O Processo dos Távoras

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D. D. Francisco de  Távora

 
A Casa de Távora foi uma das mais ilustres Casas nobiliárquicas portuguesas. O apelido Távora, utilizado pelos membros desta família, deriva do Rio Távora, em Trás-os-Montes, um afluente do Rio Douro, ou de uma vila ribeirinha com o mesmo nome.

As Origens

A família dos Távoras tem origens antiquíssimas, que alguns estudos genealógicos fazem remontar a um dos filhos de Ramiro II, Rei de Leão. O primeiro Senhor de Távora é Rozendo Hermingues, um nobre hispânico que viveu algures nos finais do século XI, principios do século XII. O senhorio do morgado de Távora permanece na linha varonil desta casa.

O hexaneto de Rozendo Hermingues é Lourenço Pires de Távora (c.1350-?), 8º Senhor de Távora, cavaleiro do Reino de Portugal e Senhor do Minhocal e do Couto de S. Pedro das Águias por mercê do Rei D. Pedro I. Diz-se também, embora não haja provas documentais, que foi esta nobre família transmontana a fundadora do Mosteiro de S. Pedro das Águias. O filho primogénito de Lourenço Pires de Távora é Álvaro Pires de Távora (c.1370-?), 1º Senhor do Mogadouro por mercê do Rei D. Fernando I.

 

O Processo dos Távoras refere-se a um escândalo político português do século XVIII. Os acontecimentos foram desencadeados pela tentativa de assassinato do Rei D. José I em 1758, e culminaram na execução pública de toda a família Távora e dos seus parentes próximos em 1759.

Alguns historiadores interpretam (mal) o assunto como uma tentativa do primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) de limitar os poderes crescentes de famílias da alta nobreza.

 

Introdução

No seguimento do terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755, que destruiu o palácio real, o rei D. José I vivia num grande complexo de tendas e barracas instaladas na Ajuda, às saídas da cidade. Este era o presente centro da vida política e social portuguesa.

Apesar de constituírem acomodações pouco espectaculares, as tendas da Ajuda eram o centro de uma corte tão "glamorosa" e rica, num país pobre,  como a de Versalhes de Luís XV de França. O rei vivia rodeado pela sua equipa administrativa, liderada pelo primeiro-ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, e pelos seus nobres. O primeiro-ministro era um homem severo, filho de um fidalgo de província, com algum desprezo para com a velha e inútil nobreza, que o desprezava. Desavenças entre ele e os nobres eram frequentes e toleradas pelo rei, que confiava em Sebastião de Melo pela sua liderança competente após o terramoto.

D. José I era casado com Mariana Vitoria de Borbón, princesa espanhola, e tinha 4 filhas. Apesar de ter uma vida familiar alegre, (o rei adorava as filhas e apreciava brincar com elas e levá-las em passeio), D. José I tinha uma amante: Teresa Leonor, mulher de Luís Bernardo, herdeiro da família de Távora. A rainha sabia da aventura do marido, e mais que uma vez fez comentários muito ofensivos para os Távoras, devidos ao comportamento de Teresa Leonor.

A Marquesa Leonor de Távora e o seu marido Francisco Assis, conde de Alvor (e antigo vice-rei da India), eram as cabeças de uma das famílias mais poderosas do reino, ligadas às casas de Aveiro, Cadaval, São Vicente e de Alorna. Eram também inimigos cerrados de Sebastião de Melo. Leonor de Távora era uma mulher política, preocupada com os negócios do Reino, entregue a seu ver a um novo-rico sem educação. Ela era também uma devota católica, com forte afiliação aos jesuítas, tendo como confessor um deles, Gabriel Malagrida.

 

O caso Távora - A tentativa de assassinato de D. José I

Na noite de 3 de Setembro de 1758, D. José I seguia sem escolta numa carruagem que percorria uma rua secundária nos arredores de Lisboa. O rei regressava para as tendas da Ajuda de uma noite com a amante D. Teresa Leonor casada com o herdeiro da Casa de Távora, D. Luís Bernardo. Pelo caminho, no local onde hoje se encontra a Igreja  da Memória, - mandada construir nesse sítio por D. José I, para agradecer a Deus de  o ter salvo do atentado, a carruagem foi interceptada por três homens, que dispararam sobre os ocupantes.

D. José I foi ferido num braço e nas costas, o seu condutor também ficou ferido gravemente, havia outro grupo preparado para terminar o assalto à carruagem no caminho da Ajuda, mas o rei em vez de seguir na direcção das tendas, mandou o cocheiro seguir para Belém, para casa do seu cirurgião, ou talvez para casa do Conde de Angeja. Regressou depois à Ajuda mas escoltado por uma força militar de dragões.

O caso de adultério da "marquesinha de Távora" com D. José I, fazia com que os Marqueses de Távora estivessem cheios de rancor pela ofensa feita à Casa de Távora, e tentaram mesmo  junto de Roma que o casamento de D. Teresa com D. Luís Bernardo fosse anulado. Por outro lado,  tempo a alta nobreza de Portugal, estava cheia de inveja e despeito pela posição de "Sebastião José" no governo do País, e vendo que não se conseguia livrar dele, chegou à conclusão que só com a morte do rei,  se poderia ver livre do "fidalgote" intruso e odiado.

Sebastião de Melo tomou o controle imediato da situação. Mantendo em segredo o ataque e os ferimentos do rei, ele efectuou julgamento rápido. Poucos dias depois, dois homens foram presos e torturados. Os homens confessaram a culpa e que tinham tido ordens da família dos Távoras, que estavam a conspirar pôr o duque de Aveiro, José Mascarenhas, no trono. Ambos foram enforcados no dia seguinte, mesmo antes da tentativa de regicídio ter sido tornada pública. Nas semanas que se seguem, a marquesa Leonor de Távora, o seu marido, o conde de Alvor, todos os seus filhos, filhas e netos foram encarcerados. Os conspiradores, o duque de Aveiro e os genros dos Távoras, o marquês de Alorna e o conde de Atouguia foram presos com as suas famílias. Gabriel Malagrida, o jesuíta confessor de Leonor de Távora foi igualmente preso.

Foram todos acusados de alta traição e de regicídio. As provas apresentadas em tribunal eram simples: a) As confissões dos assassinos executados, b) A arma do crime pertencia ao duque de Aveiro e c) O facto de apenas os Távoras poderem ter sabido dos afazeres do rei nessa noite, uma vez que ele regressava de uma ligação com Teresa de Távora, presa com os outros. Os Távoras negaram todas as acusações mas foram condenados à morte. Os seus bens foram confiscados pela coroa, o seu nome apagado da nobreza e os brasões familiares foram proibidos. A varonia Távora e morgadio foram então transferidos para a casa dos condes de São Vicente.

A sentença ordenou a execução de todos, incluindo mulheres e crianças. Apenas as intervenções da Rainha Mariana e de Maria Francisca, a herdeira do trono, salvaram a maioria deles. A marquesa, porém, não seria poupada. Ela e outros acusados que tinham sido sentenciados à morte foram torturados e executados publicamente em 13 de Janeiro de 1759 num descampado perto de Lisboa.

A execução foi violenta mesmo para a época, as canas das mãos e dos pés dos condenados foram partidas com paus e as suas cabeças decapitadas e depois os restos dos corpos queimados e as cinzas deitadas ao rio Tejo. O rei esteve presente, juntamente com a sua corte, absolutamente desnorteada. Os Távoras eram seus semelhantes, mas o rei quis que a lição fosse aprendida e para que nunca mais a nobreza se rebelasse contra a autoridade régia.

 


Igreja da Memoria -Ajuda

 

O terreno da execução foi salgado, simbolicamente, para que nunca mais nada ali crescesse. No local, hoje chamado Beco do Chão Salgado, existe um marco alusivo ao acontecimento mandado erigir por D. José com uma lápide que pode ser lida . As armas da família Távora foram picadas e o nome Távora foi mesmo proibido de ser citado.

Gabriel Malagrida, influente  jesuíta italiano e antigo confessor de D. João V, que se ajoelhava aos seus pés para pedir perdão pelos seus pecados, e que considerava o Terramoto de Lisboa como um castigo divino pela falta de religiosidade do povo de Lisboa, e o apregoava por todo lado, acusando o ministro de herege, foi primeiramente desterrado para Setúbal.

Mas o jesuíta continuou a pregar contra Pombal e este que não gostava de críticas, acusou-o à Inquisição. Julgado como herege foi garrotado e queimado vivo em Setembro de 1761, e a ordem dos jesuítas declarada ilegal. Todos as suas propriedades foram confiscadas e os jesuítas expulsos do território português, na Europa e no Ultramar (o filme "A missão" retrata a expulsão de uma comunidade jesuíta da floresta brasileira). A família Alorna e as filhas do Duque de Aveiro foram condenadas a prisão perpétua em mosteiros e conventos.

Sebastião de Melo foi feito Conde de Oeiras pelo seu tratamento competente do caso, e posteriormente, em 1770, obteve o título de Marquês de Pombal, o nome pelo qual é conhecido hoje.

A Igreja da Memória na Ajuda Lisboa, foi manada erguer por D. José I por ter escapado com vida do atentado. Por pedido do 5º Marquês de Pombal o túmulo de Sebastião José foi transferido para esta Igreja em 1923.

 

 

Discussão

A culpa ou inocência dos Távoras é ainda debatida hoje por historiadores portugueses, embora ninguém que opine honestamente poder negar as relações de Leonor de Távora com o D. José I. . Por um lado, as más relações entre a alta nobreza e o rei estão bem documentadas. A falta de um herdeiro masculino ao trono era motivo de desagrado para muitos, e o Duque de Aveiro era de facto uma opção.

Por outro lado, alguns referem uma coincidência: com a condenação dos Távoras e dos Jesuítas, desapareceram os inimigos de Sebastião de Melo e a nobreza foi domada. Adicionalmente, os acusados Távoras argumentaram que a tentativa de assassínio de D. José I teria sido um assalto comum, uma vez que o rei viajava sem guarda nem sinais de distinção numa perigosa rua de Lisboa.

Outra pista de suposta inocência é o facto de nenhum dos Távoras ou familiares terem tentado escapar de Portugal nos dias que se seguiram ao atentado. Suzanne Chantal no seu livro, Portugal ao Tempo do Terramoto, descreve este atentado e este processo, sem partidarismos, e descreve em pormenor bem documentado todos os seus pormenores

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