D. João II por Rui de Pina

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D. João II

 

 

FEIÇÕES, VIRTUDES, COSTUMES E MANHAS DE EL-REI D.JOÃO - Por Rui de Pina

«Foi el-rei D.João homem de corpo, mais grande que pequeno, mui bem feito e em todos os seus membros mui proporcionado; teve o rosto mais comprido que redondo e de barba em boa conveniência povoado. 

Teve os cabelos da cabeça castanhos e corredios e porém em idade de trinta e sete anos na cabeça e na barba era já mui cão, de que se mostrava receber grande contentamento pela muita autoridade que à sua dignidade real suas cãs acrescentavam; e os olhos de perfeita vista e às vezes mostrava nos brancos deles umas veias e mágoas de sangue, com que nas coisas de sanha, quando era dela tocado, lhe faziam aspecto mui temeroso. 

 
 

E porém nas coisas de honra, prazer e gasalhado, mui alegre e de mui real e excelente graça; o nariz teve um pouco comprido e derrubado. Era em tudo mui alvo, salvo no rosto, que era corado em boa maneira. E até idade de trinta anos foi mui enxuto das carnes e depois foi nelas mais revolto. 

Foi príncipe de maravilhoso engenho e subida agudeza e mui místico para todas as coisas; e a confiança grande que disso tinha muitas vezes lhe fazia confiar mais de seu saber e creu conselhos de outrem menos do que devia. 

Foi de mui viva e esperta memória e teve o juízo claro e profundo; e porém suas sentenças e falas que inventava e dizia tinham sempre na invenção mais de verdade, agudeza e autoridade que de doçura nem elegância nas palavras, cuja pronunciação foi vagarosa, entoada algum tanto pelos narizes, que lhe tirava alguma graça.

 Foi rei de mui alto, esforçado e sofrido coração, que lhe fazia suspirar por grandes e estranhas empresas, pelo qual, conquanto seu corpo pessoalmente em seus reinos andasse para as bem reger como fazia, porém seu espírito sempre andava fora deles, com desejo de os acrescentar. 

Foi príncipe mui justo e mui amigo de justiça e nas execuções dela mais rigoroso e severo que piedoso, porque, sem alguma excepção de pessoas de baixa e alta condições, foi dela mui inteiro executor, cuja vara e leis nunca tirou de sua própria seda, para assentar nela sua vontade nem apetites, porque as leis que a seus vassalos condenavam nunca quis que a si mesmo absolvessem.»

(Da Crónica de D.João II, de Rui de Pina)

 

Cronologia de D. João II

1455: Em Lisboa, nasce o filho primogénito de D. Afonso V e de D.Isabel, filha do infante D. Pedro, tio do rei, que viria a reinar sob o nome de D. João II.  

1471: Acompanha o pai na expedição a Arzila, sendo aí armado cavaleiro. 

1473: Casa com D. Leonor, filha do infante D. Fernando. - 

1475: É nomeado regente por D. Afonso V. Vence Fernando o Católico na Batalha de Toro.  

1477: É aclamado rei em Santarém por D. Afonso V ter decidido entrar em religião, mas só virá a suceder-lhe verdadeiramente em 1481, por morte deste.  

1479: Tratado das Alcáçovas, que reserva a Portugal o direito de navegar além das Canárias. - 

1482: Construção da fortaleza de São Jorge da Mina. - 

1483: Derruba a conspiração da nobreza e mata o duque de Viseu em 

1484. Diogo Cão descobre a Foz do Zaire. Viagem de Afonso Paiva e Pêro da Covilhã ao Egipto e à Etiópia. - 

1487: Bartolomeu Dias dobra o Cabo da Boa Esperança. - 

1490: Casamento do príncipe herdeiro, D. Afonso, com a princesa Isabel, filha dos reis católicos. - 

1491: O príncipe D. Afonso morre num acidente. - 

1494: Tratado de Tordesilhas. - 

1495: Morte de D. João II, no Alvor.

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