E S C R I T O R.
Alberto abriu a porta e Irene entrou sem dizer uma �nica palavra. Ela olhou ao redor e depois de ligeira pausa caminhou at� o quarto. Ele a acompanhou curioso. A jovem mulher deitou - se na cama, levantou a saia, aguardou. Alberto se ajoelhou, encostou o lado da cabe�a sobre o ventre dela. Sua m�o direita acariciou uma das coxas. O calor...
Escutei a campainha...saco!...cliquei no save, levantei da poltrona, a campainha de novo...j� vai !... atravessei a sala...quem �?
� Sou eu, Nelson. Abre !
Destranquei,
� Droga, essa n�o � hora de visita !
Nelson jogou - se na poltrona mais pr�xima sem dizer palavra
Fui at� a cozinha, trouxe duas x�caras com caf� requentado.
� Toma a�, seu chato.
Bebemos em sil�ncio, observei o rosto p�lido � minha frente. Pertencia a um sujeito vinte anos mais mo�o que eu, magro, estatura mediana, vestido com eleg�ncia, a m�o ossudas com dedos longos segurava a x�cara com delicadeza, as pernas cruzadas sugeriam um Nijinsky aposentado.
� Espectro da rosa - falei.
� O que?
� Nada, esquece.
Ele me olhou, sorriu.
� Est� fazendo compara��es, � a sua maneira de me dizer que sou gay, usa cultura como porrete, � um...
�...canalha...sorry.
Catei no cinzeiro o charuto apagado, o acendi com dificuldade, a chama do isqueiro chamuscou minha sobrancelha direita...merda!
� Se eu fumasse usaria um Dupont e n�o esse tro�o descart�vel, mas voc� � mach�o, devia usar no m�nimo um...
� Zippo!...porra, mas � pra isso que veio, pra me encher o saco?
A guimba apagara, acendi de novo.
� Voc� � um velho porcalh�o, aposto que aproveita papel higi�nico usado.
Respondi que usava jornal velho, Nelson parou de sorrir.
� Por que n�o apaga essa porcaria? vai impestiar o ambiente...n�o se esque�a do c�ncer tamb...
�...e voc� do AIDS ! merda! por que voc�s tem mania de dar conselhos, de bancar a freulein?
� Nunca entender�, a verdadeira amizade se manifesta atrav�s do amor.
Joguei a guimba de volta no cinzeiro, me levantei passei a m�o sobre a cabe�a dele.
� Paz mas sem amor, t�? afinal, pra que veio?
� Embatuquei, n�o sei como continuar, um beco sem sa�da.
� E eu com isso? veio buscar inspira��o comigo? n�o sou do seu time.
Ele balan�ou a cabe�a, sinal de reprova��o? paci�ncia com um garoto mal
educado?
� Tua crueldade n�o me atinge, finge.
� N�o gosta de mulher, n�o h� inspira��o transar com homem .
� Ainda chega l�, t� velho e impotente.
� Tu n�o manja nada...homem experiente nunca deixa de dar prazer � mulher.
� Tem alguma coitada que topa contigo?
� � um entra e sai...ficamos de porre e a� vem a bandalheira..me inspiram.
� Velho libidinoso...s� escreve porcarias sexuais.
� Gostam.
� Pelo menos tenta caprichar.
Eu estava ficando irritado, gostava dele mas detestava conselhos, frescurinhas, mesmo nas mulheres...frescou, dan�ou.
� Afinal, o que � que t� te mordendo?
Levantou - se, deslizou at� a janela e depois rodopiou...o safado � elegante mesmo, tudo na justa medida, invejo sua leveza..
.
� Jimmy me largou.
Grunhi algo inintelig�vel.
� Me faz falta... o nosso breakfast...enquanto beb�amos o caf� era quando a nossa conversa era mais interessante...fal�vamos a respeito de tudo, de tudo que passava pelas nossas cabe�as...sobre a morte, ele era fixado nela, acreditava na sobrevida...eu n�o via sentido nisso, mas ele dizia que seria �tima a morte repentina, se preocupava com sua rea��o se soubesse que a morte estaria pr�xima, anunciada...
� Caceta, parece trecho de Single man, Isherwood, os do oba-oba acham que ele � um grande sujeito s� porque admitiu em p�blico a sua bichisse , pra mim n�o passa de um exibido...matou os personagens no final, crime e castigo, sentimento de culpa, voc�s pensam tudo igual, s�o muito complicados.
� Agora - continuou Nelson como se n�o tivesse ouvido - nem me lembro mais do que Jimmy falava.
� Esse papo n�o � vero, acad�mico, n�o deixa lembran�a. Voc�s s�o duma esp�cie que atrai trag�dia, a morte sempre os ronda...crime passional, viol�ncia dos cowboys, e agora ainda por cima de tudo essa peste do s�culo vinte...usa camisinha pelo menos?
Nelson voltou � poltrona.
� Acho que ele est� morto...sumiu, mas deixou suas coisas...j� se passaram dois meses - Nelson passou a m�o pelo rosto � os mortos visitam os vivos?
� J� imaginou o rid�culo de estar sentado � mesa comendo ovo estalado e ter algu�m espiando pela janela vendo voc� se lambuzando com a gema?
Senti seu desagrado, n�o tinha senso de humor...eles levam tudo muito a s�rio, est�o sempre em guarda, d� para entender, p�rias!
Nelson, Nelson sou teu amigo como se fosse o de uma dona, sem obriga��o de car�cias...droga, droga, estou indo pelo caminho errado...
� � sobre isso que t� escrevendo - falei � aposto.
� Empaquei...seria safadeza expor o Jimmy.
Concordei com um aceno da cabe�a.
� Que tal algo sobre sedu��o, sobre como funciona isso com voc�s? t� curioso.
O rosto se contorcia num espasmo:
� � um escroto, n�o respeita sentimentos puros.
� E tu � uma porra de uma bicha hist�rica, hip�crita e mentirosa.
Busquei mais caf�.
Voltei.
Ele sorria.
� N�o d� para esconder nada de voc�...encontrei algu�m, j� o conhecia, ex aluno, ele estava num bar em Copacabana...aproximei - me dele, me pareceu que ficou contente ao me rever...bebemos um pouco demais, ultrapassamos o razo�vel...sabe o significado de estar bebado para mim? um di�logo, um...
� ...l� vai voc� com frescuras . Ficar de porre � rea��o qu�mica que termina em vomito.
� Deixa de crueza...� sim, um di�logo entre pessoas, permite falar qualquer coisa sobre qualquer assunto , mud� - lo quantas vezes quiser, no fundo o assunto n�o importa, o estar junto sim, descontra�do, perto de algu�m...
Queria interromper, dizer que ficar de porre com uma mulher era o caminho da cama, tomar porre com homem era gastar dinheiro � toa. Nelson pareceu adivinhar o meu pensamento, me conhecia de sobra.
� N�o se pode dialogar com mulher nessa situa��o, elas n�o conseguem fugir do plano pessoal, num verdadeiro di�logo voc� discute qualquer assunto, confidenciar, confessar o segredo mais escondido.
� E depois?
� Estabeleceu - se um clima, pareceu - me que ele entendia...sorr�amos, como se adivinh�ssemos nossos desejos mais fundos...
�...aposto que o levou pro ninho.
Demorou responder, olhar perdido.
� A namorada apareceu, de repente...eu fui pra casa dormir, sonhei com Jimmy.
� Viu a diferen�a? se fosse mulher eu estaria comendo ela no dia seguinte, numa boa...simples.
� Eu chamo isso de putaria...com a gente � mais complexo...a sedu��o tem que estar presente, envolvente, espessa, n�o permitir a fuga - Nelson levantou - se de novo, recome�ou o vai - vem...parecia angustiado, torcia as m�os, passos mi�dos, parecia rezar
� Se voc� entendesse eu sofreria menos - murmurou � alguns deles s�o t�o bonitos, delicados, talentosos, nada agressivos, sens�veis, aceitam a vida como ela se apresenta...encontrei um faz um ano, jurou ter visto Deus, disse que conversara com Ele...o revi o outro dia...t�o feliz !
Me flagrei enternecido, flu�do, detestei...acabo caindo na armadilha...reagi.
� Esse cara n�o passa de um merda de uma bicha drogada.
� Pode ser - Nelson sorria � aposto que se visse Ele calaria acabaria com sua...brutalidade, voc� � apenas sangue, b�lis e esperma, � mais cru que um fil� mal passado.
Aceitei a provoca��o.
� V� at� a galeria Alaska e arrume um garoto programa.
� Nem sei porque sou teu amigo, � um grosso.
� Te digo por que.. sente necessidade da presen�a do macho...minha gera��o, my kind, � a �ltima representante do verdadeiro homem... os de hoje? produtos caricaturais, mutantes , filhos de mulheres viris e de homens femininos...
Nelson sorria.
� Est� plagiando a Elisabeth Badinter, nada original.
� A porra da feminista? podes crer, caminhamos pruma ra�a de andr�ginas.
Ele n�o se perturbou.
� Ela diz que o homem � na realidade mulher contrariada.
� Palavras sem significado, intelectualismo barato mas voc�s adoram, n�? d� pra ouvir suas n�degas baterem palmas...entre Rambo e o homem mole fico com o primeiro.
� E voc� pretende ser intelectual ! n�o passa de um primata...
�...e voc� uma bicha rejeitada, louca pra me dar o rabo !
Me aproximei dele, toquei seu ombro, ele levantou a cabe�a e sorriu...eles tem um sorriso magistral, doce...senti vontade de beijar seu rosto...droga, t� entrando na dele...me afastei.
� Meu caro, ou�a o que vou dizer - falou ele� as coisas est�o p�ssimas l� fora, muito ruins, uma bagun�a total, n�o vejo raz�o pra gente se emaranhar em conceitos, afinal o que significa essa vida? devemos perder tempo em rotular? n�o seria mais justo aceitar a troca de sentimentos por mais confusos que sejam antes de ser tarde demais?
...armadilha de novo...
� T� bem, t� bem, n�o diga mais nada, esse blablabla todo n�o muda o fato de eu ser um porco libidinoso, noventa entre cem velhos s�o, mas tamb�m n�o impede de te achar um bicha carente...se pretende insistir na sua tese, na sua tentativa de me...bem, vou at� o limite da amizade irrestrita...s�...nada mais.
Nelson levantou - se, saiu sem se despedir, fiz men��o de correr atr�s dele, desisti, acendi de novo a guimba do charuto, voltei ao computador.
...das carnes �midas e a flacidez sensual excitaram Alberto . Ele afastou com delicadeza a calcinha. Com movimentos felinos deitou - se em cima dela. Penetrou no sexo molhado. Ouviu gemidos e...