A figura de Almada Negreiros

Condensado de artigo da Internet por Cristina Vaz

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Auto-Retrato com Paleta (Almada Negreiros, 1926)

 
José Sobral de Almada Negreiros, nasce em S. Tomé e Príncipe, em 7 de Abril de 1893, filho do tenente de cavalaria António Lobo de Almada Negreiros e de sua mulher Elvira Sobral, que morre em 1896.

Com sete anos Almada Negreiros entra como aluno interno no Colégio Jesuíta de Campolide. Aos doze anos dedica-se já às letras e ao desenho. 

Com a revolução de 1910 o Colégio dos Jesuitas é extinto e Almada vai para o Liceu de Coimbra.  Em 1911 ingressa na Escola Internacional em Lisboa. 

Em 1913 publica o primeiro desenho n’A Sátira -  . No mesmo ano faz a primeira exposição individual. São cerca de 90 desenhos.

 
 
Fernando Pessoa escreve uma crítica à exposição. Quando Almada o aborda, responde-lhe que não percebe nada de arte. Nasce a amizade.

Entretanto Almada não pára. Colabora em várias publicações. Faz ilustrações. Escreve a primeira poesia. Desenha o primeiro cartaz. Junta-se com outros artistas.

Em 1915 sai o primeiro número da revista ORPHEU. Júlio Dantas deprecia o trabalho. Reacções à inovação. 

 

 
A I Guerra Mundial assola a Europa. Muitos artistas portugueses regressam a Portugal: Amadeu Sousa Cardoso, Guilherme Santa Rita, Eduardo Viana, são alguns deles. Outros são refugiados: Sonia e Robert Delaunay.

Amadeu decide sair do isolamento em Manhufe. Em 1916 faz duas exposições em Lisboa e Porto. Almada escreve no prefácio da exposição:

"Amadeu de Sousa Cardoso é o documento conciso da Raça Portuguesa do séc. XX". É o modernismo da arte portuguesa. O movimento não pára: nas letras e nas artes. Portugal está no século XX. 

O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as qualidades.

Em 1918 morrem Amadeu e Santa Rita. Almada decide ir para Paris no ano seguinte. Não procura os mestres. Mas faz procuras. "Eu gosto de procurar sozinho para me encontrar com todos"

Vive numa mansarda na Rue de Notre Dame de Lorette. Para viver trabalha como dançarino de salão, bailarino numa boite, empregado de fábrica.

Regressa a Lisboa em 1920. Dedica-se essencialmente ao desenho. Faz capas de livros, cartazes, desenhos humorísticos. Escreve textos. Sempre a multiplicidade. 

O café A Brasileira é o ponto de encontro de artistas. Possui um espaço que destina aos quadros de artistas. Em 1925 é a vez de Almada. Dois painéis são expostos. Num deles o auto-retrato, entre amigos. 

Em 1927 vai para Madrid. Colabora em várias publicações espanholas, Cronica, La Farsa entre outras. Escreve El Uno, tragédia de la Unidad - obra composta de duas peças que dedica à pintora Sarah Afonso. Há-de vir a ser sua mulher.

Ainda em Espanha colabora com arquitectos. Faz murais na Cidade Universitária de Madrid, nos cinemas Barceló e San Carlos e no Teatro Muñoz Seca. Estas duas últimas obras hão-de desaparecer durante a guerra.

Em Espanha, prenúncios de agitação. Melhor será regressar à Pátria.

 

 

Primeira parte do tríptico CATRINETA (Gare Marítima de Alcântara, Lisboa)

 

 

Portugal vive agora o início do Estado Novo. Salazar já está já no governo.  Aposta-se nas grandes obras públicas. Tudo deve ser útil e mostrar o prestígio do Estado.

Aposta-se sobretudo na escultura e na arquitectura. É aquilo que todos vêem. António Ferro, um jornalista, é o grande divulgador destes ideais. Tudo deve ter "ordem e equilíbrio". O Governo apoia esta pequena abertura, controlando-a. 

É criado o SPN - Secretariado da Propaganda Nacional. São instituídos prémios nas várias áreas artísticas. Com estes meios o poder chama para junto si alguns artistas portugueses.

Em 1933 Almada elabora o cartaz para o SPN: Votai uma nova Constituição. No ano seguinte casa com Sarah Afonso. Mais tarde hão-de ter um filho: José. Almada pinta Maternidade.

 
 
Em 1938 conclui os vitrais da Igreja de Nossa Senhora de Fátima. O público não aprecia. Almada não se incomoda. No ano seguinte morre-lhe o pai em Paris. Há muito que o tempo marcara a distância.
 
Almada é encarregado de fazer os vitrais para o Pavilhão da Colonização. Da sua autoria são também os cartazes Duplo Centenário e Festas do Duplo Centenário.
Muitos acham estranha esta colaboração. 
 
Tanto mais que à Comissão executiva preside Júlio Dantas. É o vício de comer todos os dias. Em contrapartida, não se pode deixar de reconhecer um grande artista. O SPN e António Ferro sabem-o. Organizam-lhe uma exposição sobre os trinta anos de desenho. 

Depois será a atribuição do prémio Columbano pela sua tela Mulher. É o reconhecimento como Mestre. Estado continua com as grandes obras. Querem-se úteis e populares.

As Gares Marítimas de Alcântara e da Rocha são locais onde todos os dias passa o povo que trabalha. Os painéis devem mostram aquilo que ele faz, aquilo que sente. 

O grande engenheiro do Estado Novo, Duarte Pacheco não aprecia o modernismo de Almada Negreiros nesses painéis. Queixa-se a Salazar. Este diz-lhe que é economista e não percebe nada de Arte, e que ele engenheiro, também não, que seja António Ferro a decidir. E os painéis ficaram.

 

 

Fernando Pessoa (Câmara Municipal de Lisboa)

 
Almada não pode parar. O trabalho é uma constante. Em todas as áreas se vê o Mestre. O azulejo e a tapeçaria merecem também a sua atenção. No final da década de 40 dedica ainda algum tempo ao desenho de figurinos para o bailado Mefisto Valsa.

O estudo é aquilo que Almada não deixa nunca de fazer. Com os seus textos, publicados ou não, Almada procura o conhecimento, o saber.

Em 50 publica "A chave diz: faltam duas tábuas e meia de pintura do todo na obra de Nuno Gonçalves". Há muito que o mestre vem estudando os painéis. 

Não deixará o tema. Faz propostas sobre a hipótese de uma nova reorganização do painel. Controvérsias para obra tão importante. Continua a provocar. Nunca deixará de o fazer até ao fim.

 

 
 
Em 54, o Restaurante Irmãos Unidos encomenda-lhe uma tela. Inicialmente a pintura chama-se Lendo Orpheu. É o retrato de Fernando Pessoa, uma certa forma de homenagem. Um dia a obra há-de ser leiloada e causar surpresas. Outras histórias.

Em 59 o SNI atribui-lhe o "Prémio Nacional das Artes". Galardão que não serve para calar o mestre. No mesmo ano Almada assina um protesto público pela nomeação de Eduardo Malta para Director do Museu de Arte Contemporânea. Nunca o Mestre será moldado. Continua a dizer o que pensa, mesmo que o poder não goste. É ainda o menino com olhos de gigante.

O Estado sabe que não convém hostilizar o Mestre. Tanto mais que Almada é um artista reconhecido, homenageado. Melhor será partilhar a opinião geral. Decidem nomeá-lo procurador à Câmara Corporativa na subsecção de Belas- Artes. No ano seguinte propõem-lhe, e aceita, o Grande Oficialato da Ordem de Santiago Espada.

Almada não pode parar. O trabalho é uma constante. Em todas as áreas se vê o Mestre. O azulejo e a tapeçaria merecem também a sua atenção. No final da década de 40 dedica ainda algum tempo ao desenho de figurinos para o bailado Mefisto Valsa.

O estudo é aquilo que Almada não deixa nunca de fazer. Com os seus textos, publicados ou não, Almada procura o conhecimento, o saber.

Em 50 publica "A chave diz: faltam duas tábuas e meia de pintura do todo na obra de Nuno Gonçalves". Há muito que o mestre vem estudando os painéis. Não deixará o tema. Faz propostas sobre a hipótese de uma nova reorganização do painel. Controvérsias para obra tão importante. Continua a provocar. Nunca deixará de o fazer até ao fim.

Almada tem 75 anos. A vitalidade ainda perdura. Executa o painel Começar para o átrio da Fundação Calouste Gulbenkian e os frescos para a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra.

Em 1970 o Retrato de Fernando Pessoa é leiloado. Almada assiste ao leilão. O preço atingido, 1300 contos, causa admiração. Nunca um pintor português conseguira tal proeza.

No mesmo ano assina o acordo para a publicação do primeiro volume das suas Obras Completas. Em Junho dá entrada no Hospital de S. Luís dos Franceses. No dia 15 morre. No mesmo quarto onde morrera Fernando Pessoa.

 

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Cronologia de Almada Negreiros
 
1893: Nasce em S.Tomé e Príncipe - 
 
1896: Morte da mãe. - 
 
1900: Entra como aluno interno no Colégio dos Jesuítas, em Campolide. O pai casa novamente - 
 
1905: Redige e ilustra jornais manuscritos - 
 
1910 : É extinto o Colégio dos Jesuítas. Vai para Coimbra - 
 
1911: Lisboa. Ingressa na Escola Internacional - 
 
1915: Escreve o Manifesto Anti-Dantas - 
 
1919: Vai para Paris - 
 
1920: Regressa a Lisboa - 
 
1925: Pinta dois painéis para a Brasileira do Chiado - 
 
1927: Parte para Madrid - 
 
1932: Regressa a Lisboa - 
 
1933: Casa com Sarah Afonso - 
 
1934: Nasce o filho José - 
 
1938: Conclui os vitrais da Igreja de Nª Senhora de Fátima - 
 
1939: Morre o pai em Paris. - 
 
1943: Faz os estudos preparatórios para os frescos da Gare Marítima de Alcântara - 
 
1954: Pinta o retrato de Fernando Pessoa para o restaurante Irmãos Unidos - 
 
1966: É eleito membro honorário da Academia Nacional de Belas Artes -
 
1967: Recebe o Grande Oficialato da Ordem de Santiago e Espada - 
 
1970: Morre em Lisboa.
 
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