- Ditadura militar e
corporativa em Portugal -
(Jacques Pirenne, na
sua História Universal)
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- A direcção militar instalada pelo
general Gomes da Costa em 1926 teve que mover-se, desde os seus inícios, com muitas
rivalidades internas. Em 1928, Gomes da Costa foi derrubado e enviado para os Açores,
enquanto o general Carmona foi eleito presidente da República. A ditadura militar
não conseguiu libertar o país da sua
anarquia económica e Carmona entregou as Finanças a Salazar, professor da Universidade
de Coimbra que lograria dar a Portugal um regime estável.
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- Para aceitar, Salazar exigiu que se lhe
reconhecesse o direito de intervenção e veto sobre todos os gastos da República, conseguindo
em pouco tempo restaurar as finanças de Portugal. Em 1932 foi nomeado presidente do
concelho de ministros e desde então ia dispor de um poder ditatorial.
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- Tal como os Estaline,
Hitler e Mussolini, Salazar vinha do povo, mas ao contrário desses
monstros da história, Salazar
era um universitário e os seus projectos diferiam porque não se propunha
dar ao mundo uma ideologia nova.
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- Tratava-se de um católico convencido que queria
restaurar a administração do Estado permanecendo fiel aos princípios do catolicismo. Na
realidade, a política
de Salazar inspirava-se no Syllabus de Pio IX, condenando os erros modernos.
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- Como bom antiliberal, era hostil ao
individualismo, e como anti-materialista, repudiava o socialismo. Portanto, não aceitava
o parlamentarismo e negava-se a aceitar a liberdade de pensamento, conservando só, os
grandes princípios do catolicismo.
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- Em 1933 dotou o país de uma Constituição que
repudiando o sufrágio universal, o sistema de partidos e a luta de classes, criava um
estado nacional e cristão fundado na família, a corporação e o município.
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- Também deu
preferência aos interesses da colectividade sobre os do indivíduo ou do grupo,
dissolveu os partidos políticos e suprimiu a maçonaria e as sociedades secretas.
Sobre estes princípios estabeleceu uma Câmara corporativa que tinha por missão informar
a Assembleia Nacional sobre os projectos de lei que aí seriam discutidos e aprovados.
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- O regime corporativo, que constitui o fundamento
social da ordem nova, baseia-se no princípio de colaboração de patrões e
trabalhadores, unidos em Corporações não obrigatórias e relativamente autónomas.
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- O
Estado não substitui a iniciativa privada; limita-se a vigiar as actividades corporativas
e, se preciso, reprimir os abusos. Esta Constituição foi submetida a plebiscito em
Março de 1934. Como em todos os países em que a ditadura se implantou depois duma guerra
civil, obteve quase a totalidade de sufrágios favoráveis e foi aprovada.
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- A ditadura de Salazar é parecida, nos seus
métodos, às outras ditaduras análogas contemporâneas:
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- Poder executivo omnipotente
- Partido único,
- Sistema representativo
direccionado
- Enquadramento das
populações em divisões económicas
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- Constituída como todas as ditaduras, sobre uma
ideologia única, a de Portugal, por estar inspirada no catolicismo, repele, no
entanto, a violência e separa o seu nacionalismo do conceito totalitário que adoptam o
fascismo e o nacional-socialismo.
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- O regime de Salazar não tenta impor ao
mundo novas directivas. É essencialmente conservador e a doutrina em que está
baseado não é revolucionária, é a da Igreja Católica. Nestas condições compreende-se que não
se erguera sobre um partido omnipotente, já que a esse partido lhe teria faltado o
dinamismo revolucionário. Porém como nenhuma ditadura pode manter-se sem o apoio duma
minoria actuante, a de Salazar apoiou-se no exército.
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- A sua obra consistiu em instalar a
paz interior,
num país extraordinariamente atrasado, dos avanços técnicos indispensáveis,
construindo estradas e pontes, estender a rede de telefones e modernizando os portos. No
ambiente de paz, segurança e confiança assim criado, a indústria fez progressos.
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- A obra de Salazar não teve nada de espectacular;
por isso, provavelmente, é a razão pelo que prosseguiu sem
choques nem violência até ao final da sua vida de governo.
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- Jacques Pirenne - História
Universal Edição 1972
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Nota curiosa -
Durante o período de domínio comunista na Ex-República Soviética, consideravam Salazar quase como um
Monstro, um "fachista", comparável a
Hitler ou Mussolini. Hoje na Rússia de
Putin, o historiador Dmitri Loguinov já não se pensa assim.
Baseados no ter
agarrado num "...país extraordinariamente atrasado, dos avanços técnicos indispensáveis,
construindo estradas e pontes, estender a rede de telefones e modernizando os portos. No
ambiente de paz, segurança e confiança assim criado, a indústria fez progressos.
"
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Iúri
Karguniuk escrevia então no jornal electrónico gazeta.ru: “Putin
parece mesmo considerar-se um criador da história, pai dos povos e
criador de um novo Estado, alguém semelhante a Den Xiao Ping na China e
a Salazar em Portugal, estadistas cuja influência não estava de forma
alguma ligada ao seu estatuto formal”.
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Nos dias de hoje,
substituída a foice e o martelo pela Águia Imperial,
Acham que Salazar foi um Hércules e o seu Corporativismo um exemplo a seguir na construção da
nova Rússia.
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- Comentário
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- Os inimigos de Salazar,
esquecendo-se do extraordinário estado social e económico em que
estava Portugal em 1926, acusam-no, ainda hoje, do tremendo atraso em que deixou Portugal
em 1967, que
realmente era na altura o país mais pobre da Europa Ocidental. Os
portugueses tinham que emigrar pelo Mundo, para poderem subsistir.
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- Passados cerca de
40 anos depois da morte de
Salazar, e apesar das dezenas de milhões de euros que entraram em
Portugal, pela ajuda económica da UE, o Relatório para o Desenvolvimento Humano publicado pela ONU , coloca Portugal como o país menos desenvolvido da União Europeia, no meio da escala dos
países de desenvolvimento elevado. E os portugueses continuam a ter que
emigrar para poderem subsistir !
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- Para isto concorreu o baixo poder de
compra em relação à média comunitária e um nível muito alto de iliterácia (48%) entre a população com idades entre os 16 e os 65
anos. Iliterácia, significa saber ler, mas não entender o que leu ! Outro factor a contar negativamente foi a incidência da corrupção,
que é um pouco mais alta do que a média europeia.
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- Por outro
lado temos a maior percentagem na União Europeia em doentes com SIDA e
tuberculose por 100.000 habitantes.
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Curiosidade
- Embora hoje possa parecer mentira, os adversários de Salazar nunca
lhe perdoaram a sua origem humilde. No fundo esse foi o seu principal
pecado. Nunca aceitaram que o filho dum
pobre caseiro de uma quintarola de Santa Comba Dão, chegasse a 1º
ministro e mandasse autoritariamente em Portugal por quarenta anos.
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Dizem
que até a patroa do pai de Salazar quando este andava a estudar em
Coimbra, o chamou um dia, e o proibiu de andar a namoriscar a filha,
chamando-lhe a atenção para a diferença de classe social entre os
dois. A própria confirmou mais tarde esta
passagem numa entrevista que concedeu. Diz que chamou por telefone
a Salazar, e perguntou-lhe se ele sabia quem o estava a chamar. Segundo
ela, o ditador respondeu . - Sei, é a patroa do meu pai !
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Ainda
hoje se podem ler comentários nos jornais e revistas portugueses, onde se escreve
que Salazar fazia em Portugal, política de "merceeiro"
!
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Estranho,
como é que um
homem com mente de merceeiro consegue concluir o curso de direito
com 19 valores na Universidade de Coimbra, e chegar em 1917 a professor catedrático
desse mesmo local universitário !
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Será que
a Universidade de Coimbra, a mentora do COIMBRA GROUP, é uma mercearia ?
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Marquês de Pombal |
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Da
mesma forma que no século XVIII, a
grande
nobreza de Portugal nunca perdoou ao Marquês de Pombal a sua
linhagem humilde e o chamavam de forma depreciativa o "Sebastião José",
a nova "nobreza lusitana" do século XX não
perdoou a Salazar a sua origem camponesa.
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Parece
que no fundo, nos casos do Marquês de Pombal e Salazar, os
seus inimigos e críticos contemporâneos, ficaram mais chocados com a origem
humilde dos dois personagens - um e outro mandaram no seu tempo em Portugal -
do que com as virtudes e defeitos da sua governação.
E quanto a Salazar,
por mais que gritem hoje os seus adversários políticos contemporâneos, irá
passar-lhe o mesmo que ao Marquês de Pombal, ( que foi
imensamente mais repressivo e violento para conseguir os seus fins ),
e os portugueses vindouros
acabarão por reconhecer-lhe os seus méritos, e terminará por ter uma
estátua numa praça qualquer da capital !
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