A Fragata D. Fernando II e Glória

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Quando, em plena marina da última exposição mundial do século, o visitante depara com a derradeira nau da carreira da índia, a D. Fernando II e Glória, dificilmente acredita que se trata de uma reconstrução a partir de um casco carcomido que permaneceu encalhado no Tejo entre 1963 e 1992. 

Inteiramente restaurado em Portugal (estaleiro Ria-Marine de Aveiro e Arsenal do Alfeite), o navio é hoje a quarta fragata armada mais antiga a nível internacional e ocupa o oitavo lugar entre os veleiros mais vetustos.

Convirá salientar que o nosso museu flutuante só tem equivalente em «sobreviventes» míticos da idade da vela como o americano Constitution ou o sueco Vasa, este último um primor de... navegabilidade. 

 
 
Ora, de não ter dado o casco ao manifesto ninguém poderá acusar a D. Fernando, que cruzou os oceanos em serviço activo durante mais de três décadas, percorrendo o correspondente a cinco voltas ao mundo.
 
O navio foi construído em Damão e lançado à água em 22 de Outubro de 1843. Reinava D. Maria II (1819-1853) e foi dado à fragata o nome do segundo marido da soberana, Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha (1816-1885), rei-consorte com o nome de Fernando II. 
 
O «e Glória» fica a dever-se a Nossa Senhora da Glória, santa muito venerada nas possessões portuguesas da índia. A viagem inaugural iniciou-se em 2 de Fevereiro de 1845 e a chegada a Lisboa verificou-se em 4 de Julho.
 
Com uma tripulação variável entre os 145 e os 379 homens, o navio podia receber seis dezenas de canhões. Cedo se levantaram dúvidas sobre a sua utilidade, pois estava-se no advento do vapor, e ele era inteiramente à vela. 
 
Depressa se verificou, porém, que se tratava de uma fragata com belíssimas características de navegabilidade, chegando a transportar 650 pessoas (membros da guarnição e passageiros). Além de viagens infatigáveis na carreira da índia, teve outras missões de igual merecimento.
 
UMA LIÇÃO DE HISTÓRIA
 
Passando a desempenhar as funções de escola de artilharia naval a partir de 1865, o navio continuou a prestar serviço na Marinha de Guerra até iniciar, em 1945, uma nova fase na sua existência, como sede da Obra 
 
 

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CENAS DA VIDA A BORDO
Uma das numerosas peças de artilharia (com a guarnição), homem a ferros, oficiais na messe e acomodações de passageiros civis

 

Social da Fragata D. Fernando. Ali receberam treino de marinharia e instrução escolar muitos rapazes órfãos ou provenientes de famílias de fracos recursos. Em 3 de Abril de 1963, um violento incêndio destruiu praticamente a última nau da carreira da índia.

Fundos públicos e contribuições de mecenas (no total de mais de um milhão e meio de contos) permitiram que entre 1992 e 1998 a D. Fernando fosse recuperada e convertida num autêntico museu flutuante, capaz de dar uma ideia fiel de como era a vida a bordo de uma fragata em 1850. 

Manequins colocados em diversas partes do navio mostram uma peça de artilharia a ser carregada, outra em posição de fogo, o médico a tratar um doente na enfermaria, oficiais na messe e outros nos respectivos camarotes, o comandante na camarinha, o cozinheiro junto do imponente fogão, passageiros em modestas acomodações. Foi posto grande rigor nos trajos civis e militares e nos objectos de uso pessoal, louças, talheres, lanternas, cartas de navegação, etc. 

De notar a exiguidade das latrinas (havia viagens que demoravam três meses sem tocar porto), a disposição das macas dos marinheiros, o paiol da pólvora revestido a chumbo, as áreas para os animais destinados à alimentação de quem seguia a bordo, os galinheiros volantes no convés... Nem sequer falta um manequim a ferros, numa demonstração da dureza dos castigos navais da época.

A D. Fernando renascido possui quase tudo, incluindo uma imagem de Nossa Senhora da Glória, mas ainda não dispõe dos 2 052 metros quadrados de velame a que tem direito. Esse material está a ser confeccionado, e só ele possibilitará que, no futuro, seja feita uma prevista saída do belo navio para o mar. Depois da Expo'98, deverá ficar atracado nas proximidades da Torre de Belém, para deleite de visitantes de todas as idades, raças e credos - e permanente lição sobre o nosso passado marítimo 

( Condensado de Artigo publicado na Net por Pedro Rafael dos Santos )

 

 

 
A D. Fernando, comandada por um capitão-de-mar-e-guerra, tem um comprimento de 86,75 metros e desloca 1 849,16 toneladas.
 
Serve temporariamente de pavilhão das Comunidades Portuguesas e ostenta a bandeira da República e a do último período da Monarquia, sendo de notar que o patrono foi uma figura merecedora de respeito pela sua acção como homem de cultura, comandante-chefe do Exército em algumas ocasiões e pai de dois reis que deixaram boa memória - D. Pedro V e D. Luís. 

 

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