Faze o que queres há de ser toda a Lei


É Um Vento Ruim que Sopra...

Tradu��o do artigo �It�s An Ill Wind That Bloweth...�, encontrado em Starfire Volume Um, N�mero Cinco, 1994, �rg�o Divulgador Oficial da O.T.O., da autoria dos editores.

Tendo em mente o velho ad�gio que um leopardo nunca pode mudar suas pintas, leitores do Starfire podem estar interessados em saber das recentes a��es da lideran�a do Califado O.T.O. em interferir na distribui��o na Am�rica do rec�m-publicado livro de Kenneth Grant, Hecate�s Fountain (Fonte de H�cate). Isto n�o apenas estimula a crescente percep��o de que a lideran�a do Califado n�o tem nenhuma concep��o de Thelema al�m daquela de um culto a personalidade centrado em torno de seu santo patrono, Aleister Crowley; mostra tamb�m que eles s�o ardorosos em impor sua falta de vis�o como a ortodoxia prevalente. A distribui��o americana procedeu-se rapidamente por v�rias semanas, quando a lideran�a do Califado exigiu dos distribuidores, e atrav�s deles a Skoob Publishing, que um panfleto fosse associado a cada c�pia do livro. Era um rep�dio ou �conselho de sa�de�; reiterava suas obje��es a Grant e seu trabalho, e o corpo do texto era como se segue:

O Sr. Kenneth foi expulso da Ordo Templi Orientis em 1995 pelo Frater Saturnus (Karl Johannes Germer) o Cabe�a mundial do O.T.O. naquela �poca. A causa foi a cria��o unilateral por parte do Sr. Grant da sua �Loja Nu-Isis�, cujo procedimento extrapolou sua autoridade limitada a operar um acampamento da O.T.O., dada ao Sr. Grant pela O.T.O. alguns anos antes. Na �poca da expuls�o do Sr. Grant, a Ordo Templi Orientis n�o considerava que a �Loja Nu-�sis� representasse os objetivos, ideais ou filosofia da O. T. O.. Hoje, nossa posi��o permanece inalterada. A O.T.O. acredita que o Sr. Grant tem um direito fundamental de publicar suas opini�es e pesquisas pessoais, e n�o procurou se opor ao exerc�cio deste. Entretanto, nos sentimos obrigados a informar aos leitores que o sistema m�gico descrito neste trabalho guarda pouca ou nenhuma semelhan�a com a Ordo Templi Orientis conforme esquematizada por Aleister Crowley e seus predecessores, e a qual continua a prosperar. Ademais, as interpreta��es de Grant do Liber Al Vel Legis - O Livro da Lei, s�o dele pr�prio.�

Esta �, para dizer o m�nimo, uma declara��o altamente controversa. Eles alegam n�o apenas que o Califado � a continua��o direta e ininterrupta da O.T.O. como esta era nos dias de Crowley; mas, tamb�m que Grant foi expulso das fileiras dos justos por alguma grave m� conduta. Ambas as alega��es s�o falsas; n�o � de se estranhar, portanto, que Grant buscou o direito de resposta. O corpo desta � como segue:

�Em defer�ncia ao meu editor e a meus leitores, o que segue � minha resposta (como foi h� 50 anos atr�s) � �informa��o� contida no panfleto que acompanha este livro: O pr�prio Sr. Karl J. Germer registrou em suas cartas a mim que ap�s a morte de Crowley n�o havia nenhuma O.T.O. funcionando na Am�rica, Norte ou Sul, e que n�o havia o �Outer Head of the Order� (Cabe�a Externa da Ordem), mas simplesmente, o seu tesoureiro. Sendo estes os fatos, o Sr. Germer n�o estava em posi��o de efetuar tal expuls�o da Ordem como proclamado no panfleto inserido neste livro. �

A inclus�o de uma resposta as suas reclama��es n�o foi uma exig�ncia pouco razo�vel, poderia-se pensar; e, nem o l�der do Califado pensou de outro modo, pois a rejeitou imediatamente. Devido � amea�a de serem envolvidos em um caro lit�gio, os distribuidores e a Skoob relutantemente acederam �s exig�ncias deles. Infelizmente, o caso n�o parou por aqui. O l�der do Califado tamb�m protestou sobre o uso do lamen da O.T.O. na capa e na lombada do livro de Grant. O lamen era, eles sustentavam, sua �marca registrada�; eles aparentemente n�o atentaram para o fato de que o lamen � um glifo m�stico e n�o, simplesmente, um timbre de cartas de uma companhia. Novamente, a amea�a de uma a��o judicial tem efeito sobre as quest�es comerciais, e como resultado, os livros de Grant aparecem sob seu pr�prio sigilo.

Em meio e esta situa��o, surge uma oferta bizarra da lideran�a do Califado, no sentido de �restabelecer� Kenneth Grant ao IX, e perdoar as conseq�entes d�vidas de taxas de 1955 at� o momento e que estivessem vencidas. Isto, � primeira vista, n�o parece ser compat�vel com a posi��o que eles assumiram conforme esbo�ado na coloca��o acima; fa�amos uma pausa, portanto, para analisar as implica��es do caso. Afinal de contas, o panfleto deixa claro seu endosso a suposta expuls�o por Germer em 1955; al�m disso, � uma reclama��o do Califado a de que Grant d� a O.T.O. uma imagem ruim, para n�o dizer sinistra. Estranho, ent�o, que busquem t�o cedo envolver a �ovelha negra� - b�te noire em seu colo. Entretanto, a verdadeira estrat�gia por tr�s desta oferta n�o � dif�cil de se perceber � uma vez de volta e curvado aos virtuosos, Grant poderia ser subjugado a ser disciplinado e, efetivamente, silenciado. Como manobra maquiav�lica n�o foi uma estrat�gia t�o perspicaz. E ati�a os ventos.

Na raiz de todo este caso, h� uma fundamental diferen�a de vis�o. Ou Thelema � uma corrente cont�nua e em desenvolvimento tendo antecedentes que remontam muitos milhares de anos atr�s e perpassa uma variedade de tradi��es; ou n�o � nada mais que um culto � personalidade centrado em torno de Aleister Crowley, cujos herdeiros t�m o dever de manter numa condi��o imaculada e pr�stina. � claro que � ao �ltimo ponto de vista � e n�o uma vis�o, mas aquele dogma cego que tipifica a aus�ncia de vis�o � que a lideran�a do Califado se apega e que eles espalham como Thelema. No entanto, eles confundem a sombra com o objeto, e anseiam por moldar Thelema em galantina como uma pe�a de museu. � inten��o deles construir um santu�rio, ou o que eles planejem como arquitetura, colocado ao lado do Mestre, e, ent�o, fazer de Thelema uma esp�cie de Taj Mahal.

Thelema, entretanto, � uma quintess�ncia � uma corrente vital englobando uma multiplicidade de tradi��es. Este desenvolvimento � cont�nuo. N�o come�ou em 12 de outubro de 1875 e nem acabou em 1 de dezembro de 1947. O trabalho de Crowley deve ser visto de encontro a esta forma��o de uma tradi��o cont�nua e em desenvolvimento. � evidente, ent�o que constitui uma fase na evolu��o da corrente. Ansiar por congelar a corrente em um desenvolvimento particular, insistir que Crowleyanismo � o absoluto ser e absoluto fim de Thelema � esterilidade. Esta necrofilia disfar�ada pode ser boa para impor seu conceito enfadonho e estreito de O.T.O., � custa de amea�as judiciais. Ent�o �, claramente, hora de sua morte. A Ordem dos dias de Crowley foi uma fase transit�ria, e seu tempo se esgotou h� muito.

No curso do desenvolvimento da corrente, ela muda e evolui. � responsabilidade dos sucessores desenvolver o trabalho de seus predecessores. Caminhos que antes pareceram promissores podem agora parecer redundantes e s�o retirados do corpo principal da tradi��o. Inversamente, abordagens recentes podem se apresentar, desenvolvimentos que, talvez, n�o fossem aparentes antes. Deste modo, a tradi��o est� crescendo, vital, nova. Thelema est� VIVA; calcifica��o � condena��o da corrente, que ir� contornar estruturas r�gidas, deixando os habitantes de tais estruturas se putrefarem � vontade, em alguma �gua estagnada. A obje��o da lideran�a do Califado � Kenneth Grant � simplesmente porque este n�o considerava o trabalho de Crowley como um c�none sagrado e impressionante, enviado do alto e encrustrado em pedra, para ser idolatrado aqui e no al�m, em sussurros abafados e reverenciais. A abordagem deles � a de tolos sem imagina��o. Deixem os mortos enterrarem seus mortos. A lideran�a do Califado insiste que eles s�o os exclusivos reposit�rios da linhagem da O.T.O., e todos os outros s�o fraudulentos. Foi a insist�ncia deles neste ponto que destruiu a harmonia e a coopera��o entre as v�rias partes da Ordem. A verdade com rela��o as suas reivindica��o � que N�O T�M NENHUMA BASE EM QUALQUER FATO. Isto pode ser estabelecido claramente examinando-se certos aspectos da hist�ria da Ordem.

Da mesma forma que muitas Ordens ocultas, a g�nese da O.T.O. na sua apar�ncia moderna, � nebulosa. Em torno da virada do s�culo, Karl Kellner e Theodo Reuss � ambos ma�ons continentais � obtiveram uma carta de John Yarker, os autorizando a formar a Loja Germ�nica do Rito Eg�pcio de Memphis e Misraim. Note-se, tamb�m, que naquela �poca, Yarker havia perdido o apoio com o estabelecimento ma��nico, e complementava sua renda vendendo tais cartas �queles que pudessem pagar. Uma vez tendo sua carta, Kellner e Reuss reduziram o total de 187 graus do rito combinado para 9, e acrescentaram um 10� grau que era administrativo. O nome Ordo Templi Orientis foi adotado de acordo com sua no��o de uma transmiss�o sobrevivente de inicia��o dos Cavaleiros Templ�rios. Reuss assumiu o controle como Gr�o Mestre em 1905, quando Kellner inesperadamente faleceu no Egito. E, nos anos logo seguintes, autorizou a forma��o de v�rias lojas dependentes. Em 1912, Reuss indicou Crowley como o Cabe�a brit�nico da O.T.O., e, mais tarde, nomeou seu companheiro Charles Stansfield Jones (Frater Achad) como Cabe�a da Am�rica do Norte e Canad�.

Em 1922, Reuss renunciou ao posto de Gr�o Mestre em virtude de problemas de sa�de e nomeou Crowley como seu sucessor . Entretanto, as r�deas da lideran�a n�o foram passadas de forma tranq�ila. Algumas das lojas existentes guardaram reservas quanto � Crowley por anos. Simplesmente, muitas delas seguiram seus pr�prios caminhos, e ent�o, a Ordem foi estilha�ada. A atual Ordo Templi Orientis Antiqua, por exemplo � agora alinhada com Michael Bertiaux � toma sua descend�ncia de um ramo pr�-Crowleyano. Alguma reorganiza��o da Ordem foi empreendida por Crowley, mas ele manteve a estrutura ma��nica ou quase- ma��nica, com suas taxas, sinais secretos, palavras de passe, rituais para conferir graus etc. Alguma coisa de uma influ�ncia doutrinal Thel�mica foi inserida nos rituais de graus, e os graus foram reorganizados at� certo ponto, mas a influ�ncia da estrutura ma��nica � clara. Um relance deste tipo de estrutura � encontrado no Blue Equinox.

A influ�ncia ma��nica n�o surpreende. Durante os �ltimos anos do s�culo passado e os primeiros deste, quando o moderno �reavivamento� do ocultismo � considerado como tendo ganhado �mpeto, muitos dos grupos ocultos parecem ter surgido de organiza��es ma��nicas ou p�ra-ma��nicas. Os fundadores destes grupos eram, eles pr�prios, ma�ons; e carregavam com eles a preocupa��o com cartas patentes, graus, palavras de passe secretas, toques e coisas do g�nero. Crowley era, at� certo ponto, um produto do velho �on patriarcal, e parece ter sido incapaz de se libertar de tais estruturas. Talvez isto seja demonstrado pela limitada remodela��o da Ordem ap�s ele ter assumido a lideran�a.

A despeito das ambi��es de Crowley ao longo dos anos, ele morreu em 1947 sem deixar claro seu herdeiro m�gico ou sucessor. Durante os �ltimos anos de sua vida, seu tenente de confian�a foi Karl Germer. Crowley parece ter levado Germer direto ao grau IX da Ordem, e este n�o teve contato com os graus anteriores, como teria tido em uma progress�o mais ortodoxa pela estrutura. Germer era o Grande Tesoureiro Geral, e o fardo de dirigir os neg�cios da Ordem parece ter reca�do completamente sobre seus ombros. � curioso que, embora Crowley tentado chegado a ver Germer como sendo seu sucessor, ele n�o se preocupou em prepar�-lo para a posi��o, nem mesmo estabeleceu se Germer servia para a tarefa. Quando Crowley morreu, ele deixou os neg�cios num estado muito confuso. Germer n�o se sentiu, � �poca, � altura do posto, e recusou-se a tornar-se o O.H.O.. Assim, ele permaneceu como Grande Tesoureiro Geral, ocupando o papel de curador da Ordem que estava, efetivamente, inativa. Nos anos seguintes, a Ordem ficou sem leme e em desalinho; algumas lojas seguiram seus pr�prios caminhos, e outras, simplesmente, definharam.

O quadro da Ordem ap�s a morte Crowley pode ser substanciada. Kenneth Grant era um membro do IX Grau do Soberano Santu�rio da Ordem, e se correspondia com Germer sobre os assuntos desta. Esta correspond�ncia � volumosa e de particular interesse pela luz que lan�a sobre estas quest�es. Em particular, ela substancia a posi��o que Germer recusava o cargo de O.H.O.. De fato, longe de demandar este cargo, ele aproveitou todas as oportunidades para repudi�-lo.

Numa carta � Grant, datada de 24 de setembro de 1948, Germer o aconselha que:

�... Voc� deveria estudar tudo que � publicado sobre a constitui��o etc. da O.T.O. e assimil�-lo. Voc� saberia que n�o sou o O.H.O. e eu n�o sei se aceitaria o posto se ele me fosse empurrado.�

O texto acima deixa claro que Germer n�o aceitara o posto, e que ele estava relutante em ser �arrastado� para a posi��o. Numa carta subsequente � Grant, datada de 25 de maio de 1951, ele fala mais amplamente sobre o caso:

�...Em primeiro lugar, n�o se refira a mim como seu superior na Ordem. Isso s� � verdade num sentido extremamente limitado. O que eu pare�o ser na O.T.O. foi confiado a mim contra minha vontade. Farei o que puder; mas vou recusar proclama��es que me venham a contragosto. Falo estritamente como Grande Tesoureiro Geral da O.T.O. Nem mais, nem menos! a situa��o toda demanda algu�m que tenha vontade e peito e capacidade para ascender � suprema lideran�a. Mas eu, pessoalmente, n�o vou me deixar levar sob falsas ostenta��es. Eu disse a todos que nunca estudei Rituais, nunca os vi realizados; nem a Missa; em resumo, eu n�o tenho tino para organiza��o de uma Ordem.�

Germer continuou reiterando sobre este ponto � de que ele n�o era o O.H.O., n�o desejava ser e se sentia inadequado para a tarefa. Entretanto, mais interessante ainda, � ele ter come�ado a ver Grant como um potencial O.H.O. As passagens seguintes s�o extra�das de uma carta � Grant, datada de 18 de janeiro de 1952.

�...Como voc� sabe, eu nunca passei pelos graus da O.T.O.; eu n�o sei ritual, ou rituais. Mas A.C. me fez Grande Tesoureiro Geral, deixando a maioria das quest�es financeiras para mim pessoalmente... ...Eu nunca fiz uma passagem sistem�tica pelos graus, etc. Eu, portanto, n�o posso aconselhar sobre este lado do trabalho. Eu cheguei � convic��o de que voc� est� sendo preparado exatamente para isso, e eu estou certo de que voc� tem a paix�o, a capacidade para trabalho intenso, e a vontade de atingir a maestria neste departamento ou campo.�

Toda a situa��o � bem resumida nos seguintes trechos de uma carta a Grant datada de 3 de maio de 1952.

�...Nem sou eu contra a O.T.O., ou o sistema de graus. apenas, paradoxalmente, tenho pouco interesse nisso. Gostaria que algu�m assumisse todo o trabalho e a responsabilidade pelo fardo que A.C. depositou em meus incompetentes ombros, fora de mim! O que eu odeio mais do que tudo � ser tomado sob falsas apar�ncias. Eu repito o que eu j� disse antes: eu nunca passei por uma inicia��o ou gradua��o O.T.O.; nunca presenciei a realiza��o de um Missa Gn�stica...N�o sei a palavra de passe, os toques etc. nem mesmo dos graus mais baixos da O.T.O. Resumindo: A.C. me indicou para o mais alto grau e responsabilidade sem me preparar para o trabalho. Se quisermos a O.T.O. funcionando bem novamente, precisamos de um l�der competente, n�o apenas para a Inglaterra, mas para o mundo. Deve ser algu�m que conhe�a a coisa de dentro para fora; que tenha objetivo, n�o apenas para o per�odo de seu tempo de vida, mas para al�m dele. Eu freq�entemente penso voc� bem poderia ser escolhido para o trabalho... Voc� me pergunta: o que est� acontecendo em rela��o � O.T.O. em outros lugares. N�o h� loja O.T.O. ativa, como tal, nos E.U.A. O que � feito, o � por membros antigos individualmente.�

Estes trechos deixam claro que Germer n�o se considerava o O.H.O. . �, portanto, lament�vel � dadas suas repetidas recusas � que ele fosse, equivocadamente, representado como tal. Em seu papel como zelador ele trabalhava bem e devotadamente, editando v�rios trabalhos de Crowley ap�s sua morte � por ex., Liber Aleph, assim como edi��es comentadas de The Vision and The Voice (A Vis�o e a Voz) e 777. Certamente, ele administrava as quest�es da Ordem, e preencheu um papel de curador nos anos seguintes � morte de Crowley. Por�m, ele n�o era o O.H.O.

Independentemente da vontade de Germer quanto ao assunto, a indica��o deste por Crowley como seu sucessor � extremamente d�bia. Como j� mencionado, Reuss apontou Jones como IX para a Am�rica do Norte e Canad�. Nos anos seguintes, Crowley e Jones se desentenderam quanto � v�rias quest�es, e Jones tentou fechar a Loja Agap�. Crowley respondia editando documentos que visavam expulsar Jones. Entretanto, ele n�o estava habilitado a isso, sua posi��o como O.H.O. n�o sustentava.

� neste ponto que as reivindica��es da lideran�a do Califado fracassam. H� disc�rdia quanto a que Grady Mc Murtry sucedesse Germer como O.H.O. ou Grande Mestre. Dificilmente, esta pode ter sido a quest�o, uma vez que o pr�prio Germer n�o assumia essa posi��o. Al�m disso, se Germer reiterara este ponto em sua correspond�ncia com Grant, ele certamente deve ter mencionado isso a outros. � dif�cil imaginar que Mc Murtry e seus companheiros n�o estivessem a par do verdadeiro estado dos neg�cios, e, em particular, da posi��o de Germer na Ordem � a menos, claro, que eles tivessem pouco ou nenhum contato com ele. E, ainda assim, este grupo continua embasando suas reivindica��es em uma linha de transmiss�o do t�tulo de Crowley a Germer a Mc Murtry. Para ilustrar isto, segue uma transcri��o de um trecho de uma carta do Grande Tesoureiro Geral deles a um consulente ingl�s, datada de 22 de julho de 1984:

�...Nos anos 20, Aleister Crowley tornou-se o Cabe�a Externa da Ordem (O.H.O.);e ele � respons�vel pela atual forma da Ordem. Desde esta �poca, a Ordem tem sido dirigida, por sua vez, por Frater Saturnus (Karl Germer) e, ap�s a morte de Fr. Saturnus, pelo Fr. Hymenaeus Alpha, Califa. (Grady Mc Murtry). Temos documentos da continua��o direta e ininterrupta da dire��o da O.T.O. das m�os de Aleister Crowley ao atual Cabe�a da Ordem...�

Embora esta carta tenha 10 anos, a posi��o deles n�o mudou. Antes de prosseguir, portanto, seria proveitoso lan�ar alguma luz sobre a posi��o de Mc Murtry, e sobre a natureza dos �documentos da continua��o direta e ininterrupta da dire��o da O.T.O.� � necess�ria uma breve considera��o dos eventos durante os �ltimos anos da vida de Crowley.

Durante os anos 40, Crowley foi ficando cada vez mais desiludido com a Loja Agap� da O.T.O., situada na Calif�rnia. Ele come�ou a ver a lideran�a desta Loja como err�tica e sem sentido, e considerava a Loja toda uma causa perdida. Um relato interessante deste epis�dio � dado no cap. 9 da obra The Magical Revival (O Reviver M�gico) de Kenneth Grant, a crescente frustra��o de Crowley com a Loja � clara. Concluindo que um novo in�cio era necess�rio, em 1946, ele atribui a Mc Murtry autoridade(por escrito) para se encarregar do trabalho da Ordem na Calif�rnia. Seguido a isso, ele foi tamb�m apontado como representante oficial da Ordem nos E. U. A., em termos gerais. A autoridade de Mc Murtry, dada na forma de dois documentos era, entretanto, bastante limitada, estando sujeita � aprova��o de Germer, sendo ele mesmo residente nos E. U. A. . O primeiro, datado de 22 de mar�o de 1946, disp�e que :

�...este autoriza Frater Hymanaeus Alpha (Capit�o Grady L. Mc Murtry) a encarregar-se de todo trabalho da Ordem na Calif�rnia, reformar a Organiza��o em conformidade com seu relat�rio de 25 de janeiro de 1946 e.v. sujeito � aprova��o de Frater Saturnus (Karl J. Germer). Esta autoriza��o � para ser usada apenas em caso de emerg�ncia...�

Como pode-se notar por estes trechos, os documentos mal constituem a �direta e ininterrupta autoridade� que foi proclamada. Este d�ficit n�o teria, claro, nenhuma import�ncia, n�o fosse pelo fato da lideran�a do Califado basear tanto do seu status nestes documentos. Curiosamente, Germer j� foi citado dizendo, no curso de uma carta � Grant, em 18 de janeiro de 1952, que n�o havia nenhuma Loja ativa nos E. U. A. Isto foi escrito cerca de 6 anos ap�s a autoridade ser passada de Crowley, e, portanto, deixa claro que Mc Murtry e seus companheiros n�o estavam particularmente ativos.

�...os presentes (termos) s�o para apontar Frater Hymenaeus Alpha � Grady L. Mc Murtry IX O.T.O. � como nosso representante nos E.U.A., e sua autoridade deve ser considerada a Nossa, sujeita � aprova��o, revis�o e veto de Nosso Vice-Rei Karl J. Germer IX O.T.O....�

Como pode-se notar por estes trechos, os documentos mal constituem a �direta e ininterrupta autoridade� que foi proclamada. Este d�ficit n�o teria, claro, nenhuma import�ncia, n�o fosse pelo fato da lideran�a do Califado basear tanto do seu proclamado status nestes documentos . Curiosamente, Germer j� foi citado, no curso de uma carta a Grant, em 18 de janeiro de 1952, dizendo que n�o havia nenhuma Loja ativa nos E. U. A.. Isto foi escrito cerca de seis anos ap�s a autoridade ser passada de Crowley, e portanto, deixa claro que Mc Murtry e seus companheiros n�o estavam particularmente ativos.

A falta de criatividade � o v�cuo no cora��o da lideran�a do Califado. Com grandes recursos � disposi��o deles � tanto em termos de rendimentos das taxas quanto em n�mero de membros � tudo o que eles parecem capazes de fazer � relan�ar as obras de Crowley. A recente �segunda edi��o� do Liber Aleph � um exemplo a se apontar. No Prolegomenon h� um interessante ensaio informativo sobre a rela��o de Crowley- Jones. No fim deste ensaio surge uma observa��o reveladora: �� importante ter em mente que o Liber Aleph � endere�ado a um indiv�duo determinado, num est�gio particular de desenvolvimento espiritual�. Entretanto, o autor n�o tem nada a dizer que lance alguma luz sobre a subst�ncia do livro. Um tema central de Liber Aleph, por ex., � a profunda afinidade que Thelema guarda com fluxos de misticismo oriental, como o Tao�smo e o Sunyavada. Esta dimens�o parece mais relevante de se comentar do que a rela��o entre duas pessoas; presumivelmente, passou despercebido. Tal falta de �insight� tipifica a lideran�a do Califado � aficionados como eles s�o no personagem hist�rico Aleister Crowley, e nas rel�quias sagradas como o anel de Ankh-af-na-Khonsu, de Crowley e a holografia de O Livro da Lei .

Na aus�ncia de qualquer criatividade e desenvolvimento, a lideran�a do Califado n�o teve alternativa sen�o tentar parodiar, por meio de amea�a judicial, aquela autoridade que s� pode ser demonstrada por trabalho criativo. No come�o dos anos 80, Motta deu in�cio a um processo judicial para estabelecer seu direito exclusivo ao nome O.T.O. e, portanto, aos direitos autorais de Crowley. A lideran�a do Califado protocolou uma resposta, e seguiu-se um exame da Corte sobre a lide, com a senten�a fina favor�vel ao Califado. Desde ent�o, a lideran�a do Califado adorou alegar que esta decis�o provou sua legitimidade como continuadores �nicos e diretos da O.T.O. Crowleyana, quando, na verdade, n�o foi nada mais do que um concurso se beleza entre Mc Murtry e Motta. Esta � a Grande Baqueta com que eles acenam quando intimidam distribuidores e editores. Funciona simplesmente porque as preocupa��es comerciais os levar�o a fazer tudo o que puderem para n�o serem pegos no turbilh�o de uma a��o judicial extremamente dispendiosa em tempo e dinheiro. Isto � lament�vel, porque a situa��o legal da lideran�a do Califado � t�o superficial quanto a sua compreens�o de Thelema. Eles s� precisam perder o direito no Tribunal para que isto fique evidente � o que explica porque a ret�rica deles ao contr�rio, eles demoraram tanto tempo para propor um processo contra John Symonds, o �nico executor liter�rio vivo de Crowley e �nico administrador de seus direitos autorais. As vis�es de Symonds sobre Crowley e Thelema s�o question�veis; o fato �, entretanto, que Symonds e Grant trabalharam anos para tornar os principais escritos m�gicos de Crowley dispon�veis internacionalmente, atrav�s das editoras principais, em alguns casos pela primeira vez.

Curiosamente, os l�deres do Califado O.T.O. n�o foram sempre t�o antagonistas com rela��o a Grant. Em 1945, Mc Murtry e Grant se encontraram enquanto o �ltimo estava visitando Crowley, e um respeito m�tuo foi forjado. Em anos posteriores, Mc Murtry reavivou as estruturas da Ordem como ela havia sido nos dias de Crowley; mas ele reconheceu e admitiu a dire��o mais criativa que Grant estava seguindo. O contraste com a atitude avarenta do atual Califado � impressionante e not�vel. Para ilustrar esta antiga atitude mais fraternal, citamos uma carta � Kenneth Grant; est� sem data, mas se origina de meados dos anos 70. A carta � de um membro do Califado O.T.O., chamado Patrick King, que se descreve como um representante. E � endossado especificamente com a assinatura, selo e t�tulo de Mc Murtry como Hymenaeus Alpha :

�Sauda��es em Todas as Pontas do Tri�ngulo � Paz para a Ordem. Sua �ltima carta foi recebida com muito entusiasmo e fraternal boa vontade; toda a Ordem na Calif�rnia estende seus melhores votos de sucesso com Thelema 93, e est� ansiosa por maior comunica��o entre os irm�os de nossas duas Ordens no futuro. S� assim pode o come�o do Novo Eon se manifestar na Terra total e verdadeiramente, atrav�s do trabalho aberto e/ou secreto da Ordo Templi Orientis. V�rios de nossos iniciados consideram o seu trabalho como sendo de grande valor e import�ncia no estabelecimento da nova Lei do amor e Vontade atrav�s do mundo, e esta � a prova de seu trabalho mais do que qualquer coisa do passado . Compreendo que o m�todo de opera��o que voc� emprega difere do nosso, que formulamos com base nos rituais de Aleister Crowley e que � uma reconstitui��o da ma�onaria e da tradi��o herm�tica; enquanto voc� criou ou recebeu novos rituais de uma entidade chamada Nu-�sis. N�s temos, salvo os rituais, uma firme liga��o em Thelema, e, todos os m�todos que trabalham para desenvolver os indiv�duos s�o v�lidos nesta era. Eu anexo uma c�pia de uma carta de um certo irm�o mentalmente perturbado, do Brasil. Visto que tanto voc� quanto eu somos mencionados nela. Ele parece estar sob terr�vel e pesado fardo ao escrever tais coisas. Eu n�o conhe�o, de forma alguma, a validade de suas reclama��es (ele est�, claro, muito equivocado com rela��o ao Califado, Saturnus nunca foi eleito O.H.O.) quanto � autoridade da O.T.O. e/ou A\A\, e eu n�o me importo, tendo minha pr�pria informa��o sobre o assunto. Possa a luz da estrela iluminar o cora��o dele para a irmandade da Lei! Me foi pedido que lhe solicitasse uma breve resposta (aproximadamente do mesmo tamanho do texto de Motta) �s acusa��es do irm�o � para ser publicada no vol. n5 de nosso Boletim, se poss�vel, por favor, envie para a Grande Loja em Berkeley, pois n�o estou mais no mesmo endere�o. Tamb�m quaisquer coment�rios pessoais para n�s, n�o direcionados ao p�blico, s�o bem-vindos. Por favor, n�o hesite em me contatar no futuro, eu aprecio correspond�ncias e aguardo ansioso pelo dia em que poderemos, talvez, nos encontrarmos em outra comunh�o Thel�mica�

O tom desta carta n�o � uma aberra��o, embora em evidente contrate com a atitude combativa dos sucessores de Mc Murtry. Outros artigos deste per�odo, como uma revis�o de Nightside of Eden (O Lado Noturno do �den), s�o imbu�dos de um semelhante esp�rito de fraternidade e respeito; ficou claro que eles preferem trabalhar com a estrutura Crowleyana da O.T.O., entretanto, a inova��o e criatividade do trabalho de Grant foram reconhecidos. Em retrospectiva, vemos dois eventos convergindo: a morte de Mc Murtry; e a senten�a da Corte, em grau recursal, dando ganho de causa a Mc Murtry em detrimento de Motta. A atitude antag�nica da atual lideran�a do Califado em rela��o a Grant tem sua origem aqui, quando a perspectiva de hegemonia trazia oportunidades atraentes e lucrativas.

E quanto � Kenneth Grant? Ele conheceu Crowley durante os meados dos anos 40 e documentou seu relacionamento em Remembering Aleister Crowley, i.e., Recordando Aleister Crowley (Skoob Publishing, 1991). Nos anos seguintes a morte de Crowley, ficou cada vez mais evidente que a Ordem ca�ra no limbo. Germer considerava-se o curador da heran�a de Crowley, e n�o aprovava qualquer diverg�ncia do que ele via como ortodoxia � na verdade, ele parecia crer que Crowley descobrira tudo o que havia para ser sabido. Trechos da correspond�ncia entre Grant e Germer foram citados acima, e deve ter ficado claro para Grant que ele deveria se esfor�ar para avan�ar em sua pr�pria luz. Utilizando como base inicial uma carta patente emitida por Germer para trabalhar os tr�s primeiros graus da O.T.O., Grant foi adiante e formou a Loja New Isis como uma loja dependente da Ordem. Este ato teve, inicialmente, a aprova��o de Germer: a seguir, um trecho de uma comunica��o particular entre Kenneth Grant e o presente autor, datada de 7 de outubro de 1993.

�A verdadeira raz�o para a explos�o de Germer contra mim, e a conseq�ente �expuls�o�, n�o se deveu a qualquer viola��o de minha parte quanto a autoridade que me foi conferida. Ele expressamente relevou a funda��o da Loja e n�s at� discutimos nomes para ela. Deveu-se a minha inclus�o em meu Manifesto da Loja Nu-Isis (e recusa em n�o incluir) a inicial de um de meus associados (Eugen Grosche, Cabe�a da Fraternitas Saturni) com quem Germer tinha uma longa inimizade. Eu n�o sadia disto, nem Germer me elucidou sobre o assunto; ao inv�s disso, ele ficou furioso e me �expulsou�.

Germer reagiu emitindo um documento que visava expulsar Grant da Ordem. Esta linha de conduta era algo que ele n�o estava capacitado a fazer, uma vez que ele n�o era o O.H.O. � uma quest�o repetida pelo pr�prio Germer ao longo das correspond�ncias citadas acima. A Ordem ca�ra em um v�cuo, e era pouco mais do que um santu�rio � mem�ria de Crowley. Em tal situa��o, a lideran�a da Ordem s� poderia passar para um membro do IX que estivesse operando criativamente a Corrente 93. O trabalho de Grant � o fruto de sua pesquisa operacional desde os dias da Loja Nu-Isis e � a base de sua reivindica��o � lideran�a. Algumas das atividades da Loja Nu-Isis foram esbo�adas no Hecate�s Fountain; e n�o h� d�vida do desenvolvimento criativo e inovador. As experi�ncias de Grant na Loja New Isis formam a base de seu trabalho publicado. � um trabalho que n�o � est�tico, mas que continua a crescer e se desenvolver; qualquer um que duvide disto deve ler e comparar o Hecate�s Fountain com o The Magical Revival. Outros requerentes da lideran�a devem afirmar sua pretens�o n�o esbravejando e vociferando, mas com semelhante demonstra��o de criatividade e desenvolvimento, se quiserem que suas pretens�es sejam levadas � s�rio.

Isto � o que paira no �mago da disputa nos �ltimos 40 anos, na hist�ria da O.T.O. A lideran�a do Califado tem tanto direito quanto qualquer outro grupo de praticar sua concep��o particular da tradi��o O.T.O. Entretanto, eles v�o muito al�m disso, buscando negar o direito de qualquer grupo dentro da Tradi��o de usar o nome ou o lamen da Ordem . Isto n�o se pode permitir que eles fa�am. Eles devem aprender a aceitar seu verdadeiro status como um entre v�rios grupos legitimados; de outra forma, o curso da corrente � certamente e com raz�o � ir� dissolv�-los como obst�culos a sua express�o. Quando vier � lideran�a, guardada como rel�quia no escrit�rio do O.H.O. (Cabe�a Externa da Ordem), ent�o estar� atada ao desenvolvimento criativo. Esta produtividade foi amplamente demonstrada por Kenneth Grant no trabalho da Loja Nu-Isis � trabalho que continua a ser desenvolvido por seu sucessores, do mesmo modo que ele desenvolveu o trabalho de seus predecessores. Este � o princ�pio do parampara, linhagem espiritual ou sucess�o m�gica.

Tradu��o por Soror Babalon

Amor é a lei, amor sob vontade.



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