Mudanças
Revolucionárias - As Nacionalizações
O grande
erro do 25 de Abril
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Condensado de Portugal
- A Country Study
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As Nacionalizações - O Desastre Económico do 25 de Abril
A reforma do comité de coordenação das
MFA em Março de 1975 levou ao poder um grupo de oficiais de
orientação marxista que juntamente com a CGT - Confederação Geral
dos Trabalhadores conhecida como Intersindical e dominada pelos
comunistas até 1977, pensaram em fazer uma reforma radical no sistema
social e na política económica do país. Abandonando
a sua postura de reforma moderada, os dirigentes do MFA iniciaram uma
campanha de nacionalizações e expropriação de terras. Durante
esse período de cerca de um ano, o governo nacionalizou todas as
empresas de capital privado na banca, nos seguros, petroquímica,
fertilizantes, tabaco, cimento e celulose.
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Foram nacionalizadas também todas as
empresas de produção de ferro e de aço ( Siderurgia ), as maiores
cervejarias, as maiores companhias de navegação marítima, as maiores empresas de transporte público, dois dos
três principais estaleiros de construção e reparação naval, o
núcleo de companhias da CUF - Companhia União Fabril, as estações
de rádio e a TV, excepto a Rádio Renascença de orientação da
Igreja Católica.
Foram nacionalizadas também importantes
companhias nas áreas do vidro, minas, pescas, e sectores agrícolas.
Como os bancos que foram nacionalizados eram detentores de inúmeras
acções privadas o estado adquiriu o control de centenas de outras
firmas.
Foi criado um Instituto da Participação
do Estado - IPE para manejar todas as mais díspares empresas onde o
estado tinha assim adquirido uma maioria accionista.
Outras cerca de 300 pequenas e médias
empresas foram intervencionadas para as salvar da bancarrota que os
saneamentos provocados pelos seus empregados, ou seu abandono pelos
seus legítimos e desiludidos proprietários tinham provocado.
Claro que os investimentos directos
estrangeiros ficaram exentos da nacionalização, mas muitas empresas
de investimento estrangeiro diminuíram ou cessaram as suas operações
em Portugal devido ao aumento de custo laboral e às greves e
exigências dos trabalhadores.
A combinação de políticas
revolucionárias e clima negativo para o empreendimento reverteu a
tendência que tinha havido até então nos investimentos
estrangeiros em Portugal.
Um estudo dos economistas Maria Belmira
Martins e José Chaves Rosa mostrou que um total de 244 empresas
privadas foram directamente nacionalizadas durante um período de
dezasseis meses entre o 14 de Março de 1975 a 29 de Julho de 1976.
Como um exemplo, a Quimigal, a entidade de
quimicos e fertilizantes, representou a junção de cinco firmas
privadas. Quatro outras grandes companhias foram integradas na companhia
nacional de petróleos, Petróleos de Portugal - Petrogal.
Quatorze empresas privadas de produção
de energia eléctrica foram juntas num simples monopólio de
producção e distribuição de energia eléctrica, Electricidade de
Portugal - EDP.
Houve casos, como por exemplo nas zonas
servidas pela Hidro Eléctrica da Serra da Estrela, uma das primeiras
Hidro Eléctricas a funcionar em Portugal, onde o custo por KW/hora da energia eléctrica, aumentou
de tal forma depois da nacionalização que tornou proibitivo aos
habitantes dessas zonas o consumo de energia como o faziam nos tempos
da companhia privada.
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Com a nacionalização
juntaram-se três firmas produtores de tabaco com o nome de
Tabaqueira, e o estado agarrou o controlo total desta
industria.
As diversas fábricas e distribuidoras de
cerveja, foram integradas em duas firmas estatais, , Central de Cervejas (Centralcer) e
Unicer. Criou-se uma simples
empresa estatal a Rodoviária, que juntou a nacionalização de
noventa e três empresas privadas de camionagem.
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As quarenta e sete fábricas de cimento,
controladas principalmente pelo grupo Champalimaud foram integradas
nos Cimentos de Portugal (Cimpor). O governo adquiriu também uma
posição dominante na indústria de construção naval destinada à
exportação e na reparação naval.
Algumas empresas nacionalizadas mantiveram
os mesmos nomes que tinham quando eram empresas privadas. Entre estas
estão a companhia de produção de ferro e aço, Siderurgia Nacional.
Os caminhos de ferro, Caminhos de
Ferro Portugueses - CP; e a companhia áerea nacional, Transportes Aéreos
Portugueses - TAP ( Hoje TAP - Air Portugal ).
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Ao contrário dos outros sectores, onde as
firmas privadas existentes foram transformadas em monopólios
estatais, o sistema de bancos comerciais e os seguros ficaram com um
certo grau de competição. Em 1979 o número de bancos foi reduzido
de 15 a nove.
Apesar do seu estatuto público os bancos
permaneceram a competir uns com os outros mantendo as suas
identidades individuais e umas certas diferenças nas suas
actividades..
Antes da revolução de 1974 a iniciativa
privada dominava a economia portuguesa num grau muito superior aos dos
outros países ocidentais. Existia apenas uma uma pequena
quantidade de empresas pertencentes ao estado. Os correios, a
indústria de armamento, os portos, o Banco Nacional de
Desenvolvimento e a Caixa Geral de Depósitos.
O governo português tinha interesse
minoritários na TAP, a linha aérea nacional, na Siderurgia Nacional ,
e na refinação e comercialização do petróleo.
Os caminhos de ferro, dois bancos
coloniais, e o Banco de Portugal eram maioritariamente privados mas
administrados pelo estado. Finalmente ainda que de propriedade
privada. as companhias de tabaco e a Rádio Marconi operavam debaixo de
concessão governamental.
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- Dois anos depois do golpe militar o
"engordado" sector público atingia 47% do ( GFCF- Gross Fixed
Capital Formation ), 30% do valor acrescentado ( VA ), e 24% do emprego. Estes valores eram em 1973, 10% para o GFCF, 9%
para o VA e 13% para os tradicionais empregos públicos.
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- A expansão do sector público depois da
revolução foi particularmente de monta na indústria de manufactura
pesada, nos serviços públicos, incluindo a electricidade, gás,
transportes e comunicações, na banca e nos seguros.
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- Mais tarde, de acordo com o Instituto para as
Participações do Estado - IPE, estes números não incluíam as
empresas privadas com intervenção temporária do estado, as empresas
privadas com participação minoritária do estado ( menos que 50% das
acções ), ou firmas manejadas pelos trabalhadores ou cooperativas
agrícolas.
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- Comentário - Basta ver o retorno de
caminho que Portugal teve que fazer, e terá que fazer ainda,
quando entrou para a União Europeia, para que a história classifique
estas nacionalizações feitas de forma primária e o QI dos seus autores.
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- Mais de que nacionalizações, fizeram-se
autênticos actos de vandalismo, que destruíram quase por completo a
estrutura de produção portuguesa.
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- O estado teve que vender a privados a
maioria das empresas que tinha nacionalizado, e muitas voltaram à
posse dos seus antigos donos. Empresas como a Siderurgia Nacional já
praticamente não existem, a Sorefame idem, a Lisnave idem, e o estado
financeiro da CP, TAP, RTP e muitas outras é demasiado conhecido para
merecer comentários.
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Os erros da "Revolução dos Cravos"
Tal como na vida das pessoas, na vida
das sociedades há opções de um tempo que se prolongam no tempo e têm
consequências nefastas no futuro. Quando se afirma - e com razão -
que o País (os portugueses) tem de encarar a realidade e ter a noção
de que está a viver acima das suas possibilidades, fala-se de
presente e de futuro.
Mas também de passado. Chegámos aqui não apenas
porque, ao longo dos anos, os diversos poderes políticos não foram
capazes - ou não tiveram coragem - de ir ao fundo das questões. Mas
também porque a base de que se partiu inscreveu a utopia e o erro na
matriz de organização socioeconómica da sociedade. E essa matriz
radica na chamada "Revolução dos Cravos", isto é, no período que se
seguiu ao 25 de Abril.
Se o 25 de Abril foi uma data positiva e indispensável para a
resolução dos problemas políticos do país - guerras coloniais,
democratização -, já o pós-25 de Abril, do ponto de vista da economia,
funcionou como um entrave ao desenvolvimento sustentado, na medida em
que inscreveu a utopia do hiper-intervencionismo estatal como panaceia
para todos os males da sociedade.
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A destruição do aparelho produtivo vindo do regime anterior, a entrega
à asa protectora do Estado não apenas da definição das políticas
económicas globais como da gestão das empresas, o desmesurado aumento
dos quadros do funcionalismo público, o clientelismo político partidário que a dependência das empresas estatizadas por
parte dos governos proporcionou foram factor importante no aumento da
despesa pública. E a lentidão com que as mudanças constitucionais
necessárias ao livre funcionamento da economia e do mercado foram
introduzidas - através do acordo de revisão constitucional assinado
pelo então líder socialista, Vítor Constâncio, e líder
social-democrata e primeiro-ministro, Cavaco Silva - retardou o
despertar da vida económica.
A desestatização demorou duas décadas, os malefícios da "reforma
agrária" demoraram um decénio a ser corrigidos. Mas a ideia de um
Estado "saco azul" permaneceu e este é um dos obstáculos com que se
vai confrontar este Governo, como sucedeu com os anteriores.
No pós-25 de Abril, duas palavras sintetizaram a criação deste novo
espírito, o de que o Estado responde a tudo e tem fundos para tudo
faça-se isto ou aquilo "já", "eles" que resolvam como.
O "já"
correspondia à utopia, criada pela parte da esquerda radical que
assaltou o poder - não apenas pelo controlo da máquina política e
administrativa do Estado mas também pela incorporação na máquina
estatal dos sectores essenciais da vida económica - de que um certo
socialismo correspondia à construção de um país de leite e de mel,
onde todos os problemas se resolviam, "já", à Robin dos Bosques.
O
"eles" era sequência natural do "já": o poder, os políticos, o
Estado
(essa coisa abstracta) que encontrassem formas de responder às
necessidades, reais ou irreais, dos cidadãos. O viciante exercício do
"eles" conduziu os cidadãos à ideia de que tinham (têm) direitos, mas
não deveres para com a coisa pública. O excessivo crescimento do
sector estatal e do funcionalismo público, adicionado à conjugação do
"já", conduziu à hiper-valorização dos "direitos adquiridos", em
detrimento do bom funcionamento presente e futuro das empresas e da
economia.
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Felipe González
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Igual erro não cometeu, na vizinha Espanha, o líder socialista
Felipe González. De resto, compreendendo os erros da revolução portuguesa, os
espanhóis de todas as tendências (incluindo os comunistas) preferiram
uma transição centrada na política em detrimento da economia, certos
de que a democracia faria o resto. E, assim, a Espanha fez uma
revolução tranquila, sem pôr em questão a continuidade do seu
desenvolvimento económico.
A nova Constituição Espanhola não era
ideológica nem foi marcada por pressão político-militar dos radicais
no sentido de recuperarem, pela via da constitucionalização, os ganhos
revolucionários na área económica, como sucedeu em Portugal.
Sociais-democratas e socialistas - as duas formações partidárias que
detiveram o poder nos últimos 25 anos - ficaram prisioneiros de uma
teia constitucional difícil de romper e que ajudou a acentuar as
dificuldades das finanças públicas. Herdaram máquinas da administração
pública, postos de trabalho e, o pior de tudo, ideias instaladas. Esta
última parcela, sem dúvida, a mais difícil herança.
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