Os maremotos originados pela
movimentação tectónica varreram locais desde do norte de África
(como
Safim e Agadir
até ao norte da Europa, nomeadamente até à
Finlândia (através de seichas e através do
Atlântico, afectando os Açores e a
Madeira e locais tão longínquos como Antígua,
Martinica e Barbados.
Diversos locais em torno do
golfo de Cádis foram inundados:
o nível das águas subiu repentinamente em
Gibraltar e as ondas chegaram até
Sevilha
através do rio Guadalquivir,
Huelva e
Ceuta.
De uma população de 275 mil habitantes em
Lisboa, crê-se que 90 mil morreram.
Outros 10 mil foram vitimados em
Marrocos. Cerca de 85% das construções de
Lisboa foram destruídas, incluindo palácios famosos e bibliotecas, conventos
e igrejas, hospitais e todas as estruturas. Várias construções que sofreram
poucos danos pelo terramoto foram destruídas pelo fogo que se seguiu ao
abalo sísmico.
A recém construída Casa da Ópera, aberta
apenas seis meses antes, foi totalmente consumida pelo fogo. O Palácio Real,
que se situava na margem do
Tejo, onde hoje existe o Terreiro do Paço,
foi destruído pelos abalos sísmicos e pelo tsunami. Dentro, a biblioteca de
70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de
Ticiano,
Rubens, e
Correggio, foram perdidas. O precioso
Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica e outros
documentos antigos também foram perdidos.
O terramoto destruiu ainda as maiores igrejas
de Lisboa, especialmente a Catedral de Santa Maria, e as Basílicas de São
Paulo, Santa Catarina, São Vicente de Fora, e a da Misericórdia. As ruínas
do Convento do Carmo ainda hoje podem ser visitadas no centro da cidade. O
túmulo de
Nuno Álvares Pereira, nesse convento,
perdeu-se também. O hospital Real de Todos os Santos foi consumido pelos
fogos e centenas de pacientes morreram queimados. Registos históricos das
viagens de
Vasco da Gama e
Cristóvão Colombo foram perdidos, e
incontáveis construções foram arrasadas (incluindo muitos exemplares da
arquitectura do período
Manuelino em Portugal).
O dia
seguinte
Quase por milagre, a família real escapou
ilesa à catástrofe. O Rei
D. José I e a corte tinham deixado a cidade
depois de assistir a uma missa ao amanhecer, encontrando-se em
Santa Maria de Belém, nos arredores de
Lisboa, na altura do sismo. A ausência do rei na capital deveu-se à vontade
das princesas de passar o feriado fora da cidade. Depois da catástrofe, D.
José I ganhou uma
fobia a recintos fechados e viveu o resto
da sua vida num complexo luxuoso de tendas no Alto da Ajuda, em Lisboa.
Tal como o rei, o
Marquês do Pombal, Ministro da Guerra e
futuro Primeiro-ministro de Portugal, sobreviveu ao terramoto. Com o
pragmatismo que caracterizou a sua futura governação, ordenou ao exército a
imediata reconstrução de Lisboa. Conta-se que à pergunta "E agora?"
respondeu "Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos" mas esse diálogo é
provavelmente apócrifo. A sua rápida resolução levou a organizar equipas de
bombeiros para combater os incêndios e recolher os milhares de cadáveres
para evitar epidemias.
O ministro e o rei contrataram arquitectos e
engenheiros, e em menos de um ano depois do terramoto já não se encontravam
em Lisboa ruínas e os trabalhos de reconstrução iam adiantados. O rei
desejava uma cidade nova e ordenada e grandes praças e avenidas largas e
rectilíneas marcaram a planta da nova cidade. Na altura alguém perguntou ao
Marquês de Pombal para que serviam ruas tão largas, ao que este respondeu
que um dia hão-de achá-las estreitas....
O novo centro da cidade, hoje conhecido por
Baixa Pombalina é uma das zonas nobres da cidade. São os primeiros edifícios
mundiais a serem construídos com protecções anti-sísmica, que foram testadas
em modelos de madeira, utilizando-se tropas a marchar para simular as
vibrações sísmicas.
Implicações Sociais
O Terramoto de Lisboa abalou muito mais que a
cidade e os seus edifícios. Lisboa era a capital de um país católico, com
grande tradição de edificação de conventos e igrejas e empenhado na
evangelização das suas colónias. O facto de o terramoto ocorrer num dia
santo e destruir várias igrejas importantes levantou muitas questões
religiosas por toda a Europa. Para a mentalidade religiosa do século XVIII,
seria uma manifestação da ira divina de difícil explicação.
Na política, o terramoto foi também
devastador. O ministro Marquês do Pombal era o favorito do rei mas não do
agrado da alta nobreza, que competia pelo poder e favores do monarca. Depois
de 1 de Novembro, a eficácia da resposta do Marquês do Pombal (cujo título
lhe é atribuído em
1770) garante-lhe um maior poder e
influência perante o rei, que também aproveita para reforçar o seu poder e
consolidar o
Absolutismo. Isto leva a um
descontentamento da aristocracia que iria culminar na tentativa de regicídio
e na subsequente eliminação dos
Távoras. Para além do agravamento das
tensões políticas em Portugal, a destruição da cidade de Lisboa frustrou
muitas das ambições coloniais do Império Português de então.