Mensagem de Fé

O cristão e o sábado

Prof. Anísio Renato de Andrade


O Sábado foi instituído na lei judaica por dois motivos fundamentais:

1- O homem precisa de tempo para dedicação a Deus.
2- O homem precisa de descanso físico e psicológico.

Em Gênesis 2 está escrito que Deus, depois dos seis dias de criação, descansou no sétimo. Então, abençoou e santificou esse dia. Deus estava cansado? Não, mas ele precisava dar-nos o exemplo. A palavra hebraica traduzida como "descansar", também tem o sentido de "interromper" uma atividade.

Em Êxodo 20 (8-11), Deus estabeleceu a lei que incluía um mandamento sobre o trabalho e o descanso. Observe bem o objetivo duplo deste mandamento:

"Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia do sábado, e o santificou".

Este mandamento ordena o trabalho e o descanso. Se ele não existisse, muitos indivíduos iriam "descansar" a semana toda (pura preguiça). Assim, cairíam na miséria, no vício e talvez no crime. Outros iriam trabalhar todos os dias e não teriam nenhum tempo para o descanso, para a comunhão com Deus e com a família. Iriam trabalhar demais e acabar ficando doentes no corpo e na alma. (E não é isso que tem acontecido com muitas pessoas hoje?)

Então, Deus determinou que o sábado fosse um dia de descanso e dedicação ao Senhor. O sábado não tinha apenas um sentido de feriado, mas de um dia santo, um dia especial para os eventos relacionados ao culto (Lv.28.9-10).

Muitos profetas do Velho Testamento repreenderam o povo de Israel pela profanação do sábado (Is.56.2; Jr.17.21; Ez.20.13). Este foi um dos principais motivos que levaram o povo para o cativeiro babilônico.

No Novo Testamento, era da igreja, Jesus nos dá uma orientação diferente em relação ao sábado. Os judeus tinham deturpado o significado do sábado. Observe que os fariseus criticavam Jesus por curar aos sábados. Eles consideravam que era inadequado fazer o bem aos sábados. Não era esse o sentido original da lei (Mt.12.10-12; Mc.3.2).

Nós não estamos sujeitos à lei de Moisés, pois a mesma foi dada aos judeus (Êx.19.3) e não aos gentios. Veja em Atos 15, que os apóstolos consideraram que os gentios estão dispensados de obedecerem à lei de Moisés. Por outro lado, até os judeus que se convertem estão dispensados de guardar a lei, pois a mesma tinha o objetivo de mostrar o pecado e conduzir até Cristo. Portanto, os que "estão em Cristo", estão livres da lei. A lei é comparável ao escravo (aio) que levava a criança à escola (Gal.3.24-25). Lá chegando, a criança era entregue ao mestre. O escravo não era mais necessário. Assim, a lei conduziu a humanidade a Cristo, nosso Mestre. Agora, não estamos mais sob os cuidados da lei.

Hoje, não matamos, não adulteramos, honramos pai e mãe, etc, mas fazemos ou deixamos de fazer essas coisas não por causa de Moisés, mas por causa de Jesus. Ele nos ensinou o AMOR como a lei que rege as nossas vidas (Mt.22.36-40; Lc.10.25-28; Rm.13.9; Gálatas 5.14; Tg.2.8). Assim, por causa do amor, acabamos fazendo muitas coisas prescritas pela lei. Aquele que ama, cumpriu a lei.

Diante disso, podemos perguntar: qual será então a utilidade do Velho Testamento para nós? Se a lei nos conduziu a Cristo, então encontramos nela muitos princípios e ensinamentos que apontam para Cristo. Um deles é o sábado. Aquele dia de descanso representava profeticamente o descanso que Jesus oferece para as nossas almas (Mt.11.28-30). Em Cristo, o ser humano encontra alívio para o cansaço que vem das obras mortas (Heb.6.1), sejam elas pecaminosas ou relacionadas à prática de uma religiosidade inútil. Portanto, Cristo é o nosso sábado. Ele é o nosso descanso.

O sábado, bem como as práticas rituais da lei, eram "sombra" da realidade futura. Cristo é a realidade que haveria de vir. Se encontramos Cristo, não precisamos ficar apegados à sua sombra que se via na lei (Heb.8.5; 10.1).

Por outro lado, o sábado representa também o descanso futuro do povo de Deus, a entrada no reino celestial. Assim como Josué guiou o povo para o descanso em Canaã, Jesus nos guia para o nosso descanso na glória do Pai (Heb.4.3-11).

Contudo, ainda podemos aproveitar os princípios básicos da lei do sábado. Ela nos fala sobre o trabalho e o descanso. Ambos são fundamentais para todo ser humano em todas as épocas e lugares. Precisamos trabalhar e descansar, mas esse descanso não precisa ser obrigatoriamente no sétimo dia, pois não estamos sujeitos a lei de Moisés. Porém, aquele que não separa um dia para o descanso, lazer, dedicação à família e ao Senhor, está tomando uma atitude tola e prejudicial. Não é uma questão de lei, mas questão de bom senso.

Muitos passaram a guardar o domingo. Isso é muito bom, mas precisamos nos lembrar de que essa guarda é voluntária. Não podemos dizer que o domingo foi escolhido por Deus para substituir o sábado. De forma alguma. O domingo tornou-se um dia especial para a igreja, desde o tempo dos Atos, porque Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana (Lc.24.1; At.20.7; I Cor.16.2; Ap.1.10 - é provável que esse "dia do Senhor" seja o domingo). Contudo, não existe nenhuma lei que nos proiba de trabalhar aos domingos. É bom que tenhamos um dia para descansar e cultuar. Se for o domingo, ótimo. Porém, se precisarmos trabalhar aos domingos, não devemos pensar que estamos pecando.

A liberdade cristã é tão ampla que podemos até guardar o sábado se quisermos. Podemos também comemorar as festas judaicas, embora não tenhamos este dever. Alguns consideram iguais todos os dias. Outros fazem diferença entre dias e dias. Alguns comem de tudo. Outros são vegetarianos. A igreja de Cristo tem espaço para todos. Esta "adoção" pessoal e voluntária de alguns preceitos da lei deve ser respeitada por nós que agimos de outro modo. O problema surge quando aquele que guarda alguns preceitos da lei:

1- quer obrigar os outros a guardá-los.
2- julga-se superior aos outros irmãos em Cristo.
3- cria barreiras contra os irmãos que pensam diferente.
4- pensa que a salvação depende de se guardar a lei.

A três primeiras atitudes são extremamente nocivas para a comunhão dos irmãos. A quarta é gravíssima, pois pode levar a pessoa à perdição. Achar que a lei possa salvar, ou complementar a obra de Cristo, é um pecado, pois nega a eficácia da graça de Deus. Este foi o problema dos Gálatas, motivo pelo qual Paulo lhes escreveu a epístola.

A lei não pode salvar ninguém, pois, se pudesse, Jesus não teria vindo ao mundo. A lei não pode salvar, pois não há quem consiga obedecê-la integralmente.

A salvação é pela fé na obra do nosso Senhor Jesus Cristo. No nosso relacionamento com os irmãos, não devemos criar imposições ou barreiras com base na lei mosaica (Col.2.16). Este foi um dos problemas na igreja dos romanos. Por isso Paulo os aconselhou em Romanos 14. O amor deve estar acima de tudo isso, como a maior expressão da vontade de Deus para nós.


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Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.

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