Fundação Aleister Crowley

Rio de Janeiro, 04 de Setembro de 1997 e.v.
Ano IVv da Era Thelêmica, Ano do Hierofante.
Sol em Virgem.

Prezados Thelemitas da Loja Nova Ísis,

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Nós, membros da Fundação Aleister Crowley, decidimos enviar esta missiva a esta Loja como resposta às perguntas que esta comunidade thelêmica nos fez no que se refere à publicação de “Os Livros de Thelema - Volume I”.

Antes de mais nada, cabe aqui falar um pouco dos objetivos da Fundação Aleister Crowley, ou mais simplesmente FAC. Nosso único objetivo é divulgar publicações thelêmicas com o fito de propagar a Lei de Thelema e o Novo Aeon instaurado em 1904 e.v. . A Fundação foi elaborada como uma entidade sem fins lucrativos com o único objetivo de impossibilitar qualquer manipulação de seu nome com objetivos financeiros e lucrativos. A FAC não possui qualquer ligação com qualquer ordem estabelecida neste plano físico. Com isso, pretendemos que ela esteja isenta de dogmas.

A primeira empreitada editorial da FAC foi estruturada da seguinte forma: seriam lançados em língua portuguesa 06 volumes exclusivamente de autoria de Aleister Crowley. Os cinco primeiros comportariam os Livros de cada uma das classes de libris assim como classificados pelo autor; ou seja, o primeiro seria composto dos livros de classe A, o segundo, dos livros de classe B, e assim por diante. O último e sexto volume seria uma espécie de guia para os cinco primeiros, onde constariam todo o material necessário para a utilização prática dos outros cinco volumes. Também este livro é de autoria de Aleister Crowley. Em momento algum pensamos em usurpar os direitos autorais de quem quer que fosse.

Iniciamos o trabalho de tradução dos libris e quando já havíamos material suficiente para os primeiros livros, procuramos a Editora Madras, em São Paulo, com o fito de propor-lhes a publicação dos livros. O Editor-Chefe da Madras se prontificou a publicar os livros conforme nossa recomendação, dando-nos total liberdade de opinião e comando sobre a preparação dos originais. A escolha da Editora Madras ocorreu somente pelo fato de ela já ter lançado o livro “De Arte Mágica e o Testamento de Madame Blair”. Reconhecemos a deficiência de qualidade desta publicação, expondo as razões de nossa opinião diretamente ao próprio Editor que imediatamente se dispôs a corrigi-las na próxima edição.

O fato de termos contactado diretamente a Madras, sem antes contactar a OTO, se deveu somente ao fato do Sr. Marcelo Santos, reponsável pelo Acampamento Sol no Sul do ramo americano da O.T.O., nos haver confirmado que os livros de classe A, por terem sido escritos anteriormente a 1912 e.v., não pertenciam a O.T.O. americana, e que não seria necessário realizar contrato de direitos autorais com a mesma. Nesta mesma ocasião, este mesmo Sr. afirmou-nos que reconhecia a isenção e a qualidade de nosso trabalho e que a FAC não se enquadrava em sua política de “processar judicialmente os violadores dos direitos da O.T.O.”, usando de suas próprias palavras. No que se refere à sua declaração quanto à isenção de direitos autorais por parte da O.T.O para os livros de classe A, infelizmente não temos como comprová-la, pois estas informações não nos foram confirmadas por escrito. Mas temos testemunho fiel quanto à sua declaração da qualidade e ombridade de nosso trabalho e que jamais seríamos alvo de sua “política” contra os traidores da O.T.O. em noso país.

Com a posse desta informação, a Editora Madras iniciou o processo de impressão dos 2000 livros iniciais no início de fevereiro de 1997. As datas eram apertadas, pois pretendíamos lançar os livros no equinócio de março, ou no máximo, durante as comemorações do Ano 93 da Era Thelêmica, em abril. No dia 02 de março de 1997 e.v., o Sr. Marcelo Santos enviou e-mail à O.T.O. cujo texto em inglês consta do seguinte: “Portanto, gostaria de saber se os direitos autorais dos seguintes livros pertencem à O.T.O.: O Livro das Mentiras, Os Sagrados Livros de Thelema, Liber 777, De Arte Magica, A Lei é para Todos.” A resposta do chefe daquela ordem, H.B., foi imediata: “Os direitos autorais de todos os cinco livros pelos quais a Madras está interessada pertencem à O.T.O.”

O fato é que a Madras estava interessada somente em um dos livros citados. Além disso, a informação que recebêramos do Sr. Marcelo Santos não correspondia à realidade, e, também, o fato de ter sido enviado e-mail à O.T.O. demonstrava que nem mesmo ele tinha certeza da veracidade do que havia nos afirmado por telefone.

Neste mesmo dia, este Sr. enviou à Editora Madras um e-mail informando que os direitos autorais pertenciam à O.T.O. e as exigências da negociação. Eu apresentei o Sr. Marcelo Santos ao Editor da Madras. Imediatamente, a Editora Madras pôs-se a negociar com a O.T.O. através de seu representante no Rio de Janeiro. Em momento algum, esta editora se negou a pagar o que de direito fosse pela publicação, comprometendo-se inclusive a negociar o livro “Arte Mágica” já distribuído. No entanto, o “Livros de Thelema I” já estava no prelo a esta altura. Era-nos impossível pararmos a impressão.

A FAC não participou diretamente das negociações que pareciam-nos normais como qualquer outra negociação comercial. Porém, havia outra editora interessada em publicar livros de Aleister Crowley que também negociava já com a O.T.O.

Além de tudo isso, havia também a questão das orelhas da capa do livro. A FAC convidou o Sr. Euclydes Lacerda de Almeida para escrever uma breve apresentação deste primeiro volume, pois entendemos que o trabalho sério e dedicado deste Sr. durante anos representa bem o movimento thelêmico em nosso país. Por algum motivo, este fato desagradou ao comando da O.T.O. americana que havia se desentendido com o Sr. Euclydes L. de Almeida em época anterior. Uma das exigências era que esta apresentação nas orelhas do livro fosse retirada, mas, nós da FAC, cremos que isto seria uma afronta ao direito à liberdade de expressão que todo ser humano possui, afinal a lei diz “Faze o que tu queres”. E depois, o livro já estava praticamente impresso, não seria possível refazer a capa.

Apesar das constantes solicitações por parte da Editora Madras à O.T.O. quanto à finalização e à urgência das negociações, nada foi respondido por um longo tempo. Algum tempo depois, a O.T.O. enviou uma carta à Editora Madras informando que os direitos do livro em questão haviam sido negociados com outra editora e que a distribuição dos 2000 volumes já impressos seria uma violação dos direitos desta editora. Isso realmente foi uma surpresa, pois a decisão foi unilateral e não levou em conta qualquer fator objetivo. Apenas questões pessoais foram levadas em conta, pois afinal de contas outros tantos títulos poderiam ser negociados com esta outra editora. Isso só faria com que a Lei fosse difundida, pois mais títulos surgiriam em nossa língua.

A Editora Madras e esta segunda editora entraram em contato e negociaram uma publicação conjunta, ficando decidido que o livro seria distribuído, porém com uma “errata” quando o responsável pela revisão do texto que pertenceria à O.T.O. achasse necessário. Acreditamos que este seria o fim desta longa estória de desencontros e, finalmente, os textos tão necessários aos estudantes de Thelema seriam distribuídos. A FAC não receberia qualquer valor referente à tradução dos livros nem às vendas, passando os mesmos à editora detentora dos direitos. Não nos opomos absolutamente a estes termos. Nosso objetivo era distribuir o livro já impresso.

Porém, em 22 de julho de 1997 e.v. a Editora Madras recebeu um fax desta segunda editora no qual ela afirma: “O fax do Marcelo sugere que a versao dos Livros Sagrados de Thelema não pode ser veiculada tal qual se encontra. Gostaria de fazer a seguinte proposta: 1.A (editora) providenciará a tradução e edição do livro tal qual deseja a OTO Brasil; 2. As características de capa, de créditos e de folha de rosto serão discutidas entre Madras/(editora); 3. O custo da nova edição será suportado pela (editora); 4. A Madras destruirá a edição pronta.” Anexo a este fax constava também cópia do fax que esta segunda editora recebeu do Sr. Marcelo Santos que diz: “a versão em tela, tal como se apresenta, longe de ser benéfica, somente traria prejuízos aos leitores que viessem adquiri-la, sejam estudiosos, pesquisadores ou curiosos, além de constituir-se em verdadeiro desserviço à correta divulgação, em nossa língua pátria, das obras que embasam o sistema thelêmico.”

Os livros, assim, novamente voltaram a permanecer no aguardo de novas considerações por parte daqueles que representam os detentores dos direitos autorais.

Além do mais, chegou ao nosso conhecimento que circulam rumores de que nós havíamos furtado e usado ilicitamente as traduções dos livros de classe A, que neste caso não nos pertenceriam. Porém, temos em nosso poder o devido registro junto ao Minsitério da Cultura, Fundação Biblioteca Nacional, de todas as traduções utilizadas neste primeiro Volume com data do início de 1996. Este documento poderá ser enviado por nós a qualquer pessoa, sendo assim devidamente corroborado a veracidade e autoria das traducões.

Ainda não foi decidido pela Editora Madras qual será o destino dos 2000 volumes já impressos e não-distribuídos. Acredito que eles aguardem por uma renegociação com a editora detentora dos direitos no Brasil, porém nada é certo. Isto é apenas uma opinião nossa.

Através dos fatos acima, gostaríamos de ressaltar o fato de que: 1. nunca nos opomos a negociar com a O.T.O., assim como a própria Editora Madras também não; 2. jamais nos dispusemos a enganar a quem quer que seja; 3. nosso objetivo não é promoção pessoal, muito menos promover a FAC; 4. durante anos realizamos um trabalho sério que somente as pessoas mais próximas estão habituadas e isso justifica nosso atual posicionamento; 5. não nos importamos com questões pessoais, a Lei está acima destas; 6. lamentamos profundamente que um único título de autoria de Aleister Crowley tenha causado tantos problemas, enquanto há tantos outros ainda a serem publicados. Há muito trabalho pela frente. Nós da FAC nos dispusemos pessoalmente a ceder as várias, e não são poucas, traduções de Crowley que temos já terminadas e revistas, tais como o Magick, Liber Aleph, A Lei é para todos, Komx on Pax, etc. Mas jamais fomos procurados por nenhum interessado; 7. nunca nos foi dado qualquer sinal de que o verdadeiro interesse pelas publicações seja realmente difundir a Lei.

Felizmente, estes seis volumes eram apenas o início de uma longa série de publicações das mais variadas correntes de pensamento thelêmico. Muitos outros volumes surgirão e já estamos trabalhando nestes. Toda a problemática em torno deste primeiro volume só nos fez ver que devemos acirrar nossos esforços a fim de levar adiante a Lei às pessoas de língua portuguesa. Existe muito trabalho a fazer e não precisamos lutar entre nós. A Coroa que almejamos é outra e não nos interessa pôr sobre nossas cabeças pesadas coroas de metal. O apoio recebido por pessoas de todo o mundo, sobretudo da Inglaterra, Espanha e Estados Unidos, nos faz ver que não estamos sozinhos e que o trabalho nunca é em vão.

Finalizando, estamos a disposição de todos que desejem maiores esclarecimentos, se é que há algo ainda a esclarecer, pelo e-mail [email protected]. Podemos, além do mais, nos antecipar e afirmar que a própria Editora Madras jamais se recusaria a também esclarecer os fatos a qualquer pessoa que queira inteirar-se deste assunto.

Vivei na Lei, sêde fortes na Lei,

Amor é a lei, amor sob vontade.

FUNDAÇÃO ALEISTER CROWLEY.

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