NOITE DE PIÃO DE OBRA
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Eu vivia com minha solidão, mas isso não significava gostar, estar acostumado, nem mesmo conformado, sensação de escorregar numa rampa ensaboada que me levava ao abismo...prometiam, nunca cumpriam, voltava sempre para o mesmo fim de mundo rodeado por mis candangos, toneladas de equipamento, engenheiros imaturos e suas esposas infantis, acampamento inóspito mas para um sujeito como eu que já passara a pão e água, não havia motivos para queixas, o salário era o que se podia chamar de razoável , sempre havia esperança de algo aparecer, me tirar dessa encrenca toda...comia, dormia, trabalhava...o perfume, a maciez da pele, a risada, o sorriso delas, onde...

Apareci na casa de Francisco tarde, quando os outros já estavam com um o copo de cerveja na mão, falando num tom acima do normal.

Heloísa aproximou-se de mim. beijou meu rosto barbudo.

– Cheiroso. É para mim?

– Só você beija minha barba.

Fui à procura de um copo, me servi da bebida, procurei um canto.

– Ainda escreve coisas?

Levantei o olhar.

– A gente não escreve coisas. Não vou perder tempo em explicar para alguém que nem sabe falar direito.

Ele se afastou, meu mau humor era proverbial, não me esforçava para desmentir. Acendi um cigarro.

- É a professorinha. Tá grávida. Diz que é meu. Não quer tirar.

– Eu com isso?

– Vão me afastar...podia dar um jeito.

- Você w um filho da puta!

Virei - lhe as costas, voltei para dentro.

– Ela, Heloísa...não me quer mais...tem obrigação, é minha esposa.

Francisco parecia querer chorar.

– Esposa, esposa...é tua mulher...sua dama, sua puta...aposto que transa com ela de luz apagada, de pijama...leu Kama Sutra?

Me afastei..

– O que foi que ele te falou?

Olhei pra Heloísa como se a visse pela primeira vez... mignon, corpo perfeito, pernas bem torneadas, o inicio das coxas se perdiam debaixo da saia, podia jurar que via...alguns tem tudo e não sabem...

– Nada!

Esvaziei o copo, o deixei num canto, saí sem me despedir.

Levantei a cabeça do travesseiro, o sapo que coaxava debaixo da janela silenciou. Saí da cama, procurei pela lata de cerveja na geladeira, caminhei até a porta e abri.

– Bebeu demais, dorme e ronca.

Entrou., dirigiu-se até o quarto, deitou-se na cama.

Joguei-me em cima dos seus lábios, desabotoei a blusa, escorreguei a boca em direção aos seios, ela desceu a saia, segui com os lábios, afastei o pano úmido da calcinha como se fosse a cortina de uma casa de bonecas, achei , segurou minha cabeça, empurrou, empurrou....fina baba escorreu pelo canto da minha boca...dois bichos atormentados com a proximidade do fim do mundo, soldados um no outro...acariciei seus cabelos, seu rosto, cruzamos olhares em transe...

Batidas na porta.

Nos afastamos...parecia que alguém jogara água fria, um sabre invisível tivesse separou nossos corpos como num passe de mágica.

Calças, botas, camisa em cima dos ombros...abri a porta, sopro de ar frio me bateu de frente, serrei os dentes.

– A luz do seu quarto estava acesa...acordado? Heloísa...não está em casa.

Balancei a cabeça, gesto que nada significava.

– Posso entrar?

Minha cabeça um tumulto, perder um amigo me parecia agora doloroso.

Ela saiu da cozinha com um copo de leite na mão, nem um fio de cabelo fora do lugar...continuei mudo...ele se aproximou dela, os deixei, fui me servir de uísque puro, engoli meio copo de uma só vez...Francisco seu babaca, terá que aprender com ela...elas, todas elas, do passado, do presente, as que ainda virão, qualquer dia acabarão por me matar, meus gritos não serão de dor nem de raiva, mas de amor, meus gemidos puro e cristalino agradecimento, amém.

Voltei à sala.

Saiam de mãos dadas.

Esvaziei o copo.
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