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Reforma
de Lutero
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Com a Reforma de Lutero e a cessação da edificação de templos, as
irmandades e lojas maçónicas franquearam as portas a pessoas não iniciadas
na arte da construção, desde que fosse aprovada a sua admissão e depois de
serem regularmente iniciados.
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Com
o passar do tempo, estas lojas foram ficando nas mãos dos membros
adoptados. A organização profissional dos construtores de catedrais
deriva então para esta Maçonaria, não operativa, mas especulativa, que
tomou corpo a partir de 1717, quando quatro Lojas de Londres - cujos
membros eram exclusivamente especulativos ou adoptados - fundam a Grande
Loja de Inglaterra.
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Obediência
ou federação de lojas
Nasce
também um novo conceito: o de obediência ou federação de lojas. Daqui
por diante residirá a soberania, já que unicamente a Grande Loja de
Inglaterra tinha autoridade para criar novas lojas.
O
que o Grande Oriente Lusitano comemora este fim-de-semana é a carta
patente que lhes foi concedida pela Grande Loja de Inglaterra em 12 de
Maio de 1802, permitindo criar a primeira Obediência portuguesa. O seu
primeiro grão-mestre foi um neto do marquês de Pombal: Sebastião José
de Sampaio e Melo Castro Lusignan, conde de São Paio.
As
Constituições de Anderson - redigidas em 1723, mas ainda hoje veneradas
e respeitadas por toda a Maçonaria - viriam esclarecer que o templo de
pedra deixava de ser a tarefa do maçon: o edifício a ser levantado em
honra e glória ao Grande Arquitecto do Universo passaria a ser a catedral
do Universo, ou seja, a Humanidade.
Assim
como o trabalho sobre a pedra bruta destinada a transformar-se em cúbica,
quer dizer, apta às exigências construtivas, seria o homem, que se iria
polindo no contacto com os seus irmãos através de um ensinamento em
grande parte simbólico.
Cada
instrumento dos pedreiros passou a ter um sentido simbólico: o esquadro
para regular as acções; o compasso para dar o sentido dos limites; o
avental, símbolo do trabalho, a indicar a simplicidade dos costumes e a
igualdade; as luvas brancas, para recordar ao maçon que nunca deve
manchar as mãos com a iniquidade; e a Bíblia, para regular ou governar a
fé.
A
finalidade da Maçonaria, à luz destas Constituições, consiste na
construção de um templo de fraternidade universal baseado na sabedoria,
na força, na beleza, na prática da tolerância religiosa, moral e
política, na luta contra todo o tipo de fanatismo e no exercício da
liberdade.
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Maçonaria
anglo-saxónica e a latina.
Como
existem muitas Maçonarias, há especialistas que estabelecem uma divisão
entre a Maçonaria anglo-saxónica e a latina.
A
primeira é qualificada também como regular, porque se fundamenta na
fidelidade aos princípios e às regras ditadas pelos fundadores.
As
que se encontram sob a influência da Grande Loja de Inglaterra são teístas:
apenas aceitam no seu seio os que (cristãos, muçulmanos, judeus,
hindus) reconhecem um Deus como princípio criador - o e uma fé na verdade revelada, tal como se encontra na
Bíblia ou noutros livros sagrados como o Corão, os Vedas, etc.
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Maçonaria
em Portugal
Em
Portugal, a Maçonaria regular é representada pela Grande Loja Regular de
Portugal/Grande Loja Legal de Portugal (GLRP/GLLP)
A
outra corrente, dita latina, é de inspiração racionalista ou liberal e
renega, como o Grande Oriente de França, a referência ao Grande
Arquitecto do Universo.
Professa
um estrito laicismo, suprimindo a Bíblia dos seus rituais. Deste ponto de
vista, o Grande Oriente Lusitano tende a seguir a tendência latina,
embora se afirme plural: aceita crentes e não crentes, católicos,
judeus, muçulmanos, agnósticos e ateus.
«Acima
de tudo, somos antidogmáticos», afirma João Soares Louro ( já
falecido ),
destacado membro do GOL, acrescentando que «a única certeza que temos é
que nos assiste a dúvida permanente. Esta atitude confere uma abertura
muito grande».
Admite
que «nos tempos da I República cometeram-se excessos, o que levou a que
muitos pensassem que a Maçonaria era anticlerical. Não somos. Colocamos
todos os credos em pé de igualdade».
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Não
obstante a divisão de águas, os maçons de todas as Obediências
trabalham com o mesmo objectivo, respeitando-se e tratando-se como irmãos.
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O
projecto de uma Europa unida é também obra dos maçons sem distinção
de Obediências.
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Se
se construir, de facto, a Europa dos direitos sociais, talvez se tenha
iniciado o que
Krause, filósofo maçónico alemão do século XIX,
chamou a terceira etapa da Maçonaria, depois das fases operativa e
especulativa, ou seja, a transformação do mundo na verdadeira «Aliança
da Humanidade».
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A
maçonaria é uma sociedade secreta ?
A
maioria dos maçons nega pertencer a uma sociedade secreta. António Arnaut - membro assumido do
GOL - chama-lhe «organização discreta»,
na medida em que «não está aberta ao público e reserva apenas aos
seus membros o conhecimento de certas práticas e saberes. Nisso
consiste o «segredo maçónico».
Como
afirma Manuel P. Santos no livro «Com a Maçonaria não se Brinca!»:
«Actualmente ser maçon não é fácil, pois a discrição que
envolve toda a sociedade maçónica revela-se como oposta à 'transparência'
que deve existir em qualquer sociedade democrática.»
Os
maçons reconhecem-se entre si como irmãos, identificando-se com
toques, sinais e palavras. Discretíssimo, Ramos Horta, na cerimónia
em que recebeu o Prémio Nobel da Paz, em 1996, não deixou de levar a
mão ao peito, num gesto ritual de agradecimento à Maçonaria. «Este
é um dos nossos sinais que passou para a sociedade profana e tende a
generalizar-se», explicam-nos.
A
Maçonaria, como organização iniciática que é, não pode viver sem
um ritual, isto é, sem uma acção simbólica constituída por
objectos, gestos e palavras sistematicamente repetidos, os quais, no
seu conjunto, representam uma ordem cósmica, um universo
ordenado.
Parte
da iniciação maçónica consiste na vivência, pelo candidato, da
sua passagem pelos quatro elementos: terra, ar, água e fogo. A
primeira fase tem lugar na Câmara de Reflexões, símbolo da Terra,
onde o candidato redige o seu testamento filosófico, ou seja, a
manifestação das suas últimas vontades antes de deixar o mundo
profano.
Numa
das paredes desta câmara estão patentes as letras V.I.T.R.I.O.L.,
significando Visita Interiora Terrae Rectificando que Invenies
Occultum Lapidem (Visita o Interior da Terra e Rectificando Encontrarás
a Pedra Oculta). De natureza alquímica, esta mensagem chama a atenção
para o trabalho interior que o profano deve fazer sobre si mesmo,
mediante a meditação.
Entrado
no templo, o neófito submete-se à prova do ar, da água e do fogo.
Terminada a cerimónia da iniciação, o candidato, que durante estas
três provas tem os olhos vendados, toma pela primeira vez contacto
visual com o templo e com os irmãos que fraternalmente o rodeiam e
acolhem.
Ao
entrar na Ordem Maçónica, o iniciado recebe o avental de aprendiz,
cuja finalidade simbólica é protegê-lo na sua missão de desbastar
a pedra bruta. E é junto às duas colunas que se encontram à entrada
do templo - e que simbolizam as colunas da Força e da Estabilidade do
Templo de Salomão - que o aprendiz recebe os ensinamentos do seu
grau.
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O
toque deve ser dado em sinal de reconhecimento maçónico, entre irmãos.
É um código que, apesar da sua utilização dever ficar circunscrita
ao espaço do templo, com o avançar do tempo, ganhou foros universais,
permitindo em qualquer sítio saber se alguém foi iniciado como maçon.
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Quando
alguém estranho à Maçonaria estava entre maçons, era costume usar a
palavra «chove»
para dar a conhecer a presença de um não iniciado. Passados os tempos da
clandestinidade, só a tradição justifica o seu uso.
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O
espaço do templo é muito específico, o que exige que o caminhar
(marchar) seja executado segundo regras particulares. A marcha no
templo varia conforme o grau em que os maçons trabalham, mas obedece
à regra da geometria, que salienta a posição vertical do maçon,
exemplo da conduta que ele deve levar na vida profana.
A
cadeia de união é outro acto praticado por todos os maçons em loja,
no qual eles dão as mãos, colocando o braço direito sobre o
esquerdo, de forma a criarem entre si uma verdadeira cadeia. Se, por
um lado, o cerimonial maçónico exige silêncio, por outro, requer a
presença de música, de modo a que os sentidos sejam estimulados para
o ritual que se pratica.
A
tradicional música maçónica de Mozart ainda hoje é tocada nos
trabalhos de loja, em particular nas sessões de iniciação e noutras
de carácter solene. Não é por acaso que no III Encontro da Maçonaria
Latina se inclui uma ópera de Mozart, neste caso «A Flauta Mágica».
Identificando-se
o aprendiz com a pedra bruta, os instrumentos simbólicos que lhe são
atribuídos para o seu aperfeiçoamento são o martelo e o escopro, próprios
ao desbaste. Já o companheiro requer instrumentos de maior precisão,
nomeadamente o esquadro, o nível, a perpendicular, a alavanca e a régua.
Os companheiros são elevados a mestre na Câmara do Meio. A partir
deste grau, que pode demorar anos a obter, o maçon está em condições
de ajudar novos obreiros no seu percurso iniciático.
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Actualmente, para se ser maçon é preciso ter mais de 18
anos, ter recursos para pagar as capitações - a quota mensal no GOL
ronda os 17,5 euros (3500$00) - ser livre e de «bons costumes».
Tem de
se procurar um padrinho ou proponente e submeter-se às «provas». Na
Maçonaria regular, a estes requisitos junta-se a obrigatoriedade de se
crer num Deus, o Grande Arquitecto do Universo.
A relação da
Igreja Católica com a Maçonaria conheceu
períodos de grande tensão, sobretudo a partir do século XVIII.
Nas décadas
de 1720-1730 e 1730-1740, a Maçonaria penetrou em toda a Europa e fora
dela. Foi um avanço impressionante, que assustou sobretudo a Igreja.
O
Papa Clemente XII, logo em 1738, promulgou a primeira bula de excomunhão
contra os pedreiros-livres, iniciando uma longa série de documentos
papais a condenar a Ordem Maçónica. Ordenou ainda à Inquisição a
perseguição dos seus adeptos.
No nosso país, a Inquisição prendeu,
torturou e condenou ao degredo os maçons da loja de John Coustos, um suíço,
depois naturalizado inglês, que se tinha radicado em Lisboa.
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A Maçonaria
e o marquês de Pombal
A
Maçonaria
só voltaria a ter paz sob o governo do marquês de Pombal, um
estrangeirado, que se supõe ter sido iniciado durante o período de
residência além-fronteiras.
Na sequência do terramoto de Lisboa, em
1755, o plano de reconstrução da cidade contaria com a colaboração
do arquitecto húngaro Carlos Mardel, um destacado maçon da Casa Real
dos Pedreiros-Livres da Lusitânia.
A praça do Rossio e a do Comércio
têm a sua «assinatura». Há quem considere que o Terreiro do Paço
(também chamado Praça do Comércio) não é mais do que a recriação
de um templo maçónico: o Cais das Colunas, que actualmente se encontra
em obras, representaria a entrada, com as colunas Jakin e Boaz (ou
Jerusalém e Belém, conforme as interpretações); o Arco da Rua
Augusta é visto como a sua continuidade. De notar ainda que o triângulo
por cima do Arco é outro símbolo maçónico por excelência.
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A
maçonaria com Pina Manique
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Derrubado
o marquês de Pombal, a Maçonaria voltou a conhecer a perseguição,
agravada com D. Miguel e com Pina Manique. O triunfo definitivo do
Liberalismo (1834) e a ascensão de D. Pedro IV, grão-mestre da Maçonaria
brasileira, marca um período de apogeu da Ordem, que só viria a
terminar com a revolução de 28 de Maio de 1926.
Em
finais do século XIX e princípios do XX, o ideário maçónico começou
a identificar-se com a ideologia republicana, apesar de haver muitos
obreiros monárquicos. Por isso, a República foi, essencialmente, obra
de maçons.
A
revolução de 28 de Maio de 1926 não promoveu, nos primeiros anos,
qualquer ofensiva contra a Maçonaria, talvez porque alguns dos seus
chefes, incluindo Carmona e o Almirante Cabeçadas, eram maçons.
A
entrada de Salazar para o governo e a sua rápida ascensão tutelar
reavivaria os velhos ódios das forças obscurantistas. Em 19 de Janeiro
de 1935 é apresentado na Assembleia Nacional um projecto de lei a
proibir as associações secretas e a confiscar-lhes todos os
bens.
O
alvo era claro: a Maçonaria. Nem a circunstância de o presidente da
Assembleia Nacional, José Alberto dos Reis, ser um antigo maçon lhes
valeu.
Curiosamente,
o Estado Novo não varreu completamente a Ordem do mapa de Lisboa:
muitas ruas mantiveram os nomes de destacados maçons, como ainda hoje
se pode verificar.
Outro
dos actos comemorativos dos 200 anos do GOL será, precisamente, a
divulgação completa da toponímia lisboeta associada à Maçonaria.
Com
o 25 de Abril de 1974, é restabelecido o direito de associação. O
primeiro Governo Provisório foi chefiado por um maçon, Adelino da
Palma Carlos. O Palácio Maçónico, no Bairro Alto, ocupado durante a
ditadura pela Legião Portuguesa, foi restituído ao Grande Oriente
Lusitano.
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- A
maçonaria nos tempos que correm
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- Nos
tempos que correm, sobretudo após João XXIII, o Concílio Vaticano
II e a própria Companhia de Jesus, a Igreja encara com outros olhos o
fenómeno maçónico. Não é, pois, de estranhar que o actual Código
de Direito Canónico (1983) tenha omitido qualquer referência à Maçonaria,
e revogado o cânone 2335 do anterior (1917), que excomungava «ipso
facto» os inscritos na «seita maçónica» e em organizações «que
maquinam contra a Igreja ou contra as legítimas autoridades civis».
À
intolerância sucedeu a compreensão e uma certa simpatia. A esta
mudança de mentalidade não foi, seguramente
alheia
a circunstância de muitos católicos e altos dignitários da Igreja
serem maçons.
Regimes
como o comunismo e o fascismo também não quiseram nada com a Maçonaria.
O IV Congresso Internacional dos partidos comunistas, em 1922,
aprovaria a seguinte resolução: «Aquele que não tenha declarado
abertamente à sua organização, e feito público através da
imprensa do partido, a sua ruptura total com a Maçonaria, será
automaticamente excluído do Partido Comunista».
Curiosamente,
no mesmo ano em que a Internacional Comunista lançava o anátema
contra os maçons, na Itália, o primeiro Estado fascista da história,
dirigido por Mussolini, convidava «os fascistas que são maçons
a escolher entre pertencer ao Partido Nacional Fascista ou à Maçonaria,
porque para os fascistas somente há uma disciplina, a disciplina do
fascismo; uma só hierarquia, a hierarquia do fascismo; uma só obediência
absoluta, devotada e diária ao chefe e aos chefes do fascismo».
«Onde
há um maçon, há uma semente de liberdade. Por isso fomos
considerados um perigo tanto para o comunismo como para o fascismo»,
diz-nos Fernando Sacramento, membro do GOL. «Nas lojas, tudo é
debatido (excepção feita para a política e a religião) e tudo é
votado (através de bola preta e bola branca), é o centro de maior
democracia que pode existir», garante, acrescentando que «não temos
um projecto de poder nem de afirmação na sociedade».
Explica:
«Os maçons têm obrigação de intervir na vida pública e política,
de lutar pela liberdade, pela igualdade e pela fraternidade (os nossos
três grandes princípios), mas apenas a título individual.»
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No
mundo profano, a Maçonaria funciona em grande parte através de
instituições que fomenta, cria ou dirige, mas que têm vida própria,
desligada da vida maçónica interna.
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Em
Portugal, este tipo de instituições que o historiador Oliveira Marques
designa como «paramaçónicas» existem desde o século XVIII,
especializadas em múltiplos aspectos da actividade social: cultura,
beneficência, política, direitos do homem, relações internacionais,
etc.
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Os
exemplos são inúmeros: a Academia das Ciências (nos idos de
Setecentos), as «Escolas Livres» fundadas no princípio do século
passado; A Voz do Operário (1883); os Jardins-Escolas João de Deus
(1911).
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As
associações paramaçónicas também intervieram para criar estruturas
laicas na vida social, como a Associação Liberal Portuguesa (1889) e a
Associação do Registo Civil (1895).
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Há
ainda notícia de grupos de combate à escravatura e à pena de morte
fundados no século XIX com ampla participação maçónica, e de alguns
criados no século XX para lutar contra a prostituição, o alcoolismo e
o jogo.
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A
Maçonaria e os seus Santos Patronos
A
Maçonaria tem dois santos patronos e protectores: São João
Baptista e São João Evangelista. Porquê São João?
Porque foi a 24 de Junho - dia de São João - que, em 1717, as quatro
lojas de Londres se reuniram e deliberaram criar a Grande Loja de
Londres, dirigida por um grão-mestre.
São
João Evangelista abre o solstício de Verão; São João Baptista é
comemorado com o solstício de Inverno. A Ordem maçónica respeita e
venera o ciclo solar - os trabalhos dos pedreiros fundadores
realizavam-se entre o meio-dia (zénite solar) e a meia-noite em ponto
(zénite polar) - e as estações do ano.
O
equinócio de Setembro marca o início dos trabalhos, que são
encerrados por altura do solstício de Junho. Este calendário maçónico
seria depois importado pelo sistema judicial e académico. Ainda hoje,
tanto os tribunais como as universidades continuam fiéis a esta
programação ditada pela Natureza.
Mas
os maçons distinguem-se ainda por comemorar a passagem de ano no
equinócio de Março, com a chegada da Primavera. De acordo com as
suas contas, estamos no segundo mês do ano de 6002. Antes de
encerrarem as lojas para as férias de Verão e logo após os festejos
do bicentenário, os maçons do GOL entram em campanha
eleitoral.
As
eleições para grão-mestre estão marcadas para 1 de Junho. Entre os
candidatos já conhecidos, estão António Arnaut, José Fava e Carlos
Morais dos Santos. Os dois mais votados irão ao tira-teimas da
segunda volta. Outra importação dos modelos maçónicos, novamente
por parte do meio judiciário e académico, tem a ver com o traje.
O
balandrau, bata preta comprida, com gola ampla para tapar a cabeça,
é a indumentária «oficial» da Maçonaria, por cima da qual se
coloca a paramentação (avental). Ora, as becas dos advogados e juízes
e as togas, usadas em cerimónias solenes nas universidades, não são
mais do que «adaptações» do ritual maçónico. As becas e as togas
antigas chegaram a ter também gola e aquela espécie de capuz que
caracteriza o balandrau.
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Existem
cerca de dez milhões de maçons em todo o mundo. Mas é na Inglaterra e
nos Estados Unidos da América que a sua influência mais se faz notar.
Convém
não esquecer que a Inglaterra foi o berço da Maçonaria: em 1717,
quatro lojas de pedreiros de Londres organizaram-se numa espécie de
federação a que deram o nome de Grande Loja, elegendo um primeiro grão-mestre
com autoridade sobre todos os maçons.
Seis
anos mais tarde, o pastor escocês James Anderson era incumbido de
elaborar umas Constituições que todos aceitassem.
Fernando
Sacramento, membro do GOL, não tem dúvidas em afirmar que os ingleses
edificaram o seu extenso império colonial com a ajuda da Maçonaria:
«A
instalação de lojas militares nos quatro cantos do mundo - abertas,
posteriormente, às profissões liberais, e integrando as classes com
maior influência social e económica nas diferentes possessões -
contribuiu decisivamente para a propagação do sistema democrático
defendido e praticado na Grande Loja de Londres.»
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- Organismos
de grande prestígio internacional como a ONU, criada em 1945 em Nova
Iorque, a UNESCO (instituição da ONU para a Educação, Ciência e
Cultura) ou a Cruz Vermelha Internacional, foram impulsionados
sobretudo por maçons.
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- Há
também quem diga que o Acordo de Paz de Camp David, firmado em 1978
entre Israel e o Egipto, parecia um encontro de irmãos, pela
simbologia utilizada nas saudações finais.
A
crer nesta interpretação, os três protagonistas do acordo - Menahem
Begin, primeiro-ministro de Israel, Anouar el-Sadate,
primeiro-ministro egípcio, e Jimmy Carter, presidente dos EUA -
quiseram dar provas da sua gratidão para com a Maçonaria, que tinha
manobrado intensamente nos bastidores para que tudo desse certo.
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Em
Inglaterra - à semelhança de outros países nórdicos - existe ainda
uma ligação estreita entre a Monarquia e a Maçonaria e o grão-mestre
é o rei por inerência de cargo. Actualmente, e porque está uma
mulher no trono (Isabel II), é o duque de Kent que detém a
autoridade máxima da maçonaria inglesa.
Em
terras de Sua Majestade ninguém estranha a influência e a participação
de maçons nas mais altas esferas do poder: da Câmara dos Lordes aos
Serviços Secretos, Forças Armadas, Governo. Winston Churchill,
primeiro-ministro inglês em 1940-45 e em 1951-55, era maçon. A
disposição espacial da Câmara dos Comuns (rectangular, com cadeiras
face a face) é uma recriação de um templo maçónico.
A
Maçonaria desempenhou também um papel importantíssimo na fundação
dos Estados Unidos da América. Não é com certeza por acaso que a
nota de um dólar está ainda repleta de símbolos maçónicos. Como não
é por acaso que a Bíblia sobre a qual prestam juramento todos os
presidentes dos EUA é proveniente de uma loja maçónica.
O
Livro Sagrado foi usado por George Washington, o primeiro presidente
dos EUA e maçon assumido. Antes, Benjamin Franklin, cientista e «pai»
da independência dos «States», também pertencera à organização.
E o mesmo se pode dizer de outros presidentes dos EUA: Abraham Lincoln
(republicano) e Franklin Roosevelt (democrata), à frente da nação
americana entre 1933 e 45.
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O
GOL não é a única organização maçónica em Portugal. Um grupo
descontente com a tendência laica do Grande Oriente decide promover o
ressurgimento da Maçonaria Regular no nosso país, criando em 1991 a
Grande Loja Regular de Portugal (GLRP).
Em
1996, já com Luís Nandim de Carvalho como grão-mestre, a sede - a célebre
Casa do Sino - é tomada por cisionistas (entre os quais figurava
José
Braga Gonçalves, que viria a ser preso em 2001 na sequência do «caso
Universidade Moderna»), que assumem o nome de Grande Loja Regular de
Portugal, pelo que os fundadores da Maçonaria Regular, mantendo a
designação, têm de adoptar para efeitos legais profanos o nome de
Grande Loja Legal de Portugal (GLRP/GLLP).
O
seu actual grão-mestre, José Manuel de Morais Anes, sublinha que a Maçonaria
anglo-saxónica «reconhece exclusivamente em Portugal a GLRP/GLLP»,
que também comemorará o aniversário da criação da primeira Obediência
maçónica regular portuguesa.
José
Anes insiste que não se poderão comemorar os 200 anos de Maçonaria
Regular «porque a Grande Loja Unida de Inglaterra decidiu retirar o
reconhecimento ao GOL pouco mais de 100 anos depois».
A
sessão solene de Junho, que marca o 11º aniversário da Grande Loja
Regular de Portugal, contará com a presença do marquês de
Northampton, pró-grão-mestre da Maçonaria inglesa.
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O
programa das comemorações inclui ainda uma homenagem ao rei Eduardo
VII.
Júlia
Maranha é a grã-mestra da Grande Loja Feminina de Portugal, que
integra nomes conhecidos, como Helena Sanches Osório (ex-directora de
«A Capital», ex-subdirectora de «O Independente»), Leonor Coutinho
(ex-secretária de Estado da Habitação) e Maria Belo (antiga eurodeputada do PS).
Entre
as correntes menos expressivas, destaca-se a Jurisdição Nacional da
Federação Internacional do Direito Humano, por ser um caso único de
organização mista. É liderada por Jorge Gomes.
A
Grande Loja Regular de Portugal (cisionista), que foi fundada por
diversas personalidades ligadas ao «caso Universidade Moderna», é
actualmente dirigida por Marques Miguel.
E
a Grande Loja Nacional de Portugal, que foi criada após uma cisão
com a anterior, tem como dirigente máximo Álvaro Carva. Finalmente,
a Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia, que é fruto de uma
segunda cisão operada entre os dissidentes que haviam ocupado a Casa
do Sino, está praticamente extinta.
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Literatura
sobre a matéria
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Sobre
a matéria recomenda-se a leitura da «Introdução à Maçonaria»,
de António Arnaut (Coimbra Editora), «A Maçonaria em Portugal» e
«A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo», de Oliveira Marques (Edição Gradiva e Publicações Dom Quixote, respectivamente), «História da
Franco-Maçonaria em Portugal», de M. Borges Grainha (Edições
Vega), «Com a Maçonaria não se Brinca!», de Joaquim M. Zeferino e
Manuel P. Santos (Hugin Editores) e «O que é a Maçonaria», de
Alberto Victor Castellet (Madras Editora).
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- Personagens
maçónicos portugueses:
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- Afonso
Costa - Alexandre Heculano - Alfred Keil - Almeiga Garrett
- António
Augusto de Aguiar - António José de Almeida - Bissaia Bareto -
Bocage - Camilo Castelo Branco - Carlos Mardel - Castilho - Duque de
Loulé - Duque de Saldanha - Eça de Queiroz - Egas Moniz - Elias
Garcia - Fernando II - Gago Coutinho - Gomes Freire de Andrade -
Henrique Lopes de Mendonça - Miguel Bombarda - Norton de Matos -
A.
H. de Oliveira Marques - Pedro IV - Rafael Bordalo Pinheiro - Raul
Rego - Ribeiro Sanches - Teófilo Carvalho dos Santos -
Viana da
Mota
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