Páginas da WEB Acessíveis a Cegos.

Acessibilidade.



      Meu objetivo nesse evento, como usuário da internet, desenvolvedor de páginas da web e deficiente visual, é o de fazer um depoimento a respeito de "Portadores de Deficiência e Acessibilidade nas Páginas da Web".

     Serei mais específico com relação a minha deficiência devido à óbvia razão de ser meu campo de experiência, mas tenho consciência, por estudos de acessibilidade e troca de informações com pessoas de outras deficiências, das dificuldades e barreiras muitas vezes encontradas por outros ao acesso as páginas da internet.

     Para as pessoas entenderem melhor como deficientes visuais podem operar computadores, algumas coisas básicas têm de ser conhecidas:

- não nos utilizamos de mouses paraa fazer executar as tarefas dos vários aplicativos, pois eles exigem coordenação visual (mira), sendo o teclado nossa solução facilitadora. Teclados em Braille? Não, sei até da existência de teclados em Braille, mas podemos utilizar da forma mais objetiva e tranquila qualquer teclado comum de micro-computadores. Devido a uma norma internacional de datilografia, a maioria dos teclados possuem em sua parte inferior, nas letras J e F, um alto relêvo com a forma de um ponto. Assim, com os indicadores nessas letras temos domínio do teclado básico. Sei, por exemplo, que se for para baixo com o dedo indicador direito encontrarei o M, com o mínimo esquerdo para cima encontrarei o Q etc. Quando nos deparamos com os poucos teclados em que não existem esse relevo nas mencionadas teclas, basta colocarmos um durex ou esparadrapo para torná-los acessíveis.

- As >teclas de atalho, comuns na maioria dos aplicativos é outra solução. Se você nesse momento quiser testar uma tecla de atalho e estiver com o Internet Explorer, pressione alt + "a" e perceberá que irá diretamente para o menu Arquivos, se for com a seta para baixo poderá percorrer a lista de opções desse menu e, se por acaso quiser acionar alguma delas, bastará teclar enter na opção desejada que servirá como um clique do mouse. As setas para direita e esquerda percorrem os demais menus do aplicativo e ainda, se quiser finalizar, basta pressionar esc para sair do menu. Nas páginas da internet, nossa forma de navegar é utilizando principalmente a tecla tab. Essa tecla faz com que possamos percorrer a página indo de link em link de cima para baixo e shift mais tab faz o mesmo só que de baixo para cima. Para entrar em um link é só dar enter e para voltar a página anterior bastar teclarmos alt mais seta para a esquerda; alt mais f4 faz sairmos do Internet Explorer e por aí em diante... Essas teclas de atalho e inúmeras outras, são comuns aos navegadores e qualquer pessoa pode utilizá-las na falta de um mouse ou simplesmente para teste. Dessa maneira vamos "passeando" por aí, realizando tarefas e muitas coisas antes impossíveis.

- O acesso de uma pessoa, portadora de defficiência visual acentuada ou total, às páginas da internet, são proporcionadas por softwares conhecidos como "ledores de tela" (screanreaders) associados a outros denominados de sintetizadores de voz. Esses softwares lêem as telas para nós. Começaram a surgir no Brasil para micro computadores desde 1994, evoluindo técnicamente até os dias de hoje, com o objetivo de aumentar cada vez mais o acesso fácil e sem transtornos por nós, as várias opções de navegação nos sistemas e seus aplicativos, como também, mais específicamente, nas páginas da internet.

Hoje podemos não só navegar por essas páginas como produzí-las por conta própria, participar de chats, ler jornais e revistas, fazer compras, fazer cursos on line, ter acesso a manuais, informação em geral, a prestadoras de serviços, enfim, quase tudo que a WEB pode oferecer aos seus usuários. Acessibilidade.

     Nossos limites e facilidades de acesso a tudo isso por nossos programas de fala, são conhecidos por uma designação que pode servir a quase tudo que se refira a obstáculos e facilidades, virtuais ou não: no nosso caso, chamamos de acessibilidade à viabilidade de escutarmos e podermos executar os serviços e aplicativos que estão na tela.

      Dessa forma, podemos dizer que um site na internet, os softwares e aplicativos, possuem uma boa ou má acessibilidade, que são totalmente acessíveis ou totalmente inacessíveis para nós, dependendo do quanto possamos conhecer seu conteúdo através do que nossos softwares de fala nos transmitem e as teclas de navegação possam executar.

Técnicas de Acessibilidade.

     A princípio, não existem muitas técnicas para que uma página da internet seja acessível a cegos e, apesar de existirem regras internacionais de acessibilidade para isso, elas se reduzem em sua maioria a alguns itens que, se forem seguidos em suas recomendações básicas, nos permitem navegar com tranquilidade em qualquer site. Boa parte das páginas da WEB são acessíveis a cegos, reduzindo-se a uma minoria, ou mesmo a pequenos detalhes dentro de algumas páginas, que fazem elas possuirem uma acessibilidade prejudicada ou mesmo uma total inacessibilidade.

     Para começar, documentos em WORD, colados em um html, são totalmente inaudíveis para nós. Assim, se você fizer uma página em html com links e textos e entre eles houver um WORD, ficaremos sem escutar o conteúdo textual do Word e leremos o resto que estiver em html. Isso se aplica tanto a arquivos com extensão doc quanto aos salvos no Word no "Salvar Como" com a extensão htm. Ao se salvar textos no Word com extensão htm o Word não cria uma página com o código html puro, ele faz uma mistura html/Word que não permite que nossos ledores de tela entendam o que deve ser lido e ficam mudos.

     A grande maioria dos Flashs e de Applets Java são impossíveis para nós, chegando mesmo a travar alguns de nossos ledores de tela. Nesse caso, o melhor para nós seria a página possuir um link com uma "versão texto", ou seja, uma versão especial, sem esses recursos, que pudesse ser acessada através da página principal. No caso do uso de flash, somente a última versão não nos atrapalha, a MX, por ter seu código aberto e poder ser lido por nossos softwares.

     Alguns Java scripts e VB scripts nos criam dificuldades, especialmente aqueles que são ativados por manipulação do mouse, não aceitando sua execução via teclado. Nesse caso, dependendo do evento que seria acionado, o script pode ser substituido por algum que aceite o teclado.

     As etiquetas (tags) e atributos de imagens em html podem ser "trabalhados" de forma que sempre que pasarmos por uma imagem, seja de gif ou jpg, possamos saber do que se trata. O maior responsável por esse "milagre" de lermos imagens é o atributo "alt" (alternat text), que em uma etiqueta de imagem ficaria da seguinte forma:

<img src="imagem.gif" alt="pequena descrição da imagem">

Todos os demais atributos dessa etiqueta (border, width, height, etc) podem ser utilizados sem problemas. Se a imagem for acompanhada de um link, torna-se melhor colocarmos, no lugar da descrição da imagem, a função por ela simbolizada. Um exemplo muito prático disso são os gifs de e-mail, onde todas as pessoas que enxergam podem, ao ver a imagem de uma carta voando, de uma caixa postal, de um arroba girando, etc, entender que trata-se de um link para envio de e-mails. Com a utilização do atributo "alt" pode-se colocar, por exemplo, um alt="Entre em Contato" e é isso que será lido por nossos softwares; quando eles passam pela imagem, ao detectarem a etiqueta de imagem (IMG) procuram pelo ALT para ler o texto nele inserido.

     O "alt" ou "alternat text", visualmente faz com que, se passado o mouse por cima da imagem, seja aberta uma pequena janela com o conteúdo textual do "alt". Se o mouse for retirado de cima da imagem a janela some. Quando a página está sendo carregada e uma imagem, existente dentro dela ainda não, novamente tal janela e seu conteúdo textual, proveneinte do "alt", preenche o lugar da imagem até que ela apareça.

     Como puderam observar, o atributo alt é fundamental para que saibamos o significado das imagens, sejam elas quais forem, além de poderem melhorar o conforto de quem enxerga de forma comum na navegação das páginas da internet.

     A existência de uma imagem (gráfico) sem o "alt" pode ser detectada de algumas formas, alternativas ou não, dependendo do software de fala utilizado. Alguns ficam em total silêncio, outros ainda produzem alguma expressão do tipo "gráfico", ou "imagem", sem que saibamos o porque de sua existência.

     O atributo da etiqueta de imagem title="descrição textual da mimagem" também é utilizado, da mesma forma que o "alt" e pelo mesmo motivo, mas somente em situações especiais mais complexas como o mapeamento em imagens.

     Os formulários, de uma maneira geral, podem se tornar acessíveis com a tag (etiqueta) <label>. O <label> está para os formulários assim como o atributo "alt" está para as imagens, tornando acessíveis os textos neles contidos. Em alguns formulários, onde temos de preencher nome, endereço etc, chegamos, através da tecla "tab" na primeira pergunta que poderia ser "Nome:" e nada é dito, ou simplesmente escutamos um aviso padrão do Software: "caixa de edição", por exemplo. Para que escutemos o texto "Nome:" basta utilizarmos a tag <label>. Vou deixar dois exemplos simples abaixo:

<label>Qual o seu nome?<input type="Text" name="Nome" size="40"></label><br>
<label for="Comentários">Deixe seus comentários: <textarea name="Comentários" cols="28" rows="5"></textarea></label><br>

Os botões de envio ou de qualquer outra espécie não necessitam do <label> por poderem ser lidos através do atributo "value". Se o botão possuir uma imagem no lugar de um texto, basta não esquecer do ALT...

     Meu objetivo não é somente chamar a atenção de desenvolvedores de páginas para nossas necessidades especiais, é mostrar que com certa facilidade pode-se tornar uma página totalmente acessível. Verifiquem, por favor, o mais simples de meus exemplos: se existe a tag alt="algum texto" nas imagens de suas páginas... só isso já nos ajuda demais e, se altera o conforto da navegação e estética de sua página, será para melhor!

     Podemos citar 3 softwares de voz mais usados por cegos brasileiros na utilização de micro-computadores: Dosvox , Virtual Vision e Jaws. O Jaws for Windows é o software de voz internacionalmente mais utilizado por cegos e que até agora têm-se mostrado como o que nos traz um melhor acesso a boa navegação nas páginas da internet.

     Algumas vezes, no entanto, mesmo com o mais atual e avançado de nossos softwares, encontramos o que seria uma escadaria real para um colega deficiente físico, usuário de cadeiras de rodas. Páginas silenciosas ou com imagens sem textualização, eventos não acionados pelo teclado, botões e links flutuantes etc. Na maioria das vezes são questões plenamente rezolvíveis, até mesmo sem a alteração do visual da página ou perda da função ou evento a ser realizado.

     Digo isso não somente como usuário, mas como técnico que conhece um pouco do assunto. Sou webmaster de 5 páginas da internet, todas acessíveis a cegos e pessoas de baixa visão, com livro de visitas, contadores não gráficos, busca interna no site, imagens textualizadas etc, tudo acessível a cegos, sem que haja desconforto na utilização por pessoas que enxergam ou diminuição da frequencia das visitas. Recebo milhares de visitas/dia na página Músicas MAQ, por exemplo.

     Bem, esse é o básico para que nós, portadores de deficiência visual, possamos escutar uma página em html e navegar sem tropeços por ela. Existem, além dessas dicas básicas, outras de maior complexidade que podem ser achadas em:

Cartilha de Acessibilidade de Fábio Gameleira;

Dicas de Acessibilidade da Prodam;

Igualdade de Acesso - UFRS.

Web Accessibility Initiative (Versão Portuguesa do W3C)

Web Accessibility Initiative (WAI) Home Page

     Agradeço antecipadamente aqueles que se dispuserem a nos ajudar para que o mundo virtual, já nos oferecendo tanto em termos de informação, seja cada vez mais acessível.

Marco Antonio de Queiroz - MAQ.

***

Texto baseado na palestra que dei dia 29/08/2003 na Regional Rio de Janeiro do SERPRO, em vídio-conferência baseada em Brasília para todas as regionais da empresa. O evento denominou-se "I Seminário de Acessibilidade Serpro", contando com a presença do presidente, diretores, funcionários e convidados, não só em Brasília, como também nas filiais do Serpro em todo Brasil. A consequência imediata desse evento foi a criação de grupos de acessibilidade na empresa, para tornarmos as páginas do Serviço Federalde Processamento de Dados - Serpro - totalmente acessíveis a todas as deficiências, além da procura, por mim e outros palestrantes, por pessoas e empresas interessadas em colaborar e tornar suas páginas também viáveis ao nosso tráfego. Isso é de suma importância: Será que umdia teremos todas as páginas da internet acessíveis a todos? É minha torcida como cego e cidadão.



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