentage of women sterilized in Brazil increased six fold in 13 years (from 7.1% to 44.0%). The use of coercive incentives to promote sterilization is an unjustifiable intrusion into the life of the citizens and, in many cases, a physical violence against women's bodies and a violation of human rights. The lack of

information about risks, side effects and contraindications of contraceptive methods, both among the population and the health professionals, represents an important problem in family planning in Brazil. Barrier contraceptives, mainly the diaphragm, are not available, and there are no incentives for their use, based on the false view of "low-efficacy methods". Family Planning will gain credibility only when it is considered in a totality of human rights, and it evolves as a movement of care and concern for the condition of the human being. The relation between high fertility rate and poverty and malnutrition or low fertility rate and wealth and good nutrition could not be true. At least it is not true for Brazil. In Brazil there is no direct relation between environmental destruction and population growth. As the population growth decreased, deforestation inversely increased in the Amazon Rain Forest. The reason for poverty, malnutrition, and environmental destruction is economic, at least in the Brazilian context. This dissertation has showed that in Brazil, nowadays, family planning is rather an instrument of illness and not of health.


•Descriptors (key words): Family Planning, Bioethics, Ethics, Brazil, Birth control, Determinants

•Publication/Presentation: Master Dissertation submitted on August 1990, University of Leeds - England

Contribuição ao Conhecimento


Conhecimento e Atitudes Relativos a AIDS em Mulheres de Baixa Renda no Recife

09

•Aurélio Molina, Cícero Costa, Hélio Costa, Jeanine Trindade, Laura Olinda

•CISAM e Departamento Materno-Infantil da Faculdade de Ciências Médicas da UPE


Objetivos: Investigar os conhecimentos e atitudes acerca da AIDS entre as mulheres de baixa renda que freqüentam os serviços do Centro de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM) da UPE.

Sujeitos e Método: O estudo foi um KAP survey (inquérito sobre conhecimentos, atitudes e práticas) sendo os dados obtidos através de entrevista estruturada, utilizando-se de questionário específico com perguntas abertas e fechadas. A amostragem foi a de conveniência e foram entrevistadas incidentalmente 196 pacientes, durante os meses de julho e agosto de 1993.

Resultados: Na caracterização da amostra encontramos que a maioria de nossas pacientes era analfabeta (25%) ou possuía primeiro grau incompleto (49%) e 75% tinha uma renda familiar menor ou igual a 2 salários mínimos. Setenta e três por cento tinha menos de 30 anos de idade, 17% das quais, com menos de 20 anos. A quase totalidade (99,5%) já tinha ouvido falar sobre AIDS sendo que 38% sabiam que era uma doença, 29,5% mencionaram que a mesma era contagiosa, e, 23,4%, que era incurável. Oitenta e quatro por cento (84%) afirmaram que sabiam como se "contraía AIDS", das quais 36% asseveraram que era através do sexo e 6% através de ato sexual e seringas e sangue contaminados. Estimuladas, diante de várias opções, 30,6% responderam afirmativamente que se poderia "contrair AIDS" através do beijo, 14,3% através do aperto de mão, 52% pelo uso do banheiro, 38,2% através do uso de vestuário, 97,4% através do ato sexual, 34% através do ar, 48,5% através de copo d'água, 98,5% através da transfusão sanguínea e 80,6% através do uso de seringas contaminadas. Perguntadas sobre atitudes que poderiam "evitar a AIDS", o uso do condom foi citado em 40,5% entre as respostas espontâneas seguida pela "seleção de parceiros" "citada por 13%", "par

ceiro único"(3.6%), "cuidados com seringa" (11%) e "cuidados com transfusão sanguínea" (7%). Ainda estimuladas, entre várias opções, 93% afirmaram positivamente que o uso do preservativo "evita AIDS". Também, afirmativamente, 46,4% acreditam que a higiene, após o ato sexual, "evita AIDS", 77% com relação a um "maior conhecimento do parceiro" precedendo o ato sexual, 67% com relação ao não sentar no aparelho sanitário, 77,5% com relação ao fato de ter um parceiro sexual único e 57% ao fato de não doar sangue. Por fim, 97% acha que a "AIDS mata", porém 12% acredita que a "AIDS tem cura".

Conclusão: Os dados indicam que, apesar do elevado nível de informação circulante sobre a AIDS entre a população de baixa renda, a qualidade dessa informação ainda é relativamente precária, dando margem a atitudes preconceituosas, medidas preventivas ineficazes e risco de infecção. Sugere-se não só a manutenção mas o incremento de políticas de saúde educativas com relação a AIDS na população de baixa renda.


•Descritores: AIDS, Conhecimentos, Atitudes, Práticas, Mulheres, Recife, Brasil

•Publicação/Apresentação: 45o Congresso de Ginecologia e Obstetrícia, Salvador, Bahia, Novembro, 1993

Contribuição ao Conhecimento


Mulher Negra, Pobreza e Saúde Reprodutiva

10

•Aurélio Molina

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas, UPE


INTRODUÇÃO: A população negra (pretos e pardos) representa cerca de 45% do total da população brasileira, segundo o último Censo(1991), correspondendo à segunda maior população negra do mundo, atrás somente da Nigéria. Portanto, dentro do atual contexto socioeconômico nacional, discorrer sobre a saúde reprodutiva da mulher pobre é falar sobre a saúde reprodutiva da mulher negra e parda, que compõe a maioria da população feminina excluída.

OBJETIVO, sujeitos e método: Mesmo que cientificamente não seja possível uma generalização, pelo tipo de amostragem utilizada (apenas mulheres do Recife), apresentamos alguns achados qualitativos e descritivos de parte de uma pesquisa realizada em fevereiro-abril de 1993, envolvendo 397 mulheres entrevistadas no pós-parto, nas 6 principais maternidades do sistema SUS-Recife, com idade média de 24 anos, onde 78,1% eram negras ou pardas, sendo 26% analfabetas e 16,4% não tendo nenhuma renda familiar (a média era de 1,6 salários mínimos). A grande maioria era "donas do lar" (79,8%), viviam em união (67%), ou eram casadas (26,7%). O número de solteiras era de 4,3%.

RESULTADOS: Com relação ao conhecimento de métodos contraceptivos, encontramos que a grande maioria conhecia a ligação tubária (99,2%), a pílula (98,4%), os injetáveis (96,5%), a camisinha (96,2%), a tabelinha (89,5%), o DIU (72,7%), o coito interrompido (59,4%), os espermicidas (55%), a vasectomia (58,8%), o diafragma (24,9%) e outros (2,8%). Os principais determinantes na escolha de um método contraceptivo foram os seus baixos efeitos colaterais (38,9%), seguidos de praticidade (24,7%) e efetividade (19,5%). Para elas o melhor método é a ligadura tubária (79,5%) devido a sua irreversibilidade (40,5%), efetividade (33,2%) e menos efeitos colaterais (14,9%). A laqueadura foi também considerada o método mais efetivo (84,4%). O método considerado como o mais ineficaz, surpreendentemente, foi a pílula (54,9%), seguido da tabela (17,3%). A ligadura também foi considerada como o melhor método para aquelas que já atingiram o número de filhos desejados (95%). As características ideais de um método, para aquelas que já atingiram o número ideal de filhos, foram a irreversibilidade (48,7%), a efetividade (42,2%) e praticidade (6,5%). A ligadura foi consi

derada ainda como o método mais "fácil " de se usar (37,5%), seguida da pílula (33,7%) e dos injetáveis (12,6%). Das entrevistadas, 75% já tinham usado algum método, com uma média aproximada de 2 diferentes métodos (1,7). O método mais usado foi a pílula (87,5%), seguido dos injetáveis (30%), da camisinha (16,2%), da tabela (15,2%), do coito interrompido (12,9%) e dos espermicidas (7,9%). A maioria das mulheres apresentou efeitos colaterais (68,6%), principalmente com a pílula (69%). O local onde se "conseguia as pílulas" era o balcão das farmácias (60,2%), sendo que 29,4% não recebeu nenhuma orientação quanto ao uso das mesmas. Consideram (84,9%), que a ligadura tubária tem menos efeitos colaterais que os outros métodos. A maioria (77%) afirmou que é fácil se conseguir informação sobre como evitar filhos e que as unidades de saúde (67%) eram o lugar onde podiam conseguir essas informações, porém somente 33% sabiam o que era um serviço de planejamento familiar. Muitas (36,2%) nunca tinham feito nenhum exame preventivo e nunca tinham discutido contracepção com nenhum médico (44,8%). A média de métodos oferecidos pelos médicos era de dois. A metade (52,4%) nunca tinha discutido a contracepção com seu companheiro; somente uma pequena parte dos maridos (21,2%) concordaria em se submeter a vasectomia, e menos da metade concordaria em usar camisinha (44,5%).

CONCLUSÃO: Esses resultados permitem-nos criar o seguinte modelo teórico, no qual as mulheres de baixa renda, no Recife, negras e mestiças na sua imensa maioria, caracterizam-se por praticarem um planejamento familiar distorcido, que tem como principais características:

• Um alto conhecimento dos métodos contraceptivos, fazendo exceção o diafragma;

• Uma procura por método seguro, prático e principalmente com poucos efeitos colaterais;

• Falta de opções na rede SUS, quando procuram informações;

• Uso da pílula, sem apoio, informação e orientação;

• Alta freqüência de efeitos colaterais e falhas da pílula (reais ou "míticas");

• Mau-atendimento no setor público;

• Falta de diálogo e apoio dos companheiros em relação à contracepção;

• Eleição da laqueadura tubária como o método ideal.


•Descritores: Mulher Negra, Planejamento Familiar, Saúde Reprodutiva, Recife, Ligação, Esterilização

•Publicação/Apresentação: IV Congresso Afro-Brasileiro, Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Abril 1994

Contribuição ao Conhecimento


Eugemismo (Racismo Internacional) e Esterilização Feminina

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•Aurélio Molina

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas, UPE


INTRODUÇÃO: O termo Eugenia foi criado por Francis Galton (1822-1911), que o definiu como sendo "o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações, seja física ou mentalmente". Em seu livro "Hereditary Talent and Genius", de 1865, Galton propunha que "as forças cegas da seleção natural, como agente propulsor do progresso, devem ser substituídas por uma seleção consciente, e os homens devem usar todos os conhecimentos adquiridos pelo estudo e o processo da evolução nos tempos passados, a fim de promover o progresso físico e moral no futuro".

OBJETIVO: Sumarizar pesquisa bibliográfica onde se procurou informações que indicassem relações entre o movimento Eugênico e a prática da esterilização feminina.

RESULTADO: Durante o século XIX, por razões políticas e sociais, houve um aumento do interesse em relação à hereditariedade, que se tornou um elemento importante das ideologias liberais. Servia para consolidar a meritocracia, necessária para explicar a existência das desigualdades sociais e econômicas entre pobres e ricos, brancos e pretos, homens e mulheres, numa sociedade que se dizia oferecer oportunidades iguais. A explicação encontrada era que tais "discrepâncias" expressavam "diferenças" herdadas via nascimento (Hubbard, 1985). Essa visão foi estimulada por figuras importantes na sociedade científica daquela época. As idéias de Charles Darwin, em relação ao dano causado à espécie humana pelos imbecis e doentes, foram importantes para a criação do movimento Eugênico (Whelan, 1986). Francis Galton, criador do termo, acreditava que para melhorar a sociedade, era necessário aumentar o número dos capazes e diminuir a fertilidade dos inferiores (Mackenzie, 1979). Essas idéias se propagaram rapidamente e tornaram-se populares no início do século XX, principalmente na

Inglaterra, EUA e Alemanha. Nos EUA criaram-se as Leis Eugênicas de Esterilização, e na Alemanha criou-se a Sociedade para Higiene Racial. Em 1917 Havelock Ellis, conhecido por seus estudos sobre a sexualidade e pela defesa dos direitos da mulher e da educação sexual, mas que também era um "eugênico", advoga um relacionamento mais estreito com o Movimento pelo Controle Populacional. Conhecida entre nós pela suas contribuições ao movimento feminista e pela divulgação dos métodos contraceptivos, Marie Stopes (Inglaterra) advogava a esterilização daqueles incapazes de uma maternidade ou paternidade responsável (Whelan, 1986), e Margareth Sanger (EUA) defendia uma política de segregação e esterilização compulsória para aquele mesmo tipo de população (Bondestan,1980). Essa associação entre o Eugemismo e o Movimento "Controlista" aumenta progressivamente, e, já em 1940, o presidente da Federação Eugênica Americana, Farchild, afirma que "os dois movimentos são agora quase indistinguíveis" (Mass, 1981). Em 1948 a Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF) é fundada, e tem seu primeiro escritório em Londres custeado pela Sociedade Eugênica Inglesa. Em 1957, Dr.Blacker, Secretário Honorário da Sociedade Eugênica, sugere que os objetivos eugênicos devem ser conseguidos através de políticas e estratégias mais "encobertas". Em 1960 a Sociedade resolve aumentar seu apoio financeiro à IPPF e à Associação de Planejamento Familiar. Em 1964, Dr Blaker expressa seu suporte à política de esterilização voluntária na I Conferência Internacional de Esterilização Voluntária e, pondo em prática sua estratégia "mais encoberta", afirma, entre outras coisas, que a esterilização é importante para a melhoria da saúde e das condições sócio-econômicas dos indivíduos.

CONCLUSÃO: Existem evidências na literatura que associam políticas de esterilização sexual com o movimento racista internacional.


•Descritores: Esterilização Feminina, Laqueadura Tubária, Eugenia, Racismo

•Publicação/Apresentação: IV Congresso Afro-Brasileiro, Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Abril 1994

Contribuição ao Conhecimento


Modelo Teórico dos Determinantes da Esterilização Feminina

12

•Aurélio Molina

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas, UPE


OBJETIVO: Apresentar modelo teórico diagramático que possa servir para a compreensão da complexidade e das inter-relações dos determinantes da esterilização feminina no Brasil.

Apresentação: Nesse resumo, os possíveis determinantes, concebidos em quatro grandes grupos de fatores, serão apenas listados, sem detalhamento.

•FATORES ESTRUTURAIS INTERNACIONAIS. São nominados assim os determinantes que atuaram através de políticas populacionais, organizações governamentais e não governamentais divulgando e sedimentando a idéia da necessidade do controle da natalidade. São eles os Políticos, os Econômicos, os Neo-Malthusianos, o Movimento de Controle da Natalidade, o Movimento Eugênico e os Fatores Demográficos (correntes migratórias). Inclui-se também nesse grupo os fatores tecnológicos como a ausência de avanços na contracepção masculina e a melhoria das técnicas e abordagens cirúrgicas .

•FATORES ESTRUTURAIS BRASILEIROS. Aqui são agrupados os determinantes que em nível nacional, direta ou indiretamente, podem estar contribuindo para a utilização da laqueadura tubária: os Políticos (políticas populacionais; o papel do político profissional; o papel da Igreja; movimento feminista); Demográficos (migração interna; urbanização); Econômicos (honorários "extra" e o baixo salário dos médicos; pobreza; a mulher no mercado de trabalho; desemprego); Educacionais (inadequado currículo médico; treinamento médico falho e desvirtuado; baixo nível educacional da população; crise universitária; ausência ou desinformação sobre planejamento familiar); Saúde [profissionais da saúde (desconhecimento dos efeitos colaterais da ligação; conveniência; práticas inadequadas; preconceitos)]; [sistema de saúde (financiamento insuficiente)]; [unidades de saúde (baixa qualidade dos serviços oferecidos, alta incidência de cesarianas; dificuldade de acesso aos serviços de planejamento familiar; falta de opções contraceptivas, incluindo masculina)]; políticas de saúde [(não implantação de programas de planejamento familiar; falta de investimento na aquisição ou

produção de métodos não permanentes; não legalização do aborto)]; [ONGs (grande oferta de treinamento e material cirúrgico para laqueadura)];

•FATORES SÓCIO-CULTURAIS. Nossa revisão e reflexão crítica apontou para as seguintes variáveis que podem ser determinantes da escolha pela esterelização: Status da mulher moderna; Mídia; Estímulos coercitivos; Machismo; Medicalização dos Problemas Sociais; Ausência de Suporte para as Mulheres Trabalhadoras; Crenças, Mitos e Desinformação; Pressões; Ausência de Educação Sexual;

•FATORES PESSOAIS. Alguns dos determinantes teóricos ficam melhor agrupados como sendo aqueles de origem própria, individual: os relacionados com Informação (desconhecimento dos efeitos colaterais da ligação; o nível educacional; o ter ou não profissão); os relacionados com a Contracepção (efeitos colaterais; o nível de conhecimento dos métodos; a falta de aderência ao uso; a praticidade; o tempo de uso; as falhas; o custo; a eficácia); os Relacionados com Gestações e Partos anteriores (número; complicações); a Relação Marital (estabilidade; comunicação); os Aspectos Demográficos (tamanho familiar ideal; a idade e sexo dos filhos; a idade; a raça); a Religião; os Aspectos Financeiros (renda); a Saúde (contra-indicação de outros métodos ou de nova gestação).

CONCLUSÃO: É importante que se tenha em mente que todos esses fatores estão interconectados e são compatíveis com o atual paradigma científico, que é o da complexidade, da multifatoriedade, da "teia sem costuras" e da inter e trans-relação de múltiplas causas e efeitos. Os determinantes aqui apresentados podem ser agrupados de forma diferente, e os grupamentos realizados podem ser considerados algo artificial. As classificações feitas pelo autor são apenas uma tentativa de simplificação e didatismo de uma complexa realidade. Apesar dessas dificuldades, este modelo é a primeira tentativa, na literatura, de se relacionar, sistematizar e integrar teoricamente todos os possíveis macro e micro determinantes da alta prevalência da ligadura tubária entre as mulheres brasileiras em idade fértil.

•Descritores: Esterilização Feminina, Laqueadura Tubária, Determinantes, Modelo, Brasil

•Publicação/Apresentação: IV Congresso Afro-Brasileiro, Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Abril, 1994


Contribuição ao Conhecimento


A Ética e o Planejamento Familiar

13


•Aurélio Molina

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas, UPE

INTRODUÇÃO: Dentre as inúmeras definições encontradas na literatura, poderíamos afirmar que a Ética é um ramo da Filosofia concernente à distinção entre o certo e o errado, o bem e mal, o adequado e o inadequado, direitos e deveres, visando o bem-comum. Já a Bioética, que também possui vários conceitos, pode ser definida como um "locus" para a reflexão sobre a moralidade dos atos e fatos que afetam qualquer forma de vida, e não só em relação aos seres humanos, como na Ética, incluindo aí, toda pesquisa e prática na área do planejamento familiar e contracepção, sendo que, em sua corrente "principialista", vale a pena destacar 4 princípios: o da Autonomia, o da Não Maleficência, o da Beneficência e o da Justiça.

OBJETIVO: Instrumentalizar discussões sobre a Ética e a Bioética em relação ao Planejamento Familiar a partir de informações colhidas na história da contracepção.

RESULTADOS: Para Hartman (1987), a revolução contraceptiva da segunda metade do século XX foi mais influenciada pelo desejo de controle populacional, prestígio e lucro, do que pela necessidade de um planejamento familiar como um direito de todo cidadão e cidadã. Outros autores (Doyal, 1987; Vaughan, 1972; Bondestan,1980; Ehrenreich, 1979), afirmam que a história da contracepção é plena de episódios aéticos. A história da pílula anticoncepcional é um desses exemplos, desde seus testes em mulheres de baixa renda porto-riquenhas, nos anos 50 e 60, até o duplo padrão de informações contidas nas bulas dos países do "I e III Mundos". A história do DIU inclui também episódios dignos de reparos éticos. Seus riscos são conhecidos desde a sua criação por Graafenberg sendo que os inúmeros casos de doença inflamatória pélvica, por ele causados, terminaram por levá-lo ao descrédito. Mesmo após novos testes, realizados principalmente em mulheres de baixa renda em Porto Rico, no Harlem e no Misssipi, durante os anos 60 (Bondestan, 1980), com o objetivo de recuperar sua credibilidade, uma

nova epidemia de aborto séptico, causado pelos Dalkon Shields DIUs, ocorreu durante os anos 70. O último episódio merecedor de destaque foi o da exportação de DIUs não esterilizados, para países do "III Mundo", porém sem essa informação para gestores, profissionais e usuárias. Apesar da atual tentativa de demonstrar que um dos possíveis mecanismos de ação do DIU não é o "micro-abortivo", não existe na literatura nenhuma evidência científica que assegure essa assertiva, caracterizando uma campanha sistemática de desinformação. Entre nós, brasileiros, o episódio das pesquisas com os anéis vaginais hormonais e com os contraceptivos injetáveis, como o Norplant, sem a informação dos possíveis efeitos colaterais, são exemplos da não prática dos princípios estabelecidos na Declaração de Helsinque e no Código de Nurenberg, como pré-requisitos em pesquisas envolvendo seres humanos. Em relação à esterilização, a sonegação de informações a respeito dos seus efeitos colaterais foi marcante durante a década de 80. O próprio autor enfrentou dificuldades para divulgar essas informações. Ainda hoje muitas mulheres e profissionais de saúde não têm clareza do mecanismo que pode causar a chamada "Síndrome Pós Laqueadura" e, no caso da esterilização masculina, poucos são aqueles que sabem que a vasectomia, além da lesão mecânica, produz alterações imunológicas que necessitam de mais estudos para identificação de efeitos de longo prazo.

CONCLUSÃO: Os princípios éticos e bioéticos foram, e ainda são, negligenciados na história e na assistência ao planejamento familiar. Apesar de não termos o contraceptivo ideal, isto é, máxima eficácia, sem efeitos colaterais, reversível ao desejo da paciente, com benefícios não contraceptivos, de baixo custo, e de fácil uso, é necessário que a população e os profissionais de saúde recebam todas as informações disponíveis, para que, exercitando seu livre arbítrio e autogoverno, possam pesar riscos e benefícios de cada método contraceptivo, vivenciando e praticando, assim, os 4 princípios da Bioética.


•Descritores: Planejamento Familiar, Ética, Bioética, Contracepção, História

•Publicação/Apresentação: IV Congresso Afro-Brasileiro, Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Abril 1994

Contribuição ao Conhecimento


Alterações Menstruais e Esterilização Feminina

14

•Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

•Departamento Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra


Vários estudos têm sido realizados nos últimos 50 anos para avaliar os efeitos colaterais da ligadura tubária. Muitos destes encontraram uma associação com alterações menstruais e aumento da incidência de histerectomia pós-laqueadura, porém receberam

críticas metodológicas. Com o objetivo de verificar a qualidade das evidências de que a esterilização feminina causa alterações na função menstrual, os autores realizaram uma revisão crítica da literatura, cujo resultado pode ser observado no quadro abaixo:

Autor /Ano Sequela Amostra Desenho AJT p Follow-Up





<




<




<



<



<







Sangramento menstrual aumentado pp pela laparoscopia (p < 0.001)

não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

sim

não

sim

sim

sim

não

sim

sim

sim

sim

sim

retrospect-cohort + comparison

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort + control

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort

retrospect-cohort + controle

cohort/controle

cohort + controle

retrospect-cohort + controle

prospect-cohort

retrospect-cohort + controle

prospect-cohort + controle

cohort/comparação




não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

não

sim

não

não

não

não

sim (ns)

sim

sim

sim

sim

sim

sim

sim

<10 anos

4-14 anos

8 anos

10 anos

6-16 anos

4-13 anos

8 anos

3.5 anos

1 ano

3.3 anos

>10 anos

> 1.5 meses

12 meses

10-28 meses

6 meses

3-5 anos

> 5 anos

2-10 anos

6 anos

8 anos

7 anos

>10 anos

5 anos

> 7 anos

4.5 anos

5 anos


Desordens menstruais e histerectomias com esterilização de alta freqüência

Aumento de internações hospitalares devido a problemas menstruais

<







<




<




<



Maior número de histerectomias devido a irregularidades menstruais em mulheres mais jovens (p<0.01)

Risco aumentado de histerectomia (RR=1.6) pp em mulheres jovens (RR= 3.4)

•AJT=ajustamento para possíveis fatores de confusão principalmente prévio tipo de contracepção ;. p=utilização de métodos estatísticos de significância;. ns = não significante

•retrospective cohort (Hennekens, 1987) = historical cohort (Fletcher, 1988) = historical prospective (Mausner, 1985) = retrospective follow-up; •prospective cohort (Hennekens, 1987) = contemporany cohort (Fletcher, 1988) = cohort = prospective follow up studies = forward studies (Abramson, 1990) = longitudinal studies;

Disfunção menstrual após 5 anos (OR= 1.25, 1.29, 1.31, 2.44 dependendo da técnica)

associação causal entre esterilização feminina e alterações menstruais pós-laqueadura.


•Descritores: Esterilização Feminina, Laqueadura Tubária, Alterações Menstruais, Síndrome Pós-Laqueadura,

•Publicação/Apresentação: IV Congresso de Saúde Coletiva, Recife, Junho, 1994

Os autores concluem que, apesar de muitos trabalhos possuírem falhas metodológicas, a qualidade dos estudos publicados nos últimos 7 anos sugere uma

Contribuição ao Conhecimento

200

1.830

734

112

100

172

1055

489

278

161

374

235

200

454

530

500

831

644

2.243

719

10.104

7.414

5.070

39.502

500

5.000

Sangramento uterino anormal

Alterações menstruais

Distúrbios menstruais

Alterações menstruais

Hipermenorréia

Menorragia ou menstruações prolongadas

Mínimas desordens menstruais

Hemorragia uterina disfuncional

Aumento da menstruação

Menometrorragia

Mais tratamentos cirúrgicos ginecológicos

Sangramento uterino anormal

Alterações menstruais

Willians 1951

Prystowsky 1955

Jensen 1657

Powell 1962

Sacks 1962

Rakshitt 1966

Lu 1967

Haynes 1970

Steptoe 1971

Smith 1971

Mulldon 1972

Roe 1972

Akhter 1973

Neil 1975

Lawson 1979

Baggish 1979

Jackson 1980

Riedel 1981

Vessey 1983

DeStefano 1985

Kjer 1990

Stergachis 1990

Wilcox 1992

Goldhaber 1995

Rulin 1993

Martinez- Schnell 1993

Fluxo menstrual aumentado, mais dores menstruais, mais episódios de sangramento tipo spot, após 5 anos

Risco aumentado de histerectomia pp em jovens (RR=2.45) e após 7 anos

Perda menstrual aumentada

Aumento do fluxo e da duração

Aumento de menorragias e histerectomias

Ciclos menstruais anormais (OR = 2.77)

Maior prevalência de histerectomia (p <0.02)


Riscos Teóricos de Longo Prazo da Ligadura Tubária

15

•Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

•Departamento Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra


Devido à alta prevalência da esterilização feminina na população brasileira, qualquer efeito colateral desse método pode ter um impacto na saúde da população. O objetivo deste trabalho é alertar pesquisadores, profissionais de saúde e a população feminina quanto aos riscos teóricos a que estão expostas as

pacientes submetidas a tal intervenção e propiciar modelo teórico para futuras pesquisas. A metodologia empregada foi a de revisão da literatura, e da criação de um modelo teórico baseado numa plausível fisiopatologia das alterações causadas pela ligadura tubária, apresentado no diagrama abaixo:

Laqueadura tubária

Alterações no Mesosalpinge

Alterações na função ovariana


Hiperestrogenismo relativo

(anovulação/insuficiência lútea)

Hipoestrogenismo absoluto

(insuficiência ovariana)

Alterações menstruais

Hiperplasia endometrial

Câncer de endométrio?

Alterações funcionais da mama?

Câncer da mama?

Alterações menstruais

Alterações funcionais da mama?

Síndrome Climatérica?

Aumento de doença coronariana?

Osteoporose iatrogênica?

O autor conclui que existe uma base teórica, racional e plausível, que aponta riscos de alterações emocionais, menopausa precoce, aumento do risco de osteoporose, aumento do risco de doenças do apa

relho cardiovascular e de cânceres hormônio-dependentes, hipóteses essas que merecem estudos epidemiológicos específicos para sua confirmação ou rejeição.


•Descritores: Esterilização Feminina, Laqueadura Tubária, Riscos, Modelo, Síndrome Pós-Laqueadura

•Publicação/Apresentação: IV Congresso de Saúde Coletiva, Recife, Junho, 1994

Contribuição ao Conhecimento


Vasectomia e Estado Auto-Imune: Informação Sonegada

16

•Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

•Departamento.Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra.


INTRODUÇÃO: A vasectomia é uma importante opção contraceptiva e deve fazer parte de um serviço de planejamento familiar. Entretanto, a informação sobre um dos seus mecanismos de ação, e também efeito colateral, vem sendo sistematicamente sonegada aos usuários e a muitos profissionais de saúde.

OBJETIVO: Através de revisão bibliográfica, identificar estudos que apontem o fator auto-imune (produção de anticorpos contra espermatozóides) como um dos mecanismos contraceptivos da vasectomia e analisar seus riscos de longo prazo.

RESULTADOS: Landsteiner e Metcnickoff (1899) demonstraram o desenvolvimento de anticorpos contra espermatozóides, em animais de laboratório, após a inoculação de espermatozóides heterólogos; Em 1900, Metalnikoff demonstra produção dos mesmos anticorpos com inoculação homóloga; Baskin, em 1932, confirma o mesmo fenômeno em seres humanos injetando em mulheres espermatozóides de seus próprios maridos; Desde 1964 existe evidência de que a irreversibilidade da vasectomia era devida à produção de anticorpos (Phadke e Padukone); extravasamento e destruição espermáticas são provavelmente a causa das alterações imunológicas (Potts e Diggory, 1983); Samuels et al (1975) e Hellema et al (1979), encontram anticorpos antiespermatozóides aglutinantes e imobilizantes depois da vasectomia; dois terços dos pacientes vasectomizados desenvolvem anticorpos espermo-aglutinantes (Linnet L, 1983 e Ansbacher, 1971); 40% dos pacientes vasectomizados desenvolvem anticorpos espermo-imobilizantes (Potts and Diggory, 1983, Ansbacher, 1971); Os anticorpos produzidos após a vasectomia atuam contra o núcleo do espermatozóide, cauda e, em menos intensidade, contra o acrossomo (Tung, 1975,); Alexander e Anderson (1979) relataram glomerulonefrites e tumores em animais vasectomizados; A vasectomia aumenta a severidade de arteriosclerose induzida por dieta em macacos cynomologus

(Alexander and Clarkson (1978); Em macacos Rhesus a vasectomia possui significantes efeitos de longo prazo na ocorrência e extensão de arterioesclerose (Clarkson and Alexander, 1980); Pacientes de 40 anos ou menos, vasectomizados, possuem uma maior percentagem de KeithWagner scores positivos (vasoconstricção de retina), teste esse que pode ser um fator de predição de futura hipertensão (Fahrenbach, 1980); A principal causa de falha de retorno da fertilidade, após a reanastomose bem sucedida, é a persistência de anticorpos antiespermatozóides (Gupta, 1975; Garner and Wentz,1990); As alterações imunológicas causadas pela vasectomia podem bloquear anticorpos ou células supressoras tumorais (Giovannuci, 1993), explicando assim a associação encontrada por alguns autores entre câncer de próstata e vasectomia (Honda et al 1988, Rosemberg et al 1990, Mettlin et al 1990, Spitz et al 1991, Giovannuci 1993).

CONCLUSÃO: Apesar de muitos estudos não demonstrarem aumento da incidência de patologias em pacientes vasectomizados, tais como doenças coronarianas ou doenças de base imunológica, não existe dúvida de que a vasectomia produz alterações imunológicas, tanto em animal quanto em seres humanos (com a produção de anticorpos antiespermatozóides na maioria dos pacientes), existindo fortes indicativos de alterações para o sistema vascular em animais, e indícios de associação com câncer da próstata em seres humanos. Uma reação cruzada com outros tecidos, acarretando lesões e o desenvolvimento a longo prazo de doenças de base auto-imune e outras patologias é uma possibilidade biológica plausível, fazendo-se necessárias pesquisas futuras para maiores esclarecimentos. Essas informações devem constar dos manuais de planejamento familiar do Ministério da Saúde, assim como de um termo de consentimento informado a ser oferecido a todos os casais que optarem pela vasectomia, para que os mesmos possam exercer plenamente o princípio bioético da autonomia.

•Descritores: Esterilização Masculina, Vasectomia, Efeitos Colaterais, Auto-Imunidade

•Publicação/Apresentação: IV Congresso de Saúde Coletiva, Recife, Junho, 1994; Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia 21: 14-7, 1998


Contribuição ao Conhecimento


A Influência do Chauvinismo Masculino no Planejamento Familiar

17

•Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

•Departamento Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra


INTRODUÇÃO: São inúmeros os fatores que podem influenciar o Planejamento Familiar, indo desde os Macro Estruturais Internacionais e Nacionais (tais como os decorrentes de políticas populacionais, de saúde, raciais, visões neo-maltusianas, financiamento insuficiente, entre muitos que poderiam ser citados), até os pessoais (nível sócio-econômico, quantidade e qualidade de informação contraceptiva, etc) passando pelos sócio-culturais. Dentre estes últimos suspeita-se que o machismo possa exercer forte influência na prática contraceptiva do casal. Uma sociedade chauvinista masculina (machista) pode ser definida como aquela em que os homens detêm o poder de definir e controlar como as mulheres, e os próprios homens, devem se comportar, e quais os papéis que cada gênero deve cumprir, acreditando, inclusive, que o gênero masculino é superior ao feminino. O machismo, na sua pior "versão", pode ser considerado como um conjunto de atitudes e comportamentos que rebaixam a dignidade da mulher, sendo uma forma de sexismo (discriminação em razão do gênero) que desvaloriza características do sexo feminino. Em relação ao planejamento familiar, nas sociedades chauvinistas masculinas, a responsabilidade da contracepção é colocada sobre os "ombros das mulheres", e a falta de cooperação do parceiro do sexo masculino tem sido apontada como um dos determinantes da alta prevalência da esterilização feminina no Brasil.

OBJETIVO: Investigar a hipótese de que o chauvinismo masculino representa um entrave aos programas de planejamento familiar.

sujeitos e METODO: O objeto de estudo foi um KAP survey (estudo de corte transversal do tipo inquérito epidemiológico, sobre conhecimentos, atitudes e práticas), realizado nas seis principais maternidades do SUS - Recife, onde foram entrevistadas, através de

um questionário padronizado, 397 mulheres de baixa renda, no pós-parto, entre fevereiro e abril de 1993.

RESULTADOS: Os achados demonstram que para elas a maioria dos homens (58%) não discute contracepção com as mulheres, assim como quase a metade de seus companheiros (49%) não participa na escolha contraceptiva. A maioria dos parceiros (65%) não aceita a possibilidade de realizar uma vasectomia, sendo o machismo, com 27%, o principal motivo apontado pelas entrevistadas, seguido pela razão de ser um método definitivo (11%), medo de disfunções (8,1%) e da cirurgia (4.7%), por serem "grossos/ignorantes" (3,5%), e pelo fato de terem outras companheiras (3,5%). Além disso, quase metade dos companheiros (47%) não aceita o uso de preservativos.

CONCLUSÃO: Esses resultados reforçam a hipótese de que o chauvinismo masculino, via ausência de "diálogo contraceptivo" com a companheira, pela não aceitação da vasectomia ou do uso do condom, é um dos determinantes das dificuldades na implementação de programas de planejamento familiar e das distorções existentes no Brasil nesta área. Fazem-se necessárias políticas educativas e sociais, governamentais e não governamentais, no intuito de sobrepujar tal dificuldade.

•Descritores: Chauvinismo, Machismo, Vasectomia, Planejamento Familiar, Camisinha, Condom.

•Publicação/Apresentação: IV Congresso de Saúde Coletiva, Recife, Junho, 1994


Contribuição ao Conhecimento


Análise Crítica da Hormonioterapia para a Osteoporose

18

•Aurélio Molina

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE);


INTRODUÇÃO: As fraturas de bacia, punho e coluna, nas mulheres pós menopausadas e idosas, constituem um importante problema de saúde pública com mortalidade e morbidade significativa. Estima-se que em um período de 5 anos, 10% da população feminina acima de 70 anos irá sofrer uma fratura de colo de femur, com 10-20% de mortalidade. Cerca de 6 meses após essa grave lesão ortopédica, apenas um terço das sobreviventes encontra-se totalmente ativa e com sua mobilidade normal. Além disso, a assistência a essas pacientes possui um custo financeiro bastante elevado, pois a duração média de internação hospitalar é de 23 dias, com um custo aproximado de 3000 dólares. Essas fraturas são causadas basicamente pela combinação de perda de massa óssea (osteoporose) e risco aumentado de queda. Existe uma forte pressão para o estabelecimento de programas de prevenção, sendo a terapia de reposição hormonal um deles. A intenção do uso de hormônios é diminuir o número de fraturas através de um aumento da densidade óssea por mecanismos de ação ainda não totalmente esclarecidos (o estrogênio, através de receptores no osso, parece inibir a atividade osteoclástica, diminuindo a reabsorção óssea).

OBJETIVO: Verificar se existem evidências na literatura científica que respaldem o emprego da terapia de reposição hormonal como um amplo programa de saúde pública para o controle e prevenção da osteoporose e de suas consequências.

RESULTADOS: Os trabalhos disponíveis não são controlados nem randomizados, tendo um follow-up curto, com desenhos que impedem a generalização dos resultados. Além disso, a estrogênio-terapia parece ser mais efetiva somente quando iniciada nos primeiros 5 anos da menopausa e utilizados por mais de 10 anos. Infelizmente, os resultados indicam que

mesmo se o estrogênio for usado por longa duração, nas ex-usuárias não há redução do risco de fraturas, e os dados disponíveis indicam que menos de 25% das usuárias de terapia estrogênica utilizam-na por 10 ou mais anos.

CONCLUSÕES: Baseado nesses resultados, principalmente numa patologia (osteoporose) que se relaciona com clima, dieta (ingestão de cálcio e vitamina D) e raça, o autor conclui que a efetividade da hormonioterapia na prevenção de fraturas em mulheres idosas, principalmente no grupo etário de maior risco (acima de 65 anos, com um pique de incidência aos 90), não é ainda conhecida. A introdução de programas de prevenção utilizando a hormonioterapia para todas as mulheres climatéricas para esse fim levanta considerações éticas, já que estar-se-ia oferecendo os malefícios, como, por exemplo, risco aumentado de câncer de endométrio, de mama e tromboembolismo, sem a certeza dos benefícios. Necessário se faz estudos metodologicamente mais adequados (ensaios clínicos randomizados, controlados e cegos) e de longo prazo, para esclarecer o papel da terapia de reposição estrogênica na prevenção das fraturas osteoporóticas, assim como de pesquisas comparando diferentes opções de intervenção, como, por exemplo, suplementação de cálcio e vitamina D e, inclusive exercícios físicos sistemáticos e melhoria da acuidade visual nesse grupo populacional.


•Descritores: Hormonioterapia, Estrógenos, Osteoporose, Ética, Bioética, Não-Maleficência

•Publicação/Apresentação: IV Congresso de Saúde Coletiva, Recife, Junho, 1994

Contribuição ao Conhecimento


Perfil Demográfico das Mulheres de Baixa Renda nas Maternidades do SUS-Recife

19

•Aurélio Molina

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas (FCM) -UPE;


INTRODUÇÃO: É pelo menos desde a publicação do livro "The Population Bomb" (A Bomba Populacional), de Paul Enrlich, em 1968, que se discute a dita "explosão demográfica", fenômeno esse que levaria o planeta e a população mundial à fome, à guerra e à destruição ambiental. Entretanto e apesar do impressionante número de 6 bilhões de habitantes a ser atingido em torno do ano 2000, a velocidade do crescimento populacional vem diminuindo rapidamente em todo o mundo (com exceções, como a Nigéria), inclusive no Brasil. A população brasileira, que era de cerca de 147 milhões em 1991, sendo 75% urbana, vem apresentando uma acentuada queda na taxa de crescimento populacional, num relativo curto período de tempo (de 3,2, em média, no o período entre 1950-60, para uma média de 1,9, no período 1980-91). Em 1949 a taxa de fecundidade (média de filhos por mulheres entre 15 a 49 anos) no Brasil era de 6,2 filhos, número esse que persistiu durante os anos 50. Em 1960 houve um aumento para 6,28 filhos, caindo em seguida para 5,76 em 1970, para 4,35 em 1980, e para 2,85 em 1991. Este fenômeno vem preocupando diversos setores da sociedade, principalmente aqueles responsáveis por políticas públicas, sobretudo nas áreas da assistência à saúde e previdência social. Entretanto, existem indícios de que a taxa de fecundidade varia bastante quando se analisa a variável "renda", sendo que a população pobre ainda estaria tendo um número elevado de filhos.

OBJETIVO : Identificar alguns dos aspectos demográficos das mulheres de baixa renda no Recife.

sujeitos e métodos: O autor analisou dados de uma amostragem de conveniência, colhidos de maneira sistemática de 397 mulheres com a utilização de questionário padronizado, internadas nas seis principais maternidades ligadas ao SUS-Recife, entre fevereiro e abril de 1993.

RESULTADOS: Nessa amostragem o número médio de partos foi de 2,72, e a média de filhos vivos era de 2,38. Entretanto, os dados revelaram que a média de filhos desejados era de 2,1, número que corresponde à taxa de fecundidade mínima para a reposição populacional. A maioria (66,5%) das entrevistadas considerava que já tinha atingido o tamanho de família ideal e não desejava mais filhos (77%).

CONCLUSÕES: Para o autor esses dados não só confirmam as tendências demográficas constatadas nos últimos censos nacionais, como sugerem que se a população feminina de baixa renda (pelo menos no Recife) que, em média, também está tendo e desejando ter menos filhos, tiver acesso a serviços de planejamento familiar adequados (considerado como sendo um dos importantes determinantes de fecundidade), o crescimento populacional, em torno de zero, poderá ocorrer muito mais cedo do que o previsto pelas projeções atuais (em torno do ano de 2070).


•Descritores: Paridade, Demografia, Número de filhos, Recife, Maternidades, Planejamento Familiar.

•Publicação/Apresentação: IV Congresso de Saúde Coletiva, Recife, Junho, 1994

Contribuição ao Conhecimento


Efeitos Colaterais dos Progestogênios

• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), da Universidade de Pernambuco (UPE)


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INTRODUÇÃO: A terapia de reposição hormonal para mulheres climatéricas é uma opção polêmica de atenção à saúde da mulher, devido as suas vantagens e desvantagens. A maioria de suas desvantagens (tromboembolismo, câncer de mama e de endométrio) vem sendo creditadas ao estrogênio.

OBJETIVO: Procurar na literatura científica relatos de efeitos negativos associados aos componentes progestogênios dessa forma de terapia.

MÉTODO: Pesquisa bibliográfica de diversas fontes principalmente através do MEDLINE.

RESULTADOS: Encontramos os seguintes achados:

a) Efeitos Colaterais Clínicos Comprovadamente Associados ao Uso de Progestogênios: 1. retenção hídrica, implicando em risco aumentado para as pacientes portadoras de epilepsia , enxaqueca, asma, disfunção cardíaca e renal; 2. aumento de peso; 3. cefaléia; 4. depressão psíquica; 5. diminuição da intolerância a glicose; 6. distúrbios tromboembólicos como tromboflebites, desordens cerebrovasculares, embolia pulmonar, trombose retiniana e infarto do miocárdio, com um risco relativo aumentado de 2 a 11 vezes, dependendo da idade e da associação com o tabagismo; 7. efeitos adversos no metabolismo dos carboidratos e lipídeos; 8. reações de hipersensibilidade tais como urticária, prurido, edema e rash cutâneo; 9. reações anafilactóides e anafiláticas; 10. icterícia colestatica; 11. pirexia (estado febril); 12. distúrbios do sono; 13. náuseas; 14. aumento dos níveis tensionais; 15. aumento do risco de doenças da vesícula biliar; 16. cloasma; 17. alterações mamárias tais como aumento da sensibilidade, aumento do volume, aumento da descarga papilar; 18. candidíase vaginal; 19. alterações na curvatura córnea; 20. intolerância a lentes de contacto.

b) Efeitos Colaterais Clínicos Possivelmente Associa

dos ao Uso de Progestogênios: 1. síndrome de tensão pré-menstrual; 2. opacificação do cristalino (catarata); 3. alteração da libido; 4. alterações no apetite; 5. síndrome semelhante a cistite; 6. nervosismo; 7. tontura; 8. hirsutismo; 9. queda de cabelo; 10. eritema multiforme; 11. eritema nodoso; 12. erupção hemorrágica; 13. porfiria; 14. insuficiência renal;.

c) Exames Laboratoriais Alterados com o Uso de Progestagênios: 1. Nos exames da função hepática existe uma retenção aumentada de BSP (Bromosulfaleina); 2. Na coagulação existem aumento de protrombina e fatores VII, VIII, IX, X, .diminuição de antitrombina III e aumento da agregação plaquetária; 3. Nos exames de função tireoidiana existe aumento da PBI e BEI, diminuição de T3; 4. Aumento dos níveis sanguíneos de glicose; 5. No perfil lipídeo existe aumento do fosfolipídios e triglicérides e diminuição do HDL; 6. Aumento dos níveis de folato sérico e aumento dos níveis de triptofano que pode resultar numa diminuição da piridoxina.

CONCLUSÃO: Existe na literatura uma grande quantidade de referências que indicam que os progestogênios não são isentos de efeitos negativos sendo que os efeitos adversos são possivelmente causados pelas suas propriedades androgênicas, muitas vezes revertendo alterações benéficas dos estrogênios, como é o caso do perfil lipídico. A literatura refere também que esses efeitos estão na dependência do tipo de progestogênio e da dose empregada. Os achados dessa revisão bibliográfica reforçam a idéia de que as pacientes submetidas a terapia de reposição hormonal devem ser avaliadas caso a caso, pesando benefícios e malefícios, havendo necessidade de um acompanhamento clínico e laboratorial rigoroso.


Descritores: Progestogênios, Progestágenos, Efeitos Colaterais, Terapia de Reposição Hormonal, Hormônios.

Publicação/Apresentação: XX Jornada Pernambucana de Ginecologia e Obstetrícia, Recife, Maio, 1994

Contribuição ao Conhecimento


Conselhos Populares de Saúde: A Experiência de Jaboatão, Pernambuco

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• Aurélio Molina, Terezinha Tabosa, Alessandra Ximenes, Maria Cristina Gesteira

• Secretaria Municipal de Saúde, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco


INTRODUÇÃO: Em Pernambuco, poderíamos afirmar que a participação da população na administração direta iniciou-se nas administrações da Prefeitura do Recife de Pelópidas da Silveira (1955-59) e de Miguel Arraes (1960-62). Apesar de extremamente avançada para a época, essa participação consistia apenas em consultas populares (realizadas no Teatro Santa Isabel) sem o poder de interferir no orçamento. A importância do controle social e da participação comunitária nas ações de saúde tiveram novo impulso e suporte, tanto internacional, com a Conferência Internacional de Cuidados Primários de Saúde, de Alma Ata, em 1978, quanto nacional, com o movimento pela Reforma Sanitária. Em 1986, por compromissos assumidos com as "forças progressistas" que passaram a apoiá-lo durante a campanha eleitoral, a gestão Jarbas Vasconcelos introduziu o Programa Prefeitura nos Bairros, onde os secretários, através de assembléias nos bairros, permitiam interferência das comunidades no estabelecimento de prioridades, principalmente obras.

OBJETIVO: Analisar, através de um estudo de caso, a experiência realizada pela Secretaria de Saúde do Município do Jaboatão dos Guararapes na região Metropolitana do Recife, em 1988, durante o período de intervenção estadual.

DESCRIÇÃO: Antes mesmo da regulamentação dos Conselhos de Saúde, a população e os profissionais de saúde, diferentemente das experiências anteriores, passaram a co-dirigir, de forma colegiada, todas as ações da Secretaria Municipal de Saúde, através de três Conselhos Distritais e de um Conselho Central. Os principais "estrangulamentos" dessa experiência foram: ausência de suporte político em geral (ao contrário da equipe de intervenção); falta de apoio e integração com outros setores formais (outros que nao os da intervenção); descrédito da população; dificuldades no processo de escolha dos conselheiros; necessidade de longo período para a obtenção de resultados; resultados muitas vezes subjeti

vos e de difícil quantificação (ex: aumento da conscientização político e da cidadania); abertura para mais conflitos sem suporte para suas resoluções; criação de um espaço para manipulações políticas; surgimentos de falsas lideranças ou de políticos profissionais; oposição ao processo pelo "establishment" em nível central e em atividades-meios (planejadores, técnicos, etc, exceto os membros da intervenção); resistência dos profissionais nas unidades de saúde e nas atividades-fins; aparecimento de propostas e prioridades conflitantes com as dos técnicos e planejadores e com aquelas de áreas de ação de outras secretarias; impossibilidades orçamentárias e financeiras para implementação das propostas prioritárias; desorganização física e funcional do nível central; dificuldades de comunicação entre o nível central e os conselhos, e dos conselhos com os conselheiros; a não implementação de jetons para os conselheiros, ou de alguma forma de ajuda de custo (ex: passagem para o transporte); implicações legais e jurídicas.

SUGESTÕES E CONCLUSÕES: É importante envolver todo o staff na proposta de participação comunitária, sensibilizando-o antes do início do processo; envolver todos os mais relevantes órgãos governamentais e não governamentais; utilizar mais objetivos "abertos"; ter um cronograma realístico; permitir um verdadeiro controle por parte da comunidade; utilizar profissionais que estejam comprometidos com a proposta e, sempre que possível, os mais competentes; aproveitar todas as oportunidades, inclusive os estrangulamentos, como experiências de aprendizado; desenvolver atividades e metodologia de avaliação do processo; envolver a comunidade nesse processo avaliativo. Finalizando, os autores concluem que a experiência relatada foi difícil, mas extremamente positiva e coerente com os objetivos da intervenção . Entretanto, como a participação comunitária e o controle social são assuntos politicamente "sensíveis", recomenda-se prudência e maturidade na condução do processo.


•Descritores: Controle Social, Conselhos de Saúde, Conselhos Populares, Jaboatão, Pernambuco, Brasil

•Publicação/Apresentação: IV Congresso de Saúde Coletiva, Recife, Junho, 1994

Contribuição ao Conhecimento


O Desconhecimento dos Efeitos Colaterais da Ligadura Tubária Como Fator Determinante na Escolha Contraceptiva

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• Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

•Departamento Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra


INTRODUÇÃO: Uma das distorções do planejamento familiar no Brasil é a alta incidência e prevalência da esterilização feminina. Através de revisão da literatura nacional e internacional os autores criaram um modelo teórico dos possíveis determinantes da alta prevalência da laqueadura tubária no Brasil. Um desses possíveis determinantes é o desconhecimento, por parte das pacientes, dos efeitos colaterais da esterilização tubária, descritos na literatura, desde 1951, por Willians e cols., e encontrados por, pelo menos, mais 41 outros autores.

OBJETIVO: Testar a hipótese de que "quanto menor o conhecimento dos possíveis efeitos colaterais da ligadura tubária (LT), por parte das pacientes, maior a probabilidade de as mesmas aceitarem sua indicação ou escolhê-la como método contraceptivo".

SUJEITOS E MÉTODO: Por amostragem de conveniência foram estudadas, no período pós-parto, nas 6 maiores maternidades da cidade do Recife, 397 mulheres de baixa renda, usuárias da rede pública (SUS), sendo 103 esterilizadas (E) e 294 controles (NE), utilizando-se uma entrevista semi-estruturada, através de um questionário com perguntas abertas, no período entre fevereiro e abril de 1993.

RESULTADOS: Os dados não mostraram diferenças estatisticamente significantes entre os 2 grupos: 48% (E) e 45% (NE) das pacientes conhecem alguma desvantagem da LT; 41% (E) e 33% (NE) conhecem efeitos colaterais da LT; 73% (E) e 69% (NE) estão cientes da irreversibilidade da LT, e 71% (E) e 73% (NE) consideram que os outros métodos possuem mais efeitos colaterais do que a laqueadura.

INTERPRETAÇÃO: Os autores concluem que, aparentemente, os resultados não suportam a hipótese estu

dada. Entretanto, chamam a atenção para 4 pontos: 1) A maioria das clientes entrevistadas em ambos os grupos não conhecia nenhuma desvantagem ou efeito da laqueadura que pudesse ser prejudicial a sua saúde; 2) Um grande número de efeitos colaterais referidos (51% dos citados pelas clientes esterilizadas e 38% dos relatados pelas não esterilizadas), não possui, até o momento, evidências científicas que os suportem, o que é um indicativo de que o desconhecimento real dos efeitos colaterais é ainda maior; 3) É extremamente alta a proporção de usuárias que consideram que outros métodos têm mais efeitos colaterais prejudiciais à saúde do que a laqueadura; 4) É preocupante o alto número de mulheres que não sabem que a laqueadura é um método irreversível, principalmente aquelas que se submeteram à esterilização sem a consciência de seu caráter definitivo (32% (E) e 34% (NE)). Portanto, essas considerações suportam a hipótese de que talvez o desenho do estudo não tenha sido capaz de detectar subsídios que corroborassem a hipótese inicial, indicando que, quiçá, num outro tipo de estudo, como por exemplo, de intervenção, com a análise de atitudes relativas ao uso da laqueadura tubária, pré e pós-informações a respeito dos efeitos colaterais desse método, seja possível demonstrar o impacto do conhecimento desses efeitos numa opção pela esterilização.


•Descritores: Laqueadura Tubária, Esterilização Feminina, Determinantes, Causas, Efeitos Colaterais

•Publicação/Apresentação: III Congresso Brasileiro, II Congresso Ibero-Americano, I Congresso Latino Americano de Epidemiologia, Bahia, Abril, 1995.

Contribuição ao Conhecimento


Como o Desconhecimento dos Efeitos Colaterais da Ligadura Tubária Interfere na Atitude e na Prática dos Médicos no Planejamento Familiar

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•Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

• Departamento Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra


INTRODUÇÃO: Apesar dos diversos estudos encontrados na literatura científica internacional sobre os efeitos colaterais da laqueadura tubária, o debate em relação à veracidade da "síndrome pós-laqueadura tubária" que inclui possíveis alterações da função ovariana, distúrbios menstruais, dor pélvica crônica e maior incidência de histerectomia, foi suprimido dos meios acadêmicos e científicos nacionais, por várias razões, inclusive os interesses em favor de uma política de controle populacional. Tal fato retardou a tomada de consciência dos profissionais de saúde sobre os riscos teóricos dessa prática contraceptiva, o que pode ser considerado como um dos determinantes da alta incidência e prevalência da laqueadura no Brasil.

OBJETIVO: Testar a hipótese de que "quanto menor o conhecimento dos possíveis efeitos colaterais da ligadura tubária (LT), por parte dos médicos, maior a probabilidade de eles a indicarem e a adotarem em sua prática médica".

SUJEITOS E MÉTODO: Estudamos 97 médicos ginecologistas e obstetras que trabalhavam na rede pública (SUS), nas 6 maiores maternidades da cidade do Recife, utilizando um KAP (knowledge, attitudes and practice) survey, isto é, estudo descritivo, de corte transversal, do tipo inquérito e epidemiológico sobre atitudes, conhecimentos e práticas, utilizando-se uma entrevista estruturada através de um questionário, separando-os em dois grupos: os que concordam (C) e os que não (NC) com a afirmação de que a laqueadura não possui quase nenhum efeito colateral quando comparada com outros métodos. Compararam-se, então suas atitudes em relação à utilização da laqueadura quando confrontados com situações teóricas, em termos de idade, paridade, e em relação ao melhor método contraceptivo para mulheres que não desejam mais filhos. Comparamos

também os dois grupos quanto ao número de laqueaduras realizadas durante o ano anterior ao da entrevista.

RESULTADOS: Encontramos que aqueles que concordam que "a laqueadura não possui quase nenhum efeito colateral, quando comparada com outros métodos": 1) aceitariam esterilizar pacientes mais jovens e com menos filhos, sendo essa diferença estatisticamente significante para as pacientes com idade até 19 anos e com 4 filhos (80% X 46%, p<0.01); 2) consideram a laqueadura o melhor método para as mulheres que não querem mais ter filhos (67% X 39%, p<0.01) e 3) realizaram mais laqueaduras durante o ano anterior ao estudo (33% X 17%, p< 0.02).

INTERPRETAÇÃO E CONCLUSÕES: Os autores concluem que esses resultados suportam a hipótese de que o desconhecimento por parte dos médicos dos efeitos colaterais da LT, consiste em um importante determinante de sua escolha como prática contraceptiva.


•Descritores: Efeitos Colaterais, Esterilização Feminina, Determinantes, Médicos, Recife, Brasil

•Publicação/Apresentação: III Congresso Brasileiro, II Congresso Ibero-Americano, I Congresso Latino Americano de Epidemiologia, Bahia,Abril, 1995

Contribuição ao Conhecimento


A Falácia do Controle Populacional e suas Consequências sobre a Prática Médica Relativa ao Planejamento Familiar

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•Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

•Departamento.Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra


INTRODUÇÃO: Durante os últimos 30 anos os Neo-Malthusianos, o movimento Eugênico, o movimento pelo controle da natalidade, a preocupação com os movimentos migratórios internacionais (de países do terceiro mundo para os países desenvolvidos), e vários fatores políticos e econômicos, ajudaram a criar o mito da necessidade do controle populacional para o Brasil. Essas variáveis, que podem ser consideradas como os "determinantes estruturais internacionais" da alta prevalência da laqueadura tubária no Brasil, influenciaram o comportamento de vários segmentos da sociedade, incluindo o dos profissionais de saúde, que inviesaram atitudes e práticas relativas ao planejamento familiar, de forma marcante, em favor da esterilização feminina.

OBJETIVO: Testar a hipótese de que "quanto maior a crença na necessidade de controle populacional no Brasil, maior o uso da laqueadura tubária (LT) por parte dos médicos".

SUJEITOS E MÉTODOS: Entrevistamos 97 obstetras/ginecologistas da rede pública (SUS), na cidade do Recife, através de uma amostragem de conveniência e de maneira incidental, utilizando um KAP (knowledge, attitudes and practice) survey, isto é, estudo descritivo, de corte trasnversal, de tipo inquérito epidemiológico sobre conhecimentos, atitudes e práticas, utilizando-se um questionário, no período entre fevereiro e abril de 1993, separando-os em dois grupos: concordam (C) ou não (NC) que o Brasil necessita de controle populacional. Comparou-se, então, suas atitudes em relação à utilização da laqueadura quando confrontados com teóricas situações de idade, paridade, e em relação ao melhor método contraceptivo para mulheres que não desejam mais filhos. Comparamos os dois grupos, também, quanto ao número de laqueaduras realizadas durante o ano

anterior ao da entrevista.

RESULTADOS: Nossos achados demonstram que os médicos que advogam o controle populacional concordam em realizar mais laqueaduras tubárias e em mulheres mais jovens e com menos filhos, sendo essas diferenças significantes para mulheres com até 19 anos com 3 filhos (p<0.05), com idade entre 20-24 com 3 filhos (p<0.01) ou 4+ filhos (p<0.05), e com idade entre 25-29 com 3 filhos (p<0.05). Para esse grupo, a LT é o melhor método para as mulheres que não desejam mais filhos (p<0.01). Além disso, esses profissionais realizaram mais laqueaduras no ano prévio à entrevista (p<0.01).

INTERPRETAÇÃO E CONCLUSÃO: Para os autores esses achados sugerem que o mito do controle populacional leva os médicos a usarem a laqueadura tubária como instrumento de solução de situações socioeconômicas, caracterizando a chamada "medicalização dos problemas sociais".


•Descritores: Controle Populacional, Planejamento Familiar, Neo-Malthusianos, Eugenia, Laqueadura Tubária

•Publicação/Apresentação: III Congresso Brasileiro, II Congresso Ibero-Americano, I Congresso Latino Americano de Epidemiologia, Bahia, Abril, 1995

Contribuição ao Conhecimento


Escolhendo a Laqueadura Tubária (Usuárias do SUS, Cidade do Recife, Pernambuco)

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• Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

• Departamento Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra


INTRODUÇÃO: Nos últimos 30 anos houve um aumento significativo da prevalência da esterilização feminina no Brasil, basicamente através da laqueadura tubária. Na década passada o debate sobre o tema atingiu um alto grau de interesse, saindo do meio acadêmico e do movimento de mulheres para ocupar a agenda dos direitos humanos e da política formal. Várias Comissões Parlamentares de Inquérito, foram instaladas principalmente após a divulgação do último censo, que mostrou uma queda bem maior que a esperada na taxa de crescimento populacional e de muitas denúncias de uma política, com conexões internacionais, de esterilização das mulheres brasileiras, mais acentuada em alguns estados da Federação. Algumas das entidades internacionais citadas nessas denúncias defenderam-se acusando o setor público de ser o grande responsável pela "esterilização em massa" acontecida em nosso meio.

OBJETIVO: Investigar possíveis determinantes teóricos da laqueadura tubária (LT), no setor público de uma região com alta prevalência de uso da esterilização feminina.

SUJEITOS E MÉTODO: Após estudo teórico, onde se construiu modelo com prováveis variáveis determinantes da laqueadura tubária em nosso meio, agrupadas em determinantes "Estruturais Internacionais", "Estruturais Nacionais", "Sócio-Culturais" e "Pessoais", realizou-se estudo descritivo e analítico, de corte transversal, do tipo inquérito epidemiológico sobre atitudes e práticas(KAP survey) no período entre fevereiro e abril de 1993. Entrevistaram-se, por amostragem de conveniência, 397 mulheres de baixa renda, usuárias da rede pública (SUS-Recife), sendo 103 esterilizadas (E) e 294 controles, não esterilizadas (NE), no período pós-parto, e 97 médicos, nas 6 maiores maternidades da

cidade do Recife, utilizando-se uma entrevista estruturada através de um questionário com perguntas abertas (usuárias), abertas e fechadas (médicos), comparando seus conhecimentos, atitudes e práticas relacionadas à laqueadura.

RESULTADOS E INTERPRETAÇÕES: A análise e interpretação dos achados suportam o seguinte modelo: As mulheres de baixa renda querem controlar o tamanho de sua prole; conhecem a maioria dos métodos contraceptivos, com exceção do diafragma; querem um método eficiente, prático e com poucos efeitos colaterais; procuram os serviços de saúde; recebem uma assistência contraceptiva precária (rápida, ou nenhuma discussão contraceptiva, falta de opções contraceptivas; falta de informação e prevenção cérvico-uterina); não recebem apoio do companheiro (não participa da escolha e possui preconceito contra a vasectomia e o condom); usam a pílula; experimentam efeitos colaterais de curto prazo, inclusive falhas; consideram a laqueadura tubária (LT) como eficaz, prática, definitiva e com menos efeitos colaterais; são estimuladas por familiares e amigas para usar a LT; recebem um apoio médico tendencioso a favor da LT, principalmente para as mulheres de baixa renda e, particularmente, daqueles que consideram a LT como tendo poucos efeitos colaterais, e daqueles que acreditam na necessidade do controle populacional; escolhem a LT quando não querem mais filhos, mesmo com receios de arrependimento e de efeitos colaterais.


•Descritores: Laqueadura Tubária, Esterilização Feminina, Modelo, Determinantes, Contracepção, Brasil

•Publicação/Apresentação: III Congresso Brasileiro, II Congresso Ibero-Americano, I Congresso Latino Americano de Epidemiologia, Bahia, Abril, 1995.

Contribuição ao Conhecimento


Acesso à Laqueadura Tubária para as Usuárias das Maternidades do SUS, Recife, Pernambuco

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• Aurélio Molina, Andrew Long, Antony Franks

• Departamento Materno-Infantil, FCM-UPE; Nuffield Institute for Health and Institute of Epidemiology and Health Services Research, University of Leeds, Inglaterra


INTRODUÇÃO: O sistema público de saúde foi apontado como um dos responsáveis pela alta prevalência da esterilização feminina no Brasil (BEMFAM, 1986 e Mahler, 1991). Um outro estudo, realizado em 1993 pelos mesmos autores (Molina et al,1995), revelou que no setor governamental do SUS, numa área de alta prevalência da laqueadura tubária (Recife), após entrevista de 97 obstetras e ginecologistas, encontrou-se uma mudança favorável à LT como melhor método, se a cliente não quisesse mais filhos (de 0% para 35%). Além disso, a maioria das 397 pacientes entrevistadas (esterilizadas e não esterilizadas), usuárias desse setor, considerava a LT como o melhor método para quem não quer mais filhos (98% X 89% respectivamente). Ao indagarmos acerca do tamanho familiar, 97% das clientes esterilizadas (103) consideravam ter atingido o tamanho familiar ideal ou que a família já era grande demais. Porém, ao analisarmos as pacientes não esterilizadas (294), encontramos um percentual também elevado (81%).

OBJETIVO: Estudar possíveis determinantes que ajudem a explicar o que leva um grande número de usuárias do SUS, a não se submeterem à laqueadura tubária, apesar de considerarem-na como o melhor método e afirmarem ter atingido um tamanho familiar ideal ou grande, e de possuírem o apoio de boa parte dos médicos.

SUJEITOS E MÉTODOS: Através de estudo descritivo e analítico foram entrevistadas, utilizando-se questionário padronizado, 397 pacientes no pós-parto imediato, nas 6 maiores maternidades do SUS, no Recife entre fevereiro e abril de 1993. Foram comparadas as respostas das mulheres esterilizadas e não esterilizadas.

RESULTADOS: No estudo descritivo, 44% das pacientes não esterilizadas afirmaram "falta de acesso"; 26%

o "tamanho familiar"; 13% "custo"; 9% "idade"; e 4% "por decisão médica" como explicação para a sua não esterelização. Já os resultados comparativos demonstraram que a chance de conseguir a ligadura tubária no SUS é maior se a paciente tiver um parto cesáreo (80% X 24%, p<0.01); 3 ou mais filhos (66% X 24%, p<0.01); um problema obstétrico, real ou fictício (80% X 24%, p<0.01) e idade maior que 24 anos (77% X 33%, p<0.01).

INTERPRETAÇÃO: A afirmação por parte de 44% das mulheres não esterilizadas de que a "falta de acesso" foi o motivo da sua não esterilização, associado ao fator custo, citado por 13% das pacientes, é indicativo de uma alta demanda reprimida. Já o "tamanho familiar", citado por 26% das pacientes, teve sua confirmação através da análise comparativa onde encontramos que no setor governamental-SUS, a chance de estar esterilizada é 6 vezes maior se o número de filhos vivos for de 3 ou mais (p<0.01). O fator idade apareceu em quarto lugar, citado por 9% das mulheres, e a comparação entre os grupos demonstrou que a chance de conseguir a ligadura tubária no SUS é quase 5 vezes maior se a paciente tiver 24 anos ou mais (p<0.01). Demonstrou-se ainda que o tipo de parto (cesáreo ou não) foi altamente significativo como determinante da laqueadura pós-parto (p<0.01), principalmente na presença de um problema obstétrico, real ou não (p<0.01). Esses dados suportam a visão de que o setor governamental do SUS, apesar do apoio tendencioso de uma parcela significativa de médicos, não vem sendo instrumento de uma esterilização feminina indiscriminada, muito pelo contrário; a idade, o número de filhos e o tipo de parto são fatores importantes para o uso da laqueadura, pelo menos nessas 6 maternidades investigadas no Recife. Por outro lado existe uma demanda reprimida, merecedora de estudos e ações específicas.


•Descritores: Laqueadura Tubária, Esterilização feminina, Acesso, Ligação de trompas, Recife, Brasil

•Publicação/Apresentação: III Congresso Brasileiro, II Congresso Ibero-Americano, I Congresso Latino Americano de Epidemiologia, Bahia, Abril, 1995

Contribuição ao Conhecimento


The Determinants of Tubal Ligation in Recife, Northeast of Brazil

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•Aurélio Molina

•University of Leeds, School of Medicine, Division of General Practice and Public Health Medicine; Nuffield Institute for Health; Institute of Epidemiology and Health Services Research


Female sterilization can be performed through out most of a woman's reprodutive life. The timing of tubal ligation, as described by the World Health Organization (WHO), 1992, could be interval, post-abortion or postpartum. Interval refers to sterelization performed 6 weeks (42 days) or more after the last delivery. Postpartum sterelization is performed within 41 days after the parturition, but it is frequently performed in the first 8 days after the childbirth. This thesis is about the determinants of postpartum tubal ligation in Recife - the main city of Pernambuco State, located in the Northeast of Brazil. It is an attempt to understand the reasons for the high prevalence of female sterilization in Brazil, as a whole, but particularly in Recife, with special emphasis on the governmental health sector, and to give contributions in order to improve contraceptive services. During the last 30 years, mainly in the 1970s and 80s, there has been a sharp worldwide increase in the use of sterilization. In 1992, Ross estimated that, worldwide, 20.1% of all married couples in reproductive age, had opted for sterilization (15.7% female and 4.4% male). These figures are higher in Developing Countries (22.3% female and 11.4% male). With specific reference to female sterilization, data show that it is more than the double in Third World Countries compared to More Developed Countries (17.8% and 7.6%, respectively). In Brazil, female sterilization has emerged as the most widely used contraceptive method among married women, despite having been forbidden by Federal Laws and by the Federal Medical Council. In Pernambuco, the prevalence of tubal ligation, basically the only technique of female sterilization used in Brazil, reaches a figure of more than 60% among married women using contraception. This study, which is based on two cross sectional surveys, was undertaken between January and April 1993,

in the 6 main maternity hospitals of the governmental sector, and in 5 small private hospitals. In the first survey 447 women were interviewed, whilst in the second 97 gynaecologists and obstetricians doctors were interviewed. The results of this research show that the use of post partum tubal ligation reflects a complex network of determinants. These determinants include international, national, sociocultural and personal factors, that have lead to an inadequate and biased contraceptive service. Our Data also show that, in Recife, in spite of its high prevalence in the governmental sector, tubal ligation is not available on demand.


•Descriptors: Tubal Ligation, Family Planning, Brazil, Birth control, Determinants

•Publication/Presentation: Submitted in accordance with the requirements for the degree of Doctor of Philosophy (PhD) on September 1995, University of Leeds, England

Contribuição ao Conhecimento


O Paradigma Ético Científico e a Saúde da Mulher

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• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil, Faculdade de Ciências Médicas, UPE


INTRODUÇÃO: Paradigma, um termo derivado do grego e muito usado em Filosofia da Ciência (Epistemologia), significa exemplo, modelo, padrão e conceito dominante. Foi Thomas Kuhn, através de seu livro "A Estrutura das Revoluções Científicas", que resgatou e popularizou o vocábulo paradigma afirmando que a Ciência só evolui "destruindo" ou modificando o antigo paradigma.

OBJETIVO: Refletir sobre o atual paradigma científico e suas relações com a saúde da mulher.

DISCUSSÃO: O paradigma atual é o da complexidade e interdependência, que recebeu o nome de Paradigma Quântico Relativista, ou Holístico, ou Ecológico, ou Dialético, ou da Multifatoriedade, ou da "Teia sem Costuras". Essa "integralidade e indissociabilidade", no campo da Ética e da Moral, poderia se constituir em um "Paradigma Ético", pois não é possível ser realmente ético sendo apenas um "pouco ético", ou "parcialmente" ético. Em relação à Bioética não podemos apenas praticar o princípio da Beneficência (fazer o bem), esquecendo-nos dos outros três princípios (Não Maleficência, com seu "primum non nocere"; Autonomia e Justiça). Eles formam um todo e estão intimamente inter-relacionados. Aquele que procura ser ético tem que se preocupar em não "ser" iatrogênico, tendo que informar os prós, mas também todos os contras, de cada ação preventiva, curativa, ou de pesquisa, para que os pacientes e os participantes de estudos científicos possam exercer seu livre arbítrio (autonomia) e possam decidir se querem ou não ser submetidos a nossa ação "beneficente" ou serem "voluntários" de nossas pesquisas. Não existe ética na assistência à saúde se por falta de justiça muitos de nossos pacientes não têm o direito ao acesso e ao resultado da prática da não maleficência, da beneficência e do respeito à autonomia. É por isso que podemos afirmar que a Bioética está em consonância com o novo "Paradigma Ético Científico". Seus princípios estão e são inter-relacionados e

interdependentes. Infelizmente, o paradigma vigente em relação à saúde da mulher, ainda é o antigo mecanicista, segundo o qual pode-se "entender e tratar" uma mulher por "partes", isoladamente. A mulher seria a soma de partes isoladas (um útero, uma vulva, uma vagina, uma mama, etc, ). O novo paradigma, ao contrário, afirma que o "Todo" é muito maior que a soma de suas partes e, importante reafirmar, no qual todas as partes estão intimamente relacionadas e são interdependentes. Em verdade, o velho paradigma é fragmentário, iatrogênico e aético. Sustenta idéias, atitudes e práticas ainda corriqueiras, como por exemplo, a visão de que "o útero só serve para ter filhos e que depois disso podemos arrancá-lo". Em consonância com o novo paradigma nada pode ser "arrancado" do todo sem causar um desequilíbrio. O todo não pode ser agredido impunemente em suas partes. São inúmeros os exemplos a discutir. Hormonioterapia, que é "vendida" como uma panacéia, sem efeitos colaterais; quimioterapias antineoplásicas em que a análise do custo-benefício-malefício indica claramente que não vale a pena serem feitas sistematicamente (ex: câncer epitelial de ovário); a laqueadura tubária, que pode agredir a função ovariana, produzindo alterações menstruais e maior número de histerectomias; a mastectomia radical, por muitos anos considerada como não passível de questionamentos para o tratamento do câncer da mama, para depois se "descobrir" que com o tratamento conservador (a retirada apenas do nódulo tumoral, quadrantectomia ou segmentectomia, com radioterapia) os resultados eram até mesmo superiores. No campo da contracepção encontramos inúmeros outros exemplos onde sistematicamente o todo é afetado por intervenções "ditas" específicas.

CONCLUSÃO: Faz-se necessário a mais ampla divulgação possível do novo e atual paradigma científico, particularmente pelo movimento de mulheres, dentro e fora do meio científico e acadêmico, para que o mesmo se torne hegemônico e possamos assim re-orientar a assistência à saúde da mulher.


•Descritores: Paradigma, Saúde da Mulher, Bioética, Iatrogenia, Feminismo, Ética

•Publicação/Apresentação: I Simpósio Bioética e Procriação Humana-Diálogos com o Feminismo, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Junho, 1996

Contribuição ao Conhecimento


Conhecimento, Atitudes e Práticas sobre Aleitamento Materno Entre Usuárias da Maternidade da Encruzilhada

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• Aurélio Molina, Cícero Costa, Ana Maria de Oliveira, Bianca Patrícia da Cruz, Clélia Machado, Ana Cecília da Rocha, Frederico Silva

• Departamento Materno Infantil, FCM-UPE, Maternidade da Encruzilhada, Recife, Brasil


INTRODUÇÃO: Há muitos anos está bem estabelecida a importância da amamentação e do leite materno como alimento ideal para o recém-nato porque, além de ser mais higiênico e econômico do que qualquer substitutivo, possui inúmeras vantagens nutricionais, psicossociais e imunológicas, sendo marcante sua ação antiinfecciosa, particularmente na prevenção da diarréia. Em países em desenvolvimento, onde a mortalidade infantil é alta, a amamentação deveria ser exclusiva nos primeiros 4-6 meses. Devido a essas vantagens, várias ações para aumentar a amamentação vêm sendo desencadeadas no Brasil, tanto regional quanto nacionalmente.

OBJETIVO: Identificar o conhecimento, as atitudes e as práticas sobre aleitamento materno entre as usuárias da Maternidade da Encruzilhada, Recife, no intuito de contribuir foi para o aprimoramento dessa ação.

SUJEITOS E MÉTODO: O estudo foi descritivo, de corte trasnversal, no período entre fevereiro e maio de 1996, onde através de uma entrevista estruturada, com perguntas abertas e fechadas, foram colhidas informações de 104 puérperas, com pelo menos um filho vivo anterior, internadas na maternidade escola da faculdade de Ciências Médicas da UPE.

RESULTADOS: Apenas 30% de nossas entrevistadas já tinham assistido ou participado de algum evento sobre amamentação, 41% das quais tinham assistido a uma palestra durante o pré-natal dessa última gestação, sendo que em 48% das vezes na própria instituição onde faziam o pré-natal. Apenas 8% não haviam amamentado o filho anterior devido, principalmente, a cinco motivos: "internação hospitalar" (25%); "falta de tempo/trabalhar" (25%); "não pegava o peito" (25%);"não criou o filho" (13%); e "não tinha leite" (12%). A média de tempo de amamentação foi de 8 meses e meio,

com um valor mediano de 3 meses, porém a média de amamentação exclusiva foi de 3 meses e meio. Os 3 principais motivos para a parada da amamentação foram: "o peito secou/leite acabou/era pouco/não satisfazia" (42%); "criança não quis mais/enjoou" (26%) e "tomou remédio/problemas de saúde" (7%). A maioria (64%) tinha consciência de que havia amamentado pouco, e achava que 12 meses é o tempo ideal de amamentação. A maioria (64%) não acreditava que a amamentação "deixa a mama caída", e concordava que o leite materno é mais "forte" que o leite de vaca (87%). A maioria (88%) também acreditava que o colostro é importante para o bebê, tendo consciência de que o mesmo é suficiente para alimentá-lo (77%) e satisfazê-lo (69%), mesmo durante os primeiros dias. Interessante observar que 44% consideravam o leite materno "salgado" e que 33% achavam que esse fato prejudicava a amamentação. Infelizmente, a maioria ainda achava necessário oferecer água e chá (55%) para complementar o leite materno, "para não ficar com sede/desidratar" (29%), porque "só o leite não sustenta a fome/alimenta mais" (21%), e porque "acalma a criança/não fica chorando/diminui os gases/diminui a dor de barriga" (20%), e que água/chá "limpam a barriga/organismo/intestino" (14%). A maioria (67%) ainda acreditava que se a mama está inflamada, ou se a mãe está tomando antibióticos (61%) deve-se parar a amamentação. A quase totalidade (98%) considerava necessário lavar as mamas antes de amamentar. Em compensação, apenas 12% afirmaram que o leite materno "dá diarréia" e a quase totalidade (99%) estava consciente de que o fato de o bebê sugar o peito "ajuda o leite chegar". A maioria achava também que a chupeta (75%) e a mamadeira (69%) prejudicam a amamentação, que por sua vez não prejudica a vida sexual da mãe (95%).

CONCLUSÃO: Esses achados indicam a necessidade de se aumentar o trabalho educativo e de suporte em relação a essa importante prática para a saúde materno-infantil.


•Descritores: Amamentação, Aleitamento, Conhecimentos, Atitudes, Práticas, Recife, Brasil

•Publicação/Apresentação: XXII Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1996; Revista do IMIP, vol 10, 02:91-96, 1996

Contribuição ao Conhecimento


Práticas Sexuais de Risco entre Mulheres Jovens e de Baixa Renda no Recife

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• Aurélio Molina, Cícero FF Costa, Renata Carvalho, Rita Menezes, Rossana Silva

• Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas, UPE

Introdução: As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) são tão antigas quanto a própria humanidade e apesar de todos os esforços realizados para o seu controle, elas têm continuado a crescer. Estudos recentes indicam que essas infecções figuram, coletivamente, entre as cinco mais importantes causas de perda de anos de vida produtiva saudável, principalmente em países em desenvolvimento, constituindo-se num importante problema de saúde pública. Associada a isso, as duas últimas décadas viram surgir uma nova forma de doença infecto-contagiosa, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que possui um importante componente sexual na sua epidemiologia, tendo sido notificados, desde o início dos anos 80 até meados de 1996, 27,9 milhões de casos de AIDS em todo o mundo. Estima-se que mais de 250 milhões de novos casos de DSTs/ano são detectados no mundo, entre os quais 120 milhões por clamídia, 30 milhões por papilomas genitais, 25 milhões por infeções gonocócicas, 20 milhões por herpes genital, 3.5 milhões por sífilis, 2 milhões por cancro mole e um milhão por infeções por HIV, sendo provável que uma em cada 20 pessoas no mundo tenha um episódio de DST/ano.

objetivo: Conhecer algumas práticas sexuais de risco para doenças sexualmente transmissíveis e AIDS entre as mulheres jovens e de baixa renda que freqüentavam os serviços ambulatoriais do CISAM-Maternidade da Encruzilhada, Recife, Brasil.

Sujeitos e Método: Através de um inquérito epidemiológico sobre atitudes e práticas (KAP Survey), com uma amostragem de conveniência, foram entrevistadas 104 pacientes, com idade entre 15 e 25 anos, utilizando-se um questionário padronizado, nos meses de fevereiro e março de 1996.

REsultados: A idade média da primeira relação sexu

al foi de 15 anos; a maioria (86%) nada fazia para evitar doença venérea, nem praticava o chamado "sexo seguro" que poderia ser definido como práticas sexuais que reduzem o risco de contrair DSTs/AIDS, tais como manter uma relação monogâmica com uma pessoa que se saiba não ter contraído nenhuma das DSTs e/ou conhecer bem seu parceiro/a antes de ter uma relação sexual, e usar preservativo durante todo o ato sexual, principalmente com um parceiro/a não monogâmico, ou suspeito ou desconhecido. O número médio de parceiros sexuais foi de 2; a prática do "ficar" (namorar um dia, sem compromisso, com ou sem relação sexual) foi incomum. Apenas duas "ficaram" e tiveram relação sexual. Somente uma minoria tinha praticado sexo oral (20%) e coito anal (10%).

conclusão: Os autores concluem que, apesar de não haver uma preocupação em evitar DSTs, as práticas sexuais das mulheres de baixa renda são "conservadoras", achados esses compatíveis com estudos antropológicos realizados na década de 80, no Recife (Quintas, 1987), o que poderia constituir um fator de proteção contra as DSTs, particularmente a AIDS, nesse segmento social. Recomendamos estudos epidemiológicos para traçar o perfil das práticas sexuais de riscos entre os parceiros do sexo masculino.


•Descritores: Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), Práticas Sexuais, AIDS, Mulheres, Jovens

•Publicação/Apresentação: XXII Jornada Pernambucana de Ginecologia e Obstetrícia, Recife, Maio, 1996; Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 1996, 18:25-28.

Contribuição ao Conhecimento


Aborto Provocado com Misoprostol entre Mulheres de Baixa Renda em Recife

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• Aurélio Molina, Cícero F.F. Costa, Giovanna Lucena, Flávia Borba, Márcia Soares

• Departamento Materno Infantil, Faculdade de Ciências Médicas, UPE

INTRODUÇÃO: O abortamento provocado constitui-se numa prática comum entre as mulheres de baixa renda e é um dos responsáveis pela alta mortalidade materna em países do Terceiro Mundo. Na década de 70 um análogo da Prostaglandina E1, o Misoprostol (PGE2), foi sintetizado e comercializado sob o nome de Cytotec para o tratamento da úlcera péptica. Em 1986, começou a ser vendido no Brasil e rapidamente passou a ser usado para induzir abortamentos devido a sua capacidade de produzir uma forte estimulação da contratilidade uterina.

OBJETIVO: Identificar com que freqüência o Misoprostol vem sendo usado como indutor de abortamento entre mulheres de baixa renda que utilizam os serviços da Maternidade da Encruzilhada. Entre os objetivos secundários encontrava-se o de estabelecer a idade gestacional em que o produto vem sendo usado, local de obtenção, fontes de indicação do uso e de como utilizá-lo, tempo de início do sangramento, dosagem utilizada e complicações clínicas.

SUJEITOS E MÉTODO: Através de um estudo de corte transversal, com uma amostragem de conveniência, foram estudadas todas as pacientes com diagnóstico de abortamento que deram entrada nesta maternidade Escola da Universidade de Pernambuco, durante o período de dezembro de 1995 até março de 1996. O instrumento de pesquisa foi uma entrevista, utilizando-se um questionário padronizado com perguntas fechadas, e coleta de dados dos prontuários (diagnóstico inicial e da curetagem).

RESULTADOS: Dos 131 casos estudados o abortamento provocado correspondeu a 46 casos (36%), havendo o Misoprostol sido utilizado em 89% deles. A idade média das pacientes que utilizaram o Misoprostol foi de 23 anos sendo que 39% delas era primigesta. Entre as que usaram o Misoprostol, cerca de 83% nunca haviam provocado um aborto anteriormente. Na imensa maioria (81%)


o Misoprostol foi indicado por uma amiga ou vizinha. A maioria (77%) utilizou o Misoprostol até 12 semanas de gestação. Cerca de três quartos (78%) usou a dose de 2 comprimidos vaginais e 2 comprimidos via oral, e houve necessidade da repetição da dose em apenas 1 caso. A maioria (78%) obteve a medicação diretamente do balcão da farmácia, por um preço médio entre 30 e 40 reais, tendo sido a amiga ou vizinha as fontes mais comuns de ensinamento para seu uso (70%). Em quase 50% dos casos o sangramento se iniciou até 5 horas após o uso do medicamento. O diagnóstico mais comum foi o de abortamento incompleto ou restos ovulares (72%), seguidos por abortamento infectado em 15%, e abortamento inevitável em 8%. Houve apenas um caso de complicação (perfuração uterina).

CONCLUSÕES: Apesar dos viéses potenciais desse tipo de pesquisa tais como falseamento, sonegação e indução de informação, principalmente quando o assunto é abortamento provocado, os resultados sugerem que o uso do Misoprostol para interromper voluntariarmente uma gestação já é uma prática corriqueira entre as mulheres de baixa renda, e que o conhecimento desse método abortivo já é de domínio público; outro dado é que parece haver-se estabelecido uma dose padrão nesse segmento social (2 via oral e 2 via vaginal). Esses fatos, somados ao fácil acesso à droga, reforçam a necessidade de um debate não emocionalizado sobre a questão da legalização ou não de um procedimento disseminado e tolerado por importantes segmentos da sociedade. Apesar de nossos achados sugerirem uma alta efetividade em provocar o aborto, sempre existe a chance de abortamento incompleto, devendo as pacientes disso serem alertadas e informadas em virtude dos riscos de hemorragias e infecções. É também importante alertar a população para o risco de teratogenicidade que parece estar associado ao uso do Misoprostol.

•Descritores: Aborto, Misoprostol, Recife, Brasil, Cytotec

•Publicação/Apresentação: XXII Jornada Pernambucana de Ginecologia e Obstetrícia, Recife, Maio, 1996; Anais Nordestino de Ginecologia e Obstetrícia, Julho-Dezembro, 18:29-33, 1996

Contribuição ao Conhecimento


Caso Sônia. Exemplo das Distorções da Esterilização Feminina no Brasil

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• Aurélio Molina, Cícero Costa, Flavius Sodré, Angela Simões de Farias, Nelida Andrade Lima

• Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE; Centro de Apoio Operacional dos Promotores de Justiça de Defesa do Consumidor (CAOPJDC)


introdução: Nos últimos 30 anos, principalmente durante os anos 70-80, houve um crescimento acentuado em nível mundial do uso da esterilização sexual. No Brasil, a esterilização feminina emergiu como a prática contraceptiva mais usada entre as mulheres casadas, mesmo sendo proibida pela legislação penal e pelo Conselho Federal de Medicina, através do seu Código de Ética. Em Pernambuco, a ligadura tubária, basicamente a única técnica de esterilização usada no Brasil, alcança cifras de mais de 60% entre as mulheres casadas e entre aquelas que fazem alguma forma de contracepção (BEMFAM, 1996). Além das implicações demográficas, muitos outros aspectos vêm sendo discutidos em relação a essa alta incidência e prevalência da ligadura tubária, tais como a questão da idade de sua realização, efeitos colaterais, custo, arrependimento, racismo e questões éticas e penais.

Sujeito e Método: Discussão do caso de SCS, matrícula 043448, 25 anos, casada, gesta I para I, filho falecido aos 45 dias de vida, que foi submetida à cirurgia de "reversão tubária" na Maternidade da Encruzilhada, Recife, Pernambuco.

Resultado: Inventário da cavidade pélvica, na laparotomia de 5/11/1996, revelou trompa esquerda e direita amputadas no nível de infundíbulos e laqueadas no nível do terço proximal, achados esses compatíveis com fimbriectomia e ligadura de trompas, a Pomeroy, bilateralmente. Trompa direita aderida à epíploon e peritônio e mesosalpinge com sinais de salpingite esclero atrófica. Apesar do quadro extremamente desfavorável, a paciente foi submetida à salpingoplastia direita, evoluindo bem. Recebeu alta no segundo dia pós-operatório com aprazamento de retorno ao ambulatório com 45 dias e realização de nova histerosalpingografia com 75 dias. A história da paciente revelou que a mesma foi esterilizada aos 16 anos, sem o seu conhecimento. Alega que só tomou conheci

mento da esterilização após 8 anos de tentativas infrutíferas de gravidez, desde a morte de seu filho, com 45 dias de vida, por meningite, quando então sua genitora revelou que havia pago ao profissional médico para realizar a esterilização junto com o parto cesáreo.

ConclusÕES: Os autores concluem que o caso em questão é paradigmático de alguns aspectos levantados na justificativa. A cirurgia realizada na paciente foi um delito penal, isto é, uma lesão corporal (fimbriectomia e Pomeroy bilateralmente), e não uma prática contraceptiva. Além disso, vários artigos do Código de Ética Médica foram infringidos, tais como o artigo 29, que estabelece que é vedado ao médico praticar atos profissionais danosos ao paciente; o artigo 42 que o proíbe de praticar ou indicar atos médicos desnecessários ou proibidos pela legislação do País; o artigo 43 que veda o descumprimento da legislação específica nos casos de esterilização; e, no capítulo dos direitos humanos, o artigo 46, que veda ao médico efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévio do paciente, salvo em iminente perigo de vida. Para os autores, outros artigos do Código de Ética Médica foram transgredidos, como o artigo 48, que veda exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a sua pessoa ou seu bem-estar; e o artigo 67, relativo à relação com pacientes e seus familiares, que também foi transgredido porque houve um desrespeito ao direito de a paciente, mesmo sendo menor de idade, decidir livremente sobre o método contraceptivo ou conceptivo, pois o médico deve sempre esclarecer sobre a indicação, a segurança, a reversibilidade e o risco de cada método. Os autores esperam que, com a Lei 9263/96, que admite o direito dos cidadãos à esterilização por vontade própria, desde que as/os pacientes tenham idade mínima (25 anos) e 2 filhos, com uma maior conscientização sobre arrependimentos pós-esterilização e com o pleno acesso a todos os métodos contraceptivos, casos como esse aqui relatado não mais aconteçam em nosso país.


•Descritores: Esterilização Feminina, Laqueadura Tubária, Abusos, Ética, Bioética

•Publicação/Apresentação: XXIII Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, Maio, 1997

Contribuição ao Conhecimento


Acesso ao Misoprostol para Interrupção da Gravidez Indesejada no Grande Recife

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•Aurélio Molina, Cícero F.F. Costa, Patrícia Bacellar, Myssula Hayashida, Sarah Menelau, Olbiano Silveira Junior, Soamy Bezerra Martins

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE


introdução: A introdução voluntária da Gravidez se constitui um problema de saúde pública pela sua alta morbiletalidade, particularmente entre a população de baixa renda. Além disso representa um desafio ético e bioético persistente pois é uma situação onde claramente existe um conflito moral expresso no embate entre os direitos da mãe, os direitos do embrião e as leis vigentes no país.Em estudo anterior, realizado em 1996, Molina e cols encontraram que na Maternidade da Encruzilhada, hospital-escola da Universidade de Pernambuco, cerca de 90% das pacientes internadas com abortamentos provocados utilizou o Cytotec, nome comercial do Misoprostol (um análogo da Prostaglandina E1, conhecido como PGE2, sintetizado e comercializado para o tratamento da úlcera péptica), para a interrupção da gestação, devido a sua capacidade de provocar um forte aumento da contratilidade uterina.

Objetivo: Verificar o acesso ao Misoprostol (Cytotec) para interrupção de gravidez não desejada, em 4 dos maiores municípios da Região Metropolitana do Recife (Recife, Olinda, Jaboatão e Paulista), e se esse acesso ao produto variava em relação ao porte do estabelecimento.

Sujeitos e Método: Este estudo foi exploratório, com uma amostragem de conveniência e incidental, através de um inquérito e de um cenário artificial ("cliente", com um comportamento padronizado, utilizando os termos "ajuda", "desesperada", "menstruação atrasada", "grávida" "gravidez indesejada" e "interrupção"). Colheram-se informações em farmácias/drogarias desses 4 municípios, relativas a: 1) disponibilidade do produto para realizar a interrupção de uma gravidez indesejada; 2) sobre o preço do medicamento; 3) dose a ser utilizada. Foi também investigado se, quando da indisponibilidade do produto, haveria alguma maneira de se conseguir o medicamento, ou

uma indicação de outro local para a obtenção do mesmo, ou qualquer outra forma de colaboração para a interrupção daquela "teórica" gestação indesejada. Foram investigados 194 estabelecimentos em 41 bairros do Grande Recife.

Resultados: Encontrou-se que em 12.5% das farmácias/drogarias o Cytotec estava disponível, sendo que em 36% desses havia necessidade de uma prescrição médica. Entretanto, em muitos estabelecimentos o balconista informava que poderia conseguir o produto através de terceiros, demonstrando que, direta ou indiretamente, em 24% dos logradouros pesquisados, era possível adquirir o Misoprostol sem receita médica para interrupção da gestação. O acesso ao Cytotec foi mais fácil nas farmácias de pequeno porte do que nas de médio e grande porte (32.5% versus 17.5% e 5% respectivamente, sendo essa diferença estatisticamente significante, com um p = 0.05).

Conclusões: Os autores concluem que apesar da proibição de sua comercialização e de um certo receio por parte de balconistas e proprietários, o acesso ao Cytotec para interrupção de gestações indesejadas não é difícil, e uma cartela com 4 comprimidos custa em média 40 reais. A dose sugerida pela maioria (60%) dos balconistas, 2 comprimidos vaginais e 2 orais, corresponde à dose relatada e utilizada pela maioria das pacientes em outros estudos sobre a temática.

•Descritores: Aborto, Misoprostrol, Cytotec, Acesso, Farmácias, Gravidez Indesejada

•Publicação/Apresentação: XXIII Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, Maio, 1997


Contribuição ao Conhecimento


Uma Nova Técnica de Laqueadura Tubária. Simples, com Menos Efeitos Colaterais e de Fácil Reversibilidade

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•Aurélio Molina e Cícero F.F. Costa

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


introdução: No mundo inteiro, principalmente em países subdesenvolvidos, existe uma tendência à utilizar a esterilização feminina como prática contraceptiva, particularmente a laqueadura tubária. No Brasil, essa prática cresceu 6 vezes em 13 anos (de 7,1% para 44,4%). Várias pesquisas sugerem alterações menstruais associadas à laqueadura, provavelmente devido a agressões cirúrgicas causadas ao mesosalpinge (que é a área por onde passam parte da vascularização e inervação ovariana), conforme modelo teórico dos efeitos colaterais de longo prazo desenvolvido por Molina (1995), em sua tese de Doutorado. Além disso, um crescente número de mulheres se arrepende e solicita a reversão da laqueadura tubária. Portanto, uma técnica cirúrgica que seja menos agressiva em relação aos vasos do mesosalpinge e à própria tuba uterina, inclusive preservando o máximo de oviduto possível, pode não só diminuir os efeitos adversos, como permitir uma re-canalização tubária, tornando a laqueadura um método cirurgicamente reversível.

Objetivo: Apresentar uma nova cirurgia de esterilização feminina, teoricamente menos iatrogênica e com grande potencial de reversibilidade.

Descrição: A cirurgia proposta consiste em bloquear as trompas de Falópio através de 4 ligaduras (pontos) ao nível do ístmo (parte mais estreita da trompa) e uma mínima excisão (retirada) de segmento de trompa, sem ingressar no mesosalpinge, preservando sua integridade e vitalidade. Após a apreensão da tuba com uma pinça de Allis ou Kelly, duas ligaduras, com fio absorvível, são realizadas de cada lado da pinça, numa distância de cerca de 0.5 a 1.0 cm entre as mesmas, seguidas de uma excisão do segmento da trompa entre esses pontos em forma de V, sem atingir o mesosalpinge, ou com a menor lesão

possível do mesmo. Os dois orifícios do oviduto que ficaram expostos com a excisão são, a seguir, também ligados com fio absorvível.

Conclusões: Os autores desenvolveram uma nova técnica de laqueadura, que é fácil de ser realizada e que agride menos o tecido tubário e o mesosalpinge. Além disso, esta técnica, em caso de arrependimento, permite a re-canalização cirúrgica das trompas possibilitando, teoricamente, pela maior extensão de trompa deixada e pelo mínimo dano causado, um maior sucesso em termos de futuras gestações e uma menor chance de gravidez ectópica tubária, complicação freqüentemente associada às cirurgias de reversões. Os autores concluem que essa cirurgia é a melhor opção dentro do atual estágio de conhecimento dos efeitos colaterais da laqueadura tubária em um cenário de altas taxas de arrependimento entre as mulheres que se submeteram à esterilização tubária.

•Descritores: Laqueadura Tubária, Técnica, Esterilização Feminina, Efeitos Colaterais

•Publicação/Apresentação: XXIII Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, Maio 1997


Contribuição ao Conhecimento


Série Histórica (1993-96) sobre Conhecimento e Atitudes Relativa à AIDS na População Recifense de Baixa Renda

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• Aurélio Molina, Cícero FF Costa, Francisca da Costa, Guilma Fonseca, Luciana Porto, Patrícia Melo

• Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE


Justificativa: Muito tem sido investido em campanhas informativas sobre a AIDS, porém pouco se sabe sobre o impacto de tais campanhas.

Objetivo: Investigar se houve um aumento dos conhecimentos acerca da AIDS e mudanças de atitudes que indiquem um menor risco de contaminação pelo HIV entre as mulheres de baixa renda que freqüentam os serviços do Centro de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM), UPE, entre os anos de 1992 e 1996.

Sujeitos e Método: Compararam-se os resultados de 2 inquéritos epidemiológicos que utilizaram a mesma metodologia numa população alvo de características sociodemográficas semelhantes e na mesma instituição, realizados com um intervalo de 4 anos iniciando-se uma série histórica.

Resultados: Os resultados mostram que não houve diferença entre o número de mulheres que já tinha ouvido falar sobre AIDS (99% X 100%). Entretanto, houve um aumento do percentual de pessoas que não souberam dizer o que é AIDS (4% X 14%). Diminuiu significativamente o número de mulheres que afirmaram que AIDS era simplesmente "uma doença" (44% X 17%; p<0.001), e também aumentou, significativamente, o número de respostas acompanhadas de adjetivos como "contagiosa" (37% X 41%; p=ns), "incurável" (14% X 24%; p<0.03) e "doença contagiosa e incurável" (1% X 4%; p=ns). Não houve diferença nos percentuais relativos ao não conhecimento dos mecanismos de contágio (16% X 15%) nem em relação à citação da via sexual como "porta de entrada" (96% X 94%). Por outro lado muito mais pacientes citaram sangue/transfusões (30% X 58%; p<0.001) e seringas contaminadas (9% X 26%; p<0.001). Estimuladas em relação à forma de contágio, não houve diferença em relação à contaminação via sexual (97% X 100%), atra

vés do uso de banheiro (52% X 50%), transfusões (99% X 99%) e do beijo (31% X 32%). Mas aumentou em relação ao uso de seringas (81% X 99%; p<0.001), e diminuiu quanto ao copo d'água (49% X 38%; p=ns), do risco de contaminação pelo ar (34% X 20%; p<0.05), aperto de mão (14% X 6%; p<0.05) e ao uso de roupa (38% X 31%; p=ns). Espontaneamente, não houve aumento quanto ao número de pacientes que referiram saber como evitar a AIDS (77% X 76%), mas novamente houve um aumento na explicitação de atitudes preventivas, principalmente para a camisinha (41% X 83%; p<0.001), seringa (11% X 32%; p<0.001). Os resultados mais negativos aparecem nas respostas estimuladas para atitudes preventivas corretas e incorretas em relação a AIDS. Com exceção da diminuição da incorreta visão que a higiene pós-coito protege contra a AIDS (46% X 28%; p<0.02) e que não doar sangue seria um fator de proteção (57% X 43%; p<0.03), não houve diferença em relação a usar camisinha (93% X 92%), não sentar em aparelho sanitário (67% X 70%), ter só um parceiro sexual (78% X 79%). Em relação a "conhecer bem o parceiro sexual", ao contrário, houve uma diminuição (77% X 57%, p<0.001). Não houve diferença sobre o conhecimento da alta letalidade da doença (97% X 99%) e sobre a incurabilidade da AIDS (88% X 88%).

Conclusões: Os resultados mostram que houve um crescimento quantitativo e qualitativo em relação ao conhecimento e atitudes em relação a AIDS, principalmente em relação à camisinha. Entretanto, ainda é baixo, ou equivocado, o conhecimento de algumas formas de contaminação e prevenção, demonstrando assim que ainda se fazem necessários programas de educação, particularmente pelos meios de comunicação mais utilizados por esse segmento da população, como por exemplo, o rádio.

•Descritores: AIDS, Conhecimentos, Atitudes, Recife, Educação

•Publicação/Apresentação: XXIII Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, Maio, 1997


Contribuição ao Conhecimento


A Ética, a Bioética, a Terapia de Reposição Hormonal e o Câncer de Mama

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• Aurélio Molina

• Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE

Justificativa: A terapia de reposição hormonal (TRH), tornou-se um dos assuntos mais polêmicos nos últimos anos, na área da assistência à saúde da mulher, em virtude de seus aspectos positivos (diminuição dos sintomas vasomotores, melhora cosmética, aumento de densidade óssea, melhoria do trofismo genital e da qualidade de vida), negativos (aumento do risco de câncer de endométrio e tromboembolismo) e controversos (aumento do risco de câncer da mama, proteção para o aparelho cardiovascular e para a Doença de Alzheimer).

Objetivos: Revisar a literatura científica relativa ao risco de câncer da mama nas usuárias de terapias hormonais e discutir as repercussões éticas e bioéticas desses achados.

Material e Método: Pesquisa bibliográfica através do Medline, análise metodológica dos trabalhos encontrados, análise e reflexões acerca do Código de Ética Médica e dos Princípios Bioéticos da Não Maleficência, Beneficência, Autonomia e Justiça.

Resultados: Foram encontrados 27 artigos científicos que estudaram o tema (câncer de mama e TRH). Desse total, incluindo duas meta-análises, 21 mostraram um risco relativo aumentado para câncer de mama entre as mulheres submetidas à terapia hormonal, com números variando de 1,3 até 2,5, isto é, aumento de 30 a 150% da incidência entre as usuárias, risco esse que tem relação com o tempo de uso da TRH, com a dose utilizada e com os tipos de hormônios empregados.

Conclusões: Apesar de muitas controvérsias sobre se os estrógenos, ou os progestágenos, são carcinógenos ou promotores/indutores da carcinogênese, tornando as células hormônio-responsivas mais susceptíveis a outros carcinógenos, e de críticas sobre possíveis viéses metodológicos, como o de um maior e melhor acompanhamento das mulheres submetidas ao tratamento


hormonal, o que levaria a um maior número de diagnósticos no grupo de casos (diagnostic surveillance bias), e de muitos agentes confundidores como dieta, classe social e consumo de álcool, a não informação desse risco relativo aumentado às pacientes que irão se submeter à terapia hormonal no climatério, impede que as mesmas possam exercer plenamente o Princípio Bioético da Autonomia, balanceando os riscos e benefícios desse procedimento. A não informação desses achados também fere o Código de Ética Médica nos seus artigos 46 e 48, que, respectivamente, veda ao médico efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e o consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, e que também veda ao médico exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a sua pessoa ou seu bem-estar. O profissional médico vai também contra o artigo 59 quando deixa de informar os riscos do tratamento hormonal. O autor recomenda que o resultado dessa revisão bibliográfica e das reflexões éticas realizadas nesse artigo sejam amplamente divulgadas visando uma melhor e mais correta assistência às mulheres que necessitam de intervenção medicamentosa no período climatérico.

•Descritores: Terapia Estrogênica, Câncer de Mama, Ética, Bioética

•Publicação/Apresentação: XXIII Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, Maio, 1997, Revista da Ciências Médicas de Pernambuco. Recife-Brasil: , v.198, n.1, p.6 - 10, 1997

Contribuição ao Conhecimento


Terapia de Reposição Hormonal e Proteção Cardio Vascular. Sugestões ou Evidências de uma Associação Causal?

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•Aurélio Molina

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE


Introdução: É muito importante melhorar a qualidade de vida das pacientes climatéricas, pois saúde não é apenas a ausência de doenças, mas o bem-estar físico, psíquico e social. A terapia de Reposição Hormonal (TRH), em que se utiliza estrogênio associado ou não aos progestogênios, tem um impacto positivo na maioria dos sintomas climatéricos que afetam negativamente a qualidade de vida dessas mulheres, inclusive naqueles relativos à vivência da sexualidade. Outro benefício da TRH seria a diminuição de fraturas ósseas devido à osteoporose, mas essa indicação merece reflexão mais aprofundada do ponto de vista custo-benefício-malefício, particularmente quando se pensa em programas de prevenção e quando a comparamos com outras possíveis intervenções. Outras vantagens teóricas da TRH ainda são assunto altamente polêmico.

Justificativa: Um dos possíveis grandes benefícios da terapia de reposição hormonal, principalmente a estrogênica, seria a diminuição do risco de doença coronariana, principalmente do infarto agudo do miocárdio.

Objetivos: Verificar se os desenhos dos estudos que encontraram uma redução do risco de doença coronária permitem afirmar que essa associação de proteção é causal.

Material e Método: Através da crítica epidemiológica e metodológica, foi realizada revisão dos principais trabalhos citados na literatura médica onde foi encontrada uma associação de proteção entre a TRH e doença cardiovascular, principalmente em relação à diminuição da mortalidade por doença coronariana.

Resultados: A relação causal, entre TRH e redução de doença cardiovascular em mulheres pós-menopausa, em nossa opnião, não foi comprovada. Com exce

ção de uma única pesquisa randomizada mas com amostragem diminuta, a maioria dos estudos que demonstram uma diminuição de risco de doença cardiovascular, em torno de 20 a 50%, são observacionais, retrospectivos, portanto sujeitos a inúmeros vícios ou vieses, tais como o de seleção, pela ausência de randomização e "cegamento", que explicariam os resultados encontrados, pela possibilidade de que as mulheres que se submeteram a TRH sejam também aquelas mais sadias, ou as que têm um estilo de vida mais saudável ou, ainda, as que têm uma alimentação com menos fatores de risco para doença cardiovascular, determinantes esses que poderiam também explicar os resultados encontrados.

Conclusões: É necessário aguardar os resultados de estudos prospectivos, randomizados, duplos cegos, do tipo ensaio clínico e com um tamanho amostral adequado, para se confirmar ou rechaçar a hipótese de uma associação de proteção entre Terapia de Reposição Hormonal e doença coronariana.

•Descritores: Terapia Estrogênica, Infarto do Miocárdio, Climatério, Reposição Hormonal, Menopausa

•Publicação/Apresentação: XXIII Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, Maio, 1997


Contribuição ao Conhecimento


Mola Hidatiforme Coexistente com Gravidez de Gêmeos um dos quais Anencefálico

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•Cícero F Costa, Etevaldo Araújo, Aurélio Molina, Rivaldo Albuquerque, Adriana Lima, Carmen Silva

•Maternidade da Encruzilhada, Departamento Materno Infantil da FCM-UPE


INTRODUÇÃO: A Doença Trofoblástica Gestacional (DTG) é uma doença originada do epitélio de revestimento das vilosidades coriais placentárias e apresenta-se de diferentes formas anatomoclínicas: mola hidatiforme, mola invasora, coriocarcinoma e tumor trofoblástico sítio-placentário. Mesmo nas suas formas mais malignas, como o coriocarcinoma, a DTG pode ser curada, inclusive na presença de doença disseminada. A mola hidatiforme é a sua forma mais benigna, geralmente apresentando um comportamento menos agressivo. Sua incidência varia de país para país, com alta prevalência nos países em desenvolvimento (1:125 gestações em certas áreas do Oriente), enquanto que nos Estados Unidos a freqüência é de 1:1500 gestações. Fatores dietéticos podem explicar parcialmente as variações regionais da incidência da DTG, como, por exemplo, a deficiência de vitamina A. O sangramento vaginal é o sintoma mais comum, sendo que o diagnóstico é feito, basicamente, pela ultrasonografia. É rara a associação da mola coexistindo com embrião. O fenômeno é ainda mais singular quando a associação é com uma gravidez multifetal.

OBJETIVO: Neste trabalho os autores apresentam e descrevem caso de prenhez envolvendo 2 fetos, um dos quais com anencefalia, e mola hidatiforme.

DESCRIÇÃO: Paciente de 18 anos (IPES), gesta II, para 0, admitida na Maternidade da Encruzilhada, Recife, Pernambuco, Brasil, em 03/07/96, com diagnóstico ultrasonográfico que identificou tanto multiplicidade de fetos quanto a presença de áreas anecóides espraiadas pela massa placentária. Quando da internação apresentava parâmetros clínicos e laboratoriais normais, com fundo uterino compatível com gestação de 33 semanas. Uma semana após a admissão hospitalar, quando a gestação cursava a 23a semana (pela data da última menstruação e pelo cálculo ecográfico), deu-se parto espontâneo através da via transpelviana. O diagnósti

co da ultra-sonografia (mola embrionada, prenhez de gêmeos monocoriônica, diamniótica, com um dos fetos anencefálico, com polidrâmnio) foi confirmado depois do parto pélvico dos gêmeos, com 320 e 240 gramos, ambos do sexo masculino, sendo que o anencéfalo faleceu imediatamente após o parto e o segundo, 5 horas após o nascimento. Houve sangramento de vulto havendo necessidade da retirada manual da placenta. A avaliação pós-natal, através do Capurro, confirmou a idade gestacional de 23 semanas. O período pós-parto transcorreu sem anormalidade e o segmento pós-molar revelou negativação do hormônio gonadotrófico coriônico no 21o dia pós-aborto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Follow-up não evidenciou desenvolvimento de tumor trofoblástico gestacional persistente (evolução não incomum nesses casos), que necessitaria de tratamento quimioterápico. O estudo histopatológico da placenta revelou mola completa. É interessante observar a ocorrência de anomalia do sistema nervoso central (anencefalia) em um dos fetos, bem como a associação com polidramnia.


•Descritores: Mola Hidatiforme, Gemelar, Anencefalia, Doença Trofoblástica

•Publicação/Apresentação: Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 1997, 19:315-17.

Contribuição ao Conhecimento


A Safer and Easier Tubal Ligation Technique

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• Molina A. and Costa C.F.F.

• Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Brasil


Female sterilization is a medical procedure (surgical, chemical or ionising) that ends the possibility of fertilization, through anatomic functional changes in any part of the female reproductive system. Tubal sterilization is a relatively new operation. As a method of fertility control, tubal sterilization, is in fact, a technique of the 20th century, but its roots go back to the 17th century. Haighton (in 1809), Blundell (in 1823), and Lungren (in 1881) were the first to publish data about tubal ligation. In the early 1900s, sterilization, as we know it now, was first performed, generally for eugenic reasons such as severe mental retardation. Nowadays, worldwide, mainly in Third World Countries, there has been a clear trend in favour of the use of sterilization as a contraceptive option. The percentage of sterilized women among those who were practising contraception in Brazil increased sixfold in 13 years (from 7.1% to 44.4%). The most common technique of female sterilization is tubal ligation, or tubal sterilization, which involves blocking the Fallopian Tubes. This is usually accomplished by occluding the tubes with ligatures, clips, bands, rings or electrocoagulation. Whether there are long-term sequelae of tubal sterilization is still an unsettled issue, which causes great controversy, and several studies in the last 50 years have been conducted in order to evaluate possible sequelae of tubal sterilization. Many of these studies have suggested that tubal sterilization may alter the blood supply or the function of remaining ovaries. Moreover, at least in Brazil, the figures about some degree of regret range from around 10 to 40%, and it has now become very common that women ask for reversal. In practice, there are three surgical routes to the uterine tubes: the abdominal, the transvaginal and the trans-cervical one. The abdominal approach, by using mini-laparotomy, laparotomy or laparoscopy, is the most common, and more than 200 different techniques of sterilization, by interrupting the luminal continuity of the Fallopian Tube have been described. The most used methods of tubal

occlusion using ligatures are those of Pomeroy, Madlener, Uchida and Irving, where there is a ligation and a surgical division of tubes. The authors are proposing a new tubal ligation technique, which does not cause changes in the mesosalpingy and is easier to be reversed. It consists of blocking the Fallopian tubes by occluding them with 4 ligatures at the isthmus. Two ligatures are made with absorbable material without reaching the mesosalpingy, with a distance of 0.5 cm between both, followed by an excision of this segment of tube in a V shape, without reaching the mesosalpingy or causing minimal damage. The two ends of the tube (stumps) are also ligated by absorbable material. In the authors' opinion this technique will have the same low failure rate of Pomeroy operation, without the loop that affects the mesosalpingy; it takes considerably less time than the careful Uchida method, and it will permit an easier reanastomosis if requested.

•Descriptors: Tubal Ligation, Female Sterilization, Technique, Side Effects, Brazil

•Publication/Presentation: XV FIGO World Congress of Gynecology and Obstetrics, Copenhagen, Denmark, 1997; Acta Obstetrica et Gynecologica Scandinavica, Supplement, Thursday, 1997, 76, 167:60.


Contribuição ao Conhecimento


O Tocoginecologista, o Misoprostol e o Aborto Provocado. Atitudes em Relação a um Cenário Teórico

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• Aurélio Molina, Cordeiro R P e Queiroz P S

• Maternidade da Encruzilhada/CISAM, Faculdade de Ciências Médicas-UPE


INTRODUÇÃO: A interrupção voluntária da gravidez se constitui, além de um problema de saúde pública, em um desafio bioético persistente onde se confrontam o direito à vida do embrião/feto, o direito e o respeito à autonomia e ao autogoverno da grávida. Segundo o Ministério da Saúde, apesar da carência de indicadores que permitam aferição do número total de ocorrências de abortamentos na população em geral, no contexto da mortalidade materna, a incidência observada de óbitos por complicações de aborto é em torno de 12,5% do total de óbitos, ocupando, em média, o terceiro lugar entre suas causas, embora existam amplas variações entre os estados brasileiros.

JUSTIFICATIVA: Pesquisas anteriores, realizadas pelo autor principal, demonstraram que o uso do misoprostol (cytotec) se tornou uma prática comum entre as pacientes que procuram interromper uma gestação não planejada, e que é possível obter o fármaco, para tal fim, sem receita médica, em 24% das farmácias do Grande Recife, sendo a dose recomendada pelos balconistas a de 2 comprimidos via oral e 2 comprimidos via vaginal.

OBJETIVO: Identificar as atitudes de tocoginecologistas diante de um cenário teórico, onde uma paciente imaginária de 21 anos, cliente do profissional entrevistado desde os 14 anos, que sob orientação do mesmo, fazia contracepção desde os 18, o procura, solicitando ajuda e dizendo estar grávida, gestação essa indesejada, trazendo BHCG positivo e ultra-som do mesmo dia, que revela uma gravidez tópica de cerca de 6 semanas, relatando querer interromper a gestação e questionando sobre o uso do misoprostol, mais precisamente sobre o seu mecanismo de ação, a dose a ser utilizada e, se após sua utilização, poderia contar com seu apoio em caso de abortamento incompleto ou outra complicação.

SUJEITOS E METÓDOS: O estudo foi descritivo, de corte transversal, do tipo inquérito sobre atitudes e prá

ticas (Kap Survey) através de entrevista estruturada com questionário padronizado, com perguntas abertas e fechadas, utilizando uma amostragem de conveniência de 102 tocoginecologistas de 3 das maiores maternidades públicas do Recife.

RESULTADOS: Nossos achados mostram que 78% dos profissionais explicariam o mecanismo de ação do Misoprostol baseados na visão de que é um direito da paciente (47%) e, para informar sobre os riscos e complicações (36%). A maioria não revelaria a dose (84%), pois não concordam com a interrupção da gestação (85%). Houve 7% dos entrevistados que não concordariam em ajudar em caso de complicações ou aborto incompleto.

INTERPRETAÇÃO E CONCLUSÃO: Os autores concluem que essas informações demonstram a necessidade de se iniciar um debate sobre as implicações éticas e bioéticas relativas a uma prática, já comum em nossa realidade, que é o uso do Cytotec para interrupção voluntária da gravidez, principalmente em relação ao princípio da autonomia, assim como em relação aos direitos das pacientes e dos direitos e deveres dos médicos, independente de suas convicções pessoais.


•Descritores: Aborto, Cytotec, Atitudes, Médicos, Assistência, Ética e Bioética, Misoprostol

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia e Obstetrícia, 1998, Recife.

Contribuição ao Conhecimento


Considerações Epistemológicas Pragmáticas

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•Aurélio Molina

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE

INTRODUÇÃO: A Ciência estava ligada em seus primórdios à Filosofia (filos=amigo, amor; sofia=sabedoria), considerada "a mãe de todo o Conhecimento e de todo saber" ou "a mãe de todas as Ciências", a qual pode ser caracterizada como o estudo que objetiva a ampliação incessante da compreensão da realidade, na tentativa de apreendê-la na sua totalidade, ou como a Ciência das realidades inteligíveis, não observadas sensivelmente, mas alcançáveis pela razão. A Filosofia pode ser sistemática, elucidativa, e crítica, mas é, antes de tudo, e fundamentalmente, reflexiva. Já a Ciência, que pode ser definida como um conjunto de conhecimentos sistematicamente organizados, com um objeto de estudo determinado, se baseia na observação e é sistemática, precisa, experimental, reprodutível, e acumulativa, podendo ser também considerada como uma coleção interminável de perguntas e respostas. A Epistemologia é a Teoria ou a Filosofia do Conhecimento, (ou da produção do conhecimento), podendo ser considerada também como o estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas, visando a determinar os fundamentos lógicos, o valor, o alcance e os objetivos das mesmas.

OBJETIVO: Procurar, dentro da Epistemologia, considerações pragmáticas que orientem aqueles que lidam com a produção, transmissão e utilização do conhecimento científico, dentro da área da saúde, oferecendo reflexões sobre como, por quem, por quê, sobre quem ou sobre o quê, para quem e para o quê, o conhecimento científico está sendo criado e produzido.

METÓDO: Ensaio opinativo e pesquisa bibliográfica de diversas fontes.

RESULTADOS: O autor apresenta um conjunto de 100 considerações relevantes, com caráter pragmático, encontradas nessa revisão.


CONCLUSÕES: Apesar de a Epistemologia estar mais afeita ao campo da Filosofia, as reflexões apresentadas servem de embasamento teórico para uma práxis menos tendenciosa e enviesada, para todos aqueles que produzem e transmitem o conhecimento científico, e também para os profissionais que o utilizam na assistência à saúde. Essas considerações reforçam a idéia de que a produção do conhecimento deveria ter como seus principais objetivos o bem-comum e a melhoria de vida de toda a humanidade, em todas as suas dimensões, isto é, nos aspectos biológicos, emocionais e sócio-econômicos, permitindo a vivência plena da experiência existencial. Entretanto, o cerne dessas considerações reforça a visão de que a interpretação de qualquer fenômeno é fortemente influenciada por muitos fatores, inclusive formação e interesses intelectuais, filosóficos, religiosos, econômicos, sociais, políticos e existenciais do pesquisador/cientista ou de grupos, principalmente os detentores de alguma forma de poder, o financeiro, em particular.

•Descritores: Epistemologia, Filosofia, Pragmatismo, Saúde, Ciência, Produção do Conhecimento

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1998

Contribuição ao Conhecimento


Análise das Novas Tecnologias Contraceptivas sob a Ótica da Bioética

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• Aurélio Molina

• Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: Dados estatísticos, publicações (inclusive pelo próprio autor em 1990), e inúmeras denúncias do movimento de mulheres e de várias organizações, governamentais ou não, muitas ligadas à defesa dos Direitos Humanos, apontam para uma distorção na prática contraceptiva que suporta a visão de que a política de saúde reprodutiva, na América Latina, se assemelha mais a um programa contraceptivo, com intuito de um controle populacional, travestido de "planejamento familiar", do que a uma política de saúde baseada em direitos e corretos preceitos éticos e bioéticos.

OBJETIVO: Discutir as novas tecnologias contraceptivas sob a ótica dos princípios bioéticos da beneficência, não maleficência e autonomia.

MATERIAL E MÉTODO: Pesquisa bibliográfica em diversas fontes, acompanhadas de considerações e reflexões éticas e bioéticas (principalmente quanto aos benefícios contraceptivos, benefícios não contraceptivos, malefícios, desvantagens e autonomia para reversão), em relação a novas tecnologias contraceptivas que já se encontrem liberadas para a utilização em algum país, ou em fase final experimental, ou ainda, outras menos recentes, mas que venham sendo ultimamente recomendadas.

RESULTADOS: Após a revisão da literatura foram realizadas considerações a cerca de 15 novas tecnologias contraceptivas listadas a seguir: DIU com progesterona; Gynefix; Injetável trimestral; Laqueadura tubária pela técnica de Molina e Costa; vacinas contraceptivas, DIU pós-placentário; Preditores microeletrônicos da ovulação; Pílula semanal, como o Mifepristone; Pílula mensal; associação do Mifepristone e Misoprostol; anéis vaginais trimestrais com levonorgestrel; injeção semanal/trimestral de testosterona; contracepção mecânica para homens através do plug de silicone no defe

rente; esterilização química pela quinacrina e os dispositivos intra-tubários, conhecidos como DIT.

CONCLUSÕES: Apesar da boa efetividade em prevenir gestações indesejadas, a maioria dessas novas tecnologias contraceptivas apresenta riscos potenciais, e algumas não permitem ou têm baixa possibilidade de reversão __ o que vai contra o paradigma do contraceptivo ideal (prático, barato, alta efetividade, poucos efeitos colaterais, muitos benefícios não contraceptivos e reversível). A sonegação dessas informações, às possíveis usuárias, impede o exercício pleno do livre arbítrio e do autogoverno das mesmas, pois não permite uma correta avaliação do risco/benefício de cada método, ferindo portanto, o principio bioético da autonomia e o princípio do direito à informação. As vantagens e benefícios assim como as desvantagens e os riscos dessas novas tecnologias contraceptivas merecem ampla divulgação não só entre os profissionais de saúde, mas também entre as usuárias e os formuladores de políticas públicas, sendo esta uma atitude ética e bioética imprescindível para uma adequada assistência à saúde reprodutiva das mulheres brasileiras e latino americanas.


•Descritores: Contracepção, Bioética, Tecnologias Reprodutivas, Principalismo, Ética

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1998

Contribuição ao Conhecimento


Análise do Custo-Benefício da Histerectomia Subtotal

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•Aurélio Molina

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE


INTRODUÇÃO: A histerectomia - retirada cirúrgica do útero - pode ser considerada, desde a primeira realizada em 1822, como o procedimento operatório ginecológico arquetípico, e apesar de ter se tornado ao longo do tempo, relativamente segura, continua sendo uma intervenção de vulto e de riscos para a paciente. Pode ser total (quando se retira todo o útero), subtotal (onde parte do útero é conservado, geralmente o colo), ampliada, conhecida como pan-histerectomia (quando além do útero são retirados as trompas e os ovários) ou radical (quando além do útero e anexos são retirados os ligamentos de sustentação do útero, o terço superior da vagina, acompanhado de linradenectomia pélvica e para aortica). Esse procedimento pode ser realizado via abdominal (de forma tradicional ou laparoscopica), via vaginal; ou combinadamente.

OBJETIVO: A partir da abordagem de que "se a patologia benigna se localiza no endométrio e miométrio do corpo uterino, por que então, se retirar o colo do útero?", e do Princípio Bioético da Não Maleficência e do Princípio Hipocrático do Primum Non Nocere (primeiro não lesar, primeiro não ser iatrogênico), o autor discute as vantagens da histerectomia subtotal comparada com a histerectomia total, principalmente sob o prisma da análise do custo-benefício-malefício.

METODOLOGIA: Ensaio e pesquisa bibliográfica de diversas fontes.

RESULTADOS: O autor apresenta e discute 23 importantes vantagens da histerectomia subtotal: 1) menores incisões abdominais; 2) maior facilidade técnica; 3) menor risco de sangramento; 4) menor chance de transfusão; 5) menor risco de infecção; 6) menor tempo cirúrgico; 7) melhor e mais rápida recuperação pós-operatória; 8) menor uso de analgésicos; 9) menor uso de antibióticos; 10) menor tempo de internamento;

11) menor custo hospitalar e cirúrgico; 12) menor risco de prolapso de cúpula vaginal; 13) ausência de encurtamento vaginal; 14) não existência de risco de granuloma de cúpula; 15) melhor lubrificação vaginal; 16) menor risco de lesões ureterais; 17) menor risco de lesões vesicais; 18) menor risco de disfunções vesicais 19)menor risco de tromboembolismo; 20) melhor vida sexual pela manutenção do colo; 21) menor risco de dispareunia profunda; 22) menor risco de aderências; 23) menos dores abdominais.

CONCLUSÕES: O autor conclui que do ponto de vista de uma análise do custo-benefício-malefício e do ponto de vista ético e bioético, a histerectomia subtotal, mesmo não protegendo teoricamente contra o adenocarcinoma de colo (o que poderia ser resolvido com a retirada da mucosa endocervical do coto do colo) e da necessidade de se continuar realizando exames preventivos periódicos regularmente (como toda mulher), é muito superior à histerectomia total, apesar de ambas apresentarem riscos (controversos) de efeito endócrino adverso (menopausa precoce iatrogênica por alterações na função ovariana), merecendo, portanto, uma maior utilização na assistência ginecológica.


•Descritores: Histerectomia Sub-Total, Vantagens, Benefícios, Bioética, Histerectomia Total, Ética.

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1998

Contribuição ao Conhecimento


Uma Nova Hipótese para a Eversão ou Ectopia da Mucosa Endocervical

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• Aurélio Molina e Claúdio de Barros Leal Ribeiro

• Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE e Hospital das Clínicas da UFPE


INTRODUÇÃO: O colo uterino ou cérvice, é a parte do útero que se comunica com a vagina e que por suas características, acesso e epidemiologia adquiriu a "identidade" de um órgão. Apresenta duas porções distintas: a supravaginal e a intravaginal que é aquela exposta para a vagina, também conhecida como ectocérvice ou portio vaginalis, e que é visualizada pelo exame especular. O colo uterino é percorrido por um conduto (canal cervical ou endocérvice) que termina superiormente na cavidade uterina (orifício interno anatômico ou istmo) e inferiormente na vagina (orifício externo anatômico ou óstio). A superfície interna desse canal é recoberta por um epitélio cilíndrico enquanto que a ectocérvice é recoberta por um epitélio estratificado semelhante ao da vagina. A eversão ou ectopia da mucosa endocervical ou mácula rubra (presença de alteração na coloração do colo uterino, perceptível a olho nu sob a forma de uma "mancha avermelhada"), ao nível do colo uterino, popularmente conhecida como "ferida no colo do útero", é a presença de epitélio cilíndrico (produtor de muco cervical) na ectocérvice, podendo ser encontrada, associada ou não à zona de transformação, em 20 a 50% das mulheres no menacme, existindo três teorias para explicar a sua gênese: a inflamatória, a traumática e a hormonal. Pode ser assintomática, ou ser acompanhada de queixas de secreção vaginal mais abundante por todo o ciclo e/ou, principalmente, no meio do ciclo ou no período pré-menstrual, quando então, é comumente tratada através de cauterizações que podem ser químicas, diatérmicas, crioterápicas ou a base do uso do laser.

OBJETIVO: Discutir a hipótese de que a eversão da mucosa endocervical é um fenômeno fisiológico. Nossa revisão da literatura indica que a ectopia da mucosa endocervical tem como objetivo precípuo o de aumentar a área de contato entre o ejaculado e o muco

cervical, incrementando quantitativamente o reservatório cervical de espermatozóides. Além disso, permite também, indiretamente, maiores áreas de alinhamento do muco cervical que direcionam os espermatozóides para dentro da cavidade cervical e uterina, assim como permite que um maior número de espermatozóides entre no processo de capacitação, que é iniciado, e talvez completado, na passagem pela cérvix.

MATERIAL E MÉTODO: Ensaio opinativo e pesquisa bibliográfica de diversas fontes.

RESULTADOS: Nossa revisão da literatura indica que a ectopia da mucosa endocervical tem como objetivo precípuo o de aumentar a área de contato entre o ejaculado e o muco cervical, incrementando quantitativamente o reservatório cervical de espermatozóides. Além disso, permite também, indiretamente, maiores áreas de alinhamento do muco cervical que direcionam os espermatozóides para dentro da cavidade cervical e uterina, assim como permite que um maior número de espermatozóides entre no processo de capacitação, que é iniciado, e talvez completado, na passagem pela cérvix.

CONCLUSÕES: Comparada com as hipóteses fisiopatológicas encontradas na literatura, para explicar o fenômeno da eversão da mucosa endocervical, a hipótese levantada pelo autor parece ser a de maior racionalidade e plausibilidade. Essa hipótese deve ser mais debatida entre os tocoginecologistas a fim de se evitar agressões desnecessárias ao colo uterino durante a vida reprodutiva das mulheres, o que se constitui num agravo ético e bioético.


•Descritores: Ectopia, Eversão, Gênese, Mácula Rubra, Teoria, Hipótese, Colo do Útero

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1998 , Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia 22 (2): 5, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Otimização do Custo-Benefício-Malefício do Acompanhamento Pós Molar

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• Aurélio Molina e Cícero Costa

• Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE

INTRODUÇÃO: As molas hidatiformes são blastomas originários do tecido de revestimento das vilosidades coriais (trofoblastos), funcionantes, produtores de gonadotrofina coriônica humana, hormônio que tem como ação fundamental, numa gestação normal, manter o corpo lúteo gravídico, que por sua vez, através da reprodução da progesterona, é reponsável pela "sobrevivência" da gravidez até a décima semana. A maioria, se não a totalidade dos serviços, recomendam como rotina de acompanhamento, após a evacuação uterina, uma dosagem semanal da subunidade Beta do hormônio gonadotrófico coriônico (BHCG) até que os níveis se tornem normais por 3 semanas e a seguir mensalmente, até um ano. A radiografia do tórax, também é solicitada mensalmente (até a negativação hormonal) recomendando-se a cada consulta, exame especular para verificar a possibilidade de metástase vaginal e infiltração cervical, e toque bimanual para avaliar a involução uterina e ovariana, além do acompanhamento quanto à anticoncepção. Alguns protocolos também recomendam a ultra-sonografia transvaginal com doppler colorido, ultra-sonografia hepática e, até mesmo tomografia torácica, cerebral e hepática.

OBJETIVO: Apresentar uma rotina de acompanhamento pós-molar, mais racional e com um melhor custo-benefício-malefício para a paciente e para o sistema de saúde.

MATERIAL E MÉTODO: Ensaio opinativo baseado em pesquisa bibliográfica e dados primários. O autor apresenta uma avaliação subjetiva do acompanhamento pós-neoplasias trofoblásticas gestacionais de 40 pacientes da Maternidade da Encruzilhada, Hospital Escola da Universidade de Pernambuco.

RESULTADOS: O acompanhamento pós-esvaziamento uterino baseado em dosagens quinzenais de B-HCG até a negativação, seguida de dosagens mensais por 6 meses, alta temporária por 6 meses, seguida de nova dosagem e alta definitiva, sem a realização sistemática de exames especulares e toque bimanual, mostrou-se seguro, prático, de baixo custo, com menos riscos e com resultados iguais aos encontrados na literatura.

CONCLUSÕES: O hormônio gonadotrófico coriônico pode ser considerado um marcador biológico de excelência, por não haver relato na literatura de neoplasia trofoblástica gestacional em atividade, sem estabilização, aumento ou persistência de seus níveis sorológicos, em doença metastática ou não. Isso subsidia e permite a utilização desse novo protocolo de acompanhamento, que do ponto de vista dos princípios bioéticos da não maleficência e beneficência, do artigo 42 do código de ética (praticar atos médicos desnecessários) e dos administrativos de otimização dos recursos, é superior àqueles baseados em dosagens semanais do B-HCG. Esta superioridade se configura por tornar desnecessários no acompanhamento das molas hidatiformaes, toques e exames especulares de rotina e de possíveis radiografias pulmonares, exames ultra-sonográficos, cintilográficos e tomográficos em presença de níveis decrescentes ou ausentes desse hormônio padrão ouro.


•Descritores: Mola hidatiforme, Protocolo, Acompanhamento, Bioética, Ética, Não Meleficência

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1998

Contribuição ao Conhecimento


A Sexualidade Após Parto Vaginal

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• Aurélio Molina, Interaminense Júnior A A, Aquino A M R A, Epitácio A V F

• Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE


INTRODUÇÃO: Disfunção sexual é todo problema que interfere na resposta fisiológica da expressão sexual humana a estímulos eróticos, quer sejam eles de origem psicológica, biológica ou social. Na mulher, a disfunção sexual pode se apresentar como uma inibição do desejo, dor na relação sexual, dificuldade de excitação e dificuldade para o orgasmo. As disfunções sexuais nos primeiros meses do pós-parto, devido a inúmeras causas, tais como amamentação, fadiga, depressão, falta de interesse, dor perineal, atrofias e hipotrofias do epitélio vaginal, e "sensação de frouxidão" têm sido bem documentadas. Entretanto, a sexualidade feminina, após os primeiros 6 meses do parto vaginal, precisa ser mais bem avaliada, sendo que o medo de futuras disfunções sexuais vem sendo apontado como uma das causas da alta prevalência do parto cesáreo.

OBJETIVO: Estudar a sexualidade feminina após o primeiro parto vaginal.

SUJEITOS E MÉTODO: Foi realizado um estudo observacional, descritivo, de corte transversal com amostragem de conveniência onde foram estudadas 100 mulheres internadas na Maternidade da Encruzilhada (CISAM-UPE), com uma história obstétrica de um parto transpelviano e que tinham permanecido com o mesmo parceiro por pelo menos 6 meses após este parto. Os dados foram colhidos através de uma entrevista estruturada, utilizando-se um questionário com perguntas abertas e fechadas.

RESULTADOS: A maioria (54%) não relatou mudanças de sua vida sexual após o parto vaginal, sendo que 28% relataram melhora da mesma. Entre essas últimas, a principal razão alegada foi a de uma melhora no relacionamento amoroso e interpessoal, seguida de uma maior realização pessoal. Dentre aquelas que declararam uma piora da vida sexual (18%), a razão

mais citada foi a de "um desgaste no relacionamento interpessoal". Especificamente em relação à anatomia vaginal, encontramos praticamente o mesmo percentual entre aquelas que se sentiram mais folgadas (40%) e aquelas que não perceberam diferença (39%), sendo que 21% sentiram a vagina "mais apertada". A maioria dos maridos (52%) relatou à paciente não ter notado nenhuma diferença quanto à anatomia genital. Quanto à libido, 48% relatou que não houveram mudanças, seguido de um percentual de 28,8% que citaram aumento da mesma. Dentre essas últimas, 45% relataram "mais carinho" e "aumento da auto-estima" como explicação para esse aumento da libido. Um percentual de 57% não relatou mudanças quanto ao prazer durante as relações sexuais, seguido de 25% que citaram um aumento desse prazer. Sessenta por cento (60%) das entrevistadas relataram que a freqüência de relações sexuais ficou igual ou aumentou.

CONCLUSÕES: Os autores concluem que esses achados sugerem que a vida sexual das mulheres parece não ficar modificada negativamente após o primeiro parto vaginal e que a divulgação desses resultados, de caráter exploratório, podem ajudar a diminuir os altos índices de cesariana observados no Brasil.


•Descritores: Sexualidade, Parto Vaginal, Disfunções, Alterações, Recife

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1998

Contribuição ao Conhecimento


Práticas Sexuais de Risco para DSTs/AIDS em Estudantes de Medicina, do Sexo Masculino, da Universidade de Pernambuco

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•Aurélio Molina, André Vitor de A Gomes, Anamaria B Coutinho, Ana Sofia P Costa

•Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas-UPE


INTRODUÇÃO: As DSTs e a AIDS constituem um importante problema de saúde pública. Desde o início dos anos 80 até meados de 1996, 27,9 milhões de casos de AIDS em todo o mundo foram notificados (OMS, 1996). No Brasil, o número de casos oficialmente comunicados foi de 110.872, no período de 1980_1997 (Ministério da Saúde, 1997), sendo que em Pernambuco este número foi de 2.742 no período de 1983_1997 (SES/DIEVES/Programa Estadual DSTs/AIDS, 1997).

OBJETIVO GERAL: Conhecer atitudes e práticas sexuais de risco entre os estudantes de Medicina do sexo masculino da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco.

SUJEITOS E MÉTODOS: O estudo foi do tipo descritivo, de corte transversal. Utilizou-se um questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas, tendo sido entrevistados, através de uma amostragem de conveniência, 127 alunos do primeiro, terceiro, quinto e sétimo períodos, durante 3 meses, no ano de 1997.

RESULTADOS: A grande maioria da amostra se considerava heterossexual (96%) sendo 2% bissexual e 2% homossexual. Noventa e cinco por cento (95%) já havia tido, pelo menos uma experiência sexual vaginal; a média de idade foi de 15 anos para o primeiro coito. Um pouco mais da metade (52%) tinha praticado alguma forma de prevenção para evitar DSTs/AIDS nessa primeira relação, principalmente o uso de condom (94%). A média de parceiros sexuais até o momento da entrevista era de três, sendo que quase a metade (45%) havia tido apenas um parceiro nos últimos 6 meses. A grande maioria (88%) faz uso de algum método para evitar DSTs/AIDS, sendo o condom o mais utilizado (93%). Em relação à prática de "ficar", um grande percentual (60%) já "fi

cou e teve relação sexual", e um grande número não pergunta sobre o número de parceiros anteriores (66%) nem sobre o uso de drogas injetáveis (55%). Entretanto, 61% perguntam sobre o uso de condom com parceiros anteriores. Já em relação ao namoro, a maioria pergunta sobre o número de parceiros anteriores (69%), sobre o uso de condom (72%) e sobre o uso de drogas injetáveis (46%). Um elevado percentual (41%) manteve relações sexuais com 2 parceiras em uma mesma época. A maioria (84%) já usou o condom, sendo que desses, 38% o utilizam sempre. Em relação ao sexo oral, 71% já o havia praticado, e quanto ao sexo anal, 24% já o tinha realizado.

CONCLUSÃO: Esses achados indicam a necessidade da manutenção de programas educativos e de conscientização da prática do "sexo seguro", principalmente em um segmento formador de opinião e co-responsável pela assistência à saúde da população.


•Descritores: Práticas Sexuais, Estudantes, Medicina, DSTs, AIDS, Sexualidade

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1998

Contribuição ao Conhecimento


A Ética, a Bioética e a Tocoginecologia

48

•Aurélio Molina, Cícero F F Costa

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE).


INTRODUÇÃO: Nos últimos anos, em virtude de inúmeros fatores, houve um enorme impulso para o retorno dos debates acerca da questão da Ética, que tem origem e começo incertos. Na cultura ocidental costuma-se afirmar que a ética teve início, provavelmente com Socrates, Platão e Aristóteles, há cerca de 25 séculos, a partir do momento em que as pessoas começaram a se reunir e viver em grupos, comunidades, sociedades e cidades. Nas Ciências Biológicas e Médicas, esse debate foi reforçado com o aparecimento da Bioética, neologismo criado por Potter, na década de 70, que é derivado das palavras gregas bio (vida) e ethike (ética). Apesar de ser praticamente impossível atribuir um único conceito à palavra Bioética, o próprio Van Rensselear Potter, preocupado com o risco da Biotecnociência para a sobrevivência planetária define-a como sendo a "Ética da Ciência", aquela que combina/engloba humildade, responsabilidade e competência, que é interdisciplinar e intercultural, e que faz prevalecer o verdadeiro sentido de humanidade. Para os ginecologistas e obstetras, assim como para muitos outros profissionais de saúde, a biotecnociência trouxe para a ordem do dia os dilemas com que se defrontam (e têm que solucionar) esses especialistas, como, por exemplo, os do campo da reprodução assistida (doação de espermatozóides/ óvulos/ pré-embriões; seleção de embriões; maternidade substituta; redução embrionária; clonagem; crioconservação; etc).

OBJETIVO: Contribuir para o debate sobre a ética e a bioética, sugerindo, informando e refletindo sobre alguns aspectos de ordem filosófica, conceitual, normativa e aplicativa, relativos ao tema em questão, apresentando-os de forma simples e didática, introduzindo o leitor neste vasto campo do conhecimento.

MATERIAL E MÉTODO: Ensaio opinativo com considerações e sugestões para um melhor enfrentamento dos dilemas Éticos e Bioéticos dentro da especialidade.

CONCLUSÕES: Como síntese os autores afirmam que não é fácil colocar em prática questões ou princípios filosóficos, e sempre haverá espaço para interpretações e discussões, não existindo, portanto, resposta simples para nenhum dilema ético\bioético na área de saúde da mulher. Entretanto, para os autores, essas dificuldades não devem ser uma escusa para uma ausência de debates e para o não enfrentamento das inúmeras situações de risco de agravos éticos e bioéticos que se tornaram corriqueiras dentro da Tocoginecologia. Deve-se sempre ter em mente que, acima de tudo, o respeito pela vida humana e por sua dignidade, da concepção até à morte, é o preceito no qual, em verdade, não só estão baseadas a Ética e a Bioética, mas a própria prática profissional dos tocoginecologistas. Esta prática, que deve ser sempre baseada princípios bioéticos da Não Maleficência, Beneficência, Autonomia e Justiça, pode, entretanto, ser contextualizada e ponderada, já que a Bioética não é dogmática nem deontológica, sendo um espaço de busca da melhor (ou a menos pior) escolha ou solução possível, para resolver os problemas e conflitos emergentes e/ou persistentes, visando o bem-comum e a preservação da humanidade e de toda a Biosfera.


•Descritores: Ética, Bioética, Ginecologia, Obstetrícia, Bem-comum, Biosfera

•Publicação/Apresentação: Revista das Ciências Médicas de Pernambuco, 1998, 1:12-18.

Contribuição ao Conhecimento


A Libido e o Ciclo Menstrual. Uma Avaliação Entre Enfermeiras

49

•Aurélio Molina, Mariana L de Albuquerque Souza, Marta Virgínia R Brito, Ana Beatriz M de Araújo Pelinca

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE


INTRODUÇÃO: O ciclo da resposta sexual, segundo Masters e Johnson, pode ser dividido em 6 fases: desejo; excitamento; platô; orgasmo; resolução/distensão; período refratário. A libido, significando desejo sexual (Ferreira, 1975), pode ser definida como sendo o estado emocional subjetivo (motivação e inclinação) para ser ativo sexualmente, desencadeado por fantasias (estímulo interno) ou por parceiros (estímulo externo) sendo dependente de uma função neuro endócrina e influenciável por vários fatores inclusive os sócio-culturais. Resumidamente, poderíamos afirmar que uma resposta sexual adequada está sob a influência de três grandes determinantes: 1) Um organismo sexualmente responsivo; 2) Estimulação sexual efetiva; 3) Condições apropriadas. Acredita-se que a libido sofra modificação durante o ciclo menstrual, atingindo seu pico próximo ao período ovulatório, talvez devido aos altos níveis de secreção estrogênica que ocorrem durante o período pré-ovulatório (Guyton, 1992). Estas alterações no interesse e desempenho sexual durante o ciclo ocorrem em aproximadamente 40% das mulheres (Kinsey, 1985). Uma investigação de possíveis variações do desejo sexual em função do ciclo menstrual se faz necessária, pois se esta hipótese (aumento no período peri ovulatório) for correta, poderíamos melhorar a eficácia dos métodos contraceptivos comportamentais (Billings e tabela).

OBJETIVO: Estudar o comportamento da libido em relação aos diferentes períodos do ciclo menstrual verificando se há ou não percepção do aumento da libido em alguma fase do ciclo menstrual (durante a menstruação, períodos pré e pós-menstrual e ovulatório).

SUJEITOS E MÉTODO: Foi realizado um estudo descritivo, de corte transversal, através de uma amostragem de conveniência e uma abordagem incidental, onde foram entrevistadas 100 enfermeiras utilizando-se um questionário padronizado, com perguntas fechadas, em vá

rios hospitais públicos e privados do Recife.

RESULTADOS: A idade média em nossa casuística foi de 31 anos sendo que 90% não eram virgens e 72% tinham vida sexual ativa. A maioria (84%) percebia um aumento na libido em alguma fase do ciclo menstrual, entretanto com exceção do período em que estavam menstruadas (17%) não se encontrou diferença significativa entre os períodos pós-menstrual (31%), pré-menstrual (29%) e ovulatório (27%).

CONCLUSÕES: Esses achados sugerem que a tentativa de identificação de um aumento da intensidade da libido não ajudará na melhora da eficácia dos métodos contraceptivos comportamentais já que não encontramos um aumento da mesma no período ovulatório. Entretanto, novas pesquisas se fazem necessárias, inclusive para avaliar se os métodos contraceptivos, usados pelas mulheres, podem alterar a percepção ou a intensidade da libido, o que pode haver prejudicado nossa avaliação.

•Descritores: Libido, Ciclo Menstrual, Enfermeiras, Sexualidade, Contracepção, Tabela

•Publicação/Apresentação: XXIV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1998


Contribuição ao Conhecimento


Discussão do Valor da Mamografia na Pré-Menopausa Sob a Ótica da Epidemiologia, da Ética e da Bioética

50

•Aurélio Molina

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas- UPE


Introdução: Prevenção secundária é aquela realizada no indivíduo, já sob ação do agente ou do distúrbio patogênico, isto é, com enfermidade já estabelecida, e inclui o diagnóstico e tratamento, principalmente o precoce, e a limitação da invalidez. Em relação ao Câncer de Mama, a mamografia, ou senografia, que é a imagem radiográfica da mama através de um simples procedimento (colocar a mama entre 2 placas de acrílico, comprimindo-a e utilizando raios X em dose um pouco maior do que uma radiografia pulmonar), é considerada paradigmática como método de screening para a detecção precoce do mesmo, num estágio não invasivo ou antes da sua manifestação clínica, principalmente do chamado Câncer Mínimo da Mama (Minimal Breast Cancer) definido, por Gallager e Martin (1971), como sendo carcinomas ductais não invasivos ou lobular in situ que medem até 0.5 cm.

Justificativa: O uso sistemático da mamografia como método de screening para a detecção precoce do câncer de mama, antes dos 50 anos, vem aumentando no Brasil, sendo comum a indicação de um primeiro exame mamográfico aos 35 anos e, a partir dos 40, exames bianuais ou até mesmo anual, padrão esse recomendado pela American Câncer Society e várias entidades brasileiras como a Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Mastologia, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica e o Colégio Brasileiro de Radiologia (Silva et al, 1994).

Objetivo: Verificar se existem evidências na literatura científica que justifiquem expor mulheres abaixo dos 50 anos, assintomáticas e sadias a screening mamográfico e discutir as implicações éticas e bioéticas desses achados.

Material e Método: Revisão da literatura, através do Medline, com análise da metodologia e resultados

dos estudos encontrados, acompanhada de discussão do Código de Ética Médica e dos Princípios da Bioética.

Resultados: As pesquisas, homogeneamente, demonstram que há uma redução da mortalidade específica por câncer de mama, em torno de 30%, no grupo etário de 50-69 anos. Acima de 70 anos e abaixo dos 50 anos ainda não há evidências na literatura que justifiquem o uso da mamografia como método de rastreio (screening) para o câncer da mama.

Conclusões: Os resultados dessa pesquisa de dados da literatura indicam que, no atual estado da arte, a solicitação sistemática de exame mamográfico antes dos 50 anos aumenta desnecessariamente o custo financeiro da assistência à saúde, sem benefícios significantes, além de expor injustificadamente mulheres saudáveis a um exame desconfortável, que gera ansiedades, inclusive por diagnósticos inconclusivos ou excessivos, levando a tratamentos desnecessários e/ou também excessivos. Para o autor, a mamografia sistemática antes dos 50 anos só deve ser realizada nas pacientes consideradas como pertencentes a grupos de risco ou em casos analisados individualmente, onde os Princípios Bioéticos da Não Maleficência e da Beneficência deverão ser considerados e ponderados criteriosamente.


•Descritores: Mamografia, Câncer de Mama, Ética, Bioética, Valor, Screening, Pré-menopausa

•Publicação/Apresentação: XXIII Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1997; Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia. v.21, n.1, p.5 - 9, 1998

Contribuição ao Conhecimento


A Lei de Murphy e o Estudo Piloto

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•Aurélio Molina

•Mestrado de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas, UPE


Quase todos aqueles que trabalham com a produção do conhecimento já ouviram falar da Lei de Murphy. Para alguns essa "Lei" teria sido formulada pelo Professor Q.P.Murphy, da Yale University, quando estudava os fenômenos, na sua maioria ainda inexplicados e que dificultam o desenvolvimento de todas as atividades humanas, infernizando o cotidiano, particularmente dos pesquisadores. Já, segundo Edward Tenner, em seu livro "A Vingança da Tecnologia", essa expressão foi cunhada pelo Major da Força Aérea dos USA, John Stapp, em 1949, referindo-se à frase do Capitão Edward Murphy, que teria quebrado o recorde de aceleração com um trenó foguete, mas que não pôde comemorar seu feito, pois ao inspecionar os acelerômetros desse trenó encontrou que alguém tinha ligado os circuitos ao contrário impedindo que o recorde fosse registrado. Teria dito então o Capitão: "Se há mais de uma forma de fazer um trabalho e uma dessas formas redundará em um desastre, então alguém fará o trabalho dessa forma". A versão mais utilizada pelos pesquisadores é a de que "se alguma coisa pode dar errado na sua pesquisa, dará". A pesquisa científica, após uma fase criativa e livre, deve-se transformar em um processo sistemático, disciplinado, organizado, metódico e empírico. Entretanto, em qualquer de suas fases existem inúmeras chances que dificuldades possam levar a erros e desvios, como por exemplo, na revisão de literatura, na escolha do desenho do estudo, na elaboração do instrumento de pesquisa, na amostragem, na coleta das informações, na montagem do banco de dados, na análise dos dados e na interpretação dos resultados. Em verdade existem muitos tipos de erros que podem ser cometidos durante a construção do conhecimento sendo geralmente classificados em aleatórios ou sistemáticos. O erro aleatório pode comprometer ou não a validade do estudo. Já o sistemático (viés, vício, tendenciosidade) sempre compromete os resul

tados. Todo pesquisador maduro sabe que não existe pesquisa perfeita, e que o erro está sempre à espera do menor descuido. E o que é pior, todo cientista experiente sabe que ele sempre acontece. Portanto, todo cuidado é pouco para evitá-lo ou minorá-lo. O primeiro passo para diminuir o risco da Lei de Murphy é realizar um bom estudo piloto, isto é, um estudo ou teste em pequena escala, utilizando sujeitos e/ou materiais com as mesmas caracteristícas daqueles que serão investigados no estudo principal assim como usando o mesmo método a ser aplicado no estudo de maior envergadura, caso os resultados do estudo piloto demonstrem que os mesmos são os mais adequados. Gaste mais tempo com seu estudo piloto. Repita-o quantas vezes forem necessários. Vale a pena gastar mais tempo na elaboração e no refinamento metodológico nesse momento. Para quem utiliza questionários e entrevistas, o pré-teste ajuda não só a identificar erros, mas também se existem perguntas mal formuladas ou incompreensíveis para o nível sócio econômico dos sujeitos. Verifique todas as possibilidades de dificuldades e, principalmente, não subestime a Lei de Murphy, pois como se diz na linguagem popular, "se der chance o azar te pega".

•Descritores: Murphy, Lei, Ciência, Pesquisa, Estudo Piloto, Erro

•Publicação/Apresentação: Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 1999, 22, 2:04.


Contribuição ao Conhecimento


Uso de Fármacos nas Mastalgias em uma População de Estudantes Universitárias

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•Aurélio Molina, Flávio Sivini, Cícero Costa, Antônio V.D de Andrade, Fabiano de A. Pontes, Ediwyrton de F.M. Barros

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Mestrado em Tocoginecologia, FCM-UPE


INTRODUÇÃO: A mastalgia é um sintoma bastante freqüente e sua incidência parece estar aumentando nos últimos tempos, afetando uma população feminina cada vez mais participante de todas as atividades da sociedade moderna. Este contemporâneo, estressante e competitivo estilo de vida, associado a um novo padrão reprodutivo, pode ser um contribuinte muito importante não só na gênese da mastalgia, mas também no super dimensionamento de sua sintomatologia. Entretanto, é preciso considerar, antes de se prescrever algum tipo de fármaco, que a dor suave e a nodularidade das mamas são comuns e podem ser consideradas normais. Só quando os sintomas são bastante severos, e afetam o estilo e a qualidade de vida das pacientes, deve o tratamento medicamentoso ser considerado. Existem, entretanto, polêmicas quanto à melhor abordagem, porque muitos dos diversos fármacos empregados são de custo elevado, com eficiência nem sempre comprovada e com efeitos colaterais significativos.

OBJETIVO: Investigar aspectos clínicos e terapêuticos no tratamento da mastalgia em um grupo de estudantes universitárias.

SUJEITOS E MÉTODO: Estudo descritivo, de corte transversal, do tipo inquérito epidemiológico, baseado em um questionário preenchido anônima e voluntariamente, com perguntas pré-codificadas e fechadas. Duzentas e uma estudantes universitárias da Universidade Estadual de Pernambuco participaram dessa pesquisa.

RESULTADOS: Nossos achados mostraram a presença da mastalgia em 46,8% da população estudada, sendo que a maioria (58%) apresentava mastalgia grau I (leve) e 25% associavam sua dor com a possibilidade de câncer. Do total de mulheres com mastalgia, 18,2%

haviam utilizado algum tipo de medicamento, principalmente aquelas com mastalgia moderada e intensa (p<0,002), sendo mais comum o uso de analgésicos e antiinflamatórios (42%). Quase metade (44,5%) iniciou o tratamento medicamentoso com menos de 30 dias de sintomatologia. Apesar de produzir um efeito benéfico em 83% das usuárias, em cerca de 46% houve recidiva da sintomatologia dolorosa com menos de 30 dias após a parada do uso dos medicamentos.

CONCLUSÃO: Para os autores esse estudo exploratório é um indicativo de que o uso de drogas no tratamento da mastalgia precisa ser mais criterioso e de que princípios fundamentais precisam ser observados como, por exemplo, a não necessidade de tratamento para sintomas leves e com duração menor que 6 meses. Ainda se faz necessário uma maior divulgação da efetividade da orientação verbal (acolhimento, suporte emocional e tranquilização da paciente em relação a uma ausência de associação entre dor mamária e câncer de mama) como forma de terapêutica para as mastalgias.


•Descritores: Mastalgia, Fármacos, Universitárias, Estudantes, Tratamento, Mama, dor mamária

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999; Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 22(2):23-28, 1999.

Contribuição ao Conhecimento


A Pesquisa Científica e a Ética e a Bioética

53


•Aurélio Molina e Cláudio Leal

•Mestrado em Tocoginecologia da FCM/UPE e Disciplina de Ginecologia do CCS/ UFPE

Existem inúmeros aspectos éticos e bioéticos envolvidos com a investigação científica. Em relação aos riscos de agravos, dos mais sutis aos mais evidentes, vale a pena alertar a todos que se interessam pela temática que os mesmos podem ocorrer desde a concepção teórica até à publicação e divulgação do estudo. Mesmo não sendo fácil colocar na prática do dia a dia da pesquisa questões ou princípios filosóficos, é importante se ter em mente que, em qualquer estudo científico que envolva seres humanos, cada voluntário em potencial deve ser adequadamente informado em linguagem acessível sobre os objetivos da pesquisa, métodos utilizados, potenciais benefícios e riscos do estudo, além da possibilidade de desconfortos. Ele/ela deve ser informado de que é livre de se abster de participar do estudo e que pode retirar seu consentimento a qualquer momento. Portanto, o pesquisador deve obter um consentimento livre e esclarecido, escrito ou oral. O consentimento oral, que realmente seja sistemático, pode ser, do ponto de vista ético, tão ou mais eficiente do que o escrito, que apesar de corretas e claras informações, pode facilmente ser manipulado, principalmente em relação a uma população de baixo nível sócio econômico. Entretanto há quase um consenso que o mesmo é uma exceção que confirma a regra (consentimento por escrito). Faz-se importante um esforço para que o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) não se torne apenas um procedimento legal burocrático, sem nenhuma preocupação ética. Também se faz necessária a instalação de Comitês de Ética em Pesquisa em todos os locais que desenvolvem pesquisa científica, sendo que esses comitês podem e devem ter o poder de auditoria para verificar se os protocolos aprovados estão realmente sendo respeitados. A avaliação in loco, de cinco por cento da casuística de cinco por cento dos protocolos aprovados, escolhidos aleatoriamente, pode servir de estímulo a uma prática ética e bioética adequada e correta. Os Comitês de Ética em Pesquisa devem estar vigilantes para não se tornarem entraves burocráticos,

engessando a própria produção científica. Devem também estar cônscios de seu papel como instrumento de criação de uma consciência ética e crítica de prevenção de abusos. Os membros que compõem o comitê têm que ter consciência de que assim como não existe pesquisa metodologicamente perfeita, também não existe pesquisa "eticamente perfeita". Os Comitês de Ética em Pesquisa podem ser o instrumento de criação de uma ética local, baseada nas condições objetivas locais, e não somente um mero instrumento de normatização e aplicação de uma meta-ética decidida alhures. Os comitês de uma das mesma região/localidade devem trabalhar em conjunto e harmonicamente. A aprovação de uma pesquisa pelo Comitê de Ética de uma das instituições envolvidas deve ser, a princípio, o suficiente para o andamento da mesma, desde que o CEP seja reconhecido pela CONEP, principalmente em pesquisas de baixo risco de maleficência para que não haja um retardo ou até mesmo a inviabilização da investigação científica. Também deveria se dar uma maior difusão em relação à Declaração de Nuremberg, Helsinque e das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196 de outubro de 1996 e a 251 de Junho de 1997). Finalmente, toda comunidade científica deve compreender que os preceitos éticos e bioéticos em pesquisa são baseados na visão de que essa forma de criação e consolidação do conhecimento tem como objetivo principal melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, isolada ou coletivamente, e que nenhum outro interesse pode se sobrepor a esse objetivo. Acima de tudo, deve ter a clareza de que a dignidade de todo ser humano e da vida humana da concepção até à morte é o preceito no qual, em verdade, devem estar baseadas a Ética e a Bioética na pesquisa, pois como disse Dostoiewski, "todo ser humano, qualquer um, por mais mesquinho que seja, merece respeito por sua dignidade de ser um ser humano". Acrescentaríamos nós: "Não só a humana, mas toda forma de vida, merece respeito".


•Descritores: Pesquisa, Consentimento, Ética, Bioética, Comitês de Ética em Pesquisa

•Publicação/Apresentação: Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 1999, 22, 1:05

Contribuição ao Conhecimento


Avaliação do Conhecimento dos Efeitos Benéficos Oncológicos dos Anticoncepcionais Orais pelosTocoginecologistas do SUS

54

•Aurélio Molina, Yara F Mattos, Helaine Rosenthal, Danielle Apolinário, Emanuella G Silva, Fábio C.D. Leite

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Mestrado em Tocoginecologia, FCM-UPE


INTRODUÇÃO: O método contraceptivo ideal, dentre várias características, deve possuir efeitos benéficos outros, além daquele de evitar uma gravidez não desejada. A beneficência não contraceptiva dos anticoncepcionais hormonais orais incluem a regularização do ciclo menstrual e a redução da doença inflamatória pélvica, das anemias, da tensão pré-menstrual, da endometriose, da acne, da gravidez ectópica, da dismenorréia, dos cistos funcionais do ovário e controle dos ovários policísticos. Além desses, são bem documentados os efeitos benéficos oncológicos dos anticoncepcionais orais (ACOs), que são considerados fatores de proteção para o câncer ovariano e endometrial. A Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS, 1996), demonstra uma queda no uso dos ACOs nos últimos 10 anos (5%) e que as práticas contraceptivas são descontinuadas por cerca de 43% das usuárias antes de completar 1 ano de uso. Dentre a multifatoriedade envolvida nessa baixa aderência, poderia se questionar o não oferecimento de informações sobre os efeitos benéficos dos ACOs por parte dos profissionais de saúde.

OBJETIVO: Avaliar o nível de conhecimento dos efeitos benéficos oncológicos dos ACOs pelos médicos tocoginecologistas do Sistema Único de Saúde (SUS - Recife), verificando se tais profissionais esclarecem as pacientes sobre estes efeitos.

SUJEITOS E MÉTODO: Estudo descritivo, exploratório, de corte transversal, onde foram entrevistados 51 tocoginecologistas em outubro e novembro de 1998.

RESULTADOS: Os critérios mais citados como sendo de maior importância para prescrição de um método contraceptivo foram a "proteção contraceptiva" (84%), seguida de "menores efeitos colaterais" (64%), "experiência profissional" (34%) e "efeitos benéficos não contraceptivos" (18%). Ao serem indagados se

tocoginecologistas costumavam esclarecer os efeitos benéficos de cada método, 55% responderam que a maioria não o faz. Quando questionados especificamente sobre o ACO, o critério considerado como muito importante para a sua prescrição foi também a "maior proteção contraceptiva" (84%). A maioria dos médicos entrevistados acha que o ACO não possui efeitos oncológicos maléficos (86%), assim como 76% destes entrevistados opinaram que o ACO tem efeitos oncológicos benéficos. Dentre os efeitos oncológicos benéficos referidos, após estimulação, os mais citados foram a proteção em relação ao câncer de ovário (82%) e ao câncer de endométrio (74%), porém na prática, apenas 47% costumam relatar esses efeitos para as suas pacientes.

CONCLUSÕES: Faz-se necessário campanhas educativas que possam vir a reverter tal situação, pois cabe ao médico não se ater simplesmente à realização de exames e prescrição do ACO, devendo ser também orientador e educador, esclarecendo não só a eficácia do método e seu modo de uso, mas também seus efeitos colaterais e benéficos, para que as pacientes possam exercer plenamente o princípio bioético da autonomia, exercitar seu livre arbítrio, e, talvez, aumentar a aderência ao método contraceptivo escolhido.

•Descritores: Anticoncepcionais, Efeitos benéficos, Conhecimento, Médicos, Autonomia, Aderência

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999


Contribuição ao Conhecimento


Avaliação do Conhecimento dos Efeitos Benéficos Oncológicos dos Anticoncepcionais Orais pelas Pacientes do SUS

55

•Aurélio Molina, Yara F Mattos, Helaine Rosenthal, Danielle Apolinário, Emanuella G Silva, Fábio C.D. Leite

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Mestrado em Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


Introdução: Por ser um método com quase 40 anos de largo uso, as principais vantagens e desvantagens dos anticoncepcionais hormonais orais já estão bem estabelecidas. Sua principal vantagem é a alta eficácia teórica em prevenir gestações indesejadas. Dentre as desvantagens destacamos o custo das pílulas de terceira geração - inacessíveis para um enorme número de mulheres brasileiras de baixa renda - e a necessidade de motivação para a tomada diária, de preferência sempre no mesmo horário. Como vantagens não contraceptivas dos ACOs podemos destacar a diminuição do risco do câncer de endométrio e do ovário, além da regularização do ciclo menstrual, controle dos ovários policísticos e redução da doença inflamatória pélvica, das anemias, da tensão menstrual, da endometriose, da acne, da gravidez ectópica, das dismenorréias e dos cistos funcionais de ovário. No atual contexto da contracepção no Brasil, encontramos uma queda de 5% nos últimos 10 anos do uso dos anticoncepcionais orais e, que as práticas contraceptivas são descontinuadas por cerca de 43% das usuárias, antes de completar 1 ano de uso (PNDS, 1996). Na multifatoriedade dessa baixa aderência, poderíamos questionar o não oferecimento de informações sobre os efeitos benéficos dos ACOs por parte dos profissionais de saúde.

Objetivo: Avaliar o nível de conhecimento dos efeitos benéficos oncológicos dos ACOs das pacientes usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS-Recife).

Sujeitos e método: Estudo descritivo, exploratório, de corte transversal, onde foram entrevistados 62 , por amostragem incidental, pacientes em outubro e novembro de 1998, frequentadoras dos serviços ambulatoriais do CISAM- Maternidade da Encruzilhada, Hospital-Escola da Universidade de Pernambuco.

Resultados: Constatamos que 84% das entrevistadas

estavam utilizando algum método anticoncepcional no momento da entrevista, e 82% destas faziam ou já tinham feito uso de ACO em algum momento de suas vidas. Apenas 21% sabiam que os ACOs funcionavam como fator de proteção para alguns tipos de câncer. Dentre estas, foi referido por 31%, que havia proteção para o câncer de endométrio, enquanto que nenhuma fez referência à proteção para o câncer ovariano. Dentre aquelas que não estavam fazendo uso de ACO, 83% passariam a fazê-lo caso soubessem que a pílula é um fator de proteção para o câncer de ovário, e 79%, caso soubessem da proteção para o câncer de endométrio. No caso daquelas que já estavam usando a pílula, 80% tinham sido prescritas por médicos, e caso soubessem que o ACO protege contra o câncer de endométrio e ovário, 80% passariam a usá-la por mais tempo.

Conclusão: Nossos achados reforçam a hipótese de que se os profissionais de saúde esclarecessem sobre os efeitos benéficos oncológicos dos anticoncepcionais hormonais orais haveria uma maior prevalência de seu uso e da aderência aos mesmos.

•Descritores: Anticoncepcionais, Efeitos Benéficos, Conhecimento, Pacientes, SUS, Contracepção

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999


Contribuição ao Conhecimento


Conhecimentos, Atitudes, Práticas e Autonomia em Relação à Terapia de Reposição Hormonal em Mulheres do Recife

56

•Aurélio Molina, Stefan Welkovic, Adélia Almeida, Germana Vasconcelos

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: A terapia de reposição hormonal (TRH) tornou-se um dos assuntos mais polêmicos nos últimos anos em virtude de seus aspectos positivos, negativos e os controversos. Portanto, uma avaliação dos conhecimentos, práticas e atitudes da população feminina em relação à TRH poderá contribuir para o entendimento do perfil atual da população alvo (mulheres climatéricas), subsidiando ações e políticas para que a população feminina possa, através de uma decisão autônoma, optar ou não pelo uso dessa forma de terapia, balanceando riscos e benefícios.

SUEJITOS E MÉTODO: Através de um estudo observacional, descritivo, de corte transversal, foram entrevistadas 74 mulheres, acima de 45 anos, da classe média, que se encontravam nas dependências de um shopping center da cidade do Recife, utilizando-se um questionário padronizado com perguntas abertas e fechadas.

RESULTADOS: A maioria das entrevistadas afirmou saber definir TRH, sendo que 79% a considerou como uma "reposição de hormônios", 35% das quais revelaram estar fazendo uso dessa reposição de hormônios. A fonte de informações mais citada sobre a TRH foi o "médico" (70%). Dentre os hormônios mais freqüentemente utilizados, o mais citado foi a Tibolona (16%). A via oral foi a mais comum (69%). Entre as que no momento da entrevista faziam uso da TRH o tempo médio de utilização era de 34 meses. Dentre as justificativas para o uso de hormônios, 58% afirmaram que o faziam por indicação médica. A maioria (67%) das mulheres conhecia alguma vantagem ou benefício da TRH, sendo a mais citada (38%) a melhora da pele/cabelo, deixando-as mais jovens. Encontramos que 57% conheciam alguma desvantagem ou malefício do uso da TRH e a mais citada foi o aumento da incidência de câncer (48%). Quando induzidas, 82% das entrevistadas concordaram ter o hormônio ação

no fortalecimento dos ossos; 84% na lubrificação da vagina; 69% no aumento da libido; 84% na melhora da pele, dando aspecto mais jovem; 55% na diminuição do risco de infarto e 63,5%, na diminuição do risco de Alzheimer. A maioria (80%) afirmou que usaria ou continuaria usando a TRH caso afirmássemos que todas as vantagens anteriormente citadas haviam sido comprovadas cientificamente. Novamente induzimos as pacientes, agora em relação às desvantagens, e encontramos que 45% e 27% concordaram que o uso do hormônio aumenta as chances de ter câncer de mama e endométrio, respectivamente. Além disso, 24% concordaram com o aumento do risco de trombose. Finalmente, cerca da metade (49%) afirmou que descontinuaria o uso da TRH, caso essas desvantagens fossem comprovadas cientificamente.

CONCLUSÃO: Esses resultados enfatizam a necessidade de que, na indicação da TRH, os riscos e benefícios sejam esclarecidos e balanceados individualmente para que as usuárias possam exercer plenamente o princípio bioético da Autonomia e seu autogoverno.


•Descritores: Reposição Hormonal, Estrogenioterapia, Climatério, Bioética, Autonomia, Malefícios, Menopausa

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Atualização dos Conhecimentos e Práticas Relativas ao Uso da Laqueadura Tubária entre Ginecologistas do Recife

57

•Aurélio Molina, Aline Pimentel, Fabiana Falcão, Adriana M da Costa

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE


INTRODUÇÃO: Nos últimos 35 anos, principalmente nos anos 70 e 80, houve, em nível mundial, um acentuado aumento no uso da esterilização como forma de controle da fertilidade, sendo que no Brasil, a esterilização feminina emergiu como a forma de contracepção mais usada entre as mulheres em união. Em 1993, o autor principal (Molina, 1995) realizou estudo sobre as práticas dos médicos obstétras e ginecologistas que trabalhavam na rede pública (SUS), na cidade do Recife, em relação ao planejamento familiar, particularmente em relação ao uso da laqueadura tubária.

OBJETIVO: Verificar as atuais práticas, atitudes e conhecimentos relativos ao uso da Laqueadura Tubária entre os médicos do SUS-Recife comparando-as com os dados de 1993, inclusive quando confrontados com situações teóricas em termos de idade, paridade e em relação ao melhor contraceptivo para mulheres que não desejam mais filhos.

SUJEITOS E MÉTODO: Estudo descritivo de corte transversal (KAP survey) utilizando-se entrevista estruturada (com vários cenários teóricos) com ajuda de um questionário padronizado com 100 tocoginecologistas selecionados, por uma amostragem de conveniência, de 9 das principais maternidades da rede SUS, na cidade do Recife, no período de Janeiro a Junho de 1999.

RESULTADOS: Dos entrevistados, 91% (94% em 1993) tinham realizado alguma método de esterilização cirúrgica no último ano sendo a laqueadura tubária, isoladamente, o mais freqüente (97% X 93%, em 1993). Com relação aos cenários teóricos, encontramos que 18% e 45% realizariam uma laqueadura tubária em pacientes com menos de vinte anos e que tivessem 3 ou mais de 4 filhos, respectivamente (33% e 51%, em 1993). Já em relação a pacientes entre 20 e 24 anos, encontramos que 45% e 70% a fariam se a paciente tivesse 3 ou mais de 4 filhos (47% e 68%, em

1993). Em relação à associação entre ligadura e operação cesariana, encontramos que 21% (18% em 1993) concordam que se deva realizar a esterilização feminina após duas cesáreas sendo que esse número atinge 78% (82% em 1993) após três cesáreas. Um percentual importante dos entrevistados (36% X 38%, em 1993) considera a Laqueadura Tubária um método reversível. Embora apenas 5% (3% em 1993) não tenha ouvido falar de efeitos colaterais da Laqueadura Tubária, cerca de 11% (5% em 1993) não acreditam que a mesma possua efeitos adversos. Os efeitos mais citados foram as alterações menstruais (39,5% X 84%, em 1993), seguidas das dores pélvicas (16,6% X 29%, em 1993), insuficiência ovariana (13,7% X 28%, em 1993), alterações emocionais (8,6% X 12%, em 1993) e síndrome pós-laqueadura (6,3% X 0%, em 1993), sendo que 87% (94% em 1993) acreditavam serem verdadeiros esses efeitos.

CONCLUSÕES: Comparando-se as duas amostras verifica-se que em relação ao cenário teórico, houve uma diminuição daqueles que concordam com a realização hipotética de laqueadura tubária em mulheres com menos de 20 anos e 3 filhos (p<0,02). Quanto aos possíveis efeitos colaterais houve uma diminuição, também estatisticamente significante, do número de profissionais que acreditavam que a laqueadura tubária pode causar alterações menstruais (p<0,001), dores pélvicas (p<0,03) e insuficiência ovariana (p<0,02). Esses achados sugerem que, se por um lado, os médicos estariam menos propensos a esterilizar mulheres muito jovens com poucos filhos, por outro, essa postura não se deve a uma maior crença nos possíveis efeitos colaterais de longo prazo da laqueadura tubária e sim, talvez, à lei 9263/96 (Lei do Planejamento Familiar) e a uma maior conscientização sobre os riscos de arrependimento em mulheres jovens.


•Descritores: Laqueadura Tubária, Tocoginecologistas, Conhecimentos, Atitudes,Práticas, Esterelização Feminina

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


A Bioética no Ensino da Saúde

58

•Aurélio Molina, Alice Botler, Ana Maria Coutinho, Ana Sofia Costa, Daniela Feitosa, Romero Souto

•Mestrado de Toco-Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: A Bioética surgiu na década de 70 e, apesar de inúmeras possíveis conceituações, é uma reflexão ética, com múltiplas abordagens, do fenômeno Vida, em suas diversas formas e contextos. Para Molina, a Bioética, apesar de ser intrinsecamente ligada à Ética e, portanto, à Filosofia, é um novo Saber (reflexivo, interdisciplinar, transcultural, não dogmático e pragmático), que ainda está sendo construido, relacionado não só com a existência e experiência humana (como na ética) mas com toda a Biosfera, pretendendo ser um instrumento poderoso tanto na construção, quanto na divulgação e aplicação do conhecimento visando a construção de uma sociedade mais justa, fraterna, livre e feliz, num meio ambiente equilibrado e sustentável. Este projeto pretendeu desenvolver pesquisa multidisciplinar envolvendo os cursos de Medicina e Odontologia da UPE, trazendo como objetivo central a análise do conhecimento sobre a Bioética no ensino da área de saúde.

OBJETIVO: Verificar como a Bioética, e seus princípios fundamentais, vêm sendo vivenciados, tanto na teoria quanto na prática, por docentes e discentes da UPE.

SUJEITOS E MÉTODO: Foi realizado um levantamento descritivo, de corte transversal, através de uma entrevista estruturada com base em questionários com perguntas abertas e fechadas, inclusive sobre condutas em diferentes cenários (situações teóricas) aplicados a docentes e discentes dos cursos de Medicina e Odontologia da UPE, assim como a pacientes atendidos pelas unidades de saúde da mesma (CISAM, Hospital Oswaldo Cruz e FOP). Foram entrevistados 81 professores, 100 alunos e 110 pacientes.

RESULTADOS: Nossos dados indicam que além de um desconhecimento teórico, existe uma "prática bioética" inadequada. Dentre vários achados encontramos que,

em relação à polêmica prática da discussão de casos à beira do leito, 93% dos docentes afirmaram que existem desvantagens para o paciente, apesar de, contraditoriamente, a grande maioria (86%) acreditar que não se costuma solicitar a permissão dos pacientes para tal prática pedagógica, demonstrando um desrespeito ao princípio da autonomia e da não maleficência, embora 60% dos pacientes achem essa prática de ensino positiva. Em relação à existência de reflexão sobre o comportamento ético nas práticas de ensino na área de saúde, 53% dos professores acreditam existir tal reflexão, diferentemente dos alunos, dos quais 61% afirmam não serem contempladas tais reflexões. Os dados coletados indicam um desconhecimento tanto de docentes quanto por parte dos discentes a respeito do conceito e dos princípios da Bioética, visto que apenas um (1%) dos professores e 2 (2%) alunos tinham conhecimento sobre todos os 4 princípios bioéticos (Não Maleficência, Beneficência, Autonomia e Justiça).

CONCLUSÕES: Nossos resultados sugerem que embora afirmem ter conhecimento sobre a Bioética, a maioria dos docentes entrevistados não apresenta prática de ensino coerente, o que talvez possa ser explicado por uma tradição que vem sendo mantida acriticamente. Por outro lado parece existir, tanto por parte dos alunos, quanto dos professores, apesar da falta de reflexões teóricas, um início de consciência crítica. Quanto aos pacientes, talvez o baixo nível de cidadania ainda não permita o desenvolvimento de uma consciência em relação aos seus direitos, também expressos nos princípios Bioéticos.

•Descritores: Bioética, Ensino, Universidade, Pernambuco, Principalismo, Práticas Pedagógicas, Ética

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999


Contribuição ao Conhecimento


Avaliação da Prevenção do Câncer de Colo de Útero no Pré-Natal

59

•Aurélio Molina, Baltazar Machado Junior, Cícero Costa

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: O Câncer do Colo Uterino, através da identificação e tratamento das lesões precursoras, pode ser controlado. No Brasil, o câncer de colo do útero é o segundo tumor maligno mais comum na população feminina, só sendo superado pelo de mama. De acordo com as estimativas sobre a incidência e mortalidade por câncer, a neoplasia maligna da cérvice uterina foi responsável pela morte de cinco mil setecentas e sessenta mulheres no Brasil em 1997 das quais cerca de 40% eram mulheres ainda em fase reprodutiva. Apesar desses impressionantes números, um elevado percentual de mulheres brasileiras nunca realizou um único exame para rastreio do carcinoma do colo de útero (colpocitologia oncótica ou exame de Papanicolau), mesmo aquelas que já pariram, e até mesmo as que realizaram o acompanhamento pré-natal, período esse que pode e deve ser visto também como uma oportunidade para se realizar a prevenção do câncer cérvico-uterino.

OBJETIVO: Avaliar as opiniões, práticas e atitudes dos ginecologistas-obstetras do SUS-PE, na cidade do Recife, em relação à prevenção do câncer de colo de útero na rotina pré-natal.

SUJEITOS E MÉTODO: Estudo descritivo, de corte transversal, onde cento e dois médicos tocoginecologistas, plantonistas de diversas maternidades vinculadas ao SUS, selecionados por uma amostragem de conveniência, e de maneira incidental, foram entrevistados, através de questionário com perguntas abertas e fechadas.

RESULTADOS: Os dados obtidos revelaram que 90.2% dos especialistas concordam com o rastreio do câncer cérvico-uterino durante a gravidez, e 92,2% costumam solicitá-lo como rotina pré-natal. Entretanto, 41% dos entrevistados afirmaram que o exame não é solicitado

na maioria dos pré-natais, apesar de o mesmo fazer parte da rotina. Dos cerca de 8% que não o fazem de rotina, a maioria (62,2%) afirmou que não o realizam pela não aceitação das pacientes (em virtude do seu baixo nível sócio-econômico-cultural), ou por medo de que as pacientes possam correlacionar a coleta de material do colo do útero com um eventual abortamento (12,5%) ou por ambos os fatores (25%). Para 76,5% dos entrevistados existe um preconceito contra o exame durante a gestação, sendo que para 78,2% desses o motivo alegado pelas pacientes, é o medo de aborto. Segundo 10,3% dos entrevistados, as pacientes acreditam que o exame Papanicolau prejudica a gravidez e 6,4% dos entrevistados afirmam que as pacientes alegam "preocupação com o feto".

CONCLUSÕES: Esses resultados indicam que o exame preventivo vem sendo parte da rotina pré-natal, apesar de receios e preconceitos por parte das pacientes. Nossos achados também sugerem a necessidade de campanhas de esclarecimento para a população feminina que informem a inocuidade e importância dessa rotina no pré-natal a fim de aumentar, ainda mais, a utilização dessa importante forma de rastreio do câncer do colo de útero. Novos estudos devem ser realizados para melhor avaliar as atitudes, opiniões e receios das gestantes em relação ao exame Papanicolau durantre o pré-natal.


•Descritores: Câncer de Colo, Rastreio, Prevenção, Pré-natal, Médicos, Atitudes, Opiniões

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Conhecimento, Aceitação e Uso da Contracepção de Emergência entre as Mulheres Internadas por Interrupção Precoce da Gestação

60

•Aurélio Molina, Artur Rangel, Cícero Costa, Rodrigo Schuler Honório, Roosevelt V. Chaves, Viviane A.Messias

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: A contracepção de emergência é um método recentemente aceito pelo Ministério da Saúde (Orientações Técnicas: 9, 1998), apesar de suas origens estarem nos anos 50 na mesma época das pílulas anticoncepcionais. Foi abandonada devido à náuseas e vômitos, que a tornava impraticável. É comprovadamente eficaz e tem indicações precisas, por exemplo, nos casos de relação sexual desprotegida; falha potencial de um método anticoncepcional como rompimento de condom, e de violência sexual, como o estupro. Pode ser realizada através do uso de anticoncepcionais orais (em dose maior e em 2 tomadas com intervalo de 12 horas, conhecido como regime de Yuzpe), com um progestágeno (Levonorgestrel, 750 microgramas, também em 2 tomadas, separadas por 12 horas) e com o uso do DIU. O mecanismo da anticoncepção de emergência envolve uma ou mais fases do processo reprodutivo interferindo na ovulação, na espermomigração, na fertilização, na nutrição e na implantação do ovo. A eficácia desta prática contraceptiva é tanto maior quanto mais rápida, após o coito, for seu uso, de preferência nas primeiras 12 horas, até um máximo de 72 horas após a relação sexual.

OBJETIVO: Avaliar o conhecimento, a aceitação e o uso da contracepção de emergência, entre as mulheres de baixa renda internadas por interrupção precoce da gestação, provocada ou espontânea.

sujeitos e método: Estudo descritivo de corte transversal, do tipo inquérito sobre conhecimentos, atitudes e práticas (KAP survey). Através de uma amostragem de conveniência foram entrevistadas 160 mulheres internadas em 5 maternidades do SUS-Recife, utilizando-se um questionário padronizado, com perguntas abertas e fechadas.

RESULTADOS: Dentre vários achados, encontramos que 96,9% revelaram nunca ter ouvido falar em

"contracepção de emergência", enquanto 86,3 % disseram nunca ter ouvido falar da "pílula do dia seguinte". Dentre as que já tinham ouvido falar da pílula do dia seguinte somento oito delas (38,1%) sabiam corretamente do que se tratava. Das entrevistadas apenas 23,8% conheciam alguma prática contraceptiva de emergência sendo que metade dessas (11,9%) nunca havia utilizado esse tipo de contracepção. De todas as pesquisadas apenas 2,5% disseram saber usar os anticoncepcionais orais como contracepção de emergência porém nenhuma demonstrou saber utiliza-los corretamente. Estimuladas pelos entrevistadores, a grande maioria (88.1%) afirmou que usaria um anticoncepcional oral como contracepção de emergência após relação sexual desprotegida, enquanto que 70.6% usaríam o DIU nas mesmas condições. Entretanto esse quantitativo cai bastante para (28,1%) quando informadas que um dos possiveis mecanismos da contracepção de emergência pode ser considerado como um micro aborto.

CONCLUSÕES: Os autores concluem que esses achados indicam que a contracepção de emergência precisa ser mais bem divulgada e que existe uma grande aceitabilidade potencial para essa forma de contracepção entre as pacientes de baixa renda, merecendo, portanto, iniciativas de políticas de planejamento familiar e educação sexual que incluam este método de emergência como possibilidade de prática contraceptiva no SUS - Recife.


•Descritores: Contracepção, Emergência, Conhecimento, KAP survey, Pacientes, Atitudes

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Interrupção Voluntária da Gravidez. A Visão dos Estudantes de Medicina

61


•Aurélio Molina, Cícero Costa, Ana Elizabeth Molina, Josefa Veranice Pereira

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE

INTRODUÇÃO: Um dos mais difíceis, complexos e polêmicos assuntos dentro da Ética e da Bioética se refere à interrupção voluntária da gravidez e a sua possível descriminalização, isto é, excluir a criminalidade do ato em outras situações além das do "risco de vida para a gestante", ou "gravidez resultante de estupro", quando as opiniões se dividem entre os direitos do feto e os direitos e a autonomia da mãe. A história penal do aborto no Brasil se inicia em 1830 no Código Criminal do Império, onde o "autoaborto" não era visto como crime nem se atribuía à mulher qualquer prática criminosa pelo consentimento dado para o aborto ser praticado por terceiros. O Código Penal de 1890 já na República, passou a prever punição para a mulher que provocasse o "autoaborto", mas introduziu a noção de "aborto legal" que seria aquele provocado para salvar a vida da gestante, sendo que o Código Penal de 1940 foi o que criminalizou o aborto em todas as hipóteses, com excessão para o estupro e nos casos de risco de vida para as gestantes.

OBJETIVO: Avaliar as opiniões, atitudes e experiências pessoais sobre a interrupção voluntária da gravidez entre estudantes de Medicina do VI período da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco.

Sujeitos e método: Foram colhidas informações de 128 estudantes de duas turmas, através de questionário padronizado com perguntas exclusivamente fechadas, sendo, a maioria, sobre cenários hipotéticos de possíveis justificativas para introdução da gravidez.

RESULTADOS: A idade média da população estudada foi de 21anos e meio (mediana de 21), sendo 56% do sexo feminino. No geral, cerca de 50% não concordavam com a descriminalização do aborto (versus 40% que concordavam e 10% que não responderam). O número dos que não concordavam com a interrupção

aumentava para 88% quando o cenário era de "medo dos pais", caindo progressivamente para 82% em caso de "ser mãe solteira", 80% na situação da gravidez "dificultar o término da faculdade", 72% em um cenário de "fragilidade do relacionamento do casal", 52% em virtude de uma "situação econômica difícil", e 48% nos casos de "Síndrome de Down". Já em relação às situações "risco de vida para a mãe", "malformação incompatível com a vida extra uterina" e "estupro", uma marcante maioria aprovava a interrupção (94%, 93% e 89%, respectivamente). Apenas 4% explicitaram que, a própria aluna ou alguma companheira do estudante de sexo masculino, já tinham experenciado, em suas vidas particulares, um abortamento provocado. Somente 16% aprovam a idéia de que a mulher é livre para interromper em qualquer situação que lhe aprouver. Não houve diferenças estatisticamente significantes (p < 0.05) entre os estudantes do sexo masculino e feminino em nenhuma das situações estudadas .

CONCLUSÃO: Existe, nesse segmento formador de opinião, um enorme apoio para a atual legislação que permite a interrupção voluntária da gravidez apenas nos casos de estupro e de risco de vida para a mãe ("aborto legal"). Entretanto, existe também um apoio para a interrupção na difícil situação de fetos mal formados com lesões incompatíveis com a vida extra-uterina. Os autores acreditam que esses resultados podem ajudar a embasar e aprofundar a discussão sobre essa polêmica temática.


•Descritores: Aborto, Opiniões, Estudantes, Interrupção da Gravidez, Alunos de Medicina

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


A Libido e o Ciclo Menstrual: Avaliação entre Médicas da Cidade do Recife

62

•Aurélio Molina, Mariana L A Souza, Marta Virgínia R De Brito, Ana Beatriz Pelinca, Olímpio Moraes

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, FCM-UPE


INTRODUÇÃO: Apesar de a libido poder ser definida, psicanaliticamente, como a energia motriz dos instintos de vida e de toda conduta ativa e criadora do ser humano, para esta pesquisa consideramos libido como sinônimo de desejo sexual. Em pesquisa anterior Molina e Cols (1998) não encontraram diferença estatisticamente significante de aumento da libido entre enfermeiras em qualquer período do ciclo menstrual, achados esses que poderiam estar falseados pelo tipo de contracepção usada.

OBJETIVOS: Estudar o comportamento da libido em relação aos diferentes períodos do ciclo menstrual (durante a menstruação, períodos pré, pós-menstrual e ovulatório) entre médicas da cidade do Recife, comparando as possíveis percepções entre as usuárias de diferentes métodos contraceptivos.

SUJEITOS E MÉTODO: Estudo descritivo, de corte transversal, de onde foram entrevistadas 149 médicas, utilizando-se um questionário padronizado com perguntas abertas e fechadas em vários hospitais públicos e privados do Recife. As profissionais médicas foram escolhidas como sujeitos da pesquisa por se tratar de uma categoria esclarecida sobre o tema a ser abordado, tendo teoricamente uma percepção clínica mais acurada, o que aumentaria a confiabilidade das respostas e a validade interna da pesquisa. A seleção dos sujeitos foi por conveniência e incidental, sendo excluídas as climatéricas, as menopausadas, e as histerectomizadas.

RESULTADOS: A maioria das entrevistadas relatou perceber um período, no mês, em que existia um aumento da libido, sendo que metade delas afirmava corresponder ao período ovulatório. Além disso, a maioria das profissionais médicas não percebeu alteração da libido relacionada ao método contraceptivo utilizado. Dentre as que perceberam alteração, a mai

oria referiu diminuição. Examinando-se apenas as 117 médicas não usuárias de anticoncepcionais orais (ACOs), houve incremento no percentual das médicas que perceberam aumento da libido no período ovulatório (de 51.4% para 64.2%). Ao analisarmos apenas as usuárias de ACO (45 médicas) foi observado um menor percentual que percebeu tal alteração no período ovulatório (38%) sendo essa diferença entre usuárias e não usuárias de ACO altamente significativa estatisticamente (p<0.005, Yates corrected). Além disso, houve um aumento no percentual das médicas usuárias de ACO, em relação às não usuárias, que referiram perceber alteração da libido relacionada a este método (de 6.3% para 18.2%) sendo essa diferença também estatisticamente significativa (p<0,05, Mantel-Haenszel), sugerindo que os contraceptivos hormonais orais influenciam na libido, pelo menos em nossa casuística, levando a uma diminuição da mesma no período ovulatório.

CONCLUSÕES: Nossos dados indicam variações da libido durante vários períodos do ciclo menstrual, com uma maior prevalência de sensação de aumento no período ovulatório, aumento esse que pode ser influenciado pelos métodos contraceptivos particularmente o ACO. Esses achados além de propiciar um aumento do conhecimento sobre variações da libido, podem auxiliar métodos comportamentais a terem melhor eficácia, particularmente o Billings e a Tabela.


•Descritores: Libido, Ciclo Menstrual, Médicas, Recife, Anticoncepcionais, Pílula.

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Avaliação dos Conhecimentos, Atitudes e Práticas em Relação ao DIU entre as Usuárias do CISAM-Maternidade da Encruzilhada

63

•Elísio R.Coelho Junior, Aurélio Molina, José Henrique B. Alencar, Rubens B C. Filho, Mauro Ricardo L Marques

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: O método contraceptivo ideal seria aquele que tivesse um índice de falha igual a zero, fosse completamente reversível, sem efeitos colaterais, de fácil uso, de baixo custo, não interferisse na espontaneidade do ato sexual e que também tivesse efeitos benéficos não contraceptivos. O DIU (Dispositivo Intra-Uterino) é uma pequena peça de polietileno recoberta com cobre, com cerca de 3,5 cm de comprimento, que é colocado dentro do útero e é indicado para contracepção por longos períodos (efetivo por cerca de 5 anos) e de maneira reversível, sendo que sua tolerabilidade aumenta com a idade e a paridade. Os mais comuns em nosso meio são o T de Cobre-200 e o Multiload de Cobre-375. Embora, desde 1959, quando foi reabilitado pelo Population Council (que gastou, à época, cerca de um milhão e meio de dólares para seu melhoramento), já tenha sido utilizado por cerca de 100 milhões de mulheres em todo o mundo, o método é relativamente muito pouco empregado, com excessão da China, onde cerca de 50% das mulheres que fazem contracepção, o utilizam. No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) de 1996, o Dispositivo Intra Uterino (DIU) é um método contraceptivo de baixa prevalência entre as mulheres em idade fértil, usado apenas por 1,1% das mulheres em união(em coabitação ou casadas) de 15-49 anos.

OBJETIVO: Avaliar os conhecimentos, atitudes e práticas em relação ao DIU entre usuárias de uma maternidade do SUS - Recife.

sujeitos e métodos: Investigação descritiva, de corte transversal, tipo inquérito sobre atitudes, conhecimentos e práticas (KAP survey), com 122 primíparas atendidas no CISAM-Maternidade da Encruzilhada, Hospital-Escola da Universidade de Penambuco, através de uma entrevista estruturada, utilizando-se um questionário padronizado com perguntas abertas e fechadas.

RESULTADOS: Encontrou-se que 28% conheciam o método, número esse que se elevou para 70% quando estimuladas, sendo o serviço de saúde e os médicos a maior fonte de informação (35%). Das que receberam informações sobre o DIU de outras pessoas leigas, 38,5% receberam informações negativas, e 17% positivas. O "medo" foi a causa mais comumente citada pelas pacientes para não usá-lo (38%). Em relação às amigas que usaram o DIU, 41,5% relataram aspectos negativos do mesmo. Entre as desvantagens mais citadas encontramos a possibilidade de "sair do lugar", associada ao "risco de câncer", "inflamação" e "dor". Mais especificamente, 33% das entrevistadas acreditavam que o DIU poderia causar câncer. Após explicações sobre suas vantagens, desvantagens e mecanismos de ação do DIU o número de mulheres que teoricamente aceitariam sua utilização subiu de 31.1% para 57.4%.

CONCLUSÕES: Existe, entre as mulheres de baixa renda, uma percepção bastante negativa em relação ao DIU. Entretanto para os autores os dados coletados sugerem fortemente que uma adequada política de informação e esclarecimento poderia aumentar a prevalência do uso do Dispositivo Intra-Uterino entre as mulheres brasileiras.

•Descritores: DIU, Contracepção, KAP survey, Conhecimentos, Atitudes, Práticas

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999


Contribuição ao Conhecimento


Abortamentos Provocados com Cytotec no Recife

64

•Aurélio Molina, Arinaldo Vasconcelos, Cícero Costa, Germano M.P Santos, Marco Antonio M Alves, Alexandre Augusto C M Ventura

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: No Brasil o abortamento provocado constitui-se numa prática comum entre as mulheres de todas as classes sociais, sendo responsável por um alto índice de mortalidade materna, particularmente entre as de baixa renda, existindo relatos que a droga Misoprostol (Cytotec) análogo sintético da Prostaglandina E 1, vem sendo amplamente utilizada para interrupção voluntária da gravidez (Molina e Cols, 1996).

OBJETIVOS: Identificar a freqüência na qual o Misoprostol vem sendo utilizado como indutor de abortamento entre mulheres de baixa renda internadas nas principais Maternidades do SUS-Recife, entre abril de 1998 a abril 1999, assim como identificar o local de obtenção do produto, a idade gestacional na qual foi administrado o Misoprostol, fonte de indicação do produto, a dosagem e via de utilização, tempo de início do sangramento e complicações clínicas, comparando os achados com os resultados de pesquisa semelhante realizada em 1995.

SUJEITOS E MÉTODO: O estudo foi descritivo, de corte transversal, do tipo inquérito epidemiológico (survey), utilizando-se uma entrevista estruturada com questionário padronizado com perguntas fechadas e utilizando dados anotados em prontuário. Foram entrevistadas, por amostragem de conveniência, 223 pacientes internadas com diagnóstico de abortamento, no período de Abril de 1998 a abril de 1999.

RESULTADOS: Na atual pesquisa entre as setenta e duas pacientes que admitiram ter interrompido voluntariamente a gestação, cerca de 69% relataram ter utilizado o Misoprostol (Cytotec) para interrupção da gestação (89% em 1995) (p<0,02). Encontrou-se uma diminuição na faixa etária das pacientes que provocaram o abortamento com o

Misoprostol (34% X 15%, entre 15-19 anos) (p<0,02). Ao contrário do período 1995/6, onde o uso do Misoprostol foi indicado em quase sua totalidade por amiga/vizinha (81%), na presente pesquisa este percentual diminuiu para 44% (p<0,001). Agora a indicação do Misoprostol foi mais pela própria paciente (36% contra 3%) (p<0,001). Em relação às variáveis, "número de abortamentos provocados", "idade gestacional" e "dose utilizada do Misoprostol", os resultados encontrados foram semelhantes aos de 1995. Houve uma queda do preço médio de 4 comprimidos (de 40 para 34 reais), sendo a dose mais utilizada, em 68% dos casos, a de 2 comprimidos orais e 2 comprimidos vaginais (78% em 1995). O tempo de início do sangramento foi de até 12 horas em cerca de 68% dos casos (85% em 95/96) e o tipo mais freqüente de aborto foi o abortamento incompleto (73%), igual ao período anterior.

CONCLUSÕES: Esses dados sugerem que apesar do risco de viéses envolvidos em pesquisas sobre abortamento provocado, essa forma de interrupção voluntária da gestação, isto é, usando o Cytotec, continua sendo uma prática utilizada pela população de baixa renda, na cidade do Recife, com uma maior utilização entre mulheres jovens, e aparentemente está mais conhecida. Entretanto, houve uma diminuição estatisticamente significativa na utilização dessa droga abortiva, comparada com 4 anos atrás, refletindo talvez a maior dificuldade de acesso ocorrida desde 1997 (em virtude de uma maior fiscalização do poder público), o que poderá implicar num aumento da morbi-mortalidade materna pelo retorno ao uso de práticas abortivas mais perigosas.


•Descritores: Aborto, Misoprostrol, Cytotec, Recife, Interrupção, Gravidez, Brasil.

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG) em 184 Adolescentes na Maternidade da Encruzilhada

65

•Aurélio Molina, Olímpio B Moraes Filho, Cícero Ferreira Costa, Mirella Raposo, Josefa Veranice Pereira

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: A gravidez na adolescência é cada vez mais motivo de preocupações entre os profissionais de saúde, não só pelas implicações biológicas e psicossociais para mãe adolescente e seu filho, como também pela incidência elevada e de tendência ascendente. Apesar de ser um assunto controverso, vários autores afirmam que a gravidez na adolescência aumenta o risco de morbi-letalidade, tanto para a mãe quanto para o recém-nato. Já a Doença Hipertensiva Específica da Gravidez definida como uma manifestação clínica e laboratorial resultante do aumento dos níveis pressóricos em uma gestante, previamente normotensa, a partir da 20a semana de gestação, é a principal causa de morte materna no Brasil (com as negras tendo um risco de cerca de 8 vezes maior), seguidas das hemorragias e das infecções. Vale lembrar que a DHEG compreende a pré-eclâmpsia (desenvolvimento da tríade proteinúria, hipertensão e edema) e a eclâmpsia (pré-eclâmpsia associada a convulsão).

OBJETIVO: Avaliar os resultados perinatais e algumas variáveis associadas à DHEG entre as adolescentes que pariram na Maternidade da Encruzilhada, no período de maio de 1997 a junho de 1998, propiciando subsídios para melhorar a assistência obstétrica a esse grupo de gestantes.

sujeitos e método: Foi realizado um estudo observacional, descritivo, comparativo, incluindo todas as mulheres que pariram nessa maternidade-escola da Universidade de Pernambuco no referido período, comparando as variáveis estudadas entre as pacientes com idade <20 anos e aquelas com 20 ou mais anos, utilizando o banco de dados do setor de epidemiologia e estatística dessa mesma unidade de saúde.

RESULTADOS: Não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes em relação aos índices de prematuridade e recém natos de baixo peso. O índice de operação cesariana foi menor no grupo de adolescentes com DHEG, embora não estatisticamente significante. O índice de APGAR, no primeiro e quinto minuto foi mais alto no grupo de adolescentes, indicando, portanto, melhor vitalidade dos recém-natos, mas essas diferenças também não foram estatisticamente significantes. A incidência de natimortos foi menor e estatisticamente significante entre as adolescentes com DHEG.

CONCLUSÕES: Esses achados indicam a necessidade de se rediscutir o paradigma de que as adolescentes possuem maior risco de apresentar Doença Hipertensiva Específica da Gravidez e que suas implicações sejam mais danosas nessa faixa etária, bem como a necessidade de mais estudos comparativos para o esclarecimento dessa questão.


•Descritores: Hipertensão, Gestação, Adolescência, Gravidez, DHEG, Alto risco.

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999; Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 1999, 22, 1:25-30

Contribuição ao Conhecimento


Avaliação do Conhecimento Sobre o Uso do Método Contraceptivo de Emergência por Tocoginecologistas e sua Repercussão sobre a Saúde da Mulher

66

•Helaine Rosenthal, Aurélio Molina, Cícero Costa, Luciene N.V. Bastos, José Ribeiro de C Santos, Leitícia Tereza de Albuquerque.

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: A contracepção de emergência, que surgiu logo após o lançamento das pilulas anticoncepcionais na década de 50, mas que foi abandonado devido as náuseas e vômitos, provocadas pelas altas dosagens dos antigos anticoncepcionais hormonais orais, é um método comprovadamente eficaz e tem suas indicações precisas (relações sexuais não planejadas e desprotegidas, uso inadequado de métodos anticoncepcionais, falha anticonceptiva presumida, ou em casos de violência sexual, como o estupro), podendo ser realizada através do uso de hormônios (anticoncepcionais orais e progestágenos), aprovado pelo Ministério da Saúde, em doses e tempo determinados, e também através do DIU. Diversas formas de contracepção de emergência hormonal têm sido testadas e utilizadas. As mais largamente adotadas são: o regime de Yuzpe (anticoncepcionais hormonais em alta dosagem) e os regimes com levonorgestrel, com danazol e com mifepristona. O mecanismo da anticoncepção de emergência envolve uma ou mais fases do processo reprodutivo, interferindo na ovulação, na espermomigração, na fertilização, na função lútea e no transporte, na nutrição e na implantação do ovo.

OBJETIVO: Avaliar o conhecimento, as atitudes e as práticas relativas a essa forma de contracepção entre os tocoginecologistas do SUS-Recife.

Sujeitos e método: Estudo descritivo, de corte transversal, do tipo inquérito sobre conhecimentos, atitudes e práticas (KAP survey) onde foram entrevistados, através de uma amostragem de conveniência e de maneira incidental, 57 especialistas em quatro maternidades de ensino mas que também fazem parte do Sistema Único de Saúde da cidade do Recife (CISAM, Hospital Barão de Lucena, Hospital Agamenon Malhães, Hos

pital das Clínicas da UFPE).

RESULTADOS: Nossos achados demonstram que a quase totalidade dos médicos tocoginecologistas entrevistados são conhecedores dessa forma de contracepção (98%), sendo que desses, 72% o prescrevem. Dos que não o fazem, o motivo alegado foi a falta de oportunidade. Entretanto, apesar de conhecedores do método e de sua eficácia, apenas 42% o utilizam de maneira adequada, e 32% usam a pílula combinada de forma excessiva, o que pode vir a acarretar efeitos colaterais. Em relação ao seu uso nas situações recomendadas pelo Ministério da Saúde, observou-se que 79% o fariam em caso de relação sexual não planejada e desprotegida, 82.5% o prescreveriam em caso de falha do método contraceptivo em uso, e 93% o utilizaríam em caso de violência sexual.

CONCLUSÕES: Esses achados indicam que, apesar de um alto conhecimento dessa forma de contracepção, existe um grande número de profissionais que não sabe utilizá-lo ou o fazem de maneira inadequada, indicando a necessidade de intervenções educativas. Merece novas pesquisas o achado que um quinto dos profissionais não a utilizaria em duas das suas principais indicações(relação sexual desprotegida do ponto de vista contraceptivo e falha anticonceptiva presumida).


•Descritores: Contracepção, Emergência, Conhecimento, Médicos, KAP survey, Atitudes.

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


O Comportamento dos Médicos como Sujeitos de Pesquisa

67

•Aurélio Molina, Aline O.C. Pimentel, Fabiana M A Falcão

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: Os profissionais de saúde (médicos, assistentes sociais, biólogos, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicológos e terapeutas ocupacionais), como qualquer outro grupo de indivíduos, podem ser convidados a participar de estudos como sujeitos voluntários de pesquisas científicas envolvendo seres humanos. Um bom exemplo desse tipo de colaboração pode ser encontrado no Nurses' Health Study, (Estudo Sobre a Saúde das Enfermeiras) iniciado em 1976, e no Nurses' Health Study II, iniciado em 1989, que estão entre os maiores estudos prospectivos já realizados, e que investigam fatores de risco para a saúde da mulher, particularmente em relação às mais importantes e freqüentes doenças crônicas. Uma outra forma comum de contribuição desses profissionais acontece nas pesquisas qualitativas, que tem por objetivo conhecer mais a fundo aspectos subjetivos, como visões, opiniões, atitudes, conhecimentos e práticas de um determinado grupo estudado, grupo esse que deve ser representativo da população que se deseja investigar. Entretanto, numa breve revisão bibliográfica (Medline), não encontramos informação na literatura científica sobre se este segmento profissional possui índices maiores ou menores de aceitação em participar de estudos científicos ou ainda, sobre seu comportamento, quando aceitam ser participantes, atitudes essas que, dependendo da situação, podem afetar a validade interna dos resultados, podendo indicar também, nos casos de atitudes "negativas", uma grande contradição filosófica e um agravo ético.

OBJETIVO: Avaliar o comportamento de profissionais médicos da cidade do Recife, quando sujeitos de pesquisas qualitativas.

SUJEITOS E MÉTODO: Estudo descritivo, de corte transversal, de caráter exploratório, onde foram entrevista

dos 15 acadêmicos de medicina que já haviam participado, como pesquisadores, de estudos cujos sujeitos eram médicos ou médicas das mais diversas especialidades, tanto de hospitais públicos quanto de privados. Utilizou-se um questionário padronizado, com 5 perguntas abertas e fechadas.

RESULTADOS: Os dados encontrados demonstram que uma grande parte dos profissionais costuma recusar-se a colaborar, e dentre os que o fazem, alguns apresentam uma atitude não cooperativa, demonstrando resistência e crítica aos pesquisadores, algumas vezes chegando até mesmo à agressividade e ao escárnio. Tudo isso, apesar da obtenção prévia de um consentimento livre e esclarecido.

CONCLUSÕES: Esses achados indicam a necessidade de esforços a fim de criar um novo paradigma comportamental por parte dos profissionais médicos em relação à importância da sua colaboração para a realização de pesquisas qualitativas e qualiquantitativas que, em verdade, visam a uma melhoria da assistência à população assim como do ensino oferecido e das pesquisas realizadas na região.


•Descritores: Médicos, Comportamento, Pesquisas, Sujeitos, Atitudes, Ética

•Publicação/Apresentação: XXV Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Recife, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Práticas Sexuais de Risco para DSTs/AIDS em Estudantes de Medicina, do Sexo Feminino, da Universidade de Pernambuco

68

•Aurélio Molina, Luíza Menezes, André A V Gomes

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: Conhecidas desde a Antigüidade, as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), apesar de todos os esforços, têm continuado a crescer e são algumas das principais causas de doenças agudas (como, por exemplo, as inflamatórias pélvicas), crônicas (até mesmo o câncer, como o do colo de útero e o do fígado) e congênitas, além de infertilidade e morte (inclusive fetal), com graves conseqüências clínicas e psicológicas para milhões de homens, mulheres e crianças. Associada a isso, as duas últimas décadas viram surgir uma nova forma de doença infecto-contagiosa, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) que rapidamente se transformou em uma pandemia mundial. Este estudo pretende colaborar para o controle e prevenção destas enfermidades através da obtenção de informações que podem subsidiar programas educativos.

OBJETIVO: Conhecer atitudes e práticas sexuais de risco para as doenças sexualmente transmissíveis e AIDS entre as estudantes de medicina da UPE, do sexo feminino, durante o ano de 1998.

Sujeitos e método: O desenho do estudo foi do tipo descritivo, de corte transversal, onde se utilizou um questionário com perguntas abertas e fechadas, tendo sido investigadas 131 alunas dos primeiro, terceiro, quinto e sétimo períodos.

RESULTADOS: Do universo estudado, 37% já tinham tido, pelo menos uma relação sexual vaginal, e a média de idade na primeira relação foi de 19 anos. Nessa primeira relação a maioria (65%) utilizou algum método para evitar DSTs/AIDS, tendo sido o condom o mais utilizado (90%). Com respeito ao número de parceiros até a data da entrevista, a média foi de 2 parceiros por aluna, sendo que

90% tiveram apenas 01 parceiro nos últimos 6 meses. Um grande número de estudantes (33%) nada fazia para evitar possível contaminação. Em relação à prática do "ficar", apenas 6% já tinham "ficado e tido relação sexual", e a maior parte não pergunta sobre o número de parceiras anteriores (57%) nem sobre uma possível bissexualidade (59%) do seu parceiro. Em relação ao namoro, foi encontrada uma inversão do comportamento anterior, pois 69% perguntam sobre o número de parceiras anteriores, 75% sobre o uso de condom, 49% sobre o uso de drogas injetáveis e 45% sobre possível bissexualidade do seu parceiro. A grande maioria (80%) nunca teve relações sexuais com dois parceiros na mesma época e 63% já tinham usado o condom, sendo que apenas 25% fazem uso deste freqüentemente. Em relação ao sexo oral, 29% já o tinham praticado e também 27% já tinham praticado o sexo anal.

CONCLUSÃO: Apesar de uma maioria ter uma atitude e prática sexual de baixo risco para DSTs/AIDS, uma parcela desta população de estudantes de medicina, do sexo feminino, da UPE, apresentou um comportamento de risco, num grupo que teoricamente deveria estar mais informado e conscientizado do dito sexo seguro. Estes resultados indicam a necessidade de intensificação e ampliação dos programas educativos sobre o "sexo seguro" e prevenção das DSTs e AIDS.


•Descritores: Práticas, DST, AIDS, Estudantes, Mulheres, Prevenção, Sexualidade.

•Publicação/Apresentação: III Seminário de Iniciação Científica, UPE, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Breves Reflexões Sobre Aspectos Éticos e Bioéticos Envolvidos na Pesquisa Biomédica

69

•Aurélio Molina

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: O debate ético, entre aqueles envolvidos com as Ciências Médicas e Biológicas, ressurgiu fortemente nos últimos 30 anos devido, entre outros fatos, à crescente preocupação com as inúmeras novas possibilidades de risco de impactos negativos das pesquisas científicas e de seus "produtos", nessas áreas do conhecimento (não só para as pessoas, individualmente, mas para a humanidade como um todo e, até mesmo, para a Biosfera), causadas por uma rápida, e sem precedente evolução tecnológica como, se pode constatar, por exemplo, na engenharia genética, na biotecnologia, na biologia molecular, na reprodução humana e nos transplantes homólogos e heterólogos. Em verdade inúmeras denúncias de sérios agravos éticos em pesquisas científicas envolvendo seres humanos, como aquelas formuladas por Beecher, em 1966, em seu artigo "Ethics and Clinical Research", sugerem a justeza de tal preocupação.

OBJETIVO: Discutir alguns aspectos éticos e bioéticos envolvidos na investigação científica, colaborando para a ampliação do debate entre aqueles que produzem, ensinam, divulgam e utilizam o conhecimento científico.

SUJEITOS E MÉTODO: Ensaio opinativo onde, após a conceituação de Ética e Bioética e breve relato sobre a história da ética em pesquisa, o autor tece comentários sobre alguns dos muitos importantes aspectos éticos e bioéticos relacionados com a investigação científica na área biomédica, terminando com algumas reflexões e sugestões práticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Neste artigo não se pretendeu esgotar nem aprofundar todos os aspectos éticos e bioéticos envolvidos numa investigação científica. Apenas se realçou alguns dos inúmeros riscos, dos mais sutis até os mais evidentes envolvidos em uma pesquisa científica, alertando a todos os que se interessam pela temática,

que esses riscos vão desde a concepção teórica até à publicação e divulgação do estudo. Entretanto, deve ficar claro que não é fácil colocar na prática do dia a dia da pesquisa questões ou princípios filosóficos. É importante ter em mente que a concepção da Bioética é multi e trans-disciplinar, histórica e plural, sendo a tolerância para com o outro, e para com o diferente, assim como para as dificuldades de ordem prática, uma atitude fundamental para o estabelecimento de normas éticas e bioéticas para a pesquisa em cada área do conhecimento. Finalmente, toda comunidade científica deve compreender que os preceitos éticos e bioéticos relacionados com a pesquisa são baseados na visão de que essa forma de criação e consolidação do conhecimento tem como objetivo principal melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, isolada ou coletivamente, e que nenhum outro interesse pode se sobrepor a esse objetivo. Acima de tudo, a comunidade científica deve ter a clareza de que a dignidade de todo ser humano e da vida humana e o respeito e a responsabilidade por toda a Biosfera são preceitos fundamentais para todos aqueles que estão, direta ou indiretamente, envolvidos e comprometidos com a pesquisa científica.


•Descritores: Pesquisa, Investigação, Ética, Bioética, Ciência, Produção do Conhecimento.

•Publicação/Apresentação: Estudos Universitários, Revista de Cultura Universidade Federal de Pernambuco, v.20(1) 69 - 79, 1999

Contribuição ao Conhecimento


Laqueadura Tubária; Situação Internacional e Efeitos Colaterais

70


•Aurélio Molina

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)

INTRODUÇÃO: A esterilização feminina é um procedimento médico (cirúrgico, químico ou radioativo) que extingue a possibilidade de fertilização, através de alterações anatômicas ou funcionais em qualquer parte do sistema reprodutivo da mulher. A técnica mais comum de esterilização feminina é a laqueadura tubária, ou esterilização tubária, que envolve o bloqueio das Trompas de Falópio. Este bloqueio geralmente é conseguido pela oclusão das tubas com ligaduras (pontos), clips, anéis, ou eletrocoagulação. Nos últimos 35 anos, principalmente nos anos 70 e 80, houve, em nível mundial, um acentuado aumento no uso da esterilização como forma de controle da fertilidade. No Brasil, a esterilização feminina emergiu como a forma de contracepção mais usada entre as mulheres em união, na faixa etária de 15 a 45 anos, apesar de ser proibida pelas leis Federais e pelo código de Ética Médica.

OBJETIVO: Discutir, de uma maneira sumária, alguns aspectos relacionados com a laqueadura tubária, basicamente a única forma de esterilização feminina usada no Brasil, fazendo-se um breve histórico dessa cirurgia e contextualizando-a no plano internacional e nacional. Abordar também, brevemente, seus possíveis determinantes e os efeitos colaterais mais comumente associados a esta técnica contraceptiva, discutindo suas bases hormonais e mecanismos fisiopatológicos, além das possíveis conseqüências de longo prazo para a saúde da mulher. Finalmente, apresentar uma nova técnica cirúrgica que pode diminuir esses efeitos indesejados, e que também torna mais fácil a reversão da ligadura, quando solicitada.

MATERIAL E MÉTODO: Revisão crítica da literatura científica.

CONCLUSÕES E SUGESTÕES: A prevalência da

laqueadura tubária no Brasil, que aumentou de 7.1% em 1975 para 49.2% em 1996, revela uma distorção do planejamento familiar entre nós. Esses números reforçam a idéia de que a luta pela implantação de um programa de assistência integral à saúde da mulher, como o PAISM, continua atual e importantíssima dentro da ótica dos direitos reprodutivos. Com relação aos determinantes da laqueadura, é importante que se tenha em mente que uma enorme gama de fatores estão interconectados num complexo relacionamento. As classificações apresentadas são apenas uma tentativa de simplificação e de didatismo de uma complexa realidade, podendo esses determinantes ser agrupados de forma diferente da apresentada. Entretanto, apesar dessas dificuldades, este modelo é a primeira tentativa na literatura de se relacionar, sistematizar e integrar todos os possíveis macro e micro determinantes da ligadura tubária na realidade brasileira, podendo servir como um instrumento para a compreensão e transformação dessa inaceitável realidade. É também necessário alertar pesquisadores, profissionais de saúde e a população feminina sobre os riscos teóricos a que estão expostas as pacientes submetidas à laqueadura tubária, para que sua decisão sobre essa contracepção cirúrgica seja a mais bem esclarecida possível. Principalmente, no contexto Brasileiro, necessário se faz o financiamento de futuras pesquisas para o esclarecimento das implicações dessa cirurgia na saúde feminina, sendo que a plausibilidade do modelo teórico apresentado reforça que o mesmo deva ser usado como ponto inicial para futuras pesquisas. Sugerimos que essas informações devam constar do informe consentido para todas as pacientes desejosas de serem submetidas à laqueadura tubária, assim como devam fazer parte dos manuais de planejamento familiar do Ministério da Saúde. Finalizando, em relação à cirurgia de Molina e Costa, nos parece que a mesma é a melhor opção dentro do atual estágio de conhecimento dos efeitos colaterais da laqueadura tubária e dos altos níveis de arrependimento.


•Descritores: Laqueadura Tubária, Esterilização Feminina, Efeitos Colaterais, Determinantes

•Publicação/Apresentação:Em Giffin K e Costa S.K, "Questões da Saúde Reprodutiva", Editora Fiocruz, Rio de Janeiro, 1999, 127-145.

Contribuição ao Conhecimento


Anticoncepción, Salud Reproductiva y Ética

71

• Aurélio Molina

• Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Universidade de Pernambuco, Brasil


Varios elementos relacionados de modo complejo e independiente componen el concepto de salud reproductiva. En 1994, la definición de salud reproductiva de la Organización Mundial de Salud (OMS), ya bastante amplia, fue perfeccionada como aquella que se refiere al proceso, función y sistema reproductivo durante todas las fases de la vida. Eso implica  tener vida sexual responsable, saludable y segura; en gozar de la libertad de elegir si uno va a tener hijos y cuantos y cuando tenerlos. Por lo tanto es necesario que hombres y mujeres puedan disfrutar de información y de acceso a métodos seguros, efectivos, disponibles y aceptables de control de fertilidad; que tengan derecho a los servicios apropiados de salud, esto es, servicios que les garanticen a las mujeres embarazo y parto seguros con la posibilidad de dar a luz bebés saludables. Sin embargo, datos estadísticos y innumerables denuncias del movimiento de mujeres de diversas organizaciones que luchan por derechos humanos apuntan a una distorsión en la práctica contraceptiva actual en Latinoamérica: eso de que las políticas de salud reproductiva son, en realidad, programas de contracepción para control de natalidad. En vez de una política de salud basada  en derechos y en correctos preceptos éticos y bioéticos, se adopta una política caracterizada por el uso elevado de anticonceptivos orales hormonales y, sobre todo, por la esterilización quirúrgica de mujeres. Este texto discute la situación actual de la contracepción en Brasil y apunta a los aspectos éticos y bioéticos (en particular los principios bioéticos de la Beneficencia, no-maleficencia, autonomía y justicia) que deben ser tomados en cuenta en todo programa que se proponga mejorar las condiciones de vida de las mujeres latinoamericanas, particularmente en lo que concierne a la contracepción. El autor argumenta que para el pleno ejercicio del Principio de la Autonomía, además de ofrecer a la población acceso a los métodos

contraceptivos,  hay que ofrecerle,  tan bien como a los profesionales de salud, informaciones correctas sobre el lado positivo y el lado negativo de cada uno de estos métodos, una vez que esto les es sistemáticamente negado o presentado de forma tortuosa. Este capítulo además de presentar el potencial de beneficencia y maleficencia de cada método, todavía agrega las principales hipótesis explicativas sobre el hecho de tratar la contracepción como sinónimo de control de natalidad y no como una acción de salud.


Descriptores: contracepción, salud reproductiva, ética, bioética, métodos contraceptivos.

Publicación/Presentación : Scavone L. "Coletanea Genero y Salud Reproductiva en la América Latina". Editora Libro Universitario Regional (LUR) Catargo, Costa Rica, 1999, 87-119.

Contribuição ao Conhecimento


Breves Considerações sobre Ética, Moral e Bioética

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•Aurélio Molina, Patrícia M.P.A. Zarzar

•CISAM-Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)

INTRODUÇÃO: A própria natureza da missão dos profissionais de saúde por si só justificaria a importância da Ética, da Moral e da Bioética na formação desses trabalhadores. Entretanto, as profissões de saúde foram edificadas em uma forte tradição humanística e ética, que parece ter sido iniciada (ou pelo menos consolidada) com a "escola médica hipocrática", localizada na ilha de Kós, na Grécia antiga, tanto que da sua produção intelectual de 72 livros, conhecida como Corpus Hippocraticum, sete tratavam exclusivamente da "ética" ou "moral"médica (Juramento, Da lei, Da Arte, Da Antiga Medicina, Da Conduta Honrada, Dos Preceitos, Do Médico). Além dos desafios contemporâneos, tanto na assistência quanto no ensino e na pesquisa, a construção da moderna tecnociência e do dito conhecimento científico, cria inúmeras chances, na grande maioria das vezes evitáveis, de agravo, ofensa e injúria à chamada dignidade humana. O historiador britânico Arnold Toynbee afirmou com total propriedade que "o aspecto mais assustador da sociedade moderna é que o poder conferido pela tecnologia cresce em escala alarmante, alcançando um nível sem precedentes na história mundial, enquanto que o nível médio da conduta moral dos seres humanos que hoje detêm o poder, permanece estacionado". Essas considerações ilustram a relevância e a atualidade de se abordar essa temática.

OBJETIVO: Tecer breves considerações sobre a Ética, a Moral e a Bioética com o intuito de subsidiar a formação e a educação continuada desses profissionais que lidam direta e indiretamente com a saúde da população.

MÉTODO: Ensaio opinativo.

SÍNTESE DAS CONSIDERAÇÕES: Os autores, após fornecerem alguns subsídios acerca da Ética, da Moral e da Bioética no intuito de auxiliar a formação dos

profissionais de saúde neste importante e vasto campo do conhecimento humano, reforçam as considerações de vários outros autores. Para estes, os objetivos imediatos da educação ética e bioética em saúde vêm a ser os de cultuar valores, moldar o caráter, promover princípios essenciais e alcançar, como resultado, a modelagem das virtudes, mínima e consistente para uma conduta profissional adequada e para uma postura ética, apreendida e/ou estimulada, saudável e proveitosa na relação com o paciente, com outros profissionais e com a sociedade em geral; uma educação onde o princípio fundamental deve passar basicamente pelo respeito ao ser humano, como sujeito atuante e autônomo, reforçando a visão daqueles que afirmam que a reflexão ética obriga-nos a escolher e a procurar, entre as várias soluções possíveis, quais são aquelas que correspondem não só a critérios de eficiência e de eficácia, de equilíbrio entre custos e benefícios, mas, sobretudo, a exigências de prioridades, equidade e moralidade, visando o bem-comum, a qualidade de vida de todos.


•Descritores: Ética, Moral, Bioética, Saúde, Profissionais de Saúde, Ensino Superior.

•Publicação/Apresentação: Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 1999, 22, 1:31-5

Contribuição ao Conhecimento


Arrependimento da Laqueadura Tubária

73

•Kátia M M Machado, Aurélio Molina, Aníbal Faúndes

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Mestrado de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE).


INTRODUÇÃO: A esterilização feminina (procedimento cirúrgico, químico ou radioativo, que extingue a possibilidade de fertilização), como método de controle da fertilidade, particularmente a cirúrgica, é, em verdade, uma técnica relativamente nova (século XX). No Brasil, os últimos 30 anos mostraram um aumento marcante da prevalência da esterilização em mulheres em união na faixa etária entre 15 a 45 anos, basicamente a laqueadura tubária, que se tornou hoje, indubitavelmente, a prática contraceptiva mais usada pelas brasileiras. O número total de mulheres brasileiras esterilizadas é incerto, estimando-se algo em torno dos 10 milhões. Acompanhando esses números crescentes da Laqueadura Tubária no Brasil e no mundo (o percentual de mulheres esterilizadas no Terceiro Mundo é duas vezes maior do que nos Países Desenvolvidos), tem-se observado, também, um aumento acentuado nos índices de arrependimento de se ter submetido à esterilização, fenômeno esse que se expressa na procura crescente de mulheres solicitando a cirurgia de Reversão de Laqueadura Tubária, como, por exemplo, no ambulatório de Reprodução Humana do CISAM, serviço referenciado da Região Metropolitana do Recife.

OBJETIVO E MÉTODO: Identificar, através da revisão da literatura, os índices de arrependimento associados à laqueadura tubária e os fatores associados a esse arrependimento com o intuito de subsidiar debates, atitudes e intervenções que possam diminuir tais sifras.

RESULTADOS: Os índices de arrependimento da laqueadura tubária variam de 0,1 a 50% em 40 séries de pacientes estudadas, em diferentes países. Quanto aos fatores associados ao arrependimento, vários podem estar associados a esse sentimento, tais como: fatores psicológicos, sócio-econômico-demográficos, idade, paridade, óbito de um dos filhos, taxas de divórcio, mudanças de parceiros e qualidade dos

serviços de Planejamento Familiar.

CONCLUSÃO E SUGESTÕES: Todos os fatores envolvidos que, em conjunto ou isoladamente, podem contribuir para colocar a mulher em risco de arrepender-se de sua Laqueadura Tubária devem ser identificados e trabalhados individualmente antes do ato operatório, para que se possa evitar um arrependimento futuro. Devem ser tomadas medidas mais específicas na política de saúde governamental tentando diminuir o problema, que além de ter um impacto negativo para a saúde emocional, física e, muitas vezes, social das mulheres arrependidas, associa-se a um dispêndio de recursos financeiros, devido aos elevados custos da cirurgia de re-canalização além de colocarem essas pacientes num grupo de maior risco para gravidez ectópica (principalmente a tubária), quadro grave com morbi-letalidade alta. Isso ajuda a agravar ainda mais o atual e importante déficit financeiro observado no financiamento da assistência à saúde no Brasil, particularmente no Nordeste, onde talvez essa verba pudesse ser mais apropriadamente destinada para ações preventivas da saúde da mulher, tais como o próprio Planejamento Familiar e o rastreamento das lesões precursoras do câncer do colo uterino.


•Descritores: Laqueadura Tubária, Esterilização Feminina, Arrependimento

•Publicação/Apresentação: Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 1999, 22, 2:35-40

Contribuição ao Conhecimento


Estudo Multicêntrico, Aberto, Não Comparativo, da Eficácia e Tolerabilidade da Associação do Tioconozol com o Tinidazol, no Tratamento de Pacientes com Vulvovaginites

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•Paulo Naud, Luiz Carlos Viana, Aurélio Molina*, Newton Carvalho, Paschoal Martins Simões

•*Maternidade da Encruzilhada-CISAM; Disciplina de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: A vulvovaginite, uma das queixas mais constantes nas consultas ginecológicas e, muitas vezes, um desafio para o profissional de saúde pela frequência de recidivas e falhas no tratamento, é a inflamação/irritação da vagina e da vulva, comumente causadas por organismos micro-biológicos muitas vezes originarios da própria paciente, e tem como características principais o corrimento genital, com ou sem odor anormal, acompanhado ou não de prurido e/ou desconforto ou alteração de coloração. É importante diferenciá-lo daquele fisiológico, que é constituído pelas secreções cervicais, vaginais, células epiteliais descamadas e, finalmente pela flora vaginal, composta por lactobacilos sp (Bacilos de Doerdelein), aeróbios gram-positivos, assim como por estreptococos, estafilococos, difiteróides, gardnerella vaginalis, escherichia coli e vários organismos anaeróbicos. A Cândida e o Micoplasma são também muito comuns. As causas mais frequentes de vulvovaginite, no atual estágio do conhecimento, são as candidíases, as tricomononíases e as vaginoses bacterianas (importante desequilíbrio da flora, geralmente acompanhada de um aumento da Gardnerella Vaginalis.

OBJETIVO: Avaliar a eficácia e a tolerabilidade da associação tioconazol/tinidazol creme vaginal no tratamento de vulvovaginites causadas por Trichomonas Vaginalis, Gardnerella Vaginalis e Cândida sp.

SUJEITOS E MÉTODO: Estudo aberto, não comparativo e multicêntrico, com 107 pacientes selecionadas e 83 analisadas com relação aos parâmetros clínicos e microbiológicos, utilizando-se creme vaginal associado (Tioconazol e Timdazol)durante 7 dias, e, reavaliadas com 7 e 30 dias após o tratamento.

RESULTADOS: A primeira reavaliação clínica de

monstrou melhora estatisticamente significativa de todos os sinais e sintomas, acompanhada de exame microbiológico negativo em 63.3% das pacientes. A segunda demonstrou exame negativo em 63.2% das pacientes e uma taxa de re-infecção de 22.4%. Embora alguns parceiros sexuais fossem tratados de acordo com a avaliação do investigador, não houve correlação entre o tratamento do parceiro e a re-infecção. Os eventos adversos foram pouco comuns (5,6%), principalmente a queimação local (1.9%), e nenhuma paciente descontinuou o tratamento por causa disso.

CONCLUSÃO: Os autores concluem que este tipo de tratamento está recomendado quando não é possível isolar-se o agente etiológico específico, e também quando mais de um agente etiológico é isolado em paciente com sintomas clínicos de vulvovaginite ou vaginose.


•Descritores: Vulvovaginite, Tioconazol, Tinidazol, Associação, Tratamento, Creme Vaginal.

•Publicação/Apresentação: Revista Brasileira de Medicina, 1999, 56, 3:45-51.

Contribuição ao Conhecimento


A Regra dos 10 Cs: Uma Contribuição para a Formação de "Massa Crítica" na Criação, Aplicação e Ensino do Conhecimento Científico

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•Aurélio Molina

•Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)


INTRODUÇÃO: A formação de recursos humanos aptos para lidar com a criação, o uso e a divulgação do conhecimento científico sempre se constituiu num enorme desafio, maior ainda quando se pensa em século XXI, considerado como a era da Ciência, Tecnologia e Inovação. Baseado na sua experiência de pesquisador, professor de graduação e pós-graduação lato e stricto sensu, e como gestor tanto de programas de produção do conhecimento quanto em posições de gerência da aplicação e do ensino do conhecimento, assim como em virtude de sua militância na área da ética e na bioética envolvida com a pesquisa científica, o autor apresenta, de uma maneira didática, dez atitudes e posturas que acredita sejam fundamentais para ajudar o país a se tornar uma nação desenvolvida, soberana e justa.

método: Ensaio opinativo.

DESCRIÇÃO DA REGRA: As 10 atitudes e posturas que compõem a "Regra dos 10 Cs" são as seguintes: 1) Cepticismo, entendido como o estado de quem duvida de tudo. A Ciência não permite dogmas nem combina com coerção de qualquer forma ou origem. A ausência de questionamentos, discordância, dúvidas e críticas não é ciência. É doutrinação, é fanatismo, é cientificismo. Em verdade, essa postura não é nova podendo ser encontrada em Cícero, no século I antes de Cristo, no seu "De officiis", onde o mesmo afirma que "dubitando ad veritatem pervenimus" (duvidando, chegamos à verdade; 2) Criticismo, como a atitude de constante e independente discernimento, juízo e julgamento e uma relativização do conhecimento, decorrente principalmente da conscientização da visão das "verdades científicas" como algo provisório, mutável e evolutivo, isto é, "estar" verdade ao invés de "ser" verdade. Devemos seguir a visão de Thomas Kuhn, um dos grandes filósofos da ciência, de que uma aparente verdade científica, só merece ser assim conside

rada se consegue resistir ao questionamento contínuo da própria comunidade cientifica; 3) Curiosidade, como o contínuo desejo de ver, saber, aprender e desvendar; 4) Construtividade, isto é, atitude de sempre tentar contribuir construindo o melhor, como puder, onde estiver, com o que tiver; 5) Criatividade, como poder de imaginação inventiva; 6) Capacidade e Competência, como potencial intelectual para atingir determinado objetivo, como as habilidades técnico-científicas específicas para cada objetivo a ser atingido; 7) Confiança, no sentido de segurança íntima e bom conceito de si mesmo, de seu poder e de suas qualidades; 8) Coragem, como intrepidez e ousadia, acompanhada de bom senso, para defender suas opiniões e suas contribuições, em qualquer contexto; 9) Compromisso com a cidadania e com a melhoria da qualidade de vida da sociedade e de respeito com as obrigações éticas e bioéticas, particularmente com a ética da responsabilidade, e com o princípio da precaução; 10) Coerência, como profissional e como cidadão/cidadã, com as necessidades regionais, nacionais e com o perfil socioeconômico e epidemiológico do contexto da realidade onde se encontra inserido e, no caso dos pesquisadores, coerência com os objetivos de uma política de ciência, tecnologia e inovação.

CONCLUSÃO: A divulgação e massificação desta regra, que é uma ampliação da regra dos 5Cs, núcleo de atitudes e posturas (cepticismo, criticismo, criatividade, confiança e coragem), já apresentada e defendida anteriormente em outras publicações, e que pelo seu conteúdo, didatismo e característica mnemônica, nos parece ser fundamental para ajudar a superação do atual paradigma de formação de recursos humanos na área de C&T e Inovação.


Descritores: Recursos Humanos, Massa Crítica, Epistemologia, Pesquisador, Profissional de Saúde, Professor

Publicação/Apresentação: II Congresso de Estudantes da UPE (CONEUPE), Petrolina, Agosto de 1999

Contribuição ao Conhecimento


Mestrado em Tocoginecologia: Oito Anos de Vivências e Vitórias para a Pós-Graduação do CISAM, da FCM e da UPE

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•Aurélio Molina da Costa, Cícero Ferreira Fernandes Costa, Maria Helena Kovacs, José Guido Correa de Araújo, Álvaro Antônio Cabral Vieira de Mello, Veranice Pereira

•Faculdade de Ciências Médicas, CISAM, UPE


introdução:

Objetivo: Descrever a experiência vitoriosa da implantação do curso de Mestrado em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas, após 8 anos de sua existência.

material e método: Ensaio opnativo baseado em dados de relatórios enviados à Capes. Os autores, após breves considerações sobre a pós-graduação Stricto Sensu na UPE, e em relação à justificativa para a implantação do programa de Mestrado em Tocoginecologia, discorrem sobre as titulações, evolução do curso, sua integração com a graduação, infra-estrutura do mesmo, intercâmbio com outras instituições realçando o impacto positivo do programa em várias dimensões.

descrição/discussão: Desde a sua implantação, em 1993, na época com entrada a cada 2 anos, foram matriculados 28 alunos, com evasão de apenas 2 estudantes, tendo sido defendidas 18 dissertações até o momento, todas com dados primários. Cabe ressaltar que as bancas examinadoras geralmente têm enaltecido a qualidade metodológica dos estudos, sugerindo que os mesmos estão muito acima do nível exigido para um curso de mestrado. Considera-se que a tendência do curso é a sua melhoria e consolidação, sendo que o reconhecimento de sua qualidade pode ser atestado, indiretamente, pelo número de candidatos inscritos para a prova de seleção de 2001, quando, pela primeira vez, superou-se a marca de um dígito, tendo havido 11 inscritos (mais do que o dobro do ano anterior), inclusive com candidatos de outras regiões, além do Nordeste. Outro indicador relevante é o número de teses defendidas no ano de 2000, assim como a redução do tempo de titulação. No ano base de 2000 aconteceram 8 defesas de tese, fruto de um esforço do corpo docente que, além das orientações, ficou envolvido, em curto espaço de tempo, em 24 atividades (pré-bancas, exames de qualificação e bancas). O resultado final foi que o tempo de conclusão, que era de 38,4

meses para a turma de 1993, de 36.6 meses para a de 1995 e de 36 meses para a de 1997, caiu para uma modal de 22 meses para a turma de 1999 (3 em 4 alunos), isso sem afetar o nível das teses que vem sendo sempre de qualidade muito superior ao exigido para um curso de mestrado, talvez até mesmo por falta da implantação de um programa de doutorado.

Conclusão: gostaríamos de afirmar que assim como a política de Pós-Graduação Stricto Sensu do Brasil tem sido considerada positiva, havendo o país se tornado 18o país em número de trabalhos publicados, o mestrado em Tocoginecologia funcionou como importante instrumento na titulação do corpo docente, na produção do conhecimento e também na formação de massa crítica. Além disso, atuou como um catalisador de mudanças dentro da tocoginecologia regional, e, particularmente, na Faculdade de Ciências Médicas e em outras unidades da UPE, tanto na pós-graduação quanto na graduação.Esses resultados demonstram que o curso vem atingindo seus objetivos através do compromisso de todos aqueles que o fazem, na busca da excelência, mesmo numa região discriminada sócio-economicamente e com enormes dificuldades a serem vencidas.


•Descritores: Pós Graduação, Mestrado, Tocoginecologia, Recife, Pernambuco, Brasil, Faculdade de Ciências Médicas

•Publicação/Apresentação: Revista das Ciências Médicas de Pernambuco. , v.3, p.8 - 14, 2000.

Contribuição ao Conhecimento


Transfixação Cervical por DIU e Cistos de Naboth: Diagnóstico Diferencial

77


•Stefan Welkovic e Aurélio Molina

•CISAM, Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas, UPE

introdução: Apesar dos atuais Dispositivos Intra-Uterinos (DIU) com cobre serem mais seguros, principalmente quando bem indicados, e serem uma importante opção contraceptiva (diferentemente dos dispositivos de Graafenberg utilizados até os anos 50), o DIU ainda possui alguns efeitos colaterais como, por exemplo, aumento da perda sanguínea na menstruação, acompanhada ou não de cólicas uterinas, levando algumas vezes à anemia por deficiência crônica de ferro. A Doença Inflamatória Pélvica (DIPA) é a complicação mais grave e importante relacionadas ao DIU, pois pode levar à esterilidade por lesões tubárias (principal razão para sua contra-indicação relativa em nulíparas) podendo cursar, muitas vezes, com uma clínica discreta. Por outro lado, podem também levar a mortes, o que atualmente é raro. Complicações como a perfuração uterina, com ou sem manifestações clínicas, podem acontecer durante a inserção, ou em qualquer momento posterior.

sujeito e método: Os autores relatam o caso clínico de uma paciente que procurou o ambulatório de Patologia Cervical do CISAM para colposcopia.

descrição: O exame da paciente revelou a presença, no lábio posterior, de área arredondada, de coloração esbranquiçada, semelhante a cisto de Naboth. Estes cistos são pequenas regiões do colo uterino que ficam cheias de secreção devido ao bloqueio da produção de muco cervical das células glandulares do colo uterino, geralmente na zona de transformação, devido à sobreposição do epitélio escamoso por cima do epitélio cilíndrico. Conforme as secreções se acumulam, um pequeno nódulo arredondado e liso pode se formar na superfície do colo do útero e se tornar grande o suficiente para ser visto ou sentido durante um exame. Cada cisto aparece como uma elevação pequena e branca (ou levemente amarelada, como uma pequena pústula), podendo ocorrer iso

ladamente ou em grupo. A inspeção da lesão com pinça de Sherron revelou uma consistência aumentada não compatível com Cisto de Naboth, consistência essa confirmada pelo toque. Apesar de não haver fios aparentes de um Dispositivo Intra Uterino, a anamnese da paciente revelou história de uso de DIU, o que foi confirmado com a inspeção da cavidade com pinça "caça-DIU", sugerindo fortemente uma perfuração do colo pela haste transversal do dispositivo. A resolução do caso se deu pela apreensão do mesmo, dentro da cavidade endometrial, elevando-o a seguir, na direção do fundo uterino, o que fez desaparecer a lesão, ao reverter a perfuração, confirmando a hipótese diagnóstica, tendo sido o mesmo retirado a seguir, da maneira tradicional. Paciente evoluiu sem intercorrências, sendo orientada a retornar na menstruação seguinte para inserção de novo dispositivo intra-uterino, por desejo da mesma.

conclusão: A perfuração uterina pelo DIU, apesar de ser incomum, pode se apresentar de diferentes formas, inclusive a aqui relatada.


•Descritores: DIU, Perfuração, Diagnóstico Diferencial, Cisto de Naboth, Complicação.

•Publicação/Apresentação: XXVI Jornada Pernambucana de Ginecologia e Obstetrícia, Recife, Maio, 2000

Contribuição ao Conhecimento


Peso ao Nascer e Mortalidade Neonatal na Maternidade da Encruzilhada

78

•Olímpio Barbosa de Moraes Filho, Nara Lacerda da Silva, Maria Laura Campelo de Melo Dias, Aurélio Molina

•CISAM-Maternidade da Encruzilhada, Departamento Materno Infantil da FCM-UPE,


introdução: A mortalidade neonatal é definida como aquela em que o lactente morre entre o nascimento e o vigésimo oitavo dia de vida. Em vários estudos de mortalidade neonatal tem-se evidenciado, nos mais diversos contextos sociais, a extrema dependência que a probabilidade de sobrevivência guarda com a idade gestacional e o peso ao nascer. Considera-se recém-nascido de baixo peso, a criança nascida viva que tenha peso ao nascer inferior a 2500g independente da idade gestacional, sendo que a Organização Mundial de Saúde ressalta o baixo peso ao nascer como o mais importante fator associado à mortalidade e morbidade perinatais. Em um estudo de coorte realizado na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, o peso ao nascer foi o principal determinante do risco de morrer no período perinatal, e os recém-nascidos de baixo peso apresentaram um coeficiente de mortalidade neonatal cerca de 24 vezes maior. No Recife, foi verificado que o risco de morrer no período neonatal foi de 36 vezes maior para os recém-nascidos com baixo peso. Outro estudo, realizado na mesma Maternidade da Encruzilhada, entre 1982 e 1984, mostrou uma taxa de mortalidade de 92% para os recém-nascidos com peso ao nascer menor que 1000g e de 42% para RN entre 1000-1499g.

OBJETIVO: Analisar a relação do peso ao nascer com o óbito no período neonatal, de janeiro de 1997 a dezembro de 1998, na Maternidade da Encruzilhada, na cidade do Recife, evidenciando os grupos de recém-nascidos de maior risco, como também comparar as taxas de mortalidade em cada grupo de peso com o estudo anterior realizado no mesmo serviço no período de 1982 a 1984.

sujeitos e método: A investigação foi observacional,

descritiva. A amostra foi representada por todos os 10.047 recém-nascidos vivos.

RESULTADOS: O obituário na faixa de peso menor que 1000g foi alarmante, 94,5%. Na faixa entre 1000 e 1499g, o obituário declinou para 54,3%, e reduziu-se para 16,6% na faixa entre 1500g e 1999g. Na faixa ponderal de 2000-2499g, a taxa de neomortos reduziu-se na proporção de 1/5, ou seja, 3,1%. A última queda estatisticamente significante da mortalidade neonatal ocorreu na faixa ponderal de 2500-2999g, 0,67%. A partir daí, o obituário neonatal permaneceu baixo sendo de 0,25% na faixa ponderal de 3000-3499g, de 0,34% para fetos entre 3500-3999g e de 0,60% para peso de 4000g ou mais. Comparado com outro estudo realizado na mesma instituição entre 1982 e 1984, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes em relação às taxas de mortalidade neonatal precoce nas mesmas faixas ponderais.

Conclusões e sugestões: Para os autores esses resultados indicam que todo esforço deve ser feito para evitar o nascimento de recém natos de baixo peso, fazendo-se necessárias medidas urgentes como a implantação de unidade de terapia intensiva neonatal para a reversão das taxas encontradas.


•Descritores: Mortalidade Neonatal, Peso ao Nascer, Baixo Peso, Recife, Pernambuco, Brasil

•Publicação/Apresentação: Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 23(1): 28-32, 2000.

Contribuição ao Conhecimento


Hepatite B e Gravidez

79

•Baltazar M Junior, Aurélio Molina, Leila Beltrão

•Maternidade da Encruzilhada/CISAM, Mestrado em Tocoginecologia, Faculdade de Ciências Médicas (FCM-UPE)


INTRODUÇÃO: O cuidado pré-natal, um direito reprodutivo, consiste num cuidadoso e sistemático acompanhamento das pacientes grávidas, objetivando assegurar o maior e melhor bem-estar físico, emocional e social para a gestante e o feto diminuindo os riscos inerentes ao ciclo grávido puerperal, garantindo que a gestação culmine num parto de um recém-nascido saudável, sem prejuízos à saúde da mãe. Esse cuidado está baseado num tripé: 1) prevenir/identificar/corrigir as anormalidades maternas ou fetais, em todas as dimensões, inclusive as sócio-econômicas; 2) educar/instruir a paciente em relação ao ciclo gravidez-parto-puerpério; 3) promover suporte psicológico para a gestante e todos os familiares que possam estar afetados pela gestação, isto é, realizar um pré-natal emocional.

JUSTIFICATIVA: Dentre as patologias que podem associar-se a esse período gravídico, destaca-se a Hepatite Vírus B, inflamação do fígado causada por vírus DNA, da família hepdnaviridade, que pode evoluir para doença hepática crônica (cirrose) e tem sido associada com o carcinoma hepatocelular primário Entretanto, todas as intervenções em saúde, inclusive aquelas realizadas durante o pré-natal devem, após a comprovação de sua eficácia, ser analisadas do ponto de vista do impacto, incluindo a ponderação de custo-benefício-malefício, para que possam ser enquadradas no grupo que a OMS (Organização Mundial de Saúde) costuma classificar como "condutas que são claramente úteis e que deveriam ser encorajadas".

objetivo: Este trabalho, procurou encontrar subsídios que suportem a hipótese de que se faz necessária a inclusão na rotina pré-natal da pesquisa siste

mática do HBsAg, a fim de reduzir a morbidade causada pela infecção do vírus B, principalmente devido a sua transmissão vertical, oportunizando o controle e a prevenção da hepatite neonatal.

MATERIAL E MÉTODO: ensaio opinativo baseado em revisão bibliográfica.

RESULTADOS: A revisão de literatura mostra que a Hepatite B é uma doença de distribuição quase universal, de prevalência alta e com cifras que alcançam 1,5-3% no Nordeste do Brasil (8% na região amazônica), sendo que a transmissão vertical (mãe-feto) é responsável por cerca de 80% das infecções neo-natais, em crianças nascidas de mães soropositivas. A prevalência entre as gestantes é bastante variavel em nível mundial. Os percentuais mais elevados foram os encontrados por Drobenivc et al em Moldova (6,8%), por Prakash et al no norte da Indía (9,5%) e principalmente por Bradley et al no sul da Romenia (36,7%). No Brasil Duarte et al encontrou 0,95% de soropositividade em Ribeirão Preto (SP). A revisão bibliográfica indica também que a maioria das gestantes são assintomáticas e que passagem transplacentária do vírus, apesar de incomum, ocorre entre 5 e 15% das hepatites crônicas ativas principalmente no terceiro trimestre. Existe também o risco de transmissão no momento do nascimento e no periodo peri-natal através do colostro e do leite materno, dependendo da quantidade de DNA viral presente. Durante a gestação a contaminação também pode ocorrer através do procedimento obstétricos invasivos como a amniocentese. A literatura indica que a pesquisa sorológica especifíca pode proporcionar a oportunidade de uma imuno-profilaxia neonatal e que o tratamento das pacientes com Hepatite B crôni

Contribuição ao Conhecimento


ca pode produzir uma remissão em cerca de um terço delas.

CONCLUSÕES: Após a revisão da literatura, nos parece que a identificação de gestantes soropositivas não só diagnostica as pacientes infectadas pelo vírus B, propiciando subsídios para o controle e prevenção desta enfermidade, mas também viabiliza rotinas e medidas para prevenir a hepatite neonatal, justificando sua inclusão na rotina pré-natal.

•Descritores: Hepatite B, Pré Natal, Gravidez, Prevalência, Gestantes,

•Publicação/Apresentação: Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, v.23, n.1, p.56 - 68, 2000.



Mãe de Hemofílicos: Filhos, Família, Contracepção. Um Chamado a uma Saúde Reprodutiva mais Justa

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•Aurélio Molina, Paula Arruda, Rodrigo Cantarelli

•Mestrado em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas-UPE e Fundação HEMOPE


INTROdução: Os portadores de hemofilia apresentam dificuldades no processo de coagulação do sangue devido a uma deficiência hereditária de determinados fatores sangüíneos (da atividade coagulante do fator VIII na hemofilia A ou do fator IX na hemofilia B) e estão constantemente sujeitos a hemorragias. Esta patologia está presente em todos os grupos étnicos e em todas as regiões geográficas. Como a Hemofilia é uma coagulopatia hereditária ligada ao X, recessiva, os genes são transmitidos pelas mulheres da família, o que impõe uma maior atenção em termos de saúde reprodutiva e planejamento familiar para esta clientela.

Objetivo: Estudar o conhecimento relativo à Hemofilia em mães de Hemofílicos atendidas no HEMOPE e conhecer suas experiências com o uso de métodos anticoncepcionais (MACs).

sujeitos e método: Nosso estudo exploratório foi do tipo descritivo transversal, com uma amostragem de conveniência, realizado entre de outubro de 1999 a março de 2000. Usamos para as entrevistas estruturadas um questionário com perguntas padronizadas, com variáveis subdivididas em 6 seções: sócio demográficas, conhecimento sobre hemofilia, história reprodutiva e familiar para hemofilia, experiências com MACs e informação contraceptiva oferecida após o diagnóstico do hemofílico.

resultados: Entrevistamos 32 mães de hemofílicos. Tinham baixa escolaridade (59,3% analfabetas ou com 1o grau incompleto) e a maioria (68,8%) em idade reprodutiva (<35 anos). Em três famílias havia mais de um hemofílico na irmandade. Seis mães mudaram de estado civil depois do nascimento do filho hemofílico. Dez mudaram de parceiro (31.2%), engravidando novamente em 8 casos (80%). A maior

parte delas (78.1%) sabia o que era a hemofilia, porém 43.8% não sabiam como a doença surgia. As chances de recorrência da Hemofilia eram consideradas grandes 40.6% das entrevistadas. A pílula, os injetáveis e a laqueadura eram os MACs mais conhecidos, sendo a pílula, seguida da laqueadura, os mais usados. A maioria (62,5%) já estava laqueada. Só sete delas (21.8%) receberam informação contraceptiva por ocasião do diagnóstico do filho hemofílico.

interpretações: O baixo nível sócio-cultural parece influenciar o conhecimento relativo à doença. 2- O risco de transmissão do gene da Hemofilia não parece influenciar muito em sua prática reprodutiva, pois existe a mudança de estado civil, de parceiro, mais de uma união, e novas gestações com afetados. 3- Suas experiências com os MACs revelam a opção preferencial por um método definitivo. 4- As opiniões em relação à laqueadura são controversas. 5- O Aconselhamento Genético e o Planejamento Familiar são claramente necessários. Esses resultados iniciais indicam a necessidade da continuação do estudo para uma melhor avaliação dessa preocupante situação em termos de Saúde Reprodutiva. Entretanto consideramos extremamente grave o fato de apenas um quinto delas ter recibido informações quando ao diagnóstico do filho afetado e de que quase metade delas desconher seu mecanismo de transmissão, sugerindo a necessidade de intervenções educativas imediatas.



•Descritores: Saúde Reprodutiva, Hematologia, Genética Médica, Hemofilia, Contracepção

•Publicação/Apresentação: IV Jornada de Iniciação Cientifica: Centenário Gilberto Freire, FACEPE-CNPq, Recife, Maio, 2000

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500 Anos de Brasil...Tantos de Anemia Falciforme. A Realidade e as Dificuldades na Assistência à Saúde Reprodutiva dessas Clientes

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•Aurélio Molina, Paula Arruda, Azevedo F A C

•Mestrado em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas-UPE e Fundação HEMOPE


introdução: A Anemia Falciforme é uma hemoglobinopatia de herança recessiva, isto é, uma doença que passa dos pais para os filhos e altera os glóbulos vermelhos. Ao invés da hemoglobina normal (A), os pacientes possuem uma hemoglobina anormal, chamada hemoglobina S. Os glóbulos vermelhos com esse tipo de hemoglobina podem tomar a forma de meia lua ou foice (daí o nome falciforme), e por ser mais rígido podem-se amontoar, ao passar pelos vasos sanguíneos, obstruindo a circulação. O gene da Anemia Falciforme veio da África e foi trazido pela imigração forçada no período da escravidão. Desde então vem sendo transmitido como parte natural do processo de miscigenação e composição étnica do povo brasileiro. A anemia falciforme é considerada um problema de saúde pública não só pela sua morbi-mortalidade importante, mas também pelo desafio que a sua prevenção representa.

objetivos: Nosso trabalho objetivou estudar e descrever o comportamento reprodutivo das famílias de portadores de Anemia Falciforme atendidas no HEMOPE, verificando suas opções de escolha em relação aos métodos anticoncepcionais (MACs).

sujeitos e método: Realizamos estudo descritivo, de corte transversal, no período de outubro de 1999 a março de 2000, com uma amostragem de conveniência, entrevistando 100 famílias de portadores de Anemia Falciforme (o paciente e a mãe). Usamos como instrumento de coleta um questionário com três grupos de variáveis: 1) as sócio-demográficas; 2) as relativas a sua doença; 3) as relativas à reprodução nessas famílias.

Resultados: Dos 100 pacientes entrevistados, a maioria tinha baixo nível de escolaridade (71% analfabetos ou com primeiro grau incompleto). Os pacientes

entrevistados tinham 113 irmãos do sexo masculino, 15 dos quais falcêmicos (homozigotos) e 18 traço falcêmico (portadores heterozigotos). Tinham 98 irmãs do sexo feminino, sendo 10 falcêmicas (homozigotas) e 24 traço falcêmicas (heterozigotas). Apenas 11% das mães referiam conhecer o risco de transmissão. Quanto às formas de contracepção, 88% delas referiam o uso de algum tipo de método, sendo que um número expressivo dessas já estava laqueada (38%).

Conclusões: Os resultados desse estudo exploratório sugerem que o baixo nível de escolaridade dos entrevistados parece influenciar no entendimento acerca da Anemia Falciforme e nos cuidados necessários ao paciente. Além disso, os pais, os pacientes, seus irmãos e irmãs afetados ou com traços falcêmicos constituem uma população de risco para a transmissão da doença. Em nossa opnião, o desconhecimento encontrado em relação ao risco de transmissão impõe a necessidade de aconselhamento genético e reprodutivo como parte da assistência básica a esses casais.


•Descritores: Saúde Reprodutiva, Hematologia, Genética Médica, Anemia Falciforme, Contracepção

•Publicação/Apresentação: IV Jornada de Iniciação Cientifica: Centenário Gilberto Freire, FACEPE-CNPq, Recife, Maio, 2000

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Tocoginecologia Baseada em Evidências

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•Aurélio Molina e Roberto Falcone

•Mestrado em Tocoginecologia da FCM, UPE e Departamento Materno Infantil da UFPE


Cada dia mais se solidifica o conceito de Medicina Baseada em Evidências, sendo que "evidência" significa "verdade manifesta". Portanto, "evidência científica" quer dizer "verdade científica manifesta". E como se chega a uma "verdade científica manifesta"? Através de pesquisas com alta validade interna e externa, isto é, estudos reprodutíveis, metodologicamente bem desenhados, e realizados sem viéses (erros sistemáticos) feitos por diversos grupos independentes, e que chegam à mesma conclusão ou interpretação dos resultados. Aí sim, mesmo sendo cépticos e críticos poderíamos dizer que estamos "perto" de uma evidência científica. "Perto", porque, mesmo com todos os cuidados, ainda assim existe sempre uma chance de o acaso "estar atuando", e também de que nossas interpretações, num mundo de multifatoriedades, estejam equivocadas. Numa medicina baseada em evidências, devemos seguir a visão de Thomas Kuhn, um dos grandes filósofos da Ciência, de que uma aparente verdade científica só merece ser assim considerada se consegue resistir ao questionamento contínuo da comunidade científica, isto é, "estar" verdade ao invés de "ser" verdade. Infelizmente, como afirmam Duncam e Schmidt, citados por Moriguchi e Costa Vieira (Medicina, Conselho Federal, março, 1999, p 19), apenas 50% da prática médica está baseada em avaliações sistemáticas e metodologicamente corretas, e destas, somente metade demonstrou ser efetiva, o que levou Gonçalves N.C. (Medicina, Conselho Federal, novembro, 1999, p 10) a concluir que os embasamentos dos pressupostos científicos da grande maioria das práticas médicas estão errados ou foram mal compreendidos e são indevidamente utilizados. São os "modismos" que todos nós conhecemos. Pseudoverdades científicas que após um período de quase unanimidade e consenso, acabam em desuso, não poucas vezes com um rastro de maleficência. Mas para mudar esse quadro e praticar uma verdadeira tocoginecologia baseada em evidências, não basta saber o que é medicina baseada em evidências. É também fundamental ter acesso à literatura médica e aos bancos de informações de nossa especialidade. É preciso saber como

avaliar e interpretar a literatura médica e como aplicar a medicina baseada em evidências à prática clínica e ao ensino, assim como conhecer as medidas de morbidade e testes de screening, e principalmente, saber realizar ou pelo menos entender como se faz uma revisão sistemática da literatura médica e uma metanálise. É bom lembrar que a evidência obtida de uma metanálise de estudos experimentais, randomizados e controlados (RCTs, que é uma abreviatura, em inglês, para "randomised controlled trials"), é maior do que aquela conseguida de um único RCT, que, por sua vez, é maior do que a produzida por uma bem desenhada e controlada pesquisa, mas que não era randomizada, assim como esse tipo de estudo é superior, em termos de "verdade científica manifesta" a um único estudo, bem desenhado, quase experimental. Esse último é superior aos bem desenhados, mas descritivos e, portanto, não experimentais, estudos (dos tipos comparativo/correlação/caso-controle). Esses últimos estudos produzem mais evidência científica do que os relatórios de comitês de especialistas, ou opiniões de autoridades baseadas em experiência clínica pessoal. Por fim, "last but not least", é necessário ter uma leitura crítica de qualquer artigo ou informação dita científica, inclusive das metanálises, que podem haver sido manipuladas para incluir apenas as pesquisas que expressem a visão ou os interesses do autor/es ou ponderadas de forma viciada. Mesmo depois de concordarmos com a idéia de que, aparentemente, estamos diante de uma "verdade científica manifesta", teremos que realizar uma análise de custo-benefício-malefício, antes de incorporarmos tal "verdade" em nossa prática clínica. Não é tão difícil como parece e não existe lugar para pânico, principalmente para os "não iniciados" na produção do conhecimento. É muito mais uma mudança de mentalidade e de paradigma do que uma ameaça à prática clínica tradicional, baseada muita vezes no empírico acrítico e em informações "científicas" não confiáveis. Como afirma Belizan em seu artigo no Prenatal Neonatal Medicine (1999; 4: 1-2.), o juízo clínico, a experiência clínica e as habilidades obstétricas e cirúrgicas, conti

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nuam vitais a nossa prática clínica diária. Mas isso é complementar e não impeditivo de uma tocoginecologia baseada em evidências, que deve ser nosso paradigma, não só para o bem de nossas pacientes, mas para nossa tranqüilidade ética e legal.


•Descritores: Metanálises, Randomização,Verdade Científica, Estudos Controlados, Metodologia Científica

•Publicação/Apresentação: Anais Nordestinos de Ginecologia e Obstetrícia, 2000, 23, 1:05.


Initial Results of the Use of a New Tubal Ligation Technique

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•Molina A., Costa C.F.F and Marques G.

•Disciplina de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Brazil


INTRODUCTION: The most common technique of female sterilization is the tubal ligation, or tubal sterilization, that involves blocking the Fallopian tubes, which is usually accomplished by occluding the tubes with ligatures, clips, bands, rings or electrocoagulation. Actually, there are three surgical routes to the uterine tubes, namely; the abdominal, the transvaginal and the transcervical . The abdominal approach, by using the minilaparotomy, laparotomy or laparoscopy, is the most used to reach the Fallopian tubes. After reaching the tubes, there are, as described until today, more than 200 different techniques of sterilization by interrupting the luminal continuity of the Fallopian tube. The most used methods of tubal occlusion using ligatures are the Pomeroy, Madlener, Uchida and Irving, where there is a ligation and an anatomic division of tubes. Pomeroy is by far the most used technique and consists of ligating the "neck" of a loop of tube with absorbable suture material, followed by excision of the loop. When the sutures have been absorbed the cut ends tend to separate, giving a low failure rate.

OBJECTIVES: The aim of this study was to investigate the results of the use of a new tubal ligation technique, which does not cause changes in the mesosalpingy and is easier to be reversed, in case of regret, consisting of blocking the Fallopian tubes by occluding them with 4 ligatures at the isthmus. Two ligatures are made with absorbable material without reaching the mesosalpingy, with a distance of 0.5 cm between both, followed by an excision of this segment of tube in a V shape, without reaching the mesosalpingy either. The two ends of the tube are also ligated by absorbable material.

STUDY METHODS: Descriptive study (series of cases), using the hospital records and interviews of 37

women submitted to Molina-Costa tubal sterilization at Pernambuco State University (UPE) Maternity Hospital (CISAM).

RESULTS: The mean age of the population studied was 31 years old, having 3.7 children alive. The average time of having been sterilized was 18 months (maximum of 49 and minimum of 01 month). Our findings showed that there was no failure until now, and no complications in short or long term. Regarding menstrual changes and pelvic pain the results were similar to those described in the international literature.

CONCLUSION: Taking into account the Bioethics Principles of Nonmaleficence and Beneficence our results support the view that this tubal ligation technique is a considerably good family planning option, mainly in areas of high level of regret as it occurs in Brazil.


•Descriptors: Tubal ligation, Technique, New, Brazil, Side effects, Female Sterilization.

•Publication/Presentation: XVI FIGO World Congress of Gynecology and Obstetrics, Washington, USA, 2000; Internacional Journal of Gynecology and Obstetrics, Supplement 1, Monday, 200, 70:92-93

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Factors Associated to Requesting Reversal of Tubal Sterilization

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•Molina A, Machado K.M.M, Ludemir A.B. and Faúndes A.E.

•Disciplina de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Brazil


INTRODUCTION: Tubal sterilization has been one of the most frequent forms of contraception in Brazil, so much so, in fact, that the Country currently has one of the highest rates of female sterilization in the world. Although illegal in the Country until 1997, tubal sterilization (TS) has been a common practice in the private sector and public health system for many years. A number of authors have reported rising rates of unnecessary cesarean sections as an opportunity to perform TS. A national study carried out by the Civil Society Family Well-Being organization (BEMFAM) in Brazil revealed that approximately 40% of the women between the ages of 15 and 49 years, with a partner and using some form of contraception, were sterilized. The age of women seeking for sterilization has dropped and a great number of the surgeries are carried out before the age of 25 years. An increasing number of women is showing feelings of regret related to the surgery. Regret indices vary from 0.1% to 40% of all sterilized women.

OBJECTIVES: The aim of this study was to identify factors associated to requesting reversal of tubal sterilization at Pernambuco State University (UPE) Maternity Hospital (CISAM), Brazil.

STUDY METHODS: A case control of 304 women that requested, or were submitted to this kind of surgery at CISAM.

RESULTS: The results showed that when the woman is younger, delivers a low number of babies, has a lower number of abortions, misses a dead descendant, changes her partner after the tubal sterilization, or doesn't have descendants of the actual husband at the moment of the tubal sterilization, there is a high risk for her to requesting

reversal of tubal sterilization. The main reason have made tubal sterilization among women that requested reversal was "to be in a bad relationship with her partner", and the main reason to search reversal was "she wants to give descendants to her new partner". The possibility of requesting a reversal increases when the tubal sterilization was suggested by somebody/else than the woman herself, as well as when the sterilization was performed until the 45th day post-delivery. Finally, women that requested reversal of tubal ligation had higher probability to get new knowledge about contraceptive methods after the surgical sterilization.

CONCLUSION: This study suggests that a greater rigor about the indication criteria for tubal sterilization is needed, by trying to understand better the psycho-socio-demographic profile of this woman requesting tubal sterilization, her reasons to request this kind of surgery, as well as her knowledge about contraception.

•Descriptors: Tubal Ligation, Regret, Reversal, Female Sterilization, Brazil

•Publication/Presentation: XVI FIGO World Congress of Gynecology and Obstetrics, Washington, USA, 2000; International Journal of Gynecology and Obstetrics, Supplement 1, Friday, 2000, 70:17.


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Conceito de Saúde: Conhecimento de Discentes dos Cursos de Enfermagem e Medicina da Universidade de Pernambuco

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•Arabela Antônia Nery de M. Costa, Aurélio Molina da Costa, Adriana Paula Leocádio S. Cavalcanti, Fabiana Patrícia Leocádio S. Pessoa, Juliana Leite S.Lacerda

•Faculdade de Enfermagem (FENSG) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM), UPE


introdução: As perspectivas sociológicas sobre a definição de saúde levam em conta, desde as necessidades das experiências individuais sobre doença, até o papel da assistência à saúde dentro da sociedade, vendo saúde como um processo dialético, complexo e contínuo, e não apenas como uma simples dicotomia de atuação preventiva e curativa. Por outro lado, existe uma necessidade real de uma clara definição de saúde, para subsidiar e ajudar: no esclarecimento dos serviços de saúde que devem ser oferecidos à população, na medição dos níveis de saúde e doença de uma comunidade, no entendimento do que será visto como "um problema de saúde", e, finalmente, nas definições de planejamento, monitoramento e avaliação de intervenções na área da saúde. Para Trambelini, 1988, saúde é um bem coletivo que é compartilhado individualmente por todos os cidadãos comportando duas dimensões essenciais que seriam a dos indivíduos e a da coletividade. O atual paradigma, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o de que saúde não é só a ausência de doenças, mas o estado de completo bem-estar físico, psíquico e social. Recentemente, pelo menos no Brasil, passou-se a incluir nessa definição a preocupação com os determinantes que levariam a esse bem-estar e, que seriam lazer, salário justo, acesso aos serviços de prevenção e assistência à saúde, moradia, transporte, educação, saneamento e emprego. Na Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 196, Saúde é definida como um direito de todos e dever do Estado garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços, para sua promoção, proteção e recuperação. Desde 1990, alguns autores como King vêm defendendo a ampliação do conceito de saúde, ao incluir uma visão ecológica, inserindo, portanto, a definição da OMS em um "meio ambiente equilibrado e sustentável".

Objetivos: Avaliar o conhecimento sobre o conceito de saúde entre discentes das áreas de Enfermagem e Medicina da Universidade de Pernambuco(UPE) e suas implicações na formação profissional.

Sujeitos e Método: Pesquisa do tipo descritiva, de corte transversal, tendo como amostra 203 alunos dos I, V, VII e IX períodos dos cursos de Enfermagem e Medicina que responderam questionário padronizado com questões abertas e fechadas.

resultados: No universo pesquisado 47,5% tinham idade entre 18 e 20 anos e 72,4% eram do sexo feminino sendo 50,7% do curso de Enfermagem; a maioria (87,2%) afirmou conhecer o conceito de saúde, porém apenas 6,9% apresentaram um conceito algo semelhante ao da VIII Conferência Nacional de Saúde; 26,3% referiram Medicina Preventiva e Deontologia como as disciplinas que mais discutiram o conceito de saúde; 65,0% consideraram insuficiente a abordagem recebida sobre o conceito de saúde no decorrer do seu curso.

interpretação: Percebemos que os acadêmicos de ambos os cursos, independente do período letivo, ainda não possuem uma visão abrangente do conceito de saúde, o que certamente dificulta a compreensão do complexo processo saúde-doença e, por conseguinte, sua formação profissional inclusive como cidadão. Entretanto suas respostas sugerem um despertar para a necessidade de uma abordagem mais holística e integral.


•Descritores: Conhecimento, Conceito de Saúde, Discentes, Enfermagem, Medicina, Pernambuco

•Publicação/Apresentação: 52o Congresso Brasileiro de Enfermagem, Recife, Outubro, 2000.

Contribuição ao Conhecimento


Parto: Qualidade Atribuída à Assistência Prestada a Usuárias de uma Maternidade_Escola da Cidade do Recife

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•Antônio Carlos do E S Gomes; Arabela N M Costa; Aurélio Molina, Cecília B Casella; Patrícia C Pinheiro.

•Departamento de Medicina Social (UFPE), Faculdade de Enfermagem (FENSG), Faculdade de Ciências Médicas (FCM), UPE


introdução: O conceito de Saúde Reprodutiva é ampo, englobando um elenco grande de variáveis e determinantes, entre os quais podemos ressaltar a qualidade da assistência pré-natal, ao parto, ao aborto e ao puerpério, incluindo aí um sistema de referência e contra-referência. Infelizmente, os serviços de saúde são regidos pela "lei dos cuidados inversos", na qual os que mais necessitam de cuidados em saúde são os menos por eles beneficiados. Essa "lei" é claramente observada nos programas de saúde que quase sempre atingem maiores coberturas nos grupos populacionais que deles menos necessitam. Em busca de reverter este paradigma, foi instituído pelo Ministério da Saúde, através da Portaria/GM n.° 569, de 1/6/2000, o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, numa tentativa de organizar e estruturar as redes de referência para o atendimento às gestantes nos municípios, na lógica da regionalização e hierarquização do sistema de saúde. Além disso, tenta assegurar a melhoria do acesso, da cobertura e da qualidade do acompanhamento pré-natal, da assistência ao parto e puerpério às gestantes e ao recém-nascido, na perspectiva dos direitos da cidadania. Em verdade, a assistência ao parto constitui um tipo de atendimento com características muito especiais, sendo que o clima de ansiedade do qual sempre se reveste a paciente e seus familiares, exige da equipe de saúde grande habilidade na relação interpessoal, pois seu nível de qualidade deve, necessariamente, considerar não apenas a dimensão tecnológica do cuidado, mas seus aspectos subjetivos, entre eles o universo sócio-cultural da parturiente, com sua particular noção do que representa qualidade.

Objetivos: Neste estudo avaliamos o grau de satisfação da clientela usuária de uma maternidade-escola do Recife, no que diz respeito à assistência ao parto.

Sujeitos e método: Trata-se de um estudo transversal de natureza descritiva, baseado em entrevistas realizadas com 100 usuárias, com parto assistido em março e abril de 2000 na Maternidade da Encruzilhada/CISAM da UPE.

resultados: Os partos foram normais em sua maioria (66% X 34% de cesárias) e realizados em 63% dos casos no período da manhã/tarde. Um percentual expressivo (92%) se sentiu apoiada durante o período do pré-parto sendo que 66% afirmou ter recebido informação sobre a dilatação. Entretanto, a maioria afirmou não ter recebido informações sobre alimentação (57%), dor (67%) e perda de líquidos (71%). Quanto à quantidade de toques 27% delas afirmou que foi demasiada e 14% disse não haver recebido informação sobre os mesmos. Por outro lado, apenas 6% relatou não ter recebido ajuda quando solicitada. Em 94% das vezes, o RN foi apresentado à mãe logo após o parto, mas só em 29% dos partos, o RN foi colocado no peito imediatamente após o nascimento. Apenas 4% se sentiu maltratada durante a expectação ou no parto. Finalmente, 100% afirmou que não houve aborrecimentos e, no geral, 88% se sentiu acolhida no pré-parto. Entretanto, 17% reclamou da "falta de conforto" do local do parto e 25% tinham queixas ou sugestões em relação ao parto.

Interpretação: Apesar de alguns achados animadores e que indicam satisfação das pacientes, é nossa opinião que existe espaço para melhoras na qualidade da assistência na unidade hospitalar estudada, particularmente em relação ao momento do parto.


•Descritores: Parto, Assitência, Qualidade, Humanização, SUS, Recife, UPE.

•Publicação/Apresentação: 52o Congresso Brasileiro de Enfermagem, Recife, Outubro, 2000.

Contribuição ao Conhecimento


Exencefalia em Feto de Termo: Relato de Caso

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•Stefan Welkovic e Aurélio Molina

•Maternidade da Encruzilhada-CISAM (UPE), Disciplina de Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas-UPE


introdução: A exencefalia é uma condição na qual o cérebro está situado fora do crânio pela ausência dos ossos que formam a calota craniana. Esta condição se dá geralmente em embriões durante as primeiras etapas da anencefalia. À medida que a gravidez progride, o tecido nervoso se degenera gradualmente sendo raro encontrar um recém-nascido a termo com esta condição. Tanto a exencefalia quanto a anencefalia são consideradas doenças decorrentes de um defeito de fechamento, ou de uma subseqüente reabertura do tubo neural que constituem os chamadas DFTN (Defeitos do Fechamento do Tubo Neural). Dentre o grupo dos DFTNs, os mais comuns são a espinha bífida, a anencefalia e a encefalocele, acreditando-se que surjam por volta de 28 dias de gestação. A incidência dos defeitos do tubo neural é bastante variável já que depende de diversos fatores, entre os quais a variação étnica e geográfica, estimando-se uma prevalência de um a três por mil neonatos. No Brasil, um em cada 700 recém-nascidos apresenta defeitos do tubo neural.

objetivo: Apresentam caso clínico de uma exencefalia com feto de termo, filho de paciente assistida na maternidade da Encruzilhada, Hospital Escola da Universidade de Pernambuco.

Descrição: Paciente de 22 anos, GII, PI, com o primeiro filho malformado. Negava uso de drogas durante a gravidez, mas tinha um tio com "defeito de nascimento". Fez sete consultas no pré-natal e a USG mostrou malformação fetal. O parto foi por via transpelviana, sendo o RN do sexo masculino, pesando 2485 g, com Apgar de 8 e 9, com criptorquidia bilateral, icterícia e respiração irregular. Estavam ausentes os ossos parietais e o cérebro se encontrava exposto, sendo dado inicialmente o diagnóstico de encefalocele. Apresentou freqüentes abalos de extremidades. Foi feito esquema antibiótico para se evitar infecção, e dieta

por sonda, quando foi então encaminhado para o Serviço de Neurologia do Hospital da Restauração, onde foi realizada uma proteção para o tecido nervoso utilizando a pele adjacente.

comentários finais: Os defeitos do tubo neural têm uma origem multifatorial, sendo os principais as predisposições genéticas associadas ao fator ambiental como, por exemplo, uma ingestão pobre de ácido fólico. O ácido fólico é uma vitamina que faz parte do complexo B, e é necessário tanto para a síntese de ácidos nucleicos (e, portanto, para a fabricação de proteínas e formação dos tecidos do corpo) como para a formação da molécula de hemoglobina. Tanto as mães quanto os pais contribuem para o risco de desenvolver DFTN, pois é preciso que o feto herde de ambos, os genes defeituosos que causem uma mutação genética que impede a correta metabolização do ácido fólico, colocando-o, assim, sob o risco de DFTN. As famílias com história de defeito de fechamento do tubo neural têm um risco maior de ter outro feto, ou recém-nato, com a mesma anomalia. Outros agentes teratogênicos possivelmente envolvidos como fatores de risco para os DFTNs são diabetes mellitus materno, uso de ácido valpróico para tratamento de epilepsia durante a gestação, obesidade materna, deficiência de zinco, e hipertermia. A aplicação da ultra-sonografia na medicina revolucionou o contexto da abordagem clínico-diagnóstica, sendo que, após a 11a semana, já é possível estabelecer diagnósticos como acrania, exencefalia e, mais tardiamente, a anencefalia fetal.

•Descritores: Exencefalia, Anencefalia, Parto Normal, Fatores de Risco, Defeitos do Tubo Neural

•Publicação/Apresentação: XXVI Jornada Pernambucana de Ginecologia e Obstetrícia, Recife, Recife, Maio, 2000


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Mastalgia Cíclica. Tratamento Não Medicamentoso (Orientação Verbal)

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•Flavio Sivini, Aurélio Molina, Cícero FF Costa, Flávio Murilo P Sivini

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas

INTrodução: Segundo literatura médica internacional, a dor é o sintoma mamário mais comum, sendo que a mastalgia cíclica corresponde a dois terços dos casos. A orientação verbal (explicação convincente sobre a natureza não-neoplásica do sintoma, não-elevação do risco para o câncer em suas portadoras, suas possíveis causas e sua evolução natural) como forma de tratamento das mastalgias cíclicas deve ser recomendada sempre como primeira opção terapêutica, particularmente levando-se em consideração que existe grande número de opções terapêuticas no tratamento das mastalgias, incluindo a prescrição de diversos fármacos, muitas vezes de custo elevado, alguns com eficácia duvidosa e outros com efeitos colaterais, às vezes significativos. É reconhecido também que metade das pacientes tratadas terá recorrência num período curto de tempo, após terem experimentado melhora e suspendido o tratamento. Quando mal explicada pela paciente, a dor leva algumas vezes a uma interpretação equivocada por parte do médico. Quantificá-la e selecionar os casos que serão submetidos à terapêutica medicamentosa ou não, pode ser tarefa das mais difíceis no cotidiano da prática médica.

Objetivos: Avaliar o tratamento não-medicamentoso (orientação verbal) como primeira opção terapêutica para mulheres com mastalgia cíclica, e observar se o tempo de existência da sintomatologia dolorosa altera os resultados.

Sujeitos e Método: Conduzimos um estudo do tipo experimental, não controlado, com uma amostra de 128 mulheres com história clara de mastalgia cíclica, tratadas com orientação verbal. Uma escala analógica visual da dor foi usada antes e após o tratamento, afim de avaliar a sua severidade. Classificamos as mastalgias em graus I (leve), II (moderado) e III (severo), de acordo com a intensidade da dor. Usamos também o "Cardiff Breast Score" (CBS)

modificado para avaliar a resposta clínica ao tratamento. A análise dos dados foi feita com o teste do qui-quadrado.

Resultados: Verificou-se um índice de sucesso de 59,4% com a orientação verbal, mas não houve resposta com diferença estatisticamente significante entre os grupos com diferentes graus de mastalgia (p= 0.16). A resposta menos satisfatória ao tratamento não medicamentoso nas pacientes que apresentavam um período de tempo mais longo de sintomatologia, não foi estatisticamente significante (p=0.14).

Conclusão: Nossos resultados suportam a visão de que a orientação verbal deve ser tentada sempre como a primeira escolha terapêutica para mulheres com mastalgia cíclica, independente do grau de intensidade da dor. O curso prolongado da dor não interferiu nos resultados.



•Descritores: Mama, Doenças Benignas, Mastalgia, Orientação Verbal, Tratamento

•Publicação/Apresentação: Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. , 23(2):77 - 82, 2001.

Contribuição ao Conhecimento


Mastalgia Cíclica: O Impacto do Medo de Câncer no Tratamento

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•Flavio Sivini, Aurélio Molina, Cícero FF Costa, Flávio Murilo P Sivini

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas (UPE)

Introdução: Mastalgia é o termo empregado para definir a dor localizada na mama e que deve ser considerada como um sintoma e não como uma doença. Em verdade, a dor mamária é uma das queixas mais comuns entre as mulheres, particularmente no menacme, e a causa mais comum de consultas aos ambulatórios de patologia mamária. A mastalgia pode ser classificada em cíclica, não-cíclica e não-mamária. A cíclica, que por definição é aquela que ocorre no menacme, corresponde a dois terços de todos os casos de mastalgia. A dor tem uma relação clara com o ciclo menstrual, geralmente ocorrendo na fase pré-menstrual e acabando com a menstruação. Para a maioria das pacientes, é um problema auto-limitado e suave, mas para outras, em menor proporção, a dor afeta seu trabalho, sua vida sexual e familiar. Depressão, perda de auto-estima, desamparo e desesperança podem acompanhar essas pacientes se a dor persiste cronicamente. É bem conhecida a importância dos aspectos psicológicos envolvidos na sua fisiopatologia, podendo ser um sintoma inquietante para algumas pacientes que a associam a uma doença maligna ou a um risco aumentado para o câncer de mama.

Objetivo: Avaliar o impacto do medo de câncer de mama sobre os resultados do tratamento não medicamentoso (orientação verbal) em mulheres com mastalgia cíclica.

Sujeitos e Método: Conduzimos um estudo do tipo experimental, não controlado, com uma amostra de 128 mulheres com uma história clara de mastalgia cíclica, atendidas no ambulatório de Patologia Mamária do CISAM-UPE e tratadas com orientação verbal. Uma escala analógica visual da dor foi usada antes e depois do tratamento, a fim de avaliar a sua severidade, e classificamos as mastalgias

em graus I (leve), II (moderado) e III (severo), de acordo com a intensidade da dor. Usamos também o Cardiff Breast Score (CBS) modificado para avaliar a resposta clínica ao tratamento. A análise dos dados foi feita com o teste do X² (epi-info 6.04).

Resultados: Verificamos que 92 pacientes (71.8%) associavam sua dor mamária à crença de uma possível existência de câncer de mama concomitante. A eficiência do tratamento foi maior nesses casos, com uma diferença estatisticamente significante (p=0.02). Observamos também um maior percentual de mastalgia intensa (grau III) neste grupo, entretanto não houve diferença estatisticamente significante em relação aos outros graus de intensidade da dor mamária.

Conclusão: Pacientes com mastalgia cíclica que associam a sua dor mamária com a crença da possibilidade de câncer de mama têm uma resposta superior quando do tratamento não medicamentoso (orientação verbal).

•Descritores: Mama, Mastalgia, Câncer, Tratamento, Orientação Verbal

•Publicação/Apresentação: XII Congresso Brasileiro de Mastologia, Recife, Setembro, 2001; Revista Brasileira de Mastologia, vol 13, 2:67-70, 2003


Contribuição ao Conhecimento


Prevalência do Marcardor de Superfície para Hepatite B (HBsAg) em Gestantes que Frequentam o Pré-Natal do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM)

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•Baltazar M Junior, Aurélio Molina, Leila Beltrão Pereira

•Maternidade da Encruzilhada/CISAM, Mestrado em Tocoginecologia, FCM-UPE

INTRODUÇÃO: A hepatite B é uma doença do fígado causada por um vírus DNA, da família Hepdnaviridae, com 7 diferentes genótipos, conhecidos como HBV (Hepatitis B Virus), e é usualmente transmitida pela inoculação de sangue ou derivados de sangue infectados e por contato sexual. A clínica varia desde a ausência de sintomas até quadros graves e fatais. Em verdade, os indivíduos infectados pelo HBV podem apresentar uma variedade de sintomas semelhantes aos da gripe, incluindo fadiga, febre baixa, dores musculares e nas articulações, dor abdominal descrita como sensação de peso, e diarréia ocasional. Aproximadamente 10% dos indivíduos infectados podem se tornar portadores crônicos e correm o risco de desenvolver doenças hepáticas graves, como cirrose ou câncer primário do fígado. Pode ser encontrada em todo o mundo sendo que, no Brasil, estudos de prevalência do HBV detectaram índice de infecção médio de 8,0% na região da Amazônia legal, de 2,5% nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, de 2,0% na região Sudeste e de 1,0% na região Sul. Dentre os fatores que influenciam o risco de infecção pelo HBV destacam-se o número de parceiros, freqüência das relações sexuais, tipo de prática sexual (oro-anal, oro-genital, relacionamento sexual passivo ou ativo), associação com uso comum de seringas e agulhas, concomitância de outras DSTs (sífilis, cancro mole, gonorréia, herpes genital e/ou oral, etc). Apesar de poder estar associada ao período gestacional, e existir o risco de transmissão da doença no momento do parto, constituindo a infecção neonatal um quadro grave, inclusive com risco de êxito letal, ainda não é rotina nos serviços de pré-natal o rastreio de pacientes soropositivas para essa patologia.

OBJETIVO: Estudar a prevalência de hepatite B em gestantes que freqüentam o pré-natal do CISAM-UPE, e avaliar sua associação com determinados fatores de risco.

SUJEITO E MÉTODO: Foram estudadas 520 amostras de soro de mulheres grávidas selecionadas, matriculadas no pré-natal do CISAM no período de março a outubro de 1999. Os soros coletados foram submetidos a testes de enzimaimunoensaio com micro-partículas (MEIA) para detecção do antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg).

RESULTADOS: Das 520 amostras, 420 foram submetidas a análises sorológicas, sendo 14 positivas. Quando se avaliou alguns fatores de risco, inclusive em relação ao parceiro, observou-se que das oito grávidas que referiram uso de drogas ilícitas, duas foram positivas para o HbsAg (25% de positividade, RR de 9,21, com um p < 0.01).

CONCLUSÃO: A prevalência encontrada foi de 3,11% de positividade para o HbsAg, sendo que no grupo de gestantes usuárias de drogas, a associação foi, maior e estatisticamente significante.

•Descritores: Hepatite B, Pré Natal, Gravidez, Gestantes, Prevalência, Recife, Brasil

•Publicação/Apresentação: XVI Congresso Brasileiro de Hepatologia, Vitória, ES, Abril/2002; Gastrenterologia Endoscopia Digestiva, 20 (Supl): S72, Abril 2001


Contribuição ao Conhecimento


Características Reprodutivas de 103 Mães de Hemofílicos Atendidas no HEMOPE

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•Aurélio Molina, Paula Arruda, Rodrigo Cantarelli

•Mestrado em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas-UPE e Fundação HEMOPE


introdução: A Hemofilia é uma coagulopatia hereditária ligada ao X recessivo, que afeta somente os homens e, que causa hemorragias prolongadas dos tecidos moles profundos do organismo. Os pacientes podem ser classificados clinicamente como "severos" (frequentes e espontâneas hemartroses e hematomas intramusculares), "moderados" (sangram excessivamente com traumas mínimos ou moderados) e os "ligeiros" (sangram exageradamente só com traumas severos ou em cirurgias). Na Hemofilia A (Hemofilia Clássica) existe uma deficiência do fator VIII, levando a sangramentos espontâneos, particularmente hemoartroses. Na maioria dos casos, essa proteína está quantitativamente reduzida, mas em poucos casos ela está presente, em níveis normais, porém defeituosa. Já na Hemofilia B, também conhecida como doença de Christmas, cinco vezes menos frequente, o problema está na deficiência do fator IX sendo que a clínica é semelhante à Hemofilia A. Em ambas, os genes são transmitidos pelas mulheres da família, o que impõe uma maior atenção em termos de saúde reprodutiva e planejamento familiar para esta clientela.

Objetivo: Estudar o conhecimento relativo à Hemofilia em mães de Hemofílicos atendidas no HEMOPE e conhecer suas experiências com o uso de práticas e métodos anticoncepcionais (PMACs).

Sujeitos e método: O estudo foi do tipo descritivo, transversal, com uma amostragem de conveniência, no período de junho de 2000 a março de 2001, usando-se entrevistas estruturadas, detalhando variáveis sócio demográficas, conhecimento da hemofilia, da história reprodutiva e familiar para hemofilia, das experiências com métodos e práticas anticoncepcionais e da informa

ção contraceptiva. Entrevistamos 103 mães de hemofílicos.

resultados: A idade média era de 27,2 + ou _ 8,2 anos; 52,4% procediam da capital; 68% eram católicas; 66% tinham baixo nível de escolaridade (analfabetas e I grau incompleto) e 66% não tinham ocupação definida. Quanto ao conhecimento sobre a hemofilia 32% delas declaravam não saber a causa; 52.8% identificaram-na corretamente; 38,1% identificaram a forma correta de transmissão enquanto que 49,3% não sabiam informá-la. A chance de recorrência foi referida como grande ou média por 71.4% das entrevistadas. A história familiar era positiva em 49.5% das entrevistadas. Naquelas com história familiar negativa 84.6 % (44/52) tinham filhos hemofílicos únicos, 26 das quais já estavam laqueadas. A laqueadura tubária foi a forma de contracepção mais utilizada (58.3%).

interpretação: Nossos achados sugerem limitações culturais e de entendimento dessas mulheres, bem como trazem à tona o papel representado pelo medo da hemofilia em suas decisões reprodutivas, além da carência de informação contraceptiva adequada, contexto esse que recomenda um maior aconselhamento genético e reprodutivo individual e adaptado ao nível de compreensão, às características reprodutivas e à história familiar de cada paciente.

•Descritores: Hemofilia, Planejamento Familiar, Práticas e Métodos Anticoncepcionais, Hemope

•Publicação/Apresentação: V Jornada de Iniciação Científica: Cinqüentenário do CNPq, FACEPE-CNPq, Junho, 2001


Contribuição ao Conhecimento


Mulheres com Filhos Portadores de Anemia Falciforme: Uma Realidade Reprodutiva Desconhecida e a Necessidade de Aconselhamento Genético

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• Aurélio Molina, Paula S C Arruda, Florêncio G N

•Mestrado em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas-UPE e Fundação HEMOPE


introdução: A Anemia Falciforme é uma hemoglobinopatia que passa dos pais para os filhos, de herança recessiva, na qual as hemácias passam a ter uma forma de foice devido a uma instabilidade da hemoglobina mutante (HbS), e que leva à uma anemia hemolítica com numerosas consequências clínicas como icterícia, colelitíase, esplenomegalia e úlceras na parte inferior da tíbia. Episódios agudos de dor intensa, que podem durar dias ou horas, são explicados pela oclusão da microvasculatura dos órgãos e podem ser desencadeadas por infecção, desidratação ou hipóxia. Os casos mais graves de anemia podem levar à morte. Em verdade, a anemia falciforme tende a tornar-se uma doença crônica que atinge vários sistemas orgânicos levando à morte, por falência dos órgãos mais afetados. Estima-se que 4% da população brasileira é portadora de traço falcêmico e sua prevenção, em termos de saúde pública, é considerada um desafio.

Objetivo: Estudar o conhecimento relativo à Anemia Falciforme em mães de falcêmicos atendidos no HEMOPE e investigar seus conhecimentos e práticas contraceptivas.

sujeitos e método: Nosso estudo foi do tipo descritivo, transversal, com coleta de dados entre agosto de 2000 e março de 2001. Usamos perguntas estruturadas, com variáveis subdivididas em seis seções: sócio-demográficas, história familiar com a doença, práticas e uso de contracepção e informações contraceptivas. Entrevistamos, através de uma amostragem de conveniência, 93 mães de falcêmicos.

Resultados: Em sua maioria as participantes do estudo eram analfabetas ou tinham primeiro grau incompleto (63.5%). Trinta e duas das mães (33.5%) estavam em idade reprodutiva. Em 17 famílias havia

mais de um falcêmico na irmandade. Treze das mães mudaram de parceiro (13.5%), engravidando novamente em 12 casos (12.5%). A maioria das mães (52.1%) sabia o que era a anemia falciforme, porém 25% não sabiam como a doença surgia. A pílula, a camisinha e a laqueadura eram as formas de contracepção mais conhecidas. Cinqüenta das entrevistadas (52.1%) já eram laqueadas. Apenas 15 delas (15.6%) receberam informação contraceptiva por ocasião do diagnóstico do filho falcêmico.

interpretação: O baixo nível sócio-cultural pode influenciar no conhecimento relativo à doença. O risco de transmissão do gene da Anemia Falciforme não parece influenciar muito em suas práticas reprodutivas, pois existe a mudança do estado civil, de parceiro, mais de uma união, e novas gestações com afetados. Suas práticas contraceptivas revelam a opção preferencial por um método definitivo (laqueadura tubária). O Aconselhamento Genético e o Planejamento Familiar são claramente necessários.

•Descritores: Anemia Falciforme, Planejamento Familiar, Práticas e Métodos Anticoncepcionais

•Publicação/Apresentação: V Jornada de Iniciação Cientifica: Cinqüentenário do CNPq, FACEPE-CNPq, Junho, 2001


Contribuição ao Conhecimento


Fatores que Influenciam os Resultados do Tratamento não Medicamentoso das Mastalgias Cíclicas

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•Flavio Sivini, Aurélio Molina, Cícero FF Costa, Flávio Murilo P Sivini

•Departamento Materno-Infantil, Faculdade de Ciências Médicas(UPE)

Introdução: A dor é um sintoma subjetivo. Alguns autores a definem como um conceito abstrato que se refere a uma sensação pessoal ou lesão; um estímulo nocivo que anuncia lesão existente ou iminente; um padrão de respostas que funciona como proteção ao organismo de algum prejuízo. A mastalgia (dor mamária) é o sintoma mais comum em mulheres que freqüentam clínicas de mama, e a orientação verbal (tratamento não-medicamentoso onde a presença de doença significante é excluída e explicações sobre as causas da dor mamária são feitas) tem sido reconhecida, há longo tempo, como uma parte necessária no tratamento dessas mulheres, particularmente considerando que muitas delas têm um alto grau de ansiedade e "cancerofobia". Não encontramos na literatura pesquisada, se fatores como paridade, menarca, idade do primeiro parto a termo, amamentação e idade podem, de alguma maneira, interferir na resposta ao tratamento não-medicamentoso (orientação verbal) das mastalgias cíclicas.

Objetivo: Avaliar fatores que possam influenciar os resultados do tratamento não medicamentoso (orientação verbal) em mulheres com mastalgia cíclica.

Método: Conduzimos um estudo do tipo experimental, não controlado, com uma amostra de 128 mulheres com uma história clara de mastalgia cíclica, tratadas com orientação verbal. Uma escala analógica visual da dor foi usada antes e depois do tratamento, afim de avaliar a sua gravidade, e classificamos as mastalgias em graus I (leve), II (moderada) e III (intensa), de acordo com a intensidade da dor. Usamos também o Cardiff Breast Score (CBS) modificado para avaliar

a resposta clínica ao tratamento. A análise dos dados foi feita com o teste do qui-quadrado.

Resultados: Verificamos que fatores como paridade, menarca, idade do primeiro parto a termo e amamentação não influenciaram significativamente os resultados do tratamento não-medicamentoso (orientação verbal) (p=0,19; p=0,31 e p=0,54, respectivamente). Por outro lado, quando levamos em consideração a idade, observamos que 26 (78,8%) pacientes com 40 anos ou mais de idade foram beneficiadas com a orientação verbal, com diferença estatisticamente significante (p=0.01) quando comparadas aos grupos mais jovens.

Conclusão: Fatores reprodutivos como paridade, menarca, idade do primeiro parto a termo e amamentação parecem não influenciar os resultados do tratamento não medicamentoso (orientação verbal). O fator idade, especificamente, influenciou significativamente os resultados. Esses dados suportam a visão de que o tratamento não medicamentoso deve ser oferecido indiscriminadamente a todas as pacientes portadoras de mastalgias cíclicas, particularmente às mais idosas.

•Descritores: Mama, Doenças Benignas, Mastalgia, Orientação Verbal

•Publicação/Apresentação: Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. , v.23, n.8, p.499 - 504, 2001.


Contribuição ao Conhecimento


Breves Reflexões Acerca da Clonagem e

Reprodução Assistida

94


•Aurélio Molina

•Coordenação Geral de Pesquisas, Universidade de Pernambuco (UPE)

O debate em relação às questões filosóficas e científicas envolvidas com as técnicas de clonagem e reprodução assistida alcançou um novo patamar com o anúncio feito em 25/11/2001 por pesquisadores da companhia ACT, relatando o sucesso da criação do primeiro clone humano, no caso, um de apenas seis células. Nesse debate um dos pontos mais polêmicos é a persistente controvérsia em relação ao início da vida humana. Começa no momento da fecundação, diriam alguns. Com 6 ou mais células, podem afirmar outros. Quando o ovo se implanta no útero, na altura do sétimo dia, afirmam segmentos da sociedade. Na oitava semana, quando o feto já tem uma aparência humana, muitos assim entendem. Enfim, quem possui a resposta? Quem é o dono desta verdade? Se diversos setores da sociedade têm suas respostas e se, individualmente, todos temos nossas visões, a Ciência ainda não se atreveu a responder, nem subsidia, no momento, evidências para se afirmar que um conjunto de algumas células tem os mesmos direitos morais e legais que um feto acima de 12 semanas ou de um recém-nato. Particularmente, partilhamos que a dignidade da vida humana deveria ser um valor superior, inquestionável e inegociável, para toda a humanidade. Entretanto, essa crença não responde aos questionamentos anteriores, nem a outras dúvidas, como os possíveis e potenciais benefícios que tal técnica pode trazer para a própria dignidade da vida humana. Do ponto de vista ético e bioético, chamaria à atenção apenas para que se a Ética é, em nosso ponto de vista, dialética e, portanto, mutável, a Bioética também não tem respostas prontas e paradigmáticas e está muito mais relacionada com uma atitude e prática em busca de soluções para dilemas, como a clonização humana e a utilização de células tronco embrionárias, do que para a criação de modelos e padrões. Além disso, a Bioética tem profunda sintonia com o respeito à autodeterminação, ao livre arbítrio e à autonomia. Portanto, somos de parecer que nenhuma atitude coercitiva, proibitiva e punitiva, deva ser tomada em relação à clonagem e às técnicas de reprodução assistida, antes de um amplo debate envolvendo toda a sociedade. O potencial de beneficência dessas técnicas, incluindo a manipulação de células tronco

para o desenvolvimento de órgãos ou tecidos para auto-transplantes, substituição, ou cura de doenças crônico degenerativas, pode, teoricamente, ser a aurora de uma nova era da medicina, da assistência à saúde e quem sabe da própria humanidade. É claro que o impacto de maleficência deve ser pesado e bem avaliado, como, por exemplo, o de eugenia, o do risco de monstruosidades e da vulgarização do genoma humano. Como em toda técnica nova, existirá uma curva de aprendizado, durante a qual várias situações e cenários inesperados irão acontecer, sem que se possa predizer suas conseqüências. Por outro lado, vale a pena lembrar que nenhuma tecnologia criada na história da civilização deixou de ser utilizada, desde que minimamente eficiente e desde que existam interesses políticos, militares e econômicos envolvidos. Atitudes autoritárias intempestivas em relação ao uso da clonagem, da engenharia genética e da pesquisa com células tronco, além do fato de poderem ser inócuas, poderiam criar uma enorme dificuldade para um possível controle social sobre as mesmas. Portanto, até por estarmos vivendo em escala mundial um momento obscurantista e fortemente retrógrado em termos de liberdades individuais, de expressão e do direito internacional, tais posturas emocionais e impositivas deveriam ser rechaçadas por todos os profissionais de saúde e por toda a comunidade científica, independente de nossas convicções morais, filosóficas e/ou religiosas, pois devemos ter nossas mentes abertas, críticas, reflexivas, expressão de livres pensadores que somos. Devemos ser sempre compromissados com avanços científicos e tecnológicos que, após terem seus custos, riscos e benefícios avaliados ética e bioeticamente, possam colaborar na construção de uma sociedade mais saudável, mais justa, fraterna, livre e feliz. Finalizando, reafirmamos que em nossa compreensão só há um caminho na estrada que leva ao futuro da clonagem e da pesquisa com células tronco: o debate com os espíritos desarmados e o coração e mentes abertas, onde a tolerância para com o diferente e o contraditório seja marcante e onde haja, principalmente, equilíbrio e sabedoria, atitudes e práticas essas que são coerentes com a epistemologia que embasa a Bioética.

•Descritores: Clonagem, Ética, Bioética, Reprodução Assistida, Células Tronco

•Publicação/Apresentação: Jornal do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, p.5, 2001.


Contribuição ao Conhecimento


Por Que se Tornar um Intelectual Humanista?

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• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da UPE


INTRODUÇÃO: Neste texto, através de um ensaio opinativo, o autor tenta encontrar resposta para o questionamento de se na área da saúde, no contexto da dita sociedade pós-moderna, ainda é pertinente e necessária a figura de um intelectual humanista. Ele apresenta uma série de razões, "travestidas" em porquês e reflexões, muitas baseadas em aforismos e adágios de várias fontes, na tentativa de embasar uma resposta afirmativa para tal indagação.

APRESENTAÇÃO das razões e dos porquês: 1) a Dialética, com seus quatro pilares nos ensina que tudo influencia tudo, tudo se relaciona e interage com tudo; tudo muda; o enfrentamento, a oposição, o contraditório e a ação são necessários para que ocorram mudanças; tudo evolui, isto é, depois de um acúmulo quantitativo existe um salto qualitativo; 2) o atual Paradigma Científico (Quântico-relativista, Holístico), advoga a inter-relação de todos os Saberes e Conhecimentos; 3) a definição de saúde da Organização Mundial de Saúde, alerta para a interação dos aspectos físicos, emocionais, sociais, existenciais e espirituais na gênese do bem-estar dos indivíduos; 4) para ajudar os pacientes através da chamada "terapia existencial", pois como afirma Goeth "quem de três milênios (de saber e conhecimento), não é capaz de se dar conta, vive na ignorância, na sombra, à mercê dos dias, do tempo"; 5) para se ter um entendimento mais profundo de nossos doentes e ajudá-los a ampliar seu auto-conhecimento e suas potencialidades, pois como diz Fernando Pessoa "eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho de minha altura" ou Rousseau que afirma que "o mais útil e menos avançado de todos os conhecimentos dos homens é o conhecimento do homem"; 6) para otimizar nosso potencial como profissional de saúde, pois defendemos a idéia que "as virtudes, esses potenciais humanos ou espirituais para a prática do bem, só se tornarão realidades vivenciáveis se, além da vontade, houver educação e cultura"; 7) para, através de novos conhecimentos e informações, nos transformarmos e evoluirmos como seres humanos, como nos ensinou Darcy Ribeiro quando disse que "sempre há o que se apren

der vivendo e, sobretudo, trabalhando. Mas só aprende quem se dispõe a rever suas certezas" lembrando sempre que "em um debate de idéias três coisas podem acontecer: ou você solidifica a sua visão, ou você aperfeiçoa-a ou você modifica-a totalmente, pois através das diferenças evolui-se"; 8) para poder se sentir (e ser) parte "da solução" e não "do problema" pois como postulava Rabelais "a ignorância é a mãe de todos os males"; 9) para poder diagnosticar, tratar e ajudar, pensando melhor, como nos lembra Epictetus através de sua máxima "as aparências para a mente são de quatro tipos: as coisas ou são o que parecem ser; ou não são, e nem parecem ser; ou são, e não parecem ser; ou não são, mesmo assim parecem ser.Identificar corretamente todos estes casos é a tarefa do homem sábio"; 10) para poder agir independentemente e livre das poderosas influências e interesses negativos que estão envolvidos com a atenção à saúde, isto é, pensar com a sua cabeça, caminhar com os seus pés e construir com as suas mãos ou, em outras palavras, ser autônomo na sua caminhada existencial e profissional pois como disse Gautama, o Buda, "somos o que pensamos.Tudo o que somos surge com nossos pensamentos.Com os nossos pensamentos fazemos o mundo" e Confúcio "um grande homem é um homem livre", além de Spinoza "ser o que somos e vir a ser o que somos capazes de ser, é o único objetivo da vida."; 11) para ter o "poder de transformar para melhorar " como defende Francis Bacon quando afirma que "saber é Poder" e Freud que disse que "só o conhecimento traz poder" mas, principalmente, para ser consciente, como Alvin Toffler nos avisa, que " O controle do conhecimento é o ponto crucial da futura luta de âmbito mundial pelo poder em todas as instituições humanas"; 12) para tornar-se um agente de mudanças positivas pois como disse Churchil "quanto mais para trás podes olhar, mais para adiante podes ver"; 13) para ter o prazer e a felicidade existencial de fazer parte "do bom, do belo e do verdadeiro", tendo como paradigma os dizeres de Nietzche "uma geração só será feliz se fizer a próxima geração mais feliz do que ela própria", ou Aristóteles que afirma que "existem três formas de felicidade: a primeira é uma vida de prazeres e de satisfações; a

Contribuição ao Conhecimento


segunda é uma vida de cidadão livre e responsável; a terceira é viver a vida como pesquisador e filósofo" e Ghandi, em sua máxima, "a arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte".

conclusão: O autor conclui defendendo a visão de que não só é importante, por todas as citações e reflexões apresentadas, mas é fundamental, para exercício do seu mister, que o profissional de saúde seja um intelectual humanista, indicando a necessidade de uma formação ampla, integral e holística, e não apenas técnica, para tais profissionais.


Descritores: Humanismo, Razões, Intelectual, Saúde, Ciência, Reflexões

Publicação/Apresentação: IV Congresso de Estudantes da UPE (CONEUPE), Garanhuns, Maio de 2001


Qualidade Atribuída à Assistência Humanizada Prestada ao Parto por Usuárias em uma Maternidade-Escola do Recife: Estudo Comparativo 2000-2002

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•Arabela Antônia Nery de Melo Costa, Aurélio Molina da Costa, Nathália Cristiane da C. Souza, Raissa C.Queiroz

•Faculdade de Enfermagem (FENSG) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM), UPE


introdução: A atenção adequada à mulher no momento do parto representa um passo indispensável para garantir que ela possa exercer a maternidade com segurança e bem-estar. Este é um direito fundamental de toda mulher e faz parte do conceito de Saúde Reprodutiva da Organização Mundial de Saúde (OMS). A equipe de saúde deve estar preparada para acolher a grávida, seu companheiro e família, respeitando todos os significados desse momento. Isso deve facilitar a criação de um vínculo mais profundo com a gestante, transmitindo-lhe confiança e tranquilidade (Ministério da Saúde, 2001). O Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, instituído pelo Ministério da Saúde em junho de 2000, estabelece os princípios da atenção que deve ser prestada para uma assistência humanizada e de boa qualidade. A Universidade de Pernambuco, através da sua Faculdade de Enfermagem, em parceria com o Ministério da Saúde e Secretaria Estadual de Saúde, estão implantando um "Novo Modelo de Assistência à Saúde da Mulher em Pernambuco". Iniciamos este processo na maternidade-escola da UPE, em 2000, implantando o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN).

OBjetivos: Este estudo, realizado em 2002, tem o objetivo de avaliar o grau de satisfação da clientela usuária da Maternidade Monteiro de Morais (Maternidade da Encruzilhada) sobre a assistência ao parto, após a implantação do PHPN, e comparar estes resultados com os da pesquisa realizada antes da implantação deste Programa em 2000.

sujeitos e método: Trata-se de dois estudos com abordagem quanti-qualitativa: um transversal, de natureza descritiva, outro comparativo. A amostragem de conveniência foi constituída por 100 puérperas atendidas nesta maternidade que se encontravam de alta hospitalar.

resultados: Não houve diferenças estatisticamente significantes quanto ao bom atendimento ter sido o motivo de escolha da maternidade (40% em 2000 X 36% em 2002). Entretanto 16% em 2002 informaram que "poder ficar com um acompanhante durante a expectação e o pai poder assistir ao parto" foi o principal motivo da escolha (nenhuma citação em 2000). Um percentual menor se sentiu apoiada na expectação (83% X 92%) apesar de haver maior informação em relação à dilatação (82% X76%), à alimentação (58% X 41%; p=0,05), à dor (63% X 31%; p<0,01) e perda de líquidos (54% X 27%; P<0,01). Diminuiu o número de mulheres que acharam que os toques foram demasiados (27% X 19%) mantendo-se igual o percentual informado sobre os mesmos (79% X 80%) e também quanto ao pronto atendimento quando de uma solicitação de ajuda (81% X 82%). Em relação à apresentação do RN imediatamente após o parto houve um positivo aumento (58% X 29%; p<0,01). Infelizmente, aumentou o percentual daquelas que reclamaram de atitudes grosseiras no pré-parto (7% X 4%) assim como sobre sentimentos de maus tratos (8% X 4%), aborrecimentos durante o período de internamento (7% X 0%) e sobre a observação de atos e atitudes equivocadas durante o pré-parto e o parto (10% X 4%). Apesar desses achados, houve um aumento do sentimento de um bom acolhimento no pré-parto (91% X 88%), na confortabilidade do local do parto (88% X 83%) e de satisfação quanto à assistência ao parto (78% X 75%).

Interpretação: Apesar de melhoras e pioras pontuais houve uma melhora geral na satisfação da clientela, apesar de não ser estatisticamente significante com exceção da presença do acompanhante e do pai no pré-parto e no parto. A aparente contradição de alguns dos nossos achados sugere que as falhas apontadas podem ser resultado de um aumento da conscientização dos usuários quanto aos seus direitos à uma assistência de qualidade no SUS.

•Descritores: Qualidade, Parto, Assistência, Estudo Comparativo, Humanização.

•Publicação/Apresentação: V Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal, Salvador, Bahia, 2002.


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A Importância da Erudição e da Formação Intelectual para o Profissional de Saúde

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•Aurélio Molina

•Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)


introdução: Por definição o intelectual seria a pessoa que possui dote/gosto/inclinação pelas coisas do espírito e da inteligência ou, ainda, um indivíduo dado a estudos literário-científicos. Já um erudito, apesar de alguns o considerarem como sendo sinônimo de intelectual, seria aquele que possui instrução vasta e variada, adquirida, sobretudo, pela leitura. Ambos, porém, seriam diferentes de um sábio, ser humano não apenas de profundos conhecimentos em muitas matérias, mas, também, judicioso, prudente, moderado, temperado, sensato, discreto e, principalmente, utilizador de seus conhecimentos para o bem-comum e a evolução da humanidade.

objetivo: Este artigo discute a importância da erudição e da formação intelectual para o profissional de saúde (médicos, assistentes sociais, biólogos, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais).

Discussão: Em consonância com o atual paradigma científico também conhecido como paradigma quântico-relativista, paradigma holístico, paradigma da complexidade e da multifatoriedade, para se lidar com o binômio saúde-doença ou qualquer dimensão do conceito de saúde, ou com qualquer abordagem sobre aquilo que se denomina "qualidade de vida", ou com qualquer aspecto da chamada Biosfera, é condição "sine qua non" ter conhecimento, clareza e discernimento sobre cada uma das inúmeras variáveis, fatores e dimensões envolvidas com aquele par dialético ou com o fenômeno Vida. No caso das enfermidades com as quais alguns desses profissionais lidam em seu mister, as mesmas só poderão ser diagnosticadas, tratadas e, algumas vezes, curadas, se esses profissionais estiverem bem preparados para lidar com os aspectos físicos, emocionais, sociais e existenciais dos seres humanos que,

momentaneamente, tornaram-se seus pacientes e necessitam de cuidados. Os desafios ecológicos, os perigos para Gaia e para o bem-estar, equilíbrio e sustentabilidade da vida planetária, incluindo aqui a própria humanidade, só poderão ser propriamente avaliados, enfrentados e vencidos com uma formação tão eclética e ampla quanto a natureza multifatorial da problemática. Nessa tão necessária construção intelectual deve-se ter cuidado para que, com a deformação acadêmica que hoje domina boa parte das Instituições de Ensino Superior, os profissionais de saúde não sejam vítimas do que Montaigne apontou como Ignorância Doutoral ("a ignorância iletrada precede o conhecimento e a ignorância doutoral o sucede") ou da "arrogância pseudo-intelectual", que como defendemos nós, é uma característica dos ignorantes e principalmente dos semi-eruditos, que grassa nos meios acadêmicos. A visão Socrática de que "só sei que nada sei" deve ser paradigmática na formação intelectual dos profissionais de saúde, estimulando-os a uma constante e infindável formação erudita e intelectual.

considerações finais: É preciso estimular a formação de um profissional de saúde de perfil céptico, crítico, curioso, construtivo, criativo, competente e capaz, confiante, corajoso, compromissado e coerente (Regra dos 10 Cs); Um profissional que ao lidar com a produção, aplicação e divulgação do conhecimento, saiba que as "verdades" que constituem o conhecimento científico são provisórias. Em verdade, em nossa opinião, o profissional de saúde deve ser, na sua prática diária, de uma sabedoria "salomônica", entendendo Sabedoria como sendo o conhecimento justo das coisas e, principalmente, sua utilização/aplicação para o desenvolvimento e evolução do ser humano, visando à construção de uma sociedade justa, fraterna, livre e feliz, num meio ambiente equilibrado e sustentável, tendo a sentença de Rubem Alves "conhecimento que não decifra a vida

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e não ilumina o mundo não é conhecimento. É enganação!" outro importante paradigma profissional.


Descritores: Estudantes, Profissionais de Saúde, Educação, Erudição, Formação

Publicação/Apresentação: II Congresso de Estudantes da UPE (CONEUPE), Petrolina, Agosto de 2002


Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento: Avaliação da Implantação a Partir da Opinião dos Profissionais Prestadores da Assistência em uma Maternidade-Escola Recife-PE.

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•Arabela A N Melo Costa, Aurélio Molina, Danielle V Souto, Gilmara V Albuquerque

•Faculdade de Enfermagem (FENSG) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM), UPE

introdução: O conceito de atenção humanizada é amplo e envolve um conjunto de conhecimentos, práticas e atitudes que visam à promoção do parto e do nascimento saudáveis, e à prevenção da morbi-mortalidade materna e perinatal. Inicia-se no pré-natal e procura garantir que a equipe de saúde realize procedimentos comprovadamente benéficos para a mulher e o bebê, evitando as intervenções desnecessárias e preservando a privacidade e autonomia da parturiente (Ministério da Saúde, 2001). O Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, instituído pelo Ministério da Saúde em junho de 2000, estabelece os princípios da atenção que deve ser prestada para uma assistência humanizada e de boa qualidade. A UPE, através de sua Faculdade de Enfermagem, participou do processo de implantação do Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) na nossa maternidade escola (Maternidade da Encruzilhada - CISAM). Durante este processo percebemos que alguns profissionais encontravam dificuldades para participar deste processo de mudanças.

objetivos: Realizar um estudo para avaliar a implantação do PHPN a partir da opinião da equipe multiprofissional que presta esta assistência.

sujeitos e método: Trata-se de um estudo descritivo quanti-qualitativo de corte transversal, utilizando dois tipos de amostragem de conveniência. Uma geral, com a equipe multiprofissional de saúde, que trabalha direta ou indiretamente com parto e nascimento. Já a outra amostragem foi mais específica, selecionando-se as duas categorias de profissionais que assistem diretamente o parto: a enfermeira e o médico.

Constatamos na primeira amostragem que: 57,6% referiram não conhecer o PHPN; 54,6% informaram que com a implantação do PHPN melhorou a assistência; 87,9% informaram prestar assistência humanizada ao parto e 81,8% considera esta assistência melhor para a mulher. Na amostragem com enfermeiras e médicos os resultados foram os seguintes: 63,7% informaram permitir que a parturiente escolhesse a posição do parto; 28,5% afirmaram que as parturientes continuam escolhendo a posição litotômica; 36,4% referiram utilizar o partograma; 81,2% considera importante e necessário a presença do acompanhante; 31,8% acompanha todo o trabalho de parto dos partos que realizam.

interpretação: Consideramos que a maioria dos profissionais está envolvida (consciente ou não) no processo de implantação do PHPN e perceberam uma melhoria da assistência após o início do programa. Esses achados, associados às informações colhidas das usuárias em outra pesquisa (Costa, A. M., Molina A., et al, 2002), reforçam a idéia de um aparente sucesso do PHPN, apesar de todas as dificuldades e necessidades de melhoras.

•Descritores: Qualidade, Parto, Assistência, Estudo Comparativo, Humanização

•Publicação/Apresentação: V Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal, Salvador, Bahia, 2002.


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Atitudes e Práticas Necessárias para se Tornar um Aprendiz de Intelectual Humanista

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• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da UPE


introdução: Através de um ensaio opinativo, utilizando máximas ou aforismos ilustrativos de diversos pensadores, o autor apresenta quinze atitudes e práticas que podem ajudar a formação intelectual dos profissionais de saúde.

Apresentação: 1) ser consciente da sua ignorância, na linha do "só sei que nada sei" de Sócrates, do "o que eu sei?" de Montaigne, do "ainda não sabemos o suficiente, eis a máxima, de bom senso, que deve orientar o pesquisador que já atingiu sua maturidade científica", do próprio autor ou ainda do "conhecimento real e saber a extensão da própria ignorância" de Confúncio; 2) ser humilde, atitude essa advinda da consciência da sua ignorância, pois como nos diz Bertrand Russel "o grande problema do mundo é que os bobos e os fanáticos estão sempre absolutamente convictos de suas posições, enquanto os sábios estão cheios de dúvidas" lembrando que "a arrogância é uma característica dos ignorantes e principalmente dos semi-eruditos e que "uma mente aberta, sem padrões, dogmas e pré-conceitos, ajuda o raciocínio científico"; 3) ler tudo sobre tudo, em concordância com Che Guevara que afirmou "trata-se, simplesmente, de uma obrigação revolucionária: estudar! Temos que estudar e estudar fortemente. É preciso estudar tudo, tudo, sem nenhuma apelação, lembrem-se bem"; 4) aprender o tempo todo e a toda hora, indefinidamente, pois como afirma Brian Weiss "este planeta é uma enorme escola e nossa tarefa é aprender e crescer", estando "sempre atento para receber experiências novas"(Che Guevara); 5) aprender com todos (amigos, companheiros, colegas e, até mesmo com os adversários) e com tudo, na linha do "abençoados sejam todos aqueles que, ao causarem dificuldades em minha senda, me tornam mais forte e sábio"; 6) ter como objetivo de vida se tornar um ser humano útil à humanidade através da formação intelectual, pois "o homem mediante a educação se supera"(Che Guevara); 7) buscar a verdade e praticar a verdade pois como afirma Paulo Freire "o direito de criticar e o dever, ao criticar, de não

faltar à verdade para apoiar nossa crítica é um imperativo ético da mais alta importância no processo de aprendizagem de nossa democracia", 8) organizar coerentemente com seus ideais, seu dia-dia para poder atingir seus objetivos, pois "se eu vendesse à sociedade minhas manhãs e minhas tardes, como a maioria parece fazer, estou certo de que não me restaria por que valesse a pena viver" (Henry David Thoureau); 9) reservar tempo para atingir os seus objetivos (tempo para ler, refletir e vivenciar) lutando, como nos incentiva Bertrand Russel, para diminuir a jornada de trabalho diária (que hoje, para muitos de nós, chega a 16-18hs); 10) freqüentar e ou criar espaços para reflexões e discussões conjuntas (livrarias, tertúlias, cursos, cinemas cult, encontros, grupos de estudos, etc) lembrando que "os que aspiram à erudição e à intelectualidade discutem idéias; os ignorantes discutem pessoas"; 11) praticar a tolerância intelectual pois como nos ensina Ilia Prigogine "o choque de idéias não é um desastre. é uma oportunidade para ser aproveitada" esforçando-nos para que a discussão seja menos erística e ardilosa e sim, mais meditativa e contemplativa na procura da verdade; 12) ter a clareza que a sua verdade não é a Verdade (ela é parte do todo) pois "em todo ser vivo, aquilo que designamos como partes constituintes forma um todo inseparável, que só pode ser estruturado em conjunto, pois a parte não permite reconhecer o todo, nem o conjunto deve ser reconhecido nas partes" como afirmou Goethe. 13) ter a clareza que mais importante do que ler toda a obra de um só autor, é conhecer o cerne das obras do maior número de autores possíveis e para isso as "enciclopédias e os dicionários temáticos são dois dos melhores amigos da humanidade"; 14) refletir e valorizar pequenas máximas que são, muitas vezes, "pérolas de sabedoria, popular ou não", frutos da experiência cotidiana, individual ou coletiva, de quem vivenciou determinadas verdades, como bem nos lembra Goethe quando afirma que "uma coleção de anedotas e máximas é o maior tesouro para o homem experiente, se ele souber entremear as primeiras em lugares conveni

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entes na conversação e lembrar das segundas no momento oportuno ou, nas palavras de Winston Churchil "as citações, quando gravadas em nossa memória, trazem bons pensamentos. Dão-nos vontade de ler os autores e conhecê-los melhor"; 15) sempre dar o seu enfoque e a sua interpretação sobre aquilo que você leu, construindo seu conhecimento e dando a sua contribuição "não tendo medo de ser excêntrico nas suas opiniões, pois todas as opiniões aceitas hoje foram excêntricas um dia" como bem disse Bertrand Russel.

Comentários Finais: O autor ressalta que a construção intelectual não é linear nem as sugestões aqui apresentadas são a única ou melhor abordagem nessa importante edificação do espírito humano. São apenas contribuições na linha de Paulo Freire que afirmava que "o intelectual não é aquele que lê livros e sim aquele a quem uma idéia compromete sua vida". Finalizando lembra, particularmente aos profissionais de saúde, o adágio popular usado no meio médico que diz que "aquele que só sabe medicina, nem medicina sabe".


Descritores: Humanismo, Intelectual, Profissional de Saúde, Formação, Médicos

Publicação/Apresentação: IV Congresso de Estudantes da UPE (CONEUPE), Petrolina, Agosto de 2002


Características Clínicas e Psicológicas em Mulheres Portadoras de Mastalgia Cíclica Tratadas com os Ácidos Gamalinolênico e Linolênico

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•Ana Leide dos Santos, Aurélio Molina, Antonio Simão Figueira Filho, Rossano Araújo

•Mestrado de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas e Hospital Universitário Oswaldo Cruz, UPE


introdução: Mastalgia é o sintoma que mais leva as mulheres a procurarem os mastologistas. Em concordância com o atual paradigma científico (multifatoriedade e interrelação), na dor mamária estão envolvidos vários determinantes, principalmente os físicos e os psicológicos. Para um correto tratamento, deve-se procurar quais fatores são os mais importantes para uma determinada mastalgia, e o seu tratamento deve sempre levar em conta os riscos, benefícios e o custo, devendo sempre ser iniciado com a orientação verbal, acompanhada ou não de intervenção medicamentosa. Essa abordagem deve ser a mesma para qualquer tipo de tratamento, inclusive quando se opta pela utilização dos Ácidos Graxos Essenciais, como o Gamalinolênico e o Linolênico, valendo a pena frisar que os aspectos emocionais e comportamentais podem influenciar tanto a mastalgia quanto o tratamento. A chamada "Escola Britânica de Mastologia de Cardiff", assim como alguns autores no Brasil, preconizam como primeira linha o óleo de Prímula ou os compostos de ácidos graxos essenciais poliinsaturados para o tratamento da mastalgia cíclica. Nos Estados Unidos, o óleo de Prímula é disponível como suplemento nutricional e não tem sido bem avaliado. O ácido gama-linolênico é encontrado no leite humano, groselha negra, aveia e cevada, enquanto o linoléico está presente em alimentos como óleo de girassol, açafrão, milho, soja, sementes de prímula, amendoin e germe de trigo.

Objetivo: Avaliar a resposta da mastalgia cíclica, moderada à severa, com a terapêutica com ácidos gamalinolêico e linoleico (AGEs).

sujeitos e método: Foi realizado um estudo do tipo ensaio clínico não aleatório, envolvendo 30 pacientes atendidas no Ambulatório de Mastologia do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no período de fevereiro de 2001 a julho de 2002. As pacientes rece

beram orientação verbal e iniciaram tratamento com AGEs por três meses. Os graus de resposta terapêutica do Cardiff Breast Score foram determinados através da avaliação da dor mamária pela escala analógica visual (EVA).

resultados: Ao final do tratamento, 22 (73,3%) pacientes foram responsivas e oito (26,7%) não responsivas. As mulheres com "idade > 29 anos", "tempo de mastalgia < 5 anos", "menarca < 13 anos", "idade ao primeiro parto > 22 anos", "tempo de lactação = 6 meses", e que referiram "não ser aquela a primeira consulta ao mastologista", que "não eram nulíparas" e que relatavam "irritação, depressão ou estresse devido à mastalgia", mais freqüentemente tiveram redução completa ou parcial da mastalgia, embora sem associação estatisticamente significante com a resposta terapêutica.

Interpretação: Nossos resultados sugerem fortemente que o composto de AGEs pareceu ser efetivo na dor mamária cíclica, constituindo-se numa boa opção como droga de primeira linha, sendo que os fatores clínicos e psicológicos pareceram influenciar a resposta terapêutica

•Descritores: Mastalgia, Cíclica, Ácidos Graxos, Terapêutica, Fatores Emocionais, Tratamento

•Publicação/Apresentação: Revista Brasileira de Mastologia, vol 13, 1:37-44, 2003


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Construindo o Pai Grávido

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•Aurélio Molina

•Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)


INTRODUÇÃO: Através de uma abordagem pessoal e original, baseada na experiência profissional e existencial do autor, são apresentados princípios e reflexões visando à construção daquilo que poderíamos chamar de "pai grávido".

OPERACIONALIZAÇÃO: Na construção do "pai grávido" ou "pai gestante", via "pré-natal emocional", oito etapas se fazem necessárias. A primeira é a conscientização do casal sobre o que o autor denomina de "Os Dez Princípios Básicos de um Pré Natal Emocional", a saber: 1º) Somos todos diferentes, principalmente homens e mulheres; 2o) Direitos iguais e odes às diferenças de gênero; 3o) A gestação, o parto e o puerpério são fenômenos normais, fisiológicos, naturais, mas estão longe, muito longe da perfeição e, portanto, são merecedores de cuidados e atenções especiais; 4o) A gravidez também é uma crise física, emocional, social e existencial; 5o) As crises fazem parte da vida e servem para as pessoas crescerem, portanto devemos aprender a fazer do limão azedo uma limonada; 6o) Ter um filho é uma viagem sem roteiros, rumo ao infinito, acompanhados de um produto sem manual de instruções, para a qual nunca estaremos totalmente preparados, mas quanto mais, prazerosamente, nos prepararmos para ele maior a chance de colhermos deliciosos frutos; 7o) A sociedade pós-moderna em que vivemos está muito doente e tenta nos convecer que optar por ter, e criar um filho é um pesadelo, e não uma das mais ricas e belas experiências existenciais. Filhos são nossos melhores mestres, pois ampliam nossas qualidades, apontam nossos defeitos e nos permitem experenciar o mais bonito, incondicional e desinteressado amor; 8o) É possível fazer do ciclo grávido-puerperal uma experiência de vida rica, que gere amadurecimento, harmonia e felicidade; 9o) É necessário que os profissionais tenham o compromisso de também "ajudar" o companheiro de nossa paciente a se tornar um futuro pai; 10º) O pré-natal emocional é tão importante quanto o pré-natal físico. A segunda etapa da contrução do "Pai grávido"é ver o futuro pai como um ser que também me

rece uma atenção bio-psíquico-social e espiritual, e não apenas o marido de nossa gestante. A terceira é ajudar a repactuar a decisão de ter filhos, sempre algo decidido a dois, com onus e bonus para ambos sempre ressaltando que o bonus é muito superior ao onus. A quarta etapa deve ser prepará-lo e alertá-lo acerca das modificações emocionais que irão ocorrer em sua companheira, durante todo o ciclo grávido-puerperal, e que podem ser agrupados em 7 importantes períodos: as modificações do primeiro trimestre; as do segundo trimestre; as do terceiro trimestre; as da hora do parto; as do pós parto imediato (1o ao 10o dia); as do pós parto tardio (do 10o ao 45o dia) e, finalmente as do pós parto remoto, que vão além do 45º dia . O quinto passo, na construção do "pai gestante", se faz incentivando-o a ler muito durante toda a gestação, principalmente livros não técnicos. O sexto passo refere-se a um incentivo para que o futuro pai tenha o maior, o mais intenso e o mais precoce contacto possível (de preferência durante a gestação) com o novo ser. O sétimo passo se refere à ajuda que devemos dar para que ele construa um relacionamento maduro com a sua companheira, baseado na amizade, solidariedade e cumplicidade. Finalmente, o último passo na construção do "pai grávido" deve ser o de ajudá-lo a refletir sobre o sentido da vida e da paternidade, reflexão essa que, em verdade, é a primeira, e a principal, que embasa toda a Filosofia (quem somos?; de onde viemos?; para onde vamos? e qual o nosso papel nessa vida?), tipo de ajuda essa que, mais recentemente, vem sendo chamada de "terapia existencial".

CONCLUSÃO: Devemos ajudar a construir um "pai grávido" que entenda a gestação (desde os seus primórdios), o parto e o puerpério, apesar de todos os seus (e nossos) medos, inseguranças, defeitos, limitações e contradições, como uma das mais belas e prazerosas oportunidades de crescimento e felicidade pessoal e, também, a de uma real chance de contribuir para que o mundo se torne mais justo, fraterno, saudável, livre e feliz.


Descritores: Paternidade, Gestação, Gravidez, Pai Grávido, Pai Gestante, Pré Natal Emocional

Publicação/Apresentação: IX Encontro de Mulheres Empresárias, Executivas e Donas de Casa (Encomex), Clube Internacional do Recife, Agosto, 2003

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Humanização da Assitência à Saúde. Bases Teórico-Filosóficas e Sugestões Pragmáticas

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•Aurélio Molina

•Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)

introdução: O Humanismo, em todas as suas dimensões e versões, sempre foi a tônica da assistência à saúde. Infelizmente, por diversos motivos, essa fundamental característica da "arte do cuidar" do bem-estar e da qualidade de vida da população e de nossos pacientes foi desaparecendo.

objetivo: Este breve texto, numa abordagem sucinta, mas abrangente, discorre sobre vários aspectos teóricos e pragmáticos a fim de subsidiar a tentativa de "resgate da humanização" que vem ocorrendo no sistema de saúde.

apresentação: concluindo que: 1) O Humanismo expressa uma atitude ou doutrina etnocêntrica (onde o Homem está no centro de tudo) e há uma centralidade da espécie humana na natureza, independente se essa concepção e convicção é baseada em preceitos científicos, filosóficos, antropológicos, sociais, mitológicos ou religiosos. É uma crença no Homem, em seu valor, valor esse que é algo infinitamente grandioso, e na sua capacidade de progredir e construir uma sociedade melhor. Os seres humanos devem ser educados para se tornarem melhor "humanos seres", em consonância com a máxima do Humanismo Iluminista de que "os cavalos nascem, os homens se formam"; 2) O Humanismo não pode ser confundido com "educação doméstica", muito menos reduzido a ela, apesar de a mesma ser muito importante para a otimização da relação profissional-paciente e, portanto, da qualidade da assistência; 3) Existem comportamentos e atitudes humanizadoras e humanizantes que otimizam a assistência e, portanto, devem ser observados, tais como solidariedade, paciência, tolerância, disponibilidade, compreensão, apoio, e generosidade; 4) A relação profissional-paciente deve ser vista como uma oportunidade não só propedêutica e terapêutica, mas também de interação, troca, crescimento, prazer e felici

dade para ambos; 5) A relação profissional-paciente deve ser de amizade, cumplicidade e confiança, e nenhum outro objetivo ou fim deve alterá-la ou prejudicá-la, principalmente os interesses financeiros e comerciais; 6) A Universidade não pode ser só informativa porque "instruir sem dar formação é uma tragédia". Portanto, é tarefa primordial, para os ativistas e militantes do humanismo, transformar a Universidade . 7)A transformação dos currículos, com a inclusão e valorização de "eixos humanísticos", pode e deve ser considerada como um primeiro e importantíssimo passo, não se podendo compactuar com a "construção" de profissionais tecnicamente bem preparados, mas humanamente desqualificados; 8) O profissional de saúde deve ser consciente da importância do poder intrínseco da relação com o paciente, assim como do "Teatro Terapêutico", do efeito placebo e da tríade "Informação, Apoio, e Carinho"que possui, em muitos casos, tanta (ou mais) eficiência quanto as mais altas tecnologias; 9) Trabalhar pela humanização significa lutar por mudanças de atitudes e culturas, fortalecendo os ideais humanísticos quer pessoais quer coletivos e institucionais; 10) É preciso mudar o sistema como um todo, para que o mesmo permita (e valorize) que a experiência existencial humana seja vivida plenamente e da maneira mais digna possível.

conclusão: A humanização da assistência à saúde, não pode ser separada do Humanismo, que inclui aspectos teóricos e filosóficos, mas dialeticamente requer também uma clara militância e ativismo, para que, através de nossos sonhos e de um labor diário pragmático, construamos um mundo mais fraterno, mais justo, mais feliz, mais saudável e portanto, mais plenamente humano, num meio ambiente equilibrado e sustentável.


•Descritores: Humanismo, Humanização, Ética, Bioética, História, Medicina, Conceitos

•Publicação/Apresentação: Medicina-Conselho Federal. Brasília, v.XVII, n.140, p.8 - 9, 2003.

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O Porquê e o Para Quê da Pós-Graduação Brasileira

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• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)


introdução: A história da pós-graduação brasileira pode ser considerada como iniciada em 1953, com as 79 bolsas oferecidas pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), fundada 2 anos antes. Entretanto, o formato e as bases atuais daquilo que é conhecido como o Sistema de Pós-Graduação Brasileiro, começa em 1965 com o conhecido "Parecer Sucupira", assim nomeado em homenagem ao seu autor, Newton Sucupira, professor emérito da UFRJ, que aperfeiçoado ao longo dos anos chega a 2004 (dados provisórios) com 2964 cursos de pós-graduação stricto sensu, com cerca de 110 mil estudantes matriculados (70 mil em mestrados acadêmicos e profissionais e 40 mil em doutorados), 26 mil bolsas e titulando cerca de 35 mil alunos anualmente, sistema esse que vem crescendo cerca de 10% ao ano.

opnião/tese: Apesar desse incremento numérico e do respeito alcançado nas comunidades acadêmico-científicas nacional e internacional, pela qualidade e quantidade de seus programas, pela sua organização, por seu sistema de avaliação, mais recentemente, pelo crescimento da produção científica nacional - um dos maiores aumentos percentuais mundiais, inclusive em termos de publicações e de citações em revistas consideradas de "impacto" - a pós-graduação brasileira precisa, urgentemente rediscutir seus objetivos e rumos para enfrentar os desafios científicos, tecnológicos e inovativos do século XXI. Entre muitos, alguns dados ajudam a ilustrar nossa preocupação: 1) apesar de já sermos o 18o país em número de trabalhos publicados somos responsáveis por apenas 1,5 % da produção mundial de Ciências; 2) o país, apesar de não investir tanto como os EUA e a França (aplicamos 1,3% do PIB em C&T, semelhante à Espanha), não tem o "retorno" em termos de impacto inovativo, particularmente se medido por pedidos de patentes ou de competitividade por produtos inovadores; 3) dois terços dos recursos aplicados em C & T vêm do setor público e cerca de 70% dos cientistas brasileiros estão em universidades públicas (apenas 10% em empresas privadas); 4) a pós-gradua

ção não possui uma clara relação com uma política nacional de C&T; 5) não se registrou um impacto do aumento quali-quantitativo da PG brasileira no setor produtivo nacional. Pelo contrário, alguns setores sofreram um acelerado sucateamento como por exemplo o da indústria farmacêutica, que chegou a responder por 20% da demanda interna e hoje responde por apenas 5%; 6) existem disparidades e inequalidades regionais, tanto na capacidade instalada quanto no financiamento (3,4% dos cursos estão na região Norte, 6,2% estão no Centro-Oeste, 14,7% no Nordeste, 19,2% no Sul e 56,5% no Sudeste); 7) ausência de integrações locais e regionais entre as PGs e os sistemas produtivos; 8) ausência de investimentos e integração das FAPs (Fundação de Amparo à Pesquisa) estaduais, que são em sua maioria apenas repassadoras de verbas federais; 9) a cultura existente na maioria dos programas ainda pode ser vista como a de pesquisadores, professores e gestores (nacionais e regionais) que vivem no século XXI, porém com práticas e atitudes do século XX e pedagogia e cultura do século XIX. Somos autoritários, arrogantes e "bairristas". Praticamos a pedagogia da submissão, da não autonomia, da dependência, da concentração de poder e da distribuição de favores. Somos, comunidade científica e acadêmica, de uma "miopia egocêntrica" das mais primitivas; 10) existe uma dogmatização dos meios e das formas de avaliação da pós-graduação, assim como da distribuição dos fomentos, através de critérios que servem muitas vezes apenas a grupos que já detêm o poder e criam mecanismos de exclusão; 11) ao invés de formar massa crítica, isto é, recursos humanos, cépticos, críticos, curiosos, construtivos, criativos, capazes e competentes, confiantes, corajosos, compromissados, coerentes ( Regra dos 10 Cs) o sistema vem formando, em percentual não aceitável, apenas mão de obra altamente especializada, barata, alienada e, muitas vezes, "maquiada" por inúmeras consultorias particulares que, vergonhosamente para todos nós, são as verdadeiras autoras de alguns trabalhos e teses defendidas e publicadas.

Contribuição ao Conhecimento


Sugestões de estratégias: 1) aumentar os recursos orçamentários chegando a 2% do PIB, inclusive do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; 2) evitar a pulverização dos recursos através de sua integração (ex: Sistema Integrado de Informação sobre Fomento a C&T); 3) estimular o investimento privado (ex: Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras, a ANPEI); 4) construir a interação do setor acadêmico e o privado; 5) ampliar o debate em todos os níveis (ex: as Conferências de C&T em Saúde, as Conferências Nacionais de C&T e as Conferências da ANPEI); 5) criar leis de incentivo a C&T, como a Lei de Inovação Tecnológica (tramitando atualmente no Congresso), ou como o PUBLIC, 2002, da FACEPE ( Programa de Ciência e Tecnologia nas Políticas Públicas do Estado de Pernambuco); 6) investir nas tecnologias "intermediárias", isto é, aquelas pelas quais "o primeiro mundo não se interessa" (ex: vacinas para malária, chagas ou controle epidemiológico da esquistosomose, filariose); 7) investir no conhecimento e nas tecnologias adequadas para responder aos desafios socioeconômicos e epidemiológicos nacionais e regionais, muitas vezes baratas e inventivas (ex: soro caseiro); 8) aumentar a inclusão regional, local e social através de maior apoio aos Fundos Setoriais com editais regionalizados; 9) trabalhar na criação de parâmetros de avaliação da pós-graduação que, embora rígidos como os atuais, privilegiem a formação de massa crítica; 10) revolucionar a mentalidade na formação de recursos humanos, utilizando, por exemplo, a Regra dos 10 Cs, iniciando essa transformação no ensino básico.

CONCLUSÃO: O enorme desafio que se apresenta deve ser tomado como uma tarefa de todos, sem exceção, e que só será vencido com uma radical mudança de cultura, mentalidade, atitudes e práticas.


Descritores: Pós-graduação, Política, Brasil, Desafios, Entraves, Estratégias

Publicação/Apresentação: II Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, Recife, Junho, 2004

Aurélio Molina


Interrupção Voluntária da Gravidez. A Visão dos Estudantes de Medicina em uma Série Histórica (1998-2003)

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•Aurélio Molina e Elyse Carvalho Borges dos Santos

•Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)

introdução: Abortamento é a expulsão do ovo antes de sua vitalidade ou, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetricia (FIGO), a expulsão ou extração de concepto pesando menos que 500g (aproximadamente 20-22 semanas de gestação). No Brasil, o aborto provocado é considerado crime, exceto nos casos de estupro e risco de vida para a gestante.

Objetivos: Avaliar as opiniões e atitudes sobre a interrupção voluntária da gravidez (abortamento provocado).

Sujeitos e método: Foram colhidas informações entre 419 estudantes de Medicina do VI período da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco(UPE), através de questionários padronizados com perguntas exclusivamente fechadas, a maioria sobre cenários hipotéticos, em um estudo, com vários cortes transversais, entre 1998 e 2003, tipo série histórica.

resultados: Em relação à descriminalização da interrupção voluntária da gravidez, os resultados mostraram um aumento significativo no período analisado, de estudantes que são contra a supressão dos dispositivos penais que criminalizam o aborto (40% para 65%). A justificativa de "não ter emprego" para a realização de um aborto, foi, na média dos anos, rejeitada por 65,6%, com uma curva ascendente de respostas negativas (47,5 para 78%). Não houve mudanças significativas ao longo do tempo quanto a outras possíveis justificativas para interrupção, de uma gravidez indesejada tais como "dificuldade em terminar a faculdade", "medo de magoar os pais" ou ao fato de "ser mãe solteira", com respostas contrárias à interrupção apresentando percentuais acima de 80%. Já quanto à "fragilidade no relacionamento do casal", encontrou-se uma tendência de aumento na

discordância da interrupção (de 72,9% para 87,5%). Quanto aos cenários "risco de vida para gestantes", "malformação incompatível com a vida extra-uterina" e "estupro", encontramos uma alta concordância com a opção de interrupção gestacional, com cifras estáveis, que chegam a atingir um patamar de mais de 90%. Já com referência à "Síndrome de Down", houve um aumento daqueles que não concordam com a possibilidade do aborto nessa situação (de 47,5% para 76,4%). Numa conjectura que incluísse "qualquer situação" , como justificativa para o aborto, encontramos cerca de 80% dos alunos defendendo a manutenção da legislação atualmente adotada, cifras essas que se mantiveram estáveis ao longo do período estudado.

interpretação: Em nossa opinião, os resultados da pesquisa permitem a interpretação de que existe uma postura dita mais "conservadora" dos estudantes de medicina em relação à temática estudada, sendo estes, favoráveis à interrupção voluntária da gravidez apenas nos casos já permitidos pela lei, e na situação de malformação incompatível com vida extra-uterina.


•Descritores: Aborto, Estudantes, Medicina, Opiniões, Recife

•Publicação/Apresentação: X Seminário de Iniciação Científica da UPE, Outubro de 2004

Contribuição ao Conhecimento


Educação para Ciência, Tecnologia e Inovação

105

• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)


A importância estratégica da formação de recursos humanos em pesquisa para uma maior efetividade e impacto positivo de uma política de Estado em Ciência, Tecnologia e Inovação, é consensual, inclusive quanto ao seu valor para um crescimento econômico sustentável. Os países que vêm apresentando os maiores índices de progresso econômico, de produção científica, de patentes e exportação de produtos de médio e alto valor científico-tecnológico agregado, são precisamente aqueles que mais investiram na qualificação de "capital" humano como, por exemplo, a Coréia, a Índia, a China e Israel, independentemente de outras importantes variáveis sócio-econômicas. O Brasil, que ainda tem um percentual elevado de componente primário extrativista, ou de produtos com baixo valor científico e tecnológico agregado no perfil econômico de sua exportação, também tem procurado investir no aumento e na qualificação de recursos humanos para C&T. Entretanto, no atual paradigma nacional, expresso inclusive nos documentos preparatórios para esta Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, essa formação está basicamente concentrada na Pós-Graduação Stricto Sensu (mestrados e doutorados) e nos programas de iniciação científica para alunos de cursos de graduação de nível superior. No atual cenário que se encontra o desenvolvimento científico e tecnológico nacional, se faz necessário, entre muitas medidas pertinentes, ampliar o foco e o lócus da formação de recursos com perfil céptico, crítico, criativo, confiante e corajoso, características essas conhecidas como a "Regra dos 5 Cs" de Molina. Exigência mínima para formação de massa crítica na área de C&T e Inovação (as outras, que no conjunto formam a "Regra dos 10 Cs", seriam a curiosidade, a competência e a capacidade técnica, a construtividade (atitude de contribuir na linha do "faça o que puder, com o que tiver, onde estiver"), o compromisso ético e de cidadania e a coerência com as necessidades nacionais; com o perfil

socioeconômico e epidemiológico da realidade brasileira; e com uma política de desenvolvimento do país), tarefa essa que deve ser iniciada o mais precoce possível, isto é, no ensino básico (infantil, fundamental e médio). Como o principal agente de mudanças/transformações/esperanças é o professor, que lida tanto com o ensino básico quanto superior, é nele que devemos dispensar a maior parte de nossos esforços. Não podemos continuar educando para a submissão (temática já tratada por tantos pensadores e educadores como Paulo Freire) cristalizada na figura de um educador que repassa/transmite/divulga um conhecimento acriticamente, e, o que é pior, "cobra" do seu aluno essa mesma informação acriticamente, repetitiva e mecanica. Numa linguagem chula: não podemos continuar permitindo e "fabricando" a figura do professor "auleiro". Não podemos continuar compactuando com o chamado paradigma de Monero y Pozo, isto é, conteúdo do século XX, com professores do século XIX, para alunos do século XXI e com didática e pedagógia da idade média. Portanto só faremos as mudanças socioeconômicas, científicas, tecnológicas e de inovação que o país precisa, formando professores formadores de recursos humanos para C&T e Inovação. Para tanto, recomendamos que o Ministério da Educação inicie, urgentemente, um processo de reflexões e discussões que culminem com um Fórum ou Encontro Nacional sobre modificações pedagógicas e didáticas que se fazem necessárias no ensino básico e superior para uma educação pública, que ajude o país a se tornar autônomo, desenvolvido e soberano na área da Ciência, Tecnologia e Inovação, através do desenvolvimento de recursos humanos voltados para C&T e para cidadania, que pensem com as suas próprias cabeças, caminhem com os próprios pés e construam com as próprias mãos, um outro e possível, Brasil, como nos ensinava Barbosa Lima Sobrinho.


Descritores: Educação, Transformação, Submissão, Crítica, Cepticismo, Ciência e Tecnologia, Inovação

Publicação/Apresentação: Proposta de Moção (n: 2327), apresentada como delegado do Setor C&T, assinada por 80 participantes, II Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde, Brasília, Julho, 2004

Contribuição ao Conhecimento


Eficácia e Morbidade de uma Nova Técnica de Laqueadura Tubária

106


•Aurélio Molina da Costa, Lenina Ludimila Sampaio de Almeida

•Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)

INTRODUÇÃO: Os métodos mais utilizados de esterilização tubária particularmente a técnica de Pomeroy e a cauterização das trompas têm sido associados à chamada síndrome pós-laqueadura, caracterizada por dismenorréia e alterações no fluxo menstrual, provavelmente devido a alterações hormonais que decorrem de mudanças no mesossalpinge, alterando o suprimento sanguíneo ou a função dos ovários remanescentes.

OBJETIVO: Investigar os resultados do uso de uma nova técnica de ligação tubária (Molina e Costa), que não causa mudanças no mesossalpinge e é mais fácil de ser revertida em caso de arrependimento. Foram analisados o perfil sócio demográfico das mulheres submetidas à nova técnica, a eficácia da mesma, a ocorrência de efeitos colaterais (dor pélvica, dismenorréia e alterações do fluxo menstrual) e arrependimento.

sujeito e método: O estudo foi descritivo, de corte transversal, utilizando-se de questionário com entrevista de 90 mulheres submetidas à técnica Molina-Costa de laqueadura tubária, principalmente na maternidade escola da Universidade de Pernambuco (Maternidade Monteiro de Moraes).

RESULTADOS: A idade média das mulheres estudadas foi de 30 anos, com 2.9 filhos vivos. A maioria delas realizou a cirurgia entre dois e três anos antes do momento da entrevista (60 %), têm 1º grau incompleto (54%) e utilizava camisinha como método contraceptivo antes da ligação (23%). A eficácia da técnica foi de 100%, já que a única gravidez relatada deu-se antes da ligação ter sido realizada (gravidez de fase lútea). Um terço (34%) das mulheres apresentaram dor pélvica após a cirurgia, sendo que, dessas, 22% não tinham dor e passaram a tê-la, ou ocorreu um aumento na sua intensidade, e 12% tiveram uma diminuição da dor ou mantiveram a mesma intensidade de antes da operação. Além disso, 10% pararam

de sentir dor após a laqueadura. O percentual de mulheres que apresentou cólica menstrual após a esterilização (64%) foi o mesmo do período prévio à cirurgia, pois o número de mulheres que passaram a sentir cólica pós-ligação ou que tiveram sua intensidade aumentada (25%) foi praticamente o mesmo daquela de mulheres que pararam de sentir cólica ou tiveram sua intensidade diminuída (23%). A maioria das mulheres não apresentou anormalidades menstruais pós-ligação (64,5%). Das que as apresentaram, a mais freqüente foi irregularidade (15, 6%). A taxa de arrependimento foi de 4.4%.

CONCLUSÂO: Em relação à eficácia, os resultados foram excelentes quando comparados aos outros métodos. Quanto aos sintomas da síndrome pós-laqueadura (dores pélvicas, dismenorréia e alterações na menstruação), os resultados mostram-se comparáveis a alguns trabalhos da literatura e superiores a outros, o que podeira ser explicado pelo fato de que a técnica utilizada é menos agressiva que as demais. A taxa de arrependimento é semelhante à da literatura, mas que pode ser considerada alta ao se levar em conta a rigorosidade do processo ético e legal para a sua realização e da avaliação emocional e social no pré-operatório. No sistema único de Saúde, particularmente na Maternidade onde foram XXXX a quase totalidade dos procedimentos. Por outro lado, tal fato realça a importância da maior possibilidade de reversão cirúrgica da técnica em questão.


•Descritores: Ligação Tubária, Nova, Técnica, Esterilização Feminina, Eficácia

•Publicação/Apresentação: X Seminário de Iniciação Científica da UPE, Outubro de 2004

Contribuição ao Conhecimento


Conhecimento, Atitudes e Práticas em Relação à Terapia de Reposição Hormonal, entre Mulheres do Recife

107


•Aurélio Molina, Paulo Bastos, Lenina Almeida

•Coordenação Geral de Pesquisas e Faculdade de Ciências Médicas (UPE)

introdução: A terapia de reposição hormonal (TRH) tornou-se um dos assuntos mais polêmicos nos últimos anos em virtude de seus aspectos positivos e negativos. Além disso apresenta baixa aderência (< 20% após 3 anos) que é maior quanto mais precoce (em termos de idade) é a sua instituição. Aproximadamente 70% das mulheres cessam o tratamento após o primeiro ano (Elkind-Hirsch, 2001). Além do uso precoce e indiscriminado em mulheres com sintomas de natureza psico-social, as principais causas da baixa aderência à TRH são: sangramento irregular, medo de câncer de mama, ganho de peso e retenção hídrica, além das mastalgias, náuseas e cefaléias (Glazier and Bowman, 2001).

Objetivos: Avaliar os conhecimentos, práticas e atitudes de um segmento da população feminina do Recife em relação à TRH, afim de subsidiar ações, particularmente informativas, para que a mesma possa, através de uma decisão autônoma, optar ou não pelo uso dessa forma de terapia, balanceando riscos e benefícios e assim, quando bem indicada, aumentar a aderência ao tratamento.

sujeitos e método: Através de um estudo observacional, descritivo, de corte transversal, foram entrevistadas 203 mulheres de classe média em 3 shoppings da cidade do Recife, com idade entre 40 e 78 anos.

Resultados: Cerca de 57% sabiam definir TRH, sendo as fontes de informação mais citadas, após estímulo, a TV (48%) e o médico (47%). Apenas 14% das mulheres estavam fazendo uso de TRH. Dentre as mulheres menopausadas que não usavam a terapia, a maioria (18%) afirmou não fazê-la por "recomendação médica" ou por "ter dúvidas sobre o assunto" (10%). Mais da metade (53%) das mulheres entrevis

tadas conhecia algum benefício ou vantagem do uso da TRH, sendo as mais citadas "diminuição dos calores" (31%) e "prevenção da osteoporose" (23%). Quanto ao conhecimento das desvantagens, 55% citaram ao menos uma desvantagem, tendo sido o risco de câncer mencionado por 43%. Quando estimuladas, 73% acreditavam ter o hormônio ação no fortalecimento dos ossos; 68% na lubrificação vaginal; 54% no aumento da libido; 64% em benefício para a pele; 37% na diminuição do risco de infarto; 35% na diminuição do risco de doença de Alzheimer; 76% na diminuição dos calores. Mais da metade (54%) afirmou que usaria a terapia caso afirmássemos serem todas as vantagens (anteriormente aventadas) comprovadas cientificamente. Novamente estimuladas, desta vez em relação às desvantagens, obtivemos que 77% e 61% das entrevistadas acreditavam que o uso de hormônio na menopausa aumenta as chances de câncer de mama e endométrio, respectivamente. Além disso, 40% concordaram com o aumento do risco de trombose. Finalmente, a maioria (69%) afirmou que não faria uso da terapia caso essas desvantagens fossem comprovadas cientificamente. Dentre aquelas que não a usariam, 49% afirmaram que "não vale a pena correr os riscos" e 21% citou o "medo de câncer" como justificativa.

interpretação: Esses resultados enfatizam a necessidade de que, na indicação da TRH, riscos e benefícios sejam esclarecidos individualmente para que as usuárias possam exercer, plenamente, o princípio bioético da Autonomia.


•Descritores: Reposição, Hormônios, Autonomia, Bioética, Menopausa

•Publicação/Apresentação: X Seminário de Iniciação Científica da UPE, Outubro de 2004

Contribuição ao Conhecimento


Os 10 Mandamentos de um Bom Estudante da

Área de Saúde

108

• Aurélio Molina

• Coordenação Geral de Pesquisas da UPE, Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM)


INTRODUÇÃO: É sabido o quão difícil, complexa, vasta, desafiadora e árdua é a formação de um profissional da área de saúde (médicos, assistentes sociais, biólogos, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais), pois sua atividade-fim exige um vasto conhecimento sobre um grande número de "Saberes". Coerente com tal visão, o autor apresenta dez atitudes, preceitos e regras, formatadas como "mandamentos", que são sistematicamente distribuídos há cerca de 12 anos para seus alunos do curso de Medicina, na tentativa de contribuir para uma formação, que além de técnica e científica coerente com o mister de seu curso, seja também holística, crítica, humanística, participativa e responsável, permitindo-lhes pensar com suas próprias cabeças, caminhar com seus pés e construir com suas próprias mãos.

OS MANDAMENTOS: 1.Primun Non Nocere (primeiro não agredir, primeiro não fazer o mal, primeiro não ser iatrogênico); 2. A crítica e a autocrítica devem ser o pão nosso de cada dia. Mas devem ser amorosas e construtivas, pois se não são construtivas não deveriam ser feitas e se não são amorosas não são eficazes; 3. O bom aluno é aquele que questiona, duvida e se permite discordar do seu professor. A ausência de questionamentos, discordâncias, dúvidas e críticas não é Ciência. É doutrinação, é fanatismo, é "cientificismo"; 4. A Ciência deveria ser, mas não é neutra. Também não são neutros os autores, nem as instituições científicas por mais famosas que sejam. Para exercer plenamente a crítica científica em relação à informação recebida, o bom estudante deve conhecer, e bem, o método científico, principalmente os vieses e tendenciosidades que sempre acompanham qualquer informação científica; 5. Aprender é a tarefa que nos compete. O bom aluno só será um bom profissional se conscientizar-se que deverá ser um eterno aprendiz; 6.

No século XXI haverá quatro maneiras de ser analfabeto e, portanto, um mau estudante e profissional: não saber a língua pátria (ou "mátria"), não saber inglês, não saber espanhol e não saber o mínimo de informática; 7. O bom estudante deve sempre pronunciar as palavras mágicas: obrigado, por favor, com licença, desculpe-me, perdão, etc. Mágicas porque quanto mais as usarmos, melhores cidadãos e cidadãs, e, portanto, profissionais, seremos; 8. O aluno que abraça a nossa Arte deve respeitar "o bom mestre", aquele que além de oferecer todo seu conhecimento e experiência, extrai dos seus alunos, socraticamente, o seu melhor, valorizando suas vivências, informações e visões, formando-o para a auto-suficiência e consolidando sua auto confiança. O bom estudante é também aquele que não se conformando com o oposto, isto é, o "mau mestre" (que ao invés de servir se serve da academia ou pratica a pedagogia da submissão), não compactua através do silêncio e da omissão com esse mau exemplo, e luta para transformá-lo ou, se necessário, afastá-lo de nosso convívio; 9. O bom aluno é aquele que através da sabedoria construída pelos seus estudos, experiências, críticas, autocríticas, emoções e, principalmente, do uso de sua razão, se tornará Senhor de sua arte e um Livre Pensador; 10. O bom aluno é aquele que têm consciência de que sem liberdade, igualdade, fraternidade, qualidade de vida e justiça social, jamais existirá saúde.

CONCLUSÃO: É nossa opinião que essa forma de formatação e de comunicação (mandamentos, preceitos), vem ajudando a conscientizar e a motivar os estudantes sobre necessárias e importantes posturas para um profissional de saúde, e tem um lugar didático-pedagógico na formação desses futuros profissionais, principalmente quando feita de forma lúdica.


Descritores: Epistemologia, Ciência, Reflexões, Adágios, Construção do Conhecimento, Profissionais de Saúde

Publicação/Apresentação: Encontro Médico Cultural do CREMEPE, Academia Pernambucana de Letras, Recife, Outubro, 2004

Contribuição ao Conhecimento


A Importância da Bioética e da Ética da Responsabilidade nas Relações Humanas

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•Aurélio Molina da Costa

•Coordenação Geral de Pesquisa e Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, UPE

introdução: Existe um consenso de que as relações humanas e os valores que as embasam vivem uma crise sem precedentes na dita história pós-moderna, devido, entre outros fatores, aos paradigmas de uma globalização onde a força do mercado secundariza, e até mesmo ridiculariza, qualquer forma ou política de "bem-estar social", estimulando uma competitividade, um individualismo e um "vale-tudo" Darwinista em níveis inimagináveis há pouco tempo atrás.

objetivo: O presente texto objetiva uma reflexão sobre o papel da Bioética e da Ética da Responsabilidade como instrumento contra-hegemônico para reversão da atual situação.

apresentação: O conceito de "Ética da Responsabilidade", tem como patrono o filósofo alemão Hans Jonas, pupilo de Heidegger, chamado por seus admiradores o "Filósofo da Vida". Em várias obras, mas principalmente em seu livro "Princípio da Responsabilidade" (1979), um ensaio sobre uma ética para uma civilização tecnológica, nos responsabiliza pela qualidade e sobrevivência das futuras gerações. Em verdade, Jonas, no conjunto de suas obras, realiza uma grande reflexão sobre a importância da valorização do conceito do risco e da necessidade da comunidade científica levá-lo em conta de forma mais responsável. Propunha que os pesquisadores e profissionais que lidam com o conhecimento científico deveriam, além de informar, resguardar as pessoas de possíveis situações de riscos previsíveis. Já a Bioética, que pode ser entendida como uma "Ética da Responsabilidade Global" devido a sua base conceitual, possui múltiplas origens sendo o oncologista e biólogo americano Van Rensselear Potter, autor do livro "Bioética: Uma Ponte para o Futuro" (1971) e do neologismo Bioética, um dos seus principais ícones, principalmente pela sua preocupação com os riscos da emergente biotecnologia e com uma possível catástrofe global causada pela Ciência.

reflexão: A Ética da Responsabilidade e a


Bioética não se aplicam só às questões da saúde e da ciência. Elas apontam para a necessidade da ampliação da noção de responsabilidade também para as questões do cotidiano e das relações humanas em todas as suas dimensões. Indicam a necessidade de uma postura consciente de preocupação e de responsabilidade para com o outro, que deveria gerar ações através de uma prática efetiva, através do emprego da "arte de cuidar", em todos os aspectos da vida e da sociedade humana. Apontam também para uma atitude e prática na qual a pessoa sai de si e centra-se no outro, isto é, uma renúncia voluntária, baseada na consciência de que, na verdade, o outro é você mesmo e que o que você faz pelo outro em verdade, dialeticamente, retorna para você, direta ou indiretamente individual ou coletivamente, via sociedade em que estamos inseridos.

considerações finais: A importância da Bioética e da Ética da Responsabilidade nas relações humanas deve-se basear no conceito "de cada um para cada qual segundo a sua necessidade" e na visão de que o homem ético é aquele que é responsável por suas ações e se reconhece pai de seus atos como o é de seus próprios filhos. É aquele que, segundo Aristóteles, avalia as conseqüências de seus atos sobre si e sobre os outros. E mais ainda, como disse Molière, "não somos responsáveis apenas pelo que fazemos, mas também pelo que deixamos de fazer". Responsabilidade essa que começa com a consciência, aumenta com a liberdade e termina com o compromisso de uma postura ética e humanística nas relações humanas, e na formação de recursos humanos adequados à construção de uma sociedade mais justa, fraterna, livre e feliz, jamais esquecendo que, filosófica e cientificamente, "somos responsáveis por tudo e por todos".

•Descritores: Ética, Bioetica, Ética da Responsabilidade, Relações Humanas

•Publicação/Apresentação: V Congresso Mundial de Ciência em Animais de Laboratório, IX Congresso Brasileiro de Ciência em Animais de Laboratório e IV Encontro de Pesquisadores do Mercosul, Rio de Janeiro, Agosto, 2004.

Contribuição ao Conhecimento


Máximas Epistemiológicas

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• Aurélio Molina

• Coordenação Geral de Pesquisa da Universidade de Pernambuco (UPE)

INTRODUÇÃO: A Epistemologia, também chamada teoria do conhecimento, não é só o ramo da filosofia interessado na investigação da natureza, fontes e validade do Conhecimento mas também de como alcançamos o Conhecimento, o que inclui uma reflexão sobre a formação dos recursos humanos que lidam com esse conhecimento, o que no século XXI, já conhecido como o da tecnociência, sem dúvida alguma, é um grande desafio. Particularmente defendemos que essa formação deva ter dez características básicas, as quais denominamos em seu conjunto como os 10 Cs", isto é, o cepticismo (como o estado de quem duvida de tudo), o criticismo (como a atitude de constante e independente discernimento, juízo e julgamento), a curiosidade (como o contínuo desejo de ver, saber, aprender e desvendar), a criatividade (como o poder de imaginação ou espiríto inventiva fazendo XXXX e melhor, construtividade), a capacidade e competência (como o potencial intelectual para atingir determinado objetivo), e (habilidades técnico-científicas específicas), a confiança (no sentido de segurança íntima e bom conceito de si mesmo e de seu poder), a coragem (como intrepidez e ousadia, acompanhada de bom senso, para defender suas opiniões em qualquer contexto), o compromisso (respeito com as obrigações éticas, bioéticas e com a cidadania) e coerência (com as necessidades regionais e nacionais e com o perfil socioeconômico e epidemiológica da realidade onde se encontra inserido).

OBJETIVO: Apresentar um conjunto de reflexões feitas pelo autor em formas de máximas, que são um produto das vivências do autor, tanto como pesquisador, gestor, profissional de saúde, quanto como professor e aluno de diversos cursos de pós-graduação, lato e stricto sensu, quer no Brasil quer no exterior.

APRESENTAÇÃO: 1)"Ainda não sabemos o suficiente; eis a máxima, de bom senso, que deve orientar o pesquisador que já atingiu sua maturidade científica"; 2)"Para tornar-se um verdadeiro cientista, além da razão e da intuição, necessita-se de coragem"; 3)"A metodologia científica é uma linguagem universal e pode ser aprendida por qualquer um, sem a


necessidade de qualquer pré-requisito"; 4)"Para ser realmente um homem da Ciência não tenha medo ou receio de fazer nenhum tipo de indagação, mesmo as mais simples ou até mesmo as aparentemente descabidas"; 5)"Um verdadeiro pesquisador ou cientista pode até se influenciar por correntes de pensamento ou por autoridades científicas, políticas ou religiosas, mas nunca se deixa dominar ou se escravizar por elas"; 6)"Todo intelectual tem que ser um Livre Pensador e todo Livre Pensador tem que reinterpretar a realidade com os novos instrumentos que o Conhecimento, em construção, lhe oferece diariamente"; 7)"Um Intelectual ou um Erudito ou um Livre Pensador que não milita e não se torna um ativista é, absolutamente, um desperdício para a sociedade e para a humanidade"; 8) "A dúvida, a crítica e a reflexão são três dos principais pilares da Ciência"; 9)"Devemo-nos esforçar para que a discussão seja menos erística e ardilosa e, sim, mais meditativa e contemplativa, na procura da Verdade"; 10)"A crítica deve ser, sempre, construtiva e amorosa pois se não for construtiva não deve ser explicitada e, se não for amorosa, será contraproducente"; 11) "A incredulidade e o cepticismo são dois excelentes companheiros de um bom pesquisador"; 12) "A erudição que não toca o coração em nada ajuda o serviço à humanidade"; 13) "Em um debate de idéias três coisas podem acontecer: ou você solidifica a sua visão, ou aperfeiçoa-a ou modifica-a totalmente. Portanto sempre ouça, reflita e agradeça o ponto de vista diametralmente oposto ao seu, pois só através das diferenças e do contraditório podemos evoluir"; 14) "Uma mente aberta, sem rígidos padrões, dogmas e pré-conceitos, ajuda o raciocínio científico"; 15) "As tecnologias não são neutras, mas não devemos satanizá-las"; 16) "A arrogância é uma característica dos ignorantes e, principalmente, dos semi-eruditos".

CONCLUSÃO: Na opinião do autor essas reflexões contribuem para a formação de recursos humanos que de alguma forma lidam com o conhecimento científico, quer produzindo-o, quer utilizando-o ou quer divulgando-o.

Descritores: Epistemologia, Ciência, Reflexões, Adágios, Construção do Conhecimento

Publicação/Apresentação: Encontro Médico Cultural do CREMEPE, Academia Pernambucana de Letras, Recife, Outubro, 2004

Contribuição ao Conhecimento


Mastalgia Cíclica - Clínica e Experiência dos Ácidos Graxos Poli-insaturados

111

•Ana Leide Guerra dos Santos, Laura Olinda Bregieiro Fernandes Costa, Aurélio Molina da Costa, Antônio Simão dos Santos Figueira Filho

•Disciplinas de Mastologia e Tocoginecologia, da Faculdade de Ciências Médicas (UPE)


Mastalgia é conceituada como dor que acomete a mama, sendo utilizados, menos frequente, outros termos como mamalgia e mastodinia. É a queixa mais freqüente entre as mulheres que buscam atendimento especializado em patologia mamária. Considerando-se as várias intensidades da sintomatologia (leve, moderada e intensa), a dor mamária é prevalente em cifras que variam entre 40 a 80% das mulheres, segundo a literatura médica nacional e internacional. Embora a etiologia da mastalgia cíclica não esteja totalmente esclarecida, supõe-se ser de origem hormonal, tanto por seu sincronismo com o ciclo menstrual, quanto pela melhora com a supressão hormonal, resultante da ação de medicamentos, que agem em diferentes sítios do eixo hipotálamo-hipófise-ovário-mama, da redução ou desaparecimento da dor, quando de castrações cirúrgicas (ooforectomias). Também sugerem a origem hormonal, o desaparecimento da dor com a instalação da menopausa, e seu reaparecimento com o uso da terapia de reposição hormonal. Fazem parte do seu tratamento a orientação verbal, o suporte emocional, exercícios físicos, orientações dietéticas (redução das metilxantinas e gordura saturada) redução do fumo, suporte das mamas, vitamina E (associada ou não às vitaminas A e B6 ), analgésicos e antinflamatórios, diuréticos, tranquilizantes, tamoxifeno, danazol, bromocriptina e, mais recentemente, uma composição de óleos vegetais conhecidos como Ácidos Graxos Essenciais (AGEs). Os AGEs possuem três funções principais: determinar a flexibilidade e a fluidez da membrana celular; ser precursor dos metabólitos biologicamente ativos e transportar o colesterol para as células por lipoproteínas de baixa densidade e das células para o fígado, por lipoproteínas de alta densidade. As fontes naturais e mais ricas dos AGEs contendo o ácido gama-linolênico e linolênico são o óleo de uma flor chamada Oenothera biennis e o Óleo de Borage, obtido a partir da flor de Borage officinallis

(starflower oil) e utilizado como fonte alternativa do óleo de prímula (primrose oil). Este, por sua vez, que era usado em pacientes esquizofrênicas, nas quais se observou que exercia um efeito concomitante sobre a dor mamária. Com o objetivo de atualizar o conhecimento sobre mastalgia cíclica, os autores analisam o conceito e a classificação das mastalgias em geral e comentam os aspectos clínicos, os diagnósticos diferenciais, assim como a terapêutica não medicamentosa e medicamentosa da mastalgia cíclica, com detalhamento de doses, indicações e efeitos adversos. Comentam ainda os benefícios da prescrição de ácidos graxos poliinsaturados e relatam sua experiência clínica, indicando ser esta uma boa opção terapêutica pela baixa incidência de efeitos adversos, o que permite a repetição da dose quando da recorrência da dor, principalmente em mulheres jovens que necessitam de tratamento por longos períodos, ou naquelas que não desejem tratamento hormonal.


•Descritores: Mastalgia, Diagnóstico, Diagnóstico diferencial, Tratamento, Ácidos Graxos Essênciais

•Publicação/Apresentação: Femina - Agosto 2004 vol 32, nº 7, 5-8

Contribuição ao Conhecimento


Fórum Pernambucano dos Comitês de Ética em Pesquisa: Nova Forma de Contribuição e Articulação à Prática de Análise Ética

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•Clébio Marques da Silva; Maria Clara Albuquerque; Aurélio Molina da Costa; Péricles Luiz Sales de Souza; Carlos Antonio Alves Pontes

•Funeso, UFPE, UPE, FIR, CPq Aggeu Magalhães


INTRODUÇÃO: Conceitualmente os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) são colegiados interdisciplinares e independentes, de "múnus público" (público e a serviço da coletividade), de caráter consultivo, deliberativo e educativo, criados para defender os interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir com o desenvolvimento da pesquisa científica dentro de padrões éticos, criados e definidos pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), e que são credenciados pela CONEP (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa). O início do segundo semestre de 2004 marcou a história da trajetória coletiva dos CEPs de Pernambuco com o surgimento do Fórum Pernambucano dos Comitês de Ética em Pesquisa. Suas plenárias deram lugar à expressão do pensamento plural dos distintos Comitês às questões operacionais, éticas, metodológicas, de singularidades institucionais, compartilhamento de vivências, de características de formulários e documentos, de previsão de rumos futuros, entre outras condutas.

OBJETIVO: O objetivo deste trabalho é reconstituir a trajetória histórica da experiência do Fórum e resgatar suas realizações significativas de uma experiência positiva de interação entre os Comitês.

DESCRIÇÃO: As principais atividades desenvolvidas pelo Fórum foram: (1) busca da definição dos pontos mais significativos para um TCLE satisfatório no padrão habitual da maioria das pesquisas; (2) sugestão de Carta de Anuência bem fundamentada e completa; (3) criação, elaboração do programa e coordenação de um curso gratuito de extensão visando enriquecer

os conhecimentos básicos dos membros dos CEPs em metodologia de pesquisa relacionada à análise ética e bioética; (4) definição do caráter itinerante das reuniões de modo a visitar cada CEP na região prestigiando-o e ajudando-o a consolidar-se; (5) treinamentos visando habilitar membros de CEPs e pesquisadores a operar a Base SISNEP on-line. Com ação constante e articulada de caráter transinstitucional, o Fórum tem propiciado a ampliação da visibilidade aos CEPs e aberto novos espaços institucionais e sociais, alargando chances de reconhecimento da importância e da legitimidade dos mesmos e do trabalho que realizam.

CONCLUSÃO: Pode-se afirmar que em sua experiência singular, o Fórum tem o mérito de ser uma experiência inovadora e um espaço privilegiado em que se reúne a grande família de pluralismo de idéias que são os CEPs do Estado, para pôr em comum dificuldades, compartilhar idéias, questionar, tirar dúvidas, reafirmar condutas e práticas consolidadas e vivenciadas por outros, buscando soluções para novos e antigos desafios éticos na pesquisa envolvendo seres humanos.


•Descritores: Ética em Pesquisa; Comitês de Ética em Pesquisa; Fórum de Comitês de Ética.

•Publicação/Apresentação: VI Congresso Brasileiro de Bioética, Agosto, 2005, Foz do Iguaçu

Contribuição ao Conhecimento


Metodologia de Pesquisa: Ferramentas para a Análise de Projeto (Curso Promovido pelo Fórum Pernambucano dos Comitês de Ética em Pesquisa)

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•Carlos Antonio Alves Pontes, Péricles Luiz Sales de Souza, Paula Loureiro, Aurélio Molina, Arminda Saconi; Clébio Marques da Silva.

•CPq Aggeu Magalhães, FIR, Fundação Hemope, UPE, Unicap e Funeso


INTRODUÇÃO: O papel principal de um Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos (CEP) é o de proteger os sujeitos participantes de uma pesquisa. Além disso, deve melhorar o nível de consciência ética e a qualidade metodológica dos estudos realizados, necessitando-se para tanto de pessoas que além de terem interesses nas questões éticas e bioéticas tenham experiência em pesquisa, e que dominem a "linguagem científica". Esta é, geralmente, apresentada aos "não iniciados" em uma linguagem complexa, técnica, permeada de jargões, abordagem essa desestimulante exatamente para o público alvo, isto é, membros de CEPs sem formação consolidada na área da produção de conhecimento, apesar de poderem ser referências em outros campos da aplicação, divulgação e ensino da ciência ou em termos de representatividade social.

OBJETIVO: Este trabalho apresenta o primeiro curso de extensão promovido pelo Fórum Pernambucano dos Comitês de Ética em Pesquisa.

APRESENTAÇÃO: Constituído como um espaço de articulação, que visa como expressão prática, à disseminação, consolidação e fortalecimento da dimensão ética como componente estruturador da boa prática de pesquisa. O curso de extensão em metodologia de pesquisa teve como objetivo capacitar membros de todos os Comitês de Ética em Pesquisa de Pernambuco para o exercício da análise metodológica de projeto de pesquisa envolvendo seres humanos. Com carga horária de 40 horas, foi realizado de 06/11/2004 a 16/04/2005, em 8 sábados, nas dependências da Faculdade Integrada do Recife-FIR, que assumiu a responsabilidade pedagógica e da escolaridade. Contou com uma coordenação colegiada formada por professores de 6 diferentes Comitês, sendo a Coordenação Acadêmica exercida pelo Prof. Péricles Souza. Os conteúdos do

programa foram: Elementos essenciais de um projeto de pesquisa; Breves considerações epistemológicas; Critérios e sistemáticas para a análise de projeto; Desenhos de Estudos _ tipos, métodos e técnicas; Trabalho Prático: análise de projetos; e Apreciação Ética. Dos 36 inscritos, 18 terminaram o curso; 16 receberam o certificado, em função da freqüência.

CONCLUSÃO: Ao término do curso, a avaliação destacou positivamente: (1) construção de uma visão ampla e sistematizada dos diversos tipos de estudos, seus componentes e dinâmica de desenvolvimento e as implicações ético-morais decorrentes da escolha de uma determinada estratégia de pesquisa; (2) oportunidade de intercâmbio de experiências entre os membros de CEPs distintos; (3) o despertar para o desejo de desenvolver, de forma coletiva, temas que surgiram nas discussões; e (4) recomendações para a segunda edição do curso, ou formulação de outros cursos para uma abordagem mais aprofundada da análise de projetos. Fato inovador surpreendente, foi o início do estabelecimento de uma consciência de pertencer a uma única grande comunidade de membros de CEPs, apoiado pelo sentimento de uma identidade emergente baseada em laços de interação pessoal inter-comitês.


•Descritores: Curso, Metodologia de Pesquisa, Aperfeiçoamento, Comitês de Ética em Pesquisa, CEP

•Publicação/Apresentação: VI Congresso Brasileiro de Bioética, Agosto, 2005, Foz do Iguaçu

Contribuição ao Conhecimento


O Tocoginecologista e o Aborto Provocado. Atitudes em Relação a um Cenário Teórico (Série Histórica)

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•Aurélio Molina, Slanney Amaim Espiuca dos Anjos,

•Faculdade de Ciências Médicas e Instituto de Ciências Biológicas (UPE)

introdução: O abortamento provocado ainda se constitui num desafio ético e bioético persistente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o aborto ilegal um flagelo mundial caracterizado por "falta ou inadequação de aptidões do prestador do serviço, técnicas perigosas e infra-estrutura sem condições de higiene e segurança e alta morbi-letalidade". Estimativas feitas com base num estudo global desenvolvido entre 1995 e 2000 indicam que se fazem por ano, em todo o mundo, 20 milhões de abortos ilegais, resultando em cerca de 80 mil mortes de mulheres grávidas, o que representa 13% das causas de morte materna (OMS, 2002). A partir da década de 70 foi introduzida no mercado uma medicação para tratamento de úlceras, análogo da Prostaglandina E1, comercializado com o nome de Cytotec, mas que também estimula a contratilidade uterina induzindo ao abortamento. Pesquisas anteriores demonstraram que, no Recife, o uso do misoprostol (Cytotec) tornou-se uma prática comum para a interrupção de uma gestação não planejada (Molina et al, 1996 e 1999), sendo que em 26% das farmácias do Grande Recife era possível obter-se o Cytotec sem receita médica, e a "dose padrão" recomendada pelos balconistas era a de dois comprimidos orais e dois via vaginal (Molina et al, 1999).

objetivo: No presente trabalho (parecer CEP-UPE 105/04) iniciou-se uma série histórica, comparando os dados com outro estudo anterior (Molina, 1998) para verificar, se em relação a um cenário teórico, houve modificações das atitudes de tocoginecologistas do SUS-Recife, particularmente quanto à informação plena sobre o Cytotec, e uma adequada assistência médica no caso de complicações após o uso do fármaco.

Sujeitos e método: Estudo descritivo, de corte transversal, utilizando-se entrevista estruturada com 100 participantes, através de uma amostragem de conveniência.

Resultados: Em relação aos profissionais que explicariam o mecanismo de ação do misoprostrol, à uma paciente imaginária, de 21 anos, grávida, cliente do entrevistado desde os 14 anos, e que o procura solicitando informações sobre misoprostol, pois deseja interromper a gestação, não houve diferença significativa nos 2 cortes temporais (78% em 1998 versus 74% em 2005). Quanto à disponibilização da informação em relação à dose do medicamento, houve um aumento do número de profissionais que ensinariam a dose popularmente usada (de 16% para 21%, p= ns) que é aquela de dois comprimidos via vaginal e dois comprimidos via oral, mas, por outro lado, aumentou o número daqueles que não ajudariam a paciente, em caso de necessidade, após a utilização do Cytotec (7% para 17% com um p < 0, 03).

interpretação: Nossos achados indicam que apesar de haver uma tendência a uma maior divulgação de informações sobre o Cytotec, que poderia ser interpretada como um maior respeito ao direito da paciente de obter informações corretas, o não atendimento da mesma, em caso de complicações, sugere que houve uma piora da consciência ética e dos deveres profissionais em relação a uma correta assistência à saúde reprodutiva. Nos parece ser essa uma atitude inaceitavel e incompatível com o mister de um profissional de saúde, indicando também, indiretamente, a necessidade da intensificação de reflexões éticas e bioéticas nos currículos de graduação assim como de um programa de educação continuada sobre a temática.


•Descritores: Aborto Provocado, Misoprostol, Tocoginecologistas, Cytotec, Médicos

•Publicação/Apresentação: VI Congresso Brasileiro de Bioética, Agosto, 2005, Foz do Iguaçu.

Contribuição ao Conhecimento


Estudo Comparativo de Midazolam com Cetaminas+ Versus Midazolam com Bloqueio Paracervical para Aspiração Manual Intrauterina.

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•Vonaldo Torres de Almeida, Aurélio Molina

•Mestrado em Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Ciências Médicas-UPE

INTRODUÇÃO: O abortamento espontâneo, no primeiro trimestre de gravidez é a mais freqüente intercorrência em Obstetrícia (mais de 10% das gestações clínicas). Desde a metade do século XX, a aspiração manual intra-uterina (AMIU) é considerada por muitos o "padrão ouro" para o esvaziamento do abortamento espontâneo, na maioria das vezes submetidas à anestesia geral (Poncheville et al., 2002). A AMIU é também considerada como um procedimento cirúrgico padrão para interrupção precoce da gravidez nos países onde tal procedimento é legalizado (Helmil e Moller, 2001). O esvaziamento uterino usando a AMIU pode gerar dois tipos de dor: a) dor profunda e intensa que acompanha a dilatação cervical bem como a estimulação do orifício cervical interno, que é transmitida pela densa rede de nervos que envolvem a cérvix; b) dor difusa com cólicas que ocorre com a movimentação do útero, curetagem da parede e o espasmo muscular relacionado ao esvaziamento da cavidade uterina e que é transmitida da região fúndica através de importantes nervos uterinos que seguem os ligamentos útero-sacro e útero-ovariano. Esses dois tipos de dor indica que o plexo hipogástrico inerva o corpo e o fundo do útero e o plexo úterovaginal inerva a cérvix e parte superior da vagina (Yord et al., 1994).

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Avaliar a efetividade, a analgesia pós-operatória e o grau de satisfação das pacientes submetidas à Aspiração Manual Intrauterina, através da comparação de duas técnicas anestésicas.

SUJEITOS E MÉTODO: Através de um ensaio clínico fase II, randomizado, uni-cego, tipo intervenção de tratamento, foram estudadas, prospectivamente, 80 pa

cientes randomizadas por blocos em 2 grupos. Todas receberam midazolam venoso seguido, no grupo 1 (MC), de Cetamina S+ venoso e, no grupo 2 (MP), do bloqueio paracervical. Na sala de operação a eficiência foi avaliada por 3 observadores (o pesquisador, o obstetra e o residente de obstetrícia) e, após 1 hora foram avaliadas, por um "observador cego ao procedimento realizado", a analgesia pós-operatória, o grau de satisfação e o grau de recomendação da paciente, mediante uma escala verbal. O estudo foi realizado no período de novembro de 2003 a março de 2005, no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros da Universidade de Pernambuco (CISAM-UPE).

RESULTADOS: As técnicas mostraram-se eficientes em 95% das pacientes do Grupo MC e em 76,7% das pacientes do grupo MP (p = 0,04). Entre pacientes do grupo MC, 67 % não apresentaram dor após 1 hora, enquanto no grupo MP apenas 33,3% (p < 0,01 e um risco relativo = 2). Ambos os grupos tiveram cifras de 90% de satisfação e de recomendação da técnica.

CONCLUSÕES: Nossa avaliação sugere que a anestesia com midazolam e cetamina S+ é superior ao uso do midazolan com bloqueio paracervical, para Aspiração Manual Intrauterina, tanto em relação à eficiência quanto à analgesia pós-operatória. Entretanto, na avaliação da paciente observamos um alto índice de satisfação e recomendação com as duas técnicas.


•Descritores: Cetamina, Midazolam, Bloqueio Paracervical, Aspiração a Vácuo, Aborto, AMIU

•Publicação/Apresentação: Revista Brasileira de Anestesiologia, no prelo

Contribuição ao Conhecimento


Changes in Family Structure and Regret Following Tubal Sterilization (Mudanças na Estrutura Familiar e Arrependimento da Laqueadura Tubária)

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•Katia Maria de Melo Machado, Ana Bernarda Ludermir, Aurélio Molina da Costa

•Mestrado em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da UPE

Family planning means to decide the time and number of children wanted and involves individual and family aspirations and wishes, socioeconomic factors, and access to scientifically tested and approved contraceptive methods. Prevention of unwanted pregnancy takes place within a pattern of social relations based on gender inequalities and has historically been considered the woman's exclusive responsibility. Women's misinformation, lack of contraceptive methods in public healthcare services, physicians' power to intervene in the patient's body and health, and the lack of technical training for health professionals to deal with family planning all interfere in women's autonomy when choosing a contraceptive method. Such distortions in family planning are reflected in high tubal sterilization rates, especially in women from developing countries. In Brazil, contraception has concentrated on the use of contraceptive pills and tubal sterilization, and the country now has one of the highest female sterilization rates in the world. Although tubal sterilization was illegal in Brazil until 1997, it has been a common practice in the private sector and public healthcare system for many years, and various authors have denounced the high number of unnecessary cesareans used as an opportunity to perform tubal sterilization. According to a national study conducted by the Sociedade Civil Bem-estar Familiar no Brasil (BEMFAM) in 1996, approximately 53.0% of Brazilian women from 15 to 49 years of age who were married or in stable unions, and using some form of contraception, were sterilized. The age at which women seek sterilization has also decreased, and a large proportion of such surgeries are performed in women younger than 25 years. An increasing number of women have demonstrated regret after having been submitted to tubal sterilization. Regret rates vary from 0.1% to 50.0% of all women following tubal sterilization. Although the term "regret" is commonly associated with a feeling of sadness, sorrow, pain, affliction, hurt, dissatisfaction, and anxiety, some authors have

considered as "clearly regretful" only the women who manifest their desire and intent to submit to surgical reversal of tubal sterilization. The literature has shown an association between regret after tubal sterilization and the death of children, a new marriage, changes in socioeconomic status, the woman's age at the time of tubal sterilization, lack of information on surgical sterilization (including the issue of irreversibility), and the time the surgery is performed in relation to delivery, making the request for surgical reversal of tubal sterilization a complex phenomenon, difficult to study in isolation. According to Nervo et al., it is important to know the profile of the woman requesting tubal sterilization in order to decrease the odds of subsequent regret, since only 30.0 to 70.0% of the women who request reversal of tubal sterilization are actual surgical candidates for this subsequent procedure. A case-control study was conducted at the Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM), Recife, Pernambuco, Brazil, in 1997 to investigate the association between changes in family structure and request for or submittal to surgical reversal of tubal sterilization, comparing 304 sterilized women who had requested or were submitted to reversal of tubal sterilization to 304 women who were also sterilized but had not requested, had not submitted to, and who did not wish to submit to reversal. The simple and adjusted odds ratios were estimated using logistic regression. The results of the current study showed that death of children, partners without children prior to the current union, and partner change after tubal sterilization were associated with the request for or submittal to reversal of tubal sterilization. More strict criteria are suggested in the indication of tubal sterilization, including an in-depth profile of the woman requesting for tubal sterilization and identification of risk factors for future regret.



Key words: Post-sterilization regret; Sterilization Reversal, Women´s Health, Tubal sterilization; Case-control; Brazil

Publication/Presentation Cadernos de Saúde Pública, 21, 6:1768-1777, 2005

Contribuição ao Conhecimento


Risk Factors for Regret After Tubal Sterilization: Findings From a Case-Control Study in Brazil

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•ana Ludermir, Kátia Maria de Melo Machado, Aurélio Molina da Costa

•Mestrado em Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da UPE

INTRODUCTION: Tubal sterilization has been one of the most frequent forms of contraception in Brazil, so much so, in fact, that the Country has currently one of the highest rates of female sterilization in the world. Although being illegal in the country until 1997, tubal sterilization (TS) has been a common practice in the private sector and public health system for many years. A number of authors have reported rising rates of unnecessary cesarean sections as an opportunity to perform TS. A national study carried out in Brazil by the, Civil Society Family Well-Being organization (BEMFAM) revealed that approximately 40% of the women aged 15 to 49 years, with a partner and using some form of contraception, were sterilized. The age of women seeking for sterilization has dropped and a great number of the surgeries are carried out before the age of 25 years. The lack of information on the part of women, along with the scarcity of contraceptive methods in the public sector, the interventionist power of doctors regarding the body and health of patients, and the lack of technical training among health professionals in dealing with family planning are factors that interfere with women's autonomy when choosing a contraceptive method. An increasing number of women are showing feelings of regret related to the surgery. Regret indixes vary from 0.1% to 40% of all sterilized women. Although the term regret is frequently associated with feeling of sadness, disgust, pain, affliction, hurt, dissatisfaction and anxiety, some authors have considered "clear regret" to apply only to those women who express the wish and intention of submitting themselves to reversal surgery. The request for TS reversal is a complex phenomenon to study, and the literature has shown an association of feelings of regret related to TS surgery with the death of a child, a new marriage, change of partners, economic status, whether the decision for surgery came from the patient herself, patient's age and number of children before the time of TS, quality of family planning services, lack of information on

sterilization surgery (including the aspect of irreversibility), and the time the surgery was performed in relation to childbirth. This study investigates risk factors in requesting or submitting to TS reversal at the Reproductive Health Clinic of the Amaury de Medeiros Integrated Health Center, Northeast Brazil (CISAM).

METHOD: A case control study was carried out at CISAM in 1997 to investigate risk factors for regret following TS, comparing 304 sterilized women that requested for, or were submitted to TS reversal, with 304 sterilized women who did not request, and were not submitted to this surgery.

RESULTS: Women showing a significantly greater probability of regret were those sterilized at a young age, those sterilized between 1990 and 1995, those with relationship problems with the partner, those for whom the decision for surgery did not come from the patient herself, those for whom the sterilization was carried out before the 45th day after-childbirth, and those who had acquired knowledge on contraceptive methods after the TS procedure. Having had a deceased child, a partner without child, and changes in the partner's life after the TS procedure were also associated to requesting or submitting to TS reversal.

CONCLUSIONS: It is necessary to assess the psycho-socio-demographic profile of women, their reasons for requesting TS and to advise the patients with regard to family planning in order to reduce rates of post-sterilization regret.

•Descriptors: Post-sterilization regret; Reversal of tubal sterilization; Case-control; Brazil.

•Publication/Presentation: Fertility and Sterility, no prelo


Contribuição ao Conhecimento


Conhecimento, Atitudes e práticas do uso da Contracepção de Emergência em Mulheres Internadas por Motivo de Aborto no Recife (Série Histórica)

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•Aurélio Molina, Carolina Braun, Ana Paula de Medeiros Melo, Carolina de Freitas Cavalcanti

•Coordenação Geral de Pesquisas e Faculdade de Ciências Médicas, UPE


introdução: Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 30% das gravidezes no país terminam em abortamento de modo que, anualmente, ocorrem aproximadamente um milhão de abortamentos inseguros o que representa, 3,7 ocorrências para cada 100 mulheres de 15 a 40 anos. Segundo o relatório final da Comissão de Revisão da Legislação Punitiva, que trata da interrupção voluntária da gravidez, em 2004 cerca de 240 mil internações no SUS foram motivadas por curetagem pós-aborto, correspondentes aos casos de complicações decorrentes de abortamentos inseguros, ao custo de 35 milhões de reais. A contracepção de emergência é um método comprovadamente eficaz e tem suas indicações precisas (relações sexuais não planejadas e desprotegidas, uso inadequado de métodos anticoncepcionais, falha anticonceptiva presumida, ou em casos de violência sexual, como o estupro), podendo ser realizada através do uso de hormônios (anticoncepcionais orais e progestágenos), aprovados pelo Ministério da Saúde, em doses e tempo determinados, assim como através do uso do dispositivo intra-uterino (DIU). Sua aceitação e utilização parece vir aumentando ao longo dos anos, mas permanece polêmica em virtude de que um dos possíveis mecanismos de ação seria o de impedir a implantação do ovo (os outros são: interferência na ovulação, na espermomigração, na fertilização, na função lútea, no transporte e na nutrição do ovo).

Objetivo: Avaliar o conhecimento, as atitudes e a prática acerca do método de contracepção de emergência.

sujeitos e método: Foi realizado um estudo descritivo de corte transversal, do tipo kap survey, onde foram estudadas 86 mulheres internadas por abortamento em materni

dades do SUS-Recife, através de uma entrevista com questionário padronizado comparando os resultados com outro estudo semelhante realizado em 1998-9 (Molina e cols, 1999).

resultados: A análise dos resultados obtidos revelou que 10,5% das entrevistadas já tinham ouvido falar sobre contracepção de emergência (13,6%, no período de 1998-9; p=ns); quando questionadas sobre o termo "pílula do dia seguinte", este percentual subiu para 52,3% (13,6% no primeiro estudo; p<0,001). Entretanto, entre as que já ouviram falar da pílula do dia seguinte, apenas 38% das entrevistadas em 1998-9 e 29,8% no período atual, demonstraram um correto conhecimento sobre a contracepção de emergência. Em relação ao uso, 88,1% em 1998-9 e 97,7% em 2004-5 negaram ter usado alguma vez esta técnica anticonceptiva. Por outro lado, 88,1% em 1998-9 e 84,9% em 2004-5 responderam que poderiam fazer uso da mesma. Quando informadas de que um dos mecanismos da contracepção de emergência poderia ser considerado como um "micro aborto", apenas 11,4% em 1998-9 e 26,7% em 2004-5 das pacientes continuaram concordando em fazer uso dessa forma de contracepção (p< 0, 05).

interpretação: Esses achados, apesar de um aumento estatisticamente significante do número de mulheres que já ouviram falar da pílula do dia seguinte, demonstram que esta forma de anticoncepção precisa ser mais bem divulgada e que existe a necessidade de políticas governamentais educativas, assim como a inclusão deste método de emergência nos programas de planejamento familiar. O possível mecanismo de ação, através da não implantação do ovo, continua a exercer um efeito negativo na aceitação do método, mas nossos achados sugerem uma atitude mais favorável em relação a esta possível e polêmica ação da contracepção de emergência.

•Descritores: Contracepção, Emergência, Conhecimento, KAP survey, Pacientes

•Publicação/Apresentação: XXXI Jornada Pernambucana de Ginecologia-Obstetrícia, Cabo de Sto Agostinho, maio, 2005


Contribuição ao Conhecimento


O Crescimento Quali-Quantitativo da Iniciação Científica na UPE

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• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da UPE


introdução: O conceito mais aceito de Iniciação Científica é o da realização ou a participação em uma investigação científica, durante o curso de graduação, colocando o aluno desde cedo em contato direto com a atividade científica e engajando-o na produção do conhecimento. Do ponto de vista filosófico seus principais objetivos, de acordo com o CNPq, são o de despertar de novas vocações científicas, incentivar novos talentos, induzir o interesse pela pesquisa no campo da ciência e tecnologia, aumentar o número de participações em projetos científicos, disseminar o domínio do método científico, qualificar quadros para os programas de pós graduação, aprimorar o processo formativo dos profissionais, estimular pesquisadores produtivos a se engajarem com alunos da graduação, estimular a formação de grupos de pesquisas atuantes consolidando linhas de pesquisa, otimizar a capacidade de orientação dos pesquisadores e professores, reduzir o tempo médio de titulação do mestrado e doutorado, despertar para a importância da produção científica dentro da comunidade acadêmica, lembrando que ensino, pesquisa e extensão são indissociáveis.

objetivo: Este trabalho objetiva apresentar e discutir o crescimento da Iniciação Científica dentro da Universidade de Pernambuco, de 1997 até 2005.

apresentação e discussão: As bolsas do Fundo de Desenvolvimento à Pesquisa e Extensão (FDPE), financiadas com verba própria da UPE, passaram de 85, no seu início, para 152 no ano de 2005. Já as bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), do CNPq, cresceram de 20 para 85 no mesmo período e as bolsas BIC oferecidas pela FACEPE (com recursos do MCT) aumentaram de 4 para 19 no mesmo interregno. Além disso 3 unidades que compõem a UPE também passaram a oferecer bolsas de iniciação científica, a saber: Faculdade de Ciências Médicas (FCM), 10 bolsas, com recursos do Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares para as Escolas Médicas (PROMED); Escola Politécnica de Pernambuco (POLI), 18 bolsas, e a Faculdade de Administração de Pernambuco (FCAP), 20 bol

sas, sendo que as duas últimas insituições com recursos próprios. Portanto, de 1997 a 2005 houve um incremento de 300% no número de bolsas (de 105 para 311), isto sem levarmos em conta o número de bolsas de extensão (atualmente em torno de 30), que em muitos casos acabam também financiando projetos que possuem um duplo perfil (extensão e iniciação científica). Também marcante nesse período foi a reorientação dos editais que passaram não só a permitir mas a incentivar alunos dos primeiros períodos a participarem dos programas de IC, assim como privilegiar o maior número de projetos com qualidade, ao invés de concentrar um número maior de bolsistas em apenas alguns projetos, coerentemente com o objetivo de um maior fomento, aumentando a produção e a participação de um maior número de orientadores (especialistas, mestres e doutores) no programa. A democratização do fomento em relação às unidades que compõem a nossa IES foi também conseguida com a decisão de se criar um percentual de bolsas para cada unidade coerente, quantitativamente, com a demanda de projetos apresentadas por cada uma delas. A repercussão qualitativa positiva desse crescimento pode ser medida pelo incrementeo do número de grupos de pesquisas cadastrados no CNPq, no aumento dos projetos cientifícos apreciados pelos três Comitês de Ética em Pesquisa da Universidade (Central, o do CISAM e o do HUOC), pelo número de publicações científicas publicadas em periódicos classificados no Sistema de Qualificação dos Periódicos, Jornais, Anais e Revistas da CAPES (QUALIS), assim como pelos relatórios das comissões externas do CNPq.

Conclusão: A iniciação científica da UPE, como porta de entrada da pós-graduação stricto sensu e, principalmente, como instrumento de formação de recursos humanos adequados para a produção do conhecimento, integração dos pesquisadores, consolidação de linhas de pesquisa e aumento quali-quantitativo da produção do conhecimento, proporcionando as bases para que a UPE se torne um locus de excelência na investigação científica, tem sido uma ferramenta efetiva e de sucesso comprovado por qualquer dos parâmetros utilizados para sua avaliação.


Descritores: Ciência, Iniciação Científica, UPE, Formação, Estudantes

Publicação/Apresentação: XI Seminário de Iniciação Cientifica da UPE, Recife, Outubro, 2005

Contribuição ao Conhecimento


O Erro na Ciência

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• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da UPE


Introdução: Nos últimos anos, em virtude de inúmeros fatores, vem aumentando a preocupação com erros ocorridos tanto na produção do conhecimento quanto na sua divulgação e aplicação. Este ensaio opinativo oferece reflexões sobre a temática tentando, didaticamente, reunir os equívocos mais comuns dentro da Ciência em grandes grupos.

Grupos de Erros: 1) Relativos à formação de recursos humanos para C&T, despreparados para lidar com toda a complexidade da construção, aplicação e divulgação do conhecimento científico, que necessariamente tem que ser céptico, crítico, curioso, construtivo, criativo, capaz e competente, confiante, corajoso, compromissado e coerente; 2) Relativos à dogmatização da visão "A Ciência pela Ciência e para a Ciência", isto é, pela produção de um novo conhecimento tudo é possível e permitido e também, da que "não há, nem pode haver limites para a produção do conhecimento"; 3) Relativos à exclusão na produção do conhecimento, bem ilustrada pela atitude do ex-Ministro da C&T, Bresser Pereira, que em entrevista ao Jornal da Ciência da SBPC em 1999, afirmou que investir em Ciência no Nordeste era jogar dinheiro fora, talvez sabedor, como afirmava Francis Bacon, de que "saber é poder"; 4) Relativos à escolha, à paradigmatização e à dogmatização do Empirismo. Em verdade, a elevação do método empírico à categoria de dogma, como o único válido para a compreensão da realidade, parece ser uma das grandes fontes de erro na produção do conhecimento. Ao não se valorizar o método filosófico e a abordagem qualitativa, como a utilizada na psicologia, sociologia e antropologia, o dogma do empirismo, em que se faz necessário medir o que é mensurável e tornar mensurável aquilo que não o é, apesar de seu incrível valor, limita o potencial de análise da realidade, postura preconceituosa essa que não está em consonância com o atual paradigma científico que é o da complexidade, o multifatorial, o inter-relacional, o da interdependência, também chamado de paradigma quântico relativista ou holístico, ou paradigma da Teoria dos Sistemas ou ainda da Totalidade sem Costuras. Vale a pena aqui lembrar Platão que afirmou que não poderia uma teoria verdadeira vir só da ob

servação, hipotése essa comprovada por Einstein 2500 anos depois; 5) Relativos ao emprego do método empírico, pois a Ciência pode até ser neutra, mas o emprego do método não o é, existindo inúmeros interesses envolvidos, particularmente os pecuniários; 6) Relativos ao próprio pesquisador, devidos a deformações não só técnicas, mas também filosóficas, éticas, emocionais e de cidadania. Alguns acabam incorporando a visão de que o "cientista é um Deus, ou um semi-deus, que tudo pode"; 7) Relativos ao Meio Científico, pois o ambiente nos centros produtores de conhecimento é o de deformação de caráter, de desestruturação humanística e de alta e desleal competição, o que leva muitas vezes a uma obsessão para atingir um objetivo, independente da eticidade dos recursos e/ou das práticas, isto é, os fins justificando os meios; 8) Relativos à execução do método, como por exemplo, erros que acontecem na revisão da literatura, na definição das variáveis e de suas relações, na construção do instrumento de coleta dos dados; na aplicação do instrumento, na própria coleta dos dados; na análise dos dados e, finalmente, na interpretação dos resultados; 9) Relativos ao aspectos éticos e bioéticos do projeto, pois já está bem sedimentada o potencial de maleficência da biotecnociência, assim como, negativamente, a história de pesquisa envolvendo seres humanos. A "folha corrida" da Ciência em relação ao meio ambiente, e, também, o desrespeito pelo o bem-estar animal, lembram que os erros éticos e bioéticos podem estar presentes em todas as etapas de uma investigação científica; 10) Relativos à aplicação do produto científico, pois não há, na história da Ciência, a não utilização de qualquer técnica ou descobrimento científico quando existem interesses militares, econômicos e políticos envolvidos.

CONCLUSÃO: Este breve texto não pretende ser um estudo profundo sobre a taxonomia do erro científico. É somente uma tentativa de organizar e classificar, superficialmente, alguma das possíveis causas dos erros mais freqüentes presentes na produção do conhecimento, agrupando-as para uma melhor abordagem didática, a fim de permitir uma reflexão mais profícua sobre a temática e sobre possíveis atitudes e práticas que possam contribuir, para a diminuição quantitativa e qualitativa das mesmas.


Descritores: Epistemologia, Produção, Conhecimento, Ética, Bioética, Filosofia

Publicação/Apresentação: Café Filosófico, Livraria Cultura, Recife, Abril, 2005

Contribuição ao Conhecimento


Diminuindo os Erros na Ciência

121

• Aurélio Molina

• Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Coordenação Geral de Pesquisas da UPE


Introdução: O erro na Ciência tem várias gêneses. Neste ensaio opinativo epistemológico o autor apresenta algumas atitudes e práticas que, no seu entender podem evitar os equívocos e falhas mais freqüentes ocorridas durante a produção, aplicação e divulgação do conhecimento científico.

Diminuindo os erros: A primeira atitude para diminuição dos erros mais freqüentes cometidos, quer na produção quer na aplicação e divulgação do conhecimento, é a de resgatar a humildade de todos aqueles que lidam com Ciência, Tecnologia e Inovação, pois sabe-se que todas as verdades científicas são provisórias. Cônscio do atual paradigma científico que é o da multifatoriedade, complexidade e inter-relação de todas as variáveis observadas, aquele que lida com o conhecimento científico inevitavelmente deve ser socrático, pois só sabe que nada sabe. Portanto, todos aqueles que lidam com o conhecimento científico devem ser estimulados a uma racionalidade compatível com o atual paradigma, isto é, processar, analisar e interpretar qualquer fenômeno sob a ótica da complexidade e de interação de inúmeros fatores e variáveis. Isto poderá ser feito cultivando as 10 características fundamentais (Regra dos 10 Cs) daqueles que lidam com a informação científica, isto é, ser céptico, crítico, curioso, construtivo, criativo, capaz e competente, confiante, corajoso, compromissado, coerente. O controle ético da produção do Conhecimento através da ampliação e aperfeiçoamento do sistema CEP-CONEP (no caso do Brasil), mas principalmente aprimoramento da formação ética daqueles envolvidos com C & T e Inovação, é também uma atitude extremamente importante na profilaxia do erro na Ciência. A divulgação e a popularização da Bioética dentro da visão de que ela, apesar de ser intrinsecamente ligada à Ética e, portanto à Filosofia, é um novo Saber (reflexivo, interdisciplinar, trans-cultural, não dogmático e pragmático), que está ainda sendo construído, relacionado não só com a existência humana, mas com toda a Biosfera (portanto mais amplo e sem fronteiras), nos parece fundamental. A Bioética pretende ser um instrumento poderoso, tanto na construção quanto na divulgação e aplicação do conhecimento, visando, como movimento, à construção de uma sociedade mundial mais justa, fraterna, responsável,

livre, feliz e ecologicamente equilibrada e sustentável. É também de suma importância a massificação de sua corrente principialista onde os princípios da Beneficência, Não Maleficência, Autonomia e Justiça são úteis ferramentas no enfrentamento de muitos dos graves erros, reais ou potenciais, da tecnociência. A história dos erros na ciência indicam a necessidade da valorização do Princípio da Precaução que seria a garantia contra riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do Conhecimento, não podem ser afastados ou descartados. Em outras palavras, esse princípio indica que havendo indícios de riscos, principalmente se forem de considerável monta e impacto em qualquer ação, atividade, intervenção etc, ainda que de difícil, ou até mesmo de impossível, mensuração e quantificação, a "incerteza" deve ser invocada para uma moratória de ações. Finalmente, é nossa opinião que muitos erros poderiam ser evitados humanizando-se a Ciência, o que pode ser feito através de cinco posturas básicas: 1) aumentando a sensibilidade, o respeito e, até mesmo, a reverência pelo fenômeno Vida; 2) incrementando a sensibilidade, o respeito e até mesmo a reverência pelo fenômeno Vida Humana; 3) ampliando o respeito pela dignidade da Vida Humana, independente se esse respeito é por convicções religiosas, ateias ou até mesmo ufólogas; 4) praticando o respeito ao princípio de que todos nascem iguais em direitos e dignidade; 5) E, em casos extremos, se assim for necessário, aceitar que há uma primazia da espécie humana em relação a outras espécies.

Conclusão: Para aqueles que possam afirmar que a aplicação desses postulados é impossível, o autor termina lembrando a máxima do Conde de Mirabeau "Impossível? Nunca me diga essa palavra ridícula", a do dramaturgo francês Jean Cocteau "não sabendo que era impossivel, foi lá e fez" e a de Ben Gurion "O difícil a gente faz imediatamente. O impossível leva um pouco mais de tempo", lembrando também que a dialética nos diz que tudo muda e tudo evolui, mas que é preciso ação, atitudes e que o atual paradigma científico nos incita à militância e ao ativismo.


Descritores: Epistemologia, Ética, Bioética, Filosofia, Equívocos, Atitudes, Práticas, Estratégias

Publicação/Apresentação: Café Filosófico, Livraria Cultura, Recife, Abril, 2005

Contribuição ao Conhecimento


Uma Década de Avaliações sobre Abortamentos Provocados com Cytotec no Recife (1995-1998/9-2005)

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• Aurélio Molina, Alberto Barros, Felipe Ferro

• Coordenação Geral de Pesquisas e Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da UPE


INTRODUÇÃO: Vários trabalhos vêm demonstrando que o Misoprostrol (Cytotec) tornou-se uma opção bastante freqüente para a interrupção de uma gravidez indesejada na maioria das cidades brasileiras. Molina e Cols encontraram que 89%, em 1995, e 69%, em 1999, das mulheres internadas com diagnóstico de abortamento nos hospitais do SUS Recife e que admitiram ter voluntariamente interrompido a gestação tinham utilizado essa prostaglandina sintética.

OBJETIVO: Atualizar série histórica sobre o uso do Cytotec para interrupção voluntária da gravidez, comparando os resultados com pesquisas semelhantes realizadas, pelo mesmo autor principal, em 1995 e 1998/9.

SUJEITOS E MÉTODO: Através de estudo descritivo, de corte transversal, utilizando entrevista estruturada foram pesquisado 139 mulheres internadas com diagnóstico de abortamento em maternidades do SUS Recife (CISAM, Agamenon Magalhães, Barros Lima, Maternidade Municipal do Ibura, IMIP) no período entre setembro de 2004 e março de 2005.

RESULTADOS: O percentual de abortamentos provocados foi de 16% (22 pacientes) sendo que dessas 91% (20 casos) tinham utilizado o Cytotec (89% em 1995 e 69% em 1998/9); a idade média dessas pacientes era de 23 anos, com uma mediana de 22,5, mínima de 14 e máxima de 34 e com uma média de 3 gestações (mediana de 3, mínima de 1 e máxima de 6) e uma paridade média de 1,5 partos (mediana de 1; mínima de 0 e máxima de 4). Em 80% dos casos aquele era o primeiro abortamento provocado, sendo que as amigas e vizinhas (65%) foram a maior fonte de indicação do medicamento (44% em 1995 e 81% em 1998/9). Em 15% dos casos, a fonte eram as próprias usuárias (3% e 36% nas pesquisas anteriores), seguida do companheiro e família, cada uma das fontes com 10% de citações. A gestação se encontrava em média na 7ª semana e meia (mediana de 8; mínima 3, máxima 16). A dose mais freqüente foi a de 2 comprimidos via oral e 2 vaginais em 75% da nossa casuística (78% e 68% em 1995 e 1998/9, respec

tivamente), seguida das doses de 3 comprimidos vaginais e 1comprimido via oral, em 10% dos casos. O meio/local de obtenção do medicamento foi o de um vendedor, intermediário ou ambulante (traficante/contrabandista) em 40% da vezes, seguida pela farmácia com 20% (4 casos) e amigas com também 20% . O preço médio pelo tratamento foi de R$90,00 (mínimo de 60 e máximo de 150, modal de 80 e mediana de 82) sendo de R$ 40,00 em 1995 e R$ 34 em 1998/9. O próprio vendedor foi o a pessoa mais freqüentemente citada como aquela que ensinou a utilizá-lo 40% (8), seguida pela amiga/vizinha 25% (5 casos); balconista 15% (3); a mesma 10% (2); família 5% (1); parceiro 5% (1). Não houve necessidade de repetição da dose em 95% (19) das vezes e o inicio do sangramento ocorreu em média 6h após o uso (mediana de 3h; modal de 1h; mínima de 1h; máxima de 26h). Em 85% das vezes, em 1995, e 68% em 1998/9, o sangramento ocorreu em até 12hs . O diagnóstico de internação mais comum foi o de incompleto 65% (73% tanto em 1995 quanto em 1989/9), infectado em 20% das situações, retido, (em 10%) e inevitável em uma paciente (5%) muito semelhante ao diagnóstico pós-curetagem: incompleto 65%, infectado 25% e retido 10%. Não ocorreram complicações em 90% (18) dos casos (um caso com infecção e outro necessitou recuretagem).

CONCLUSÃO: Comparando-se com os achados de 1995 e 1999 verificamos que o uso do Misoprostol para a interrupção de uma gravidez indesejada voltou ao elevado nível de utilização de 10 anos atrás, após uma pequena queda, creditada pelos autores, a uma forte repressão naquele momento de 1998/9. As amigas voltaram a ser a fonte de informação mais freqüente e o preço médio mais do que dobrou no interregno estudado. A dose utilizada permaneceu a mesma durante toda a década, cristalizando-se quase em um paradigma "posológico popular". Nossos dados, isoladamente ou vistos em conjunto, mesmo com limitações metodológicas para generalizações, suportam a hipótese de que o Cytotec se consolidou como a mais comum opção para o abortamento voluntário entre as mulheres de baixa renda na cidade do Recife.


Descritores: Misoprostol, Abortamento, Recife, Cytotec, Interrupção Voluntária, Gravidez

Publicação/Apresentação: XI Seminário de Iniciação Cientifica da UPE, Recife, Outubro, 2005

Contribuição ao Conhecimento


Atualização e Comparação das Práticas Sexuais de Risco para DSTs/AIDS entre Estudantes de Medicina da Universidade de Pernambuco

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• Aurélio Molina da Costa, Elyse Carvalho Borges dos Santos, Rodrigo Oliveira Silva, Marianne Regina Araújo

• Coordenação Geral de Pesquisas da Universidade de Pernambuco (UPE)


INTRODUÇÃO: Embora sejam conhecidas desde a Antigüidade, as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), têm continuado a crescer. e são algumas das principais causas de doenças agudas (como por exemplo as inflamatórias pélvicas) e crônicas (até mesmo câncer), congênitas, infertilidade e morte (inclusive fetal), com graves conseqüências clínicas e psicológicas para milhões de homens, mulheres e crianças (WHO, 2004). Associada a isso, as três últimas décadas viram surgir uma nova forma de doença infecto-contagiosa, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), que possui um importante componente sexual na sua epidemiologia. Em verdade, as DSTs e a AIDS constituem um importante problema de saúde pública tendo sido notificados, desde o início dos anos 80 até 2003, 40 milhões de casos de AIDS em todo o mundo (UNAIDS, 2004). No Brasil, o número de casos notificados foi de 257.780, entre o período de 1980_2003 (Ministério da Saúde, 2004), sendo que em Pernambuco este número foi de 7284 casos (Ministério da Saúde, 2004). A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004) estima que, a cada ano, ocorram no mundo 340 milhões de casos novos das principais DSTs curáveis (sífilis, gonorréia, clamídia e tricomoníase). Esses dados justificam a grande preocupação dos profissionais de saúde pública em todo o mundo com a prevenção de ambas patologias (DSTs e AIDS). Portanto, para uma correta formulação de políticas de saúde visando o controle dessa problemática, necessário se faz, entre outras medidas, o estudo sobre o conhecimento, as atitudes e práticas sexuais da população em geral, ou de grupos mais vulneráveis ou de maior relevância para seu controle colaborando para o controle e a prevenção das DSTs/AIDS por meio de uma avaliação da prática do sexo seguro entre estudantes de medicina.

OBJETIVO: Conhecer atitudes e práticas sexuais de risco entre estudantes de medicina de uma universidade pública comparando os achados com outro estudo semelhante realizado em 1997.

SUJEITOS E MÉTODO: Estudo observacional, descritivo e de corte transversal, realizado através da aplica

ção de questionários estruturados e padronizados (com pequenas diferenças para sexo masculino e feminino), contendo 42 perguntas, em caráter anônimo, voluntário e consentido, respondidos por 104 estudantes de medicina do I ao IX período, alunos da UPE, sendo 47 do sexo feminino e 57 do sexo masculino.

RESULTADOS: A média de idade foi de 21 anos (mulheres) e 22 anos (homens). Dentre muitos dados obtidos e analisados destacamos que em relação à opção sexual, 96,4% dos rapazes afirmam ser heterossexuais (igual a 1997). Já quanto à vivência de experiências sexuais vaginais, apenas 3,5% dos homens dizem ser virgens (5% em 1997), enquanto 36,2% das mulheres nunca tiveram tal experiência (63% em 1997) (p < 0,01). A idade de início da atividade sexual foi, em média, 15,6 anos para os homens (15 anos em 1997) e 18,5 para as mulheres (19 em 1997). Considerando o número de parceiros sexuais ao longo da vida, a média feminina foi de aproximadamente 2,6 (2 em 1997) e a masculina de 9,8 (3 em 1997). Quanto à avaliação da utilização do condom para evitar DSTs/AIDS, 91,6% das mulheres com vida sexual ativa fazem uso de preservativo (63% em 1997) (p < 0,01), prática que aumenta para 96,2% entre os homens (88% em 1997) (p = 0,05). A experiência do sexo oral já tinha sido vivenciada por 86,2% das mulheres que já tiveram relacionamento sexual (53% do total de entrevistadas, sendo que em 1997 era de 29%) (p < 0,05), muito semelhante aos homens, que totalizaram 89,1% (71% em 1997) (p < 0,01). Em relação ao sexo anal, encontramos cifras de 39,3% entre as mulheres (27% em 1997) (p = ns) e de 52,2% entre os homens (24% em 1997) (p < 0,001). Os entrevistados, de um modo geral, quando "ficam" não demonstraram grande preocupação em relação a questionar os seus parceiros sobre suas opções sexuais , número de parceiros, uso de drogas injetáveis ou, ainda, uso de condom anteriormente. Essa postura muda quando namoram, com 66,7% das mulheres e 61,8% dos homens procurando saber sobre o número de parceiros anteriores (69% em 1997) (p = ns), assim como 67,1% da mulheres (49%

Contribuição ao Conhecimento


em 1997) (p = ns) e 53;7% dos homens discutem sobre o uso de drogas injetáveis no passado (46% em 1997) (p = ns) e 80% das mulheres e 63% dos homens questionam sobre o uso de condom com parceiros/as anteriores (75% e 72%, respectivamente, em 1997) (p = ns, para ambos).

CONCLUSÃO: Apesar dos riscos de vieses que possuem as pesquisas que tratam de assunto tão sensível como práticas sexuais, nossos dados sugerem que os jovens de um segmento social, que teoricamente é um dos mais bem informados, estão mais envolvidos com práticas sexuais de risco para DSTs/AIDS quando comparados com 1997. Por outro lado, parece que houve também um aumento da utilização do condom mas não um incremento em relação à preocupação com seu uso prévio por parte dos atuais parceiros sexuais. A maior liberalidade encontrada sem uma clara contrapartida em termos de mudanças de atitudes e práticas preventivas sugere que campanhas educativas sobre o sexo seguro e práticas de risco para DSTs/AIDS precisam não só ser mantidas como incrementadas.


Descritores: DSTs, AIDS, Atitudes, Práticas, Sexo Seguro, Prevenção, Estudantes

Publicação/Apresentação: XI Seminário de Iniciação Cientifica da UPE, Recife, Outubro, 2005

Aurélio Molina


Mastalgias Cíclicas: Quando Tratar Medicamentosamente

124

•Flávio Nunes Sivini, Aurélio Molina, Cícero F. Fernandes Costa, Flávio Murilo Pinho Sivini

•Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade de Pernambuco e Hospital Universitário Oswaldo Cruz- Recife


INTRODUÇÃO: Existe um grande número de opções terapêuticas no tratamento das mastalgias, incluindo a prescrição de diversos fármacos, muitas vezes de custo elevado, alguns com eficácia nem sempre comprovada e outros com efeitos colaterais, às vezes significativos. É reconhecido também que metade das pacientes tratadas terá recorrência em período curto de tempo, após terem experimentado melhora e suspendido o tratamento. Para autores como Blue e Harman (1998), uma vez discutida a causa e as opções de tratamento da dor mamária e o câncer ter sido excluído, essas paciente costumam descartar o tratamento medicamentoso. A escolha do tratamento com a droga mais apropriada deve ser feita em conjunto com as pacientes, levando em consideração a severidade da dor, as chances de melhora e os efeitos adversos. Se a dor persiste após a orientação verbal e a paciente assim o desejar, o tratamento medicamentoso é então instituído. O uso em grande escala de produtos a base de vitamina B, ácidos linolênico e vitamina E, considerados produtos naturais, são os escolhidos pelas pacientes e considerados de primeira linha. Tomando como apoio a literatura pertinente, resolveu-se, antes de tratar com drogas consideradas eficazes as nossas pacientes que não melhoraram com a orientação verbal, discutir aspectos inerentes ao seu uso como custos, efeitos colaterais, efeito esperado e opções terapêuticas. Aproveitou-se a oportunidade para fazer nova orientação verbal e analisar a reação do grupo diante da expectativa medicamentosa.

OBJETIVO: Discutir a oportunidade do tratamento medicamentoso nas mastalgias cíclicas.

SUJEITOS E MÉTODO: Uma amostra de 128 pacientes com mastalgia cíclica de diferentes graus de intensidade foi submetida a tratamento não-medicamentoso (orientação verbal). Para avaliar a intensidade da dor, foi usada uma escala analógica visual da dor, antes e

após o tratamento. Usou-se também o Cardiff Breast Score (CBS) para avaliar a resposta clínica. Às pacientes que não melhoraram com a orientação verbal, foi oferecida a opção de tratamento medicamentoso, após considerações sobre custos, efeitos colaterais e resultado esperado. A análise dos dados foi feita com o teste do qui quadrado (Epi-info 6.04).

RESULTADOS: Verificou-se índice de sucesso com a orientação verbal de 59,4%, considerando critérios preestabelecidos no estudo. Do grupo restante, de 52 mulheres (40,6%), ao qual foi oferecida a opção medicamentosa, apenas 14 (26,9%) resolveu aceitá-la. Constatou-se, portanto, uma rejeição ao uso de drogas de 73,1%. Apenas o grupo que apresentava mastalgia intensa (grau III) concordou com a opção medicamentosa sem ressalvas já que entre aquelas com mastalgia leve (grau I) nenhuma concordou com qualquer tratamento e entre as com mastalgia moderada (grau II) apenas um terço concordou com um tratamento medicamentoso (p = 0,002).

CONCLUSÃO: Nossos resultados sugerem que o tratamento medicamentoso só deve ser feito após um insucesso da orientação verbal e que, se forem discutidos, criteriosamente, custos, benefícios e malefícios de tais regimes medicamentosos, apenas as pacientes com mastalgia severa e moderada optarão por fazê-lo.


Descritores: Mastalgias, Dor Mamária, Tratamento, Efeitos Colaterais, Orientação Verbal, Terapêutica

Publicação/Apresentação: Revista Brasileira de Mastologia, vol 15, n 3, 114-18, 2005

Contribuição ao Conhecimento


Comparação entre o Óleo de Borragem e o Óleo de Girassol Quanto à Eficácia no Tratamento de Mulheres com Mastalgia Cíclica

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•Ana Leide Guerra dos Santos, Antônio Figueira Filho, Aurélio Molina, Rossano F. Araújo

•Disciplina de Mastologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade de Pernambuco


INTRODUÇÃO: Para a maioria das mulheres, a mastalgia pré-menstrual constitui-se processo fisiológico com duração de dois a três dias, de leve intensidade, autolimitado e que não interfere na vida sexual, familiar ou nas atividades de trabalho. Todavia, para algumas, essa mastalgia cíclica é um problema com maior duração, de sete a 15 dias, que, quando intenso e cronicamente persistente, passa a interferir na qualidade de vida, podendo levar a manifestações como ansiedade ou depressão. Algumas vezes, essa dor é progressiva e estende-se por todo o ciclo menstrual, com reforço no período pré-menstrual, características essas que fizeram com que fosse classificada anteriormente como mastalgia intensa. Segundo vários autores, o tratamento medicamentoso é reservado para as mulheres que não respondem à orientação verbal e às medidas gerais. A dor de grau moderado a intenso que interfere em suas atividades cotidianas justifica a terapêutica farmacológica, existindo várias opções com resultados variáveis. Em 1988, Goodwin e col, por meio de revisão da literatura, classificaram o Óleo de Prímula como a terapêutica definitiva da dor mamária cíclica. Essa opção surgiu com base na suposição de que a mastalgia ocorria devido a anormalidades na síntese de prostaglandina, secundárias a uma dieta inadequada de ácidos graxos essenciais (AGEs), acarretando deficiência desses ácidos. Posteriormente a Escola Britânica de Mastologia de Cardiff preconizou, como primeira linha, o Óleo de Prímula (OP), enquanto que alguns autores brasileiros passaram a prescrever tanto o OP quanto os compostos de AGEs poliinsaturados gama-linolênico e linoléico. Como os óleos de borragem e de girassol são fontes de ácidos gama-linolênico, linoléico e oléico, a utilização do óleo de girassol para o tratamento de mulheres com mastalgia cíclica, ambos poderiam constituir-se em

conduta alternativa ao uso do Óleo de Prímula.

OBJETIVO: Determinar e comparar, a efetividade e os possíveis efeitos dos óleos de borragem e de girassol, no tratamento da mastalgia cíclica moderada à intensa.

SUJEITOS E MÉTODO: Realizamos um estudo aleatório, duplo cego, tipo ensaio clínico, no período de fevereiro de 2001 a dezembro de 2002, envolvendo 111 mulheres. Mensalmente, a intensidade de dor mamária foi avaliada por escala analógica (EVA). As participantes foram subdivididas em dois grupos, segundo medicamento administrado, a saber, 56 em uso de cápsulas de óleo de borragem e 55 de óleo de girassol, ambos na dose de 1 cápsula ao dia, durante 3 meses. Ao final do tratamento, a evolução das intensidades de dor de cada paciente foi avaliada pelo Cardiff Breast Score, para determinação da responsividade terapêutica.

RESULTADOS: A taxa de resposta terapêutica foi 71,4% e 76,4% respectivamente para o óleo de borragem e de girassol, não havendo diferença, estatisticamente significativa, entre os medicamentos. A cefaléia, o stress percebido e o edema mamário reduziram-se em ambos os grupos. Três mulheres do grupo do óleo de girassol apresentaram sangramento vaginal profuso.

CONCLUSÃO: Ambos os medicamentos foram eficazes no tratamento da mastalgia cíclica moderada à intensa. São necessários estudos adicionais para determinar a relação custo/benefício do óleo de girassol, inclusive para avaliar a relação causal com sangramento vaginal.


Descritores: Mastalgia Cíclica, Dor Mamária, Tratamento, Efeitos Colaterais, Ácidos graxos essenciais,

Publicação/Apresentação: Revista Brasileira de Mastologia, vol 15, n 3, 119-29, 2005

Contribuição ao Conhecimento


Série Histórica sobre Conhecimento, Atitudes e Práticas em Relação ao Aleitamento Materno em uma Maternidade Universitária do Recife

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•Aurélio Molina, Marianne Regina Araújo Sabino, Rodrigo de Oliveira Silva

•Coordenação de Pesquisas da UPE, Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade de Pernambuco


INTRODUÇÃO: São inúmeras e bem estabelecidas as vantagens nutricionais, psicossociais, contraceptivas e imunológicas do leite materno (King, 1985), podendo ser destacados o baixo custo, contracepção fisiológica pelo aleitamento materno exclusivo, redução dos níveis de colesterol sérico na vida adulta, menor probabilidade de obesidade, proteção contra infecções, menor chance de alergia e relação afetiva mais intensa entre mãe e filho (Camilo et al, 2004). Uma das causas apontadas para o desmame precoce é a falta de conhecimento que a mãe tem a respeito da qualidade de seu leite, tanto para saciar a fome, como para conduzir a um adequado desenvolvimento do seu filho (Sandre-Pereira et al, 2000). A amamentação no primeiro ano de vida pode ser a estratégia mais exeqüível de redução da mortalidade (Escuder et al, 2003). A política de saúde da criança no Brasil baseia-se na promoção, na proteção e no apoio ao aleitamento materno, visando à diminuição da mortalidade infantil e à melhoria da saúde. Essa abordagem trouxe inúmeros avanços, embora ainda hoje seja necessário tratar esse tema como de extrema importância, colocando-o como uma das peças fundamentais dos cuidados primários da saúde (Camilo et al, 2004). Seguindo a linha da UNICEF do "triplo A" (apreciação, análise e ação), os autores decidiram investigar as mudanças ocorridas em relação ao aleitamento materno num interregno de cerca de 10 anos.

OBJETIVO: Estudar os conhecimentos, atitudes e práticas sobre aleitamento materno entre as usuárias da Maternidade da Encruzilhada-CISAM, comparando os resultados com pesquisa semelhante realizada em 1996.

SUJEITOS E MÉTODO: O estudo foi observacional, tipo descritivo, de corte transversal, conhecido como "KAP (knowledge, attitudes and practices) survey", isto é, um estudo sobre conhecimento, práticas e atitudes. Através de uma entrevista estruturada com perguntas abertas e fechadas, foram colhidas informações de 100 puérperas que pelo menos já tivessem um filho vivo. Foi realizada uma amostragem de conveniência sen

do abordada de maneira sistemática a primeira paciente à direita da entrada da enfermaria, sendo a próxima entrevistada três pacientes após a anterior, pulando-se duas, entrevistando-se a quarta e assim por diante. As visitas às enfermarias foram realizadas em um intervalo de 72 horas entre elas a fim de que a ação educativa não interferisse nos resultados.

RESULTADOS: O tempo médio de amamentação foi de cerca de 13 meses com valor mediano de 6 meses sendo de 4 meses de amamentação exclusiva (8m, 3m e 3 e meio meses, respectivamente, em 1996). Em relação ao tempo ideal de amamentação a mediana apontou 6 meses (12 m em 1996) sendo que 54% tinha consciência que havia amamentado pouco (64% em 1996). Cerca de 40% já tinham assistido ou participado de algum evento sobre amamentação (30% em 1996) e só 5% não tinham amamentado o filho anterior (8% em 1996), sendo que as razões mais freqüentes apontadas foram: 40% porque "não pegou o peito" (25% em 1996), 40% "positividade para o HIV" e 20% porque "estava tomando alguma medicação" (0% em 1996). Diferentemente de 1996, não foram citadas "internação hospitalar", "falta de tempo" ou "necessidade de trabalhar", "não criou o filho" e "falta de leite", que em 1996 foram citadas por 25%, 25%, 13% e 13%, respectivamente. Os 5 principais motivos para a parada da amamentação foram: "o peito secou/leite acabou/era pouco/não satisfazia" com 23% (42% em 1996), "criança não quis mais/enjoou" 23% (26% em 1996), "engravidou" 14% (4% em 1996), "trabalhar" 11% (4% em 1996) e "tomou remédio/problemas de saúde" 10% (7% em 1996). A maioria, 71%, (64% em 1996) não acreditava que a amamentação deixa a "mama caída" e concorda que o leite materno é mais "forte" que o leite de vaca (87%, em ambos os cortes temporais). A maioria, 94%, (88% em 2006) também acredita que o colostro é importante para o bebê tendo 69% consciência que o mesmo é suficiente para alimentá-lo (77% em 1996) e satisfazê-lo (58% X 69% em 1996), mesmo durante os primeiros dias. Interessante observar que 36% (44% em 1996)

Contribuição ao Conhecimento


ainda consideraram o leite materno "salgado" sendo que 21% (33% em 1996) acharam que esse fato prejudica a amamentação. Houve uma inversão estatisticamente significante (p = 0,03) em relação à necessidade de água e chá (40% X 55% em 1996) para complementar o leite materno. A maioria (72% X 67%, em 1996) ainda acredita que se a mama está inflamada deve-se parar a amamentação. Já em relação ao uso de antibióticos novamente houve uma inversão sendo que agora apenas a minoria (30%) acha que a amamentação deve ser suspensa (61% em 1996, p < 0,001). A maioria ainda considera necessário lavar as mamas antes de amamentar, mas houve uma diminuição estatisticamente significante (86% X 98% em 1996, p = 0,001). Em compensação, apenas 12% afirmaram que o leite materno dá diarréia (mesmo valor de 1996) e a totalidade (99% em 1996) está consciente que o fato de o bebê sugar o peito "ajuda o leite chegar", assim como a maioria acha que a chupeta (68% X 75% em 1996) e a mamadeira (68% X 69%, em 1996) prejudicam a amamentação, que por sua vez não prejudica a vida sexual da mãe (97 X 95% em 1996).

CONCLUSÃO: Apesar de algumas melhoras, tanto qualitativas quanto quantitativas, algumas estatisticamente significantes, nossos achados indicam a necessidade da continuação de esforços e campanhas de esclarecimento em relação ao aleitamento materno como importante instrumento na atenção à saúde da mãe e da criança.


Descritores: Amamentação, Aleitamento, Conhecimentos, Atitudes, Práticas, Recife

Publicação/Apresentação: XI Seminário de Iniciação Cientifica da UPE, Recife, Outubro, 2005

Aurélio Molina


Atualização de Série Histórica sobre Conhecimento e Atitudes Relativas à AIDS Entre as Usuárias do CISAM

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•Aurélio Molina da Costa, Cláudio Whitaker Verri de Araújo, Antônio Peretti de Luna Freire Neto

•Coordenação Geral de Pesquisas da UPE, Departamento Materno Infantil da Faculdade de Ciências Médicas (UPE)


INTRODUÇÃO:A pandemia da AIDS se tornou um desastre humano, social e econômico, atingindo indivíduos, comunidades e países. No mundo existem cerca de 42 milhões de pessoas HIV positivas (24 milhões na África) e em torno de 3 milhões já faleceram da doença. No Brasil, desde a identificação do primeiro caso em 1980, até junho de 2005, já foram notificados cerca de 371 mil casos da doença com 172 mil óbitos até dezembro de 2004 (Ministério da Saúde, 2005). Dados da década de noventa sugerem que a epidemia cresce 9 vezes mais entre as mulheres. Entre as gestantes brasileiras, 0,61% são portadoras do vírus HIV. As campanhas de prevenção da AIDS são essenciais no combate à disseminação do vírus HIV, sendo que as pesquisas que avaliam o conhecimento, as atitudes e as práticas da população são instrumentos muito importantes para o desenvolvimento das estratégias dos programas de prevenção. Pesquisas anteriores (Molina et al, 1993 e 1997), entre mulheres de baixa renda que freqüentavam os serviços do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM-UPE) revelaram um baixo nível de conhecimento sobre a AIDS.

OBJETIVO: Verificar o conhecimento e atitudes relativas a AIDS, entre as usuárias do CISAM comparando os achados atuais com resultados das pesquisas anteriores, caracterizando uma série histórica.

SUJEITOS E MÉTODO: Utilizando um questionário padronizado, entrevistamos 154 pacientes grávidas que realizaram pré-natal e encontravam-se na sala de parto, emergência tocoginecológica e ambulatório do CISAM.

RESULTADOS: Entre as pacientes entrevistadas, 7,5% afirmaram desconhecer como se transmite a AIDS (16% em 1993 e 15% em 1996, p = ns). Estimuladas diante de várias opções, 23% responderam afirmativamente

que se poderia contrair AIDS através do beijo (31%, em 1993 e 32% em 1996, p = ns); Um terço (32,5%) concordou com a afirmação de que a contaminação pode ocorrer quando se compartilha o banheiro (52% e 50%, anteriormente, p < 0,01), 14,3% através do compartilhamento de roupas (38% e 31%, anteriormente, p < 0,003), 5,2% através do ar (34% e 20%, nas pesquisas anteriores, p < 0,001), 23,4% através do copo d'água (49% e 38%, em 1993 e 1996, respectivamente, p < 0,02). Nenhuma concordou com a possibilidade de transmissão pelo "aperto de mãos" (14% e 6% anteriormente, p < 0,01). Perguntadas sobre atitudes que poderiam evitar a AIDS, quando estimuladas, 25% acreditam que a higiene após o ato sexual evita a AIDS (46% e 28% nos cortes passados, p = ns) e 36% acreditam que o bom conhecimento do parceiro previamente ao ato sexual também é uma medida que previne (77%, em 1993 e 57% em 1996, p <0,001). Cerca de um quinto das entrevistadas (19,5%) acham que AIDS tem cura (12% nas duas séries anteriores, p = ns).

CONCLUSÃO: Comparando os resultados atuais com os das pesquisas anteriores, observamos uma melhora geral no nível de conhecimento e atitudes em relação à AIDS, mantendo-se uma tendência positiva já observada na comparação entre 1993 e 1996 (Molina e cols, 1997). Entretanto, como demonstram nossos achados, o nível de conhecimento e as atitudes (como um potencial modo de proceder e de agir) está longe do ideal entre esse grupo populacional de gestantes de baixa renda, o que sugere uma manutenção e ampliação das políticas públicas educativas e de campanhas informativas voltadas para esse segmento da sociedade brasileira.


Descritores: AIDS, Conhecimentos, Atitudes, Mulheres, Recife, Brasil, Série Histórica

Publicação/Apresentação: XI Seminário de Iniciação Cientifica da UPE, Recife, Outubro, 2005


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