A Família Real no Brasil
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- D. João VI
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- No princípio do século XIX a Europa foi
sacudida por uma guerra longa e violenta. Napoleão, imperador da França,
grande general, organizou um exército poderosíssimo e invadiu vários
países somando vitórias.
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- Para derrotar os ingleses, imaginou um
estratagema: obrigar as outras nações a fecharem os portos à
Inglaterra, que sendo uma ilha ficaria isolada e muito enfraquecida sem
poder comerciar.
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- Acontece que Portugal e Inglaterra eram velhos aliados
e faziam muitos negócios entre si, por isso os portugueses decidiram não
obedecer. Napoleão ficou furioso, preparou um exército de 30.000
homens comandados pelo célebre Junot e ordenou-lhe que conquistasse
Portugal.
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Mas nesse tempo os militares deslocavam-se a pé ou a cavalo,
tinham que carregar armas e bagagens, acampar pelo caminho, ou seja,
demoravam imenso tempo a chegar ao seu destino. A notícia porém voava
de boca em boca ou na bolsa de um mensageiro veloz.
Quando em Lisboa se soube que vinha aí uma invasão francesa, foi o pânico.
Na altura não havia condições para enfrentar um inimigo tão forte,
corria-se o risco de perder a independência. Que fazer? Depois de
muitos debates, tomou-se uma decisão: a família real devia partir
imediatamente para o Brasil que nessa época era uma colónia
portuguesa.
A Corte a salvo do outro lado do oceano assegurava a independência.
No ano 1807, a família real era muito numerosa e incluía pessoas de
todas as idades.
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A rainha
D. Maria I
tinha 73 anos, era viúva e enlouquecera, por isso não
podia reinar.
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- As irmãs da
rainha
Maria Ana tinha 71 anos e era solteira.
Maria Benedita tinha 61 anos e era viúva
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- O príncipe
Regente
D. João era o filho mais velho da rainha e ele é que governava em
nome da mãe, por isso se diz Príncipe Regente. Tinha 40 anos, era
casado com uma princesa espanhola que lhe dera oito filhos.
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- A mulher do
Príncipe
D. Carlota Joaquina tinha 32 anos. Viera para Portugal em criança
para se habituar à língua, aos costumes e ao país do noivo. O
casamento efectuou-se quando ela tinha apenas 10 anos.
Os oito
principezinhos
Maria Teresa tinha 14 anos, Maria Isabel tinha 10 anos, Pedro tinha 9
anos, Maria
Francisca tinha 7 anos, Isabel Maria tinha 6 anos, Miguel tinha 5 anos,
Maria da Assunção tinha 2 anos e Ana de Jesus tinha 1 ano
Um primo
espanhol, noivo da princesa mais velha Pedro Carlos, primo de
Carlota Joaquina, vivia em Portugal desde criança e era o noivo de
Maria Teresa.
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- 15 mil
viajantes
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- A família
real não ia sozinha para o Brasil: ia acompanhada pelas pessoas que
desempenhavam altos cargos na Corte e pelos funcionários e criados do
palácio. Mas houve muitos nobres e muitos burgueses que decidiram ir
também.
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- Assim
reuniu-se um número de viajantes espectacular: quinze mil homens,
mulheres e crianças. Imagine-se então a bagagem! As pessoas não
sabiam ao certo quanto tempo iam ficar no Brasil e como receavam que
lhes saqueassem as casas, trataram de mandar encaixotar tudo o que
tinha valor material: móveis, pratas, jóias, tapetes, loiças,
candeeiros, cristais, quadros, livros, roupa de casa e de vestir,
etc.
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- Como sempre
acontece em circunstâncias idênticas, não quiseram deixar para trás
objectos e animais de estimação, por isso encaixotaram-se também
brinquedos, muitas e variadas recordações. Junto com os caixotes
seguiam cestos e gaiolas ocupados por cães, gatos, pássaros… e
tudo se empilhou no cais entre Lisboa e Belém.
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- Esses
imensos volumes de todos os tamanhos e feitios, bem ou mal
acondicionados, eram levados depois em botes a remos para os grandes
navios ancorados no meio do Tejo. Foi grande a azáfama, enorme a
confusão, mas a pouco e pouco lá se encafuaram as bagagens nos porões
dos navios.
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Embarque em Lisboa |
- O Embarque
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- No dia 27 de
Novembro de 1807 começaram a chegar carruagens ao cais. Os viajantes
apeavam-se e dirigiam-se à beirinha da água para tomarem lugar nos
botes a remos que os levariam até aos navios. Tinha chovido muito nos
dias anteriores, o chão estava enlameado, as pessoas escorregavam,
amparavam-se umas às outras para não caírem, tentavam evitar as poças
de água.
Esse saltitar exterior correspondia certamente a um saltitar interior,
pois se a ideia de escapar aos exércitos de Napoleão proporcionava
alegria e alívio, o facto de se verem obrigados a deixar a sua terra
era motivo de tristeza e desolação.
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- Lisboa em
peso acorreu para assistir ao embarque. Uns rodeavam os marujos no
cais, outros penduravam-se nas janelas ou espalhavam-se pelas colinas
sem saber o que pensar daquela cena nunca vista.
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- Então a
família real ia-se embora em bloco, e as famílias mais importantes
também, levando consigo tantas riquezas para o outro lado do mundo?
Seria de facto essa a única solução para resolver o problema de
invasão iminente? E que aconteceria aos que ficavam quando chegassem
os franceses?
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- Os mais
pessimistas provavelmente anunciaram desgraças sem fim, garantiram
que os franceses iam tomar conta de tudo e que a família real nunca
mais voltaria. Com certeza houve quem chorasse muito de comoção, de
tristeza, de medo. E o choro redobrou quando viram que a velha rainha
D. Maria berrava e lutava, tentando recusar-se a embarcar. Coitada!
Aquela é que dificilmente tornaria a ver o seu país…
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- A Armada
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- A armada que
levou a Corte para o Brasil incluía vários tipos de navios: naus,
brigues, fragatas, escunas, bergantins e corvetas. Alguns eram
enormes, bem armados de canhões, capazes de transportar muitos
passageiros e grandes quantidades de carga.
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- Outros eram
mais pequenos e mais velozes. Além dos navios ao serviço da Corte,
foram para o Brasil mais quarenta alugados por particulares que se
meteram ao caminho à sua própria custa. Uma esquadrilha de quatro
navios ingleses acompanhou a armada para dar apoio em caso de ataque
no mar alto.
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- O comandante
da armada era Manuel da Cunha Sotomaior.
- Naus
Rainha de Portugal (74 canhões)
Nesta nau viajou D. Carlota Joaquina com alguns dos filhos mais novos.
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- D. João de
Castro (64 canhões)
Nesta nau viajou o Duque do Cadaval, o Conde de Belmonte e o Conde de
Redondo.
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- Príncipe
Real (80 canhões)
Nesta nau viajou a rainha D. Maria I, o Príncipe Regente e o filho
mais velho, D. Pedro.
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- Princesa do
Brasil (74 canhões)
Nesta nau viajaram as irmãs da rainha e duas princezinhas.
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- Conde D.
Henrique (74 canhões)
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- Martim de
Freitas (64 canhões)
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- Afonso de
Albuquerque (64 canhões)
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- Fragatas
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Medusa
(74 canhões) - Minerva (44 canhões) - Jutra
(32 canhões )- Golfinho
(36 canhões)
Brigues
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- Voador (22
canhões) - Vingança (20
canhões)
Escunas
a Curiosa e Bergantins o Três Corações
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Junot
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- A Partida
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- Após o
embarque, o que toda a gente queria era partir. Mas o tempo não
permitia. Ventos contrários pareciam ter apostado em reter a armada
no rio Tejo. Já se receava que os franceses chegassem a Lisboa a
tempo de efectuarem um assalto ou de bombardearem os navios.
Finalmente o dia 29 amanheceu lindo, puderam içar velas, levantar âncoras
e fazer-se à travessia do Atlântico rumo ao Brasil. Foi por um triz:
Junot entrou em Lisboa vinte e quatro horas depois!
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- A Viagem
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- A viagem
não foi propriamente um passeio agradável. Como os preparativos
tinham sido feitos à pressa e o embarque feito à última hora,
faltavam mantimentos e muitos passageiros não encontraram os seus
caixotes a bordo. Na melhor das hipóteses, talvez seguissem noutro
navio, na pior, talvez tivessem ficado esquecidos no cais onde não
tardariam a ser pilhados. Além da perda, havia o transtorno, por
exemplo não podiam mudar de roupa.
Mas enfim, lá
se arranjaram como puderam. A natureza também contribuiu para agravar
o mal estar, houve vendavais, o mar encapelou-se, um inferno. A
maioria dos passageiros enjoou pavorosamente e além disso todos
sofreram momentos de grande ansiedade porque os navios a certa altura
dispersaram e como não havia recursos para comunicar à distância
era impossível saber se os parentes e os amigos estavam vivos e
seguiam por outra rota ou tinham sido engolidos pelo mar.
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- As velhas
princesas no Rio de Janeiro
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- A armada
tinha um destino comum: o Rio de Janeiro. Mas nem todos puderam ir lá
directos.
O primeiro a chegar foi um navio alugado por particulares que no dia 3
de Janeiro aportou na Bahia. Os passageiros anunciaram que vinha aí a
família real, a cidade ficou na maior excitação e o governador começou
a tomar medidas para receber tão ilustres visitantes.
A 14 de Janeiro foi a vez do Brigue "Voador" ancorar no Rio.
Depois, a pouco e pouco, foram chegando os outros - todos os outros -
pois a Natureza rugira e fizera alguns estragos mas nada de irremediável.
Só a nau D. João de Castro, bastante danificada, se viu na iminência
de ir ao fundo, tendo no entanto alcançado a costa a tempo de evitar
o naufrágio e aportado em Paraíba.
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- Três dias
depois da chegada do brigue "Voador", entraram na Baía de
Guanabara cinco navios da armada portuguesa e três da esquadrilha
inglesa. A bordo da nau "Princesa do Brasil" estavam as duas
irmãs da rainha - já velhas, muito velhas, pois naquela época era
pouco vulgar atingir os 70 anos.
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- Nunca
nenhuma delas navegara no alto mar, portanto a experiência de meses a
bordo suportando o balanço das ondas deixara-as abaladíssimas; além
disso, ficaram aterradas ao verificarem que a nau onde viajava D.
João não aparecia. Ele era o sobrinho querido, o Príncipe Regente,
a autoridade máxima. Que fazer na sua ausência? A única coisa que
lhes ocorreu foi esperar.
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- Não se
sentiam com coragem para enfrentar uma terra desconhecida sem a
presença protectora do Príncipe e não houve força nem argumentos
que as fizessem desembarcar. Durante trinta longos dias, em vez de
olharem as belezas naturais daquela região paradisíaca, voltavam-lhe
as costas e perscrutavam o horizonte na esperança de verem uma vela
ao longe.
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- Diz-se que
todas as manhãs, ao acordar, perguntavam uma à outra "O nosso
João, já terá chegado?" Aflitíssimas rezavam orações sem
fim pedindo a Deus que lhes trouxesse o resto da família sã e salva
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- Só
desembarcaram a 17 de Fevereiro, depois de lhes terem jurado que o
resto da família se encontrava na Bahia rodeada de carinho e
atenções e que em breve se poderiam abraçar.
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Bahia
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- A Chegada à
Bahia
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- Os passageiros
dos navios que os ventos do destino levaram à Bahia por lá ficaram
durante um mês. Entre esses passageiros estava D. João - o Príncipe
Regente -, a mulher e os filhos. Ao que parece, D. João mostrou-se
maravilhado com o Brasil desde o primeiro momento e caiu nas graças
dos baianos que o festejaram com a maior alegria.
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- Enquanto
permaneceu na cidade recebeu todas as pessoas que solicitaram
audiência, ouviu pedidos e sugestões e tomou uma série de medidas
que agradaram ao povo como por exemplo: abriu os portos do Brasil ao
comércio directo com o estrangeiro, deu autorização para que se
construísse um hospital, uma Escola de Medicina, várias
fábricas.
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- A população
exultou, pois percebeu que a presença da Corte significaria
progresso. Não faltou quem pedisse a D. João que desistisse de ir
para o Rio de Janeiro e instalasse a Corte na Bahia.
Argumentavam ser a cidade mais central e portanto mais conveniente,
ofereciam-se para reunir verbas e construir um palácio de grande
categoria…
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- D. João
agradeceu, sensibilizado com tantas demonstrações de amizade, mas
não pode ceder. Já tinha anunciado às Cortes europeias que ia para
o Rio de Janeiro, convinha manter a decisão.
No dia 26 de Fevereiro a família real e os acompanhantes
despediram-se voltaram a embarcar, zarparam para sul.
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- Preparativos
no Rio de Janeiro
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- No Brasil o
representante do rei de Portugal tinha o título de vice-rei. Na época
o vice-rei era o Conde dos Arcos, que deu voltas à cabeça para
organizar uma recepção devidamente animada e elegante e para
preparar alojamentos onde instalar tanta gente. Em 1808 viviam na
cidade do Rio de Janeiro cerca de 60.000 pessoas.
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- Chegarem
mais 15.000 de um dia para o outro era uma espécie de avalanche, uma
"avalanche humana". Mas o Conde de Arcos não se atrapalhava
com facilidade. Começou por despejar o Palácio dos vice-reis(1) e
mandou limpar tudo muito bem para poder funcionar como residência
real.
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- Como este
Palácio não tinha capela e ele sabia que as pessoas da Corte estavam
habituadas a capela privativa, chamou carpinteiros e ordenou-lhes que
construíssem rapidamente uma ponte de madeira ligando directamente o
Palácio à Igreja do Carmo, que ficava ao lado.
Quanto a estas medidas, toda a gente achou muito bem. Mas como ele
requisitou algumas habitações particulares para alojar gente da
Corte, houve proprietários que ficaram fulos com o abuso.
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- No entanto,
a maioria da população estava delirante. Nunca uma família real
europeia pisara terras da América do Sul. Receber reis, rainhas, príncipes
e princesas fazia as pessoas sentirem-se como personagens de contos de
fadas. E a alegria natural dos habitantes do Brasil transformou logo
os preparativos em grande festa.
1) O Palácio dos vice-reis ainda hoje existe. É uma casa bonita,
situa-se na Praça XV de Novembro e ali funciona um centro de Arte.
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Pão de Açúcar. |
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- Uma Entrada
Triunfal
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- A armada
reunira-se de novo e ancorara em frente ao Pão de Açúcar. Impossível
descrever a euforia a bordo e em terra. Toda a gente ansiava pelo
momento em que os canhões dariam sinal de desembarque. E isso
aconteceu pelas quatro horas da tarde do dia 4 de Março de 1808. Ao
primeiro "Boum", D. João desceu para um bergantim seguido da mulher e
dos filhos.
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- Enquanto
os remadores faziam avançar a embarcação para o cais, os canhões
atroaram os ares com salvas de boas vindas, repicaram em simultâneo
os sinos de todas as igrejas, estalaram foguetes, bandas de música
puseram-se a tocar, as pessoas davam vivas no maior entusiasmo.
Guardas de honra formavam alas desde o cais à Igreja do Rosário onde
estava tudo preparado para uma cerimónia religiosa destinada a dar
graças a Deus pelo sucesso da viagem.
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- D. João, D.
Carlota Joaquina e os principezinhos seguiram em cortejo pelas ruas
atapetadas de folhagens. As janelas das casas em redor tinham sido
enfeitadas com grinaldas de flores, colchas de seda encarnadas e
azuis. E as famílias vestidas com as melhores roupas e ostentando as
melhores jóias debruçavam-se nas janelas a aplaudir.
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- Consta que D.
João sorria e acenava feliz por se ver tão acarinhado. E que D.
Carlota Joaquina chorava, talvez de comoção. Ninguém reparou
especialmente nas reacções do pequeno príncipe D. Pedro. Com nove anos, perante um ambiente colorido, barulhento, festivo, só podia
estar maravilhado. Não podia era adivinhar que o destino tinha planos
para entrelaçar a sua vida com o futuro daquela terra e daquela
gente…
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- Residências
reais
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- A família
real, além do Palácio dos vice-reis que pertencia à coroa e foi
posto à sua disposição, recebeu de presente uma quinta magnífica -
A Quinta da Boa Vista em S. Cristóvão -, oferecida por um colono
rico e amável. Essa quinta tornou-se a residência preferida de
todos.(1)(1) Actualmente o Palácio de S. Cristóvão é o Museu de
História Natural e Etnologia. A Quinta é um parque onde há plantas
de todo o mundo.
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- D. João VI
no Rio de Janeiro
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Com a chegada de D.
João VI, o Rio de Janeiro entrou em ebulição. Várias transformações
marcaram o cenário político-social da cidade: o Decreto da Abertura dos
Portos às Nações Amigas transformou o porto do Rio num importante centro financeiro-comercial; o crescimento populacional foi outro factor
marcante, devido ao grande número de nobres e funcionários da corte
portuguesa que formavam a comitiva do rei; a criação do Banco do Brasil
e de novas instituições administrativas, trazendo para o Rio de Janeiro
os ares da metrópole. Os hábitos culturais se modificaram, pois
fazia-se necessário satisfazer a demanda de uma aristocracia que
valorizava a cultura europeia.
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D. João VI encontrou
uma cidade pobre, sem planeamento urbano e saneamento básico, com ruas
estreitas, sujas e apinhadas de escravos, ambulantes e "bugres",
escravos responsáveis pelo despejo de dejectos na baía. O Paço Imperial,
residência oficial do Vice-Rei, possuía uma arquitectura pobre, sem
adornos, ainda no estilo colonial "porta e janela", sem mobiliário
adequado para receber um monarca e, sobretudo, muito pequeno para
abrigar a comitiva real.
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Outras residências serviram de abrigo para a
corte: o Convento das Carmelitas, onde ficou D. Maria I; a Casa do Trem
(actual Museu Histórico Nacional); o prédio da Cadeia, vizinho do Paço,
que virou residência de aristocratas. Não satisfeito, D. João decretou
que as melhores casas da cidade fossem cedidas para os nobres que ainda
não tinham moradia. Cada casa escolhida pelos oficiais do rei deveria
ser desocupada imediatamente, sendo a porta carimbada com as iniciais
P.R. (Príncipe Regente), que, no humor nativo, logo se transformou em
"Ponha-se na rua".
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Durante os treze anos
de sua estadia no Brasil o regente português criou várias instituições
culturais, como a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico, o Real
Gabinete Português de Leitura, o Teatro São João (atual Teatro João
Caetano), a Gazeta do Rio de Janeiro (sob censura régia), a Imprensa
Nacional, o Museu Nacional, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios.
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Outras medidas que deram grande impulso à cultura foram a reorganização
da Capela Real e a vinda da Missão Artística Francesa (1816), que trouxe
ao Brasil nomes como Joachim Lebreton (pintor), Nicolay Antoine Taunay
(pintor), Auguste Marie Taunay (escultor), Jean-Baptiste Debret
(pintor), Augusto Henrique Vitorio Grandjean de Montigny (arquiteto),
Sigismund Neukomm (compositor, organista e mestre-de-capela).
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- Festas e
mais Festas
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- Numa terra
luminosa e quente como é o Brasil e no cenário maravilhoso do Rio de
Janeiro, o que apetece realmente é comemorar o facto de estar vivo.
Esse desejo traduziu-se (e ainda hoje se traduz) em festas
espampanantes.
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- A Corte não
escapou ao sortilégio e… sucederam-se festas magníficas em que
participavam não só os nobres mas também o povo cantando e dançando
nas ruas iluminadas a preceito. A chegada do famoso compositor Marcos
de Portugal acompanhado por muitos músicos e cantores contribuiu para
abrilhantar as comemorações.
Ópera
Em 1811 houve um espectáculo de Ópera no Teatro Real do Rio de
Janeiro para comemorar o aniversário de D. Maria I. O maestro foi
Marcos de Portugal.
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- O casamento
da princesa Maria Teresa com seu primo Pedro Carlos
Uma das primeiras grandes festas dada pela Corte no Rio de Janeiro foi
o casamento da princesa mais velha em 1810.
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- O Brasil
elevado à categoria de reino
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- Em 1815 o
Brasil deixou de ser uma colónia portuguesa e foi elevado à
categoria de reino unido com Portugal. Naturalmente não faltaram
desfiles e bailes.
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- A coroação
de D. João VI
No ano 1816 morreu a velha rainha D. Maria I. D. João há muito que
governava pois a mãe enlouquecera, mas só nesse ano subiu ao trono
como D. João VI. Houve um período de luto e só em 1818 se
realizaram as ricas e faustosas cerimónias para festejar a coroação
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O casamento
do príncipe herdeiro
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- D. Pedro, sendo herdeiro do trono dos Reinos Unidos de Portugal e do
Brasil, só podia casar com uma princesa que pertencesse a uma
família real muito antiga e de grande prestígio. A escolha recaiu na
princesa Leopoldina, filha dos imperadores da Áustria.
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- O embaixador
português foi a Viena apresentar o pedido, houve negociações, chegou-se a
um acordo e Leopoldina viajou para o Rio de Janeiro ao encontro do noivo.
O casamento realizou-se em 1817 e foi um acontecimento!
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Debret
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- Artistas
franceses no Brasil
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- D. João VI
quis decorar os palácios com obras de arte. Na época usava-se cobrir
as paredes com grandes telas representando paisagens, retratos e cenas
históricas. Como ainda não havia no Brasil artistas que pudessem
executar um trabalho de grande qualidade, o rei escreveu ao embaixador
que estava em Paris e pediu-lhe que contratasse pintores franceses que
quisessem ir para o Brasil.
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- Debret, Pradier
e Taunay aceitaram o convite e partiram. Esses três grandes pintores
realizaram autênticas "reportagens visuais" que permitem
acompanhar a vida da Corte no Brasil e conhecer o ambiente que os
rodeava
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- Cientistas
austríacos no Brasil
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- A comitiva
da princesa D. Leopoldina incluía cientistas que tinham sido
contratados pelo imperador da Áustria para acompanharem a filha ao
Brasil e por lá ficaram alguns anos a estudar a fauna, a flora e os
minerais daquela terra longínqua que tanta curiosidade despertava na
Europa.
Esses
cientistas embrenharam-se no mato, fizeram registos sobre o que viram
e recolheram espécies de plantas, animais e minerais. Como nesse
tempo ainda não se tinham inventado as máquinas fotográficas, os
cientistas fizeram-se acompanhar de desenhadores e pintores para eles
se encarregarem das imagens. Assim, no regresso, poderiam dar a
conhecer ao "velho mundo" as surpresas do "mundo
novo"
Nem tudo
foram rosas
Enquanto a
Corte portuguesa esteve no Brasil, houve guerras a norte e a sul. A
norte, contra a Guiana francesa. A sul, os conflitos surgiram por
causa da linha de fronteira com os territórios das colónias
espanholas. Os portugueses lutaram bravamente e saíram vitoriosos mas
mais tarde, quando assinaram a paz, retiraram das terras ocupadas.
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- O regresso a
Portugal
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- Em Portugal as
lutas com os franceses terminaram no ano 1811. Mas a Corte não
regressou imediatamente porque não havia garantias de total segurança,
porque a deslocação massiva de tanta gente não era fácil e talvez
também porque a família real se sentia feliz no Rio de Janeiro. Em
1815 o Brasil deixou de ser uma colónia, foi elevado por D. João VI
à categoria de reino, reino unido ao de Portugal.
E o tempo foi correndo, sem se falar em regresso. Mas entretanto a
Europa agitava-se e havia revoluções destinadas a alterar a forma de
governo. Até então os reis tinham todos os poderes, eram reis
absolutos. Nesta época, sopravam outras ideias e surgiram partidos
que queriam dividir o poder - os Partidos Liberais. Estes defendiam
que o rei devia ter unicamente o poder de governar. Julgar os crimes,
competia exclusivamente aos juízes. Fazer leis, seria tarefa para
deputados eleitos pelo povo.
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Entre absolutistas e liberais rebentaram muitos conflitos armados. Em
Portugal estalou uma revolução no Porto, no ano 1820, os liberais
alcançaram uma vitória imediata e uma das primeiras medidas que
tomaram foi exigir ao rei que voltasse. D. João VI mandou preparar
malas e bagagens e embarcou com toda a família excepto o príncipe
herdeiro, D. Pedro, a quem deixou no Brasil como Regente.
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