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A Batalha de Aljubarrota
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Batalha -
Túmulo de D. João I |
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Resumo
A Batalha de Aljubarrota marca o momento
decisivo da guerra luso-castelhana de 1384-1397. Depois de levantar o cerco de Lisboa, D.
João I de Castela voltou a reunir as suas tropas para tentar de novo conquistar Portugal.
A 13 de Agosto os Castelhanos chegavam a Leiria, adiando o encontro com as tropas de D.
João I de Portugal para o dia 14.
Nuno Álvares Pereira ao ver a
superioridade numérica dos Castelhanos, fez rapidamente inverter as suas frentes de
batalha, posicionando-as na estrada de Leiria para Lisboa. As tropas portuguesas, embora
militarmente pior equipadas, conseguiram derrotar os Castelhanos graças ao excelente
comando e às tácticas indicadas pelo Condestável Nuno Álvares.
Durante três dias a hoste portuguesa
manteve-se no campo de Aljubarrota, em sinal de vitória, segundo o espírito cavaleiresco
da época.
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Batalha de Aljubarrota,
iluminura da Crónica de Inglaterra de Jean Wavrin, Museu Britânico
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- A Batalha de Aljubarrota marca o
momento decisivo da guerra luso-castelhana de 1384-1397. Depois da invasão castelhana que
cercou Lisboa ter retirado em virtude da peste, D. João I de Castela voltou a reunir as
suas tropas para tentar de novo conquistar o nosso país, contando então com o apoio de
várias praças e castelos que ainda lhe obedeciam.
- De facto, o Rei de Portugal, recém
aclamado nas Cortes de Coimbra (Março de 1385), ainda em Julho tentava conquistar Torres
Novas e Alenquer, enquanto os Castelhanos atravessaram a fronteira da Beira e se dirigiram
sobre Coimbra, que não tentaram conquistar, prosseguindo depois para Lisboa. Reunidos em
Abrantes, os exércitos de D. João I de Portugal e do Condestável Nuno Álvares Pereira,
decidiram, depois da hesitação de alguns, interceptar os invasores. Avançaram, pois,
até Tomar e Porto de Mós, ao mesmo tempo que os Castelhanos chegavam a Leiria.
- A 13 de Agosto viram então os
portugueses surgir das bandas de Leiria as avançadas castelhanas. Como o sol já
declinava e as tropas vinham cansadas, D. João de Castela, doente, numas andas, adiara o
ataque para o dia seguinte. E a 14, à vista do acanhado acampamento dos castelhanos, que
todo o dia 13 se haviam mantido formados, à torreira do sol, sem comer, determinou o
comandante fazer desfilar as suas incontáveis tropas pelo flanco esquerdo da posição,
talvez no duplo intuito de os cortar de Lisboa e paralisá-los de terror.
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- A orgulhosa parada durou meio dia e
assombrou de facto a bisonha peonagem dos concelhos, mal armada, mal defendida nas suas
armaduras de ferro. Mas o Condestável observava atentamente a manobra castelhana e, sem
se abalar, fez rapidamente inverter as suas frentes de batalha «de como as tinha ordenado
com as costas para Leiria e as tornou contra onde estavam seus inimigos», posicionando-as
na estrada de Leiria para Lisboa, por Alcobaça, entre dois ribeiros a sul da Cavalaria.
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Nuno
Álvares Pereira |
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- Segundo os melhores cálculos, o
condestável dispunha de 1700 lanças, 800 besteiros e 4000 peões, ao todo 6500 homens,
fortemente concentrados na sua posição, admiravelmente guarnecida.
- Os castelhanos traziam 5000 lanças, entre
as quais muitos cavaleiros gascões e franceses, 2000 cavalos, 8000 besteiros e 15000
peões, num total de 30000 homens, com 700 carroças, milhares de animais carregando
mantimentos e munições, 8000 cabeças de gado e muitos pajens e outra gente de
serventia. Tão extenso e desordenado era este comboio que ainda a cauda da coluna vinha a
léguas de distância quando a arrogante cavalaria da vanguarda se defrontou
com os Portugueses.
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- Infatigável, atendendo a tudo, o
condestável dispôs as suas forças em três alas, com uma forte reserva à retaguarda. A
vanguarda, de 600 lanças, alinhava-se agora com a frente para o sul, em torno do pendão
do condestável, a meio da charneca, terreno pouco acidentado, igualmente vantajoso para
ambas as partes. A ala esquerda da nova posição era a célebre ala dos namorados,
comandada por Mem Rodrigues e Rui Mendes de Vasconcelos, 200 lanças de cavaleiros todos
moços valorosos.
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- Na ala direita, comandada por António Vasques, formavam 200 homens de armas, entre os quais os famosos arqueiros ingleses
assoldados em Londres. As 700 lanças de reserva à retaguarda, comandadas pelo rei,
mantinham-se interiormente em ligação com a vanguarda por uma dupla manga de peões e de
besteiros. Por todo o campo ondulavam os balsões e insígnias dos cavaleiros, a bandeira
verde da ala dos namorados, o pendão real das quinas e castelos, o estandarte branco e
piedoso do condestável.
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- O curral do parque, com os pajens, cavalos,
armaduras e toda a bagagem da hoste, ficara estabelecido à retaguarda da reserva, bem
guarnecida também por besteiros e homens de pé, que não só defendiam a
carriagem, como apoiavam os flancos da reserva contra eventuais surpresas. Já o sol
baixava a poente, quando as trombetas de Castela soaram na tarde cálida.
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- A batalha começou pelo estrondear
das catapultas, que nos portugueses causou certo espanto. Mas, a artilharia tosca, de
pedra, rebentou aos primeiros tiros, matando alguns dos próprios artilheiros. Refeita da
primeira hesitação, a vanguarda de Nuno Álvares Pereira pôs-se em marcha,
vagarosamente, consoante as instruções recebidas. Entretanto, nos seus cavalos de
guerra, a extensa frente de batalha castelhana avançava um tanto desordenada, apoiada
pelo tiroteio dos besteiros, ameaçando envolver a escassa frente portuguesa.
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- Mas os cavaleiros castelhanos,
surpreendidos por verem os portugueses apeados, começaram a encurtar as suas lanças para
as tornar mais manejáveis; o que lhes deteve o ímpeto e fez assim oscilar toda a linha,
reduzindo-lhes a frente e deixando para trás os extremos, que se misturaram aos
cavaleiros da retaguarda. Assim se formou, em massa profunda, uma espécie de cunha, cujo
choque foi tão violento, que toda a vanguarda portuguesa vacilou, rompeu ao centro, e,
flectindo em ambos os lados, deixou penetrar pela brecha no seu campo quase toda a
cavalaria da vanguarda inimiga.
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- Desligadas, perplexas, à espera de
ordens, as duas alas castelhanas não se moveram para reforçar o ataque. Ao mesmo tempo,
na frente portuguesa, com admirável coesão, as duas linhas quebradas tornaram-se a
fechar sobre si mesmas, reconstituindo a face do quadrado e cortando a frente da
retaguarda inimiga; e enquanto da nossa ala direita os arqueiros ingleses flechavam
tranquilamente os cavaleiros castelhanos entrados no nosso campo, a ala dos namorados
acometia-os do seu lado com brava fúria. Imediatamente el-rei D. João, avançando com a
sua reserva de 700 lanças, vinha acabar de esmaga-los entre a sua massa e a ala dos
namorados.
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Batalha -
Portal |
Mais perplexas, pela unidade
do ataque e pela incompreensão do que se passava, a retaguarda e uma das alas castelhanas
recuaram logo, emaranhando-se nas suas próprias bagagens, produzindo maior confusão e um
pânico súbito, que alastrou logo por todo o campo. Foi o próprio rei o primeiro a dar o
exemplo, fugindo com a sua escolta para Santarém que ainda se lhe mantinha fiél.
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Os portugueses redobraram
então de energia e precipitaram o espantoso desbarato de tão orgulhosa e poderosa hoste.
Somente o Mestre de Alcântara fez ainda um desesperado esforço para evitar a vergonhosa
derrota. Com a sua cavalaria fez um largo rodeio pela direita para atacar, à retaguarda,
a peonagem do rei D. João; mas, a essa altura, já o condestável, vitorioso, pode
acorrer com a sua cavalaria aos seus peões e animá-los a repelir o tardio ataque.
Falhado esse último golpe,
o terror e o desbarato dos castelhanos tornaram-se indescritíveis. À excepção do corpo
de cavalaria, que retirou logo para Santarém, o resto, mesmo as duas alas que podiam ter
coberto a retirada, abalaram em fuga desordenada por todo o campo. Fizeram-se milhares de
prisioneiros, tomou-se toda a bagagem, o despojo foi magnifico. E tudo se resolvera em
pouco mais de meia hora.
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- Chegado alta noite a Santarém, D.
João de Castela nem aí se sentiu seguro e veio logo rio abaixo até Lisboa, onde
embarcou numa galé da frota, para Sevilha. Durante três dias a hoste portuguesa
manteve-se no campo de Aljubarrota, em sinal de vitória, segundo o espírito cavaleiresco
da época.
- A enorme derrota desmoralizou
fortemente o inimigo, e principalmente aqueles que ainda resistiam em cidades portuguesas,
fazendo que, a partir daí, as operações militares se reduzissem quase só às zonas de
fronteira. É claro que o ambiente de contradições que ainda reinava no nosso país
levava a que os partidários de D. João I acentuassem vivamente o triunfo e o
considerassem como sinal de protecção divina, fazendo do acontecimento motivo de
propaganda.
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- De facto, a descrição da batalha por Fernão Lopes e a construção do
Mosteiro da Batalha mostram bem o aproveitamento ideológico que dele se fez.
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