POR
QUE, PAPAI?
A
estação de trem estava bem movimentada naquela manhã
cinzenta, na cidade de salvador.
A
chuva caía, insistente e fria, e as pessoas indo e vindo,
apressadas, nem percebiam o doloroso drama que ali se
desenrolava.
Afinal,
cada criatura se detinha nas suas próprias preocupações,
sem tempo para olhar ao redor.
Mas,
para as frágeis forças do pequeno Fábio, o sofrimento se
fazia quase insuportável.
Ele
estava diante do seu ídolo, do seu herói, do seu protetor,
para dizer adeus...
Seu
pai o estava abandonando... E ele, no auge dos seus cinco anos
de idade, não conseguia entender o porquê, nem a necessidade
daquela separação que lhe fora imposta.
Sabia
que a providência tinha sido tomada por sua mãe, mas não
compreendia a razão que o forçaria a viver longe do seu
amado pai.
O
trem iria partir em breve. A mãe o apressava. Mas seus
pequenos braços se esforçavam para reter o pai, num abraço
demorado...
Eu
o amo, papai! Dizia baixinho, entre soluços. Não entendo por
que, papai... Por que tenho que me separar de você a quem
tanto amo?
O
pai permanecia calado. Afinal, não tinha uma resposta
convincente para aliviar a dor daquela separação.
Sua
amargura não se pode mensurar, pois estava perdendo seu filho
por causa do álcool.
Ele
era alcoólatra, e a mãe desejava preservar o filho da convivência
infeliz, para oferecer a ele um futuro digno.
É
bem possível que o pai tenha sentido a amargura daquele
momento, mas sua vontade não era bastante firme para
renunciar ao vício... Preferiu renunciar ao filho, a quem
dizia amar.
Aquela
triste experiência abalou profundamente o coração do
pequeno Fábio.
Aquele
dia deixou marcas indeléveis em sua alma infantil. As gotas
de chuva, que se confundiam com suas lágrimas quentes, foram
testemunhas silenciosas do seu drama de menino.
O
trem partiu... O pai ficou na plataforma, observando o filho
desaparecer ao longe...
O
tempo passou... Hoje Fábio já conta com mais de vinte e
cinco primaveras, mas em sua retina ainda ecoa o ruído de seu
coração aflito daquela manhã chuvosa de despedida e dor.
Seu
pai ainda não largou o vício. E Fábio, mesmo não sendo
mais um garotinho, ainda sente que cada gole que o pai ingere
é como se desferisse uma punhalada em seu peito sensível.
A
história é verdadeira e, infelizmente, não é um caso
isolado.
Há
muitos filhos de pais alcoólatras amargando a triste sina de
presenciar ou de sofrer a violência por parte daquele que
assumiu a responsabilidade de proteger e educar.
Indefesas,
essas crianças têm que se submeter a todo tipo de
constrangimento provocado no lar por pais desequilibrados sob
o vício do álcool.
Outras
tantas, embora permaneçam debaixo do mesmo teto, amargam a
indiferença que aniquila e mata a esperança.
E
quantas crianças que, como nosso pequeno Fábio, tiveram que
se distanciar de pais aos quais amavam e de quem desejavam
proteção?
Importante
que se pense com seriedade a esse respeito.
Importante,
ainda, que o pai ou a mãe consciente possa preservar os
filhos dessas tragédias conseqüentes do alcoolismo.
.....................................
As
lesões causadas nos corações infantis são de difícil
cura.
Quantos
dramas, quantas fobias, quantos desequilíbrios podem surgir
de uma lesão afetiva provocada na infância, e seguir o indivíduo
por toda uma existência!
Por
essa razão, vale a pena tratar essa questão com muito
carinho e atenção.
Lição
de Vida
Você
não é uma ilha
Todos
nós temos a tentação de nos isolar. Tentação de nos
transformarmos em ilhas.
Qualquer
desengano, qualquer desencanto é um convite à reclusão. É
uma tendência de autodefesa. Cortamos nossa comunicação com
os demais... para sofrer menos.
E
assim agindo, nós nos enganamos.
O
homem nega-se a si mesmo quando se dobra sistematicamente
dentro de seu próprio eu.
O
homem não pode renunciar à sua natureza de ser social. Ele
foi feito para conviver com seus semelhantes. Sua vocação não
é a de um solitário do deserto.
Estamos
todos unidos pelo amor, pelo pensamento, pela vida.
E,
por muitas vezes, é apenas um amor, um pensamento, uma vida
que oferecemos aos demais, sem qualquer recompensa.
Não
importa; isto apenas nos une em silêncio.
Somente
o egoísta pode dizer que está só.
Só...
porque renunciou amar e se oferecer aos outros.
Só...
porque fez de sua vida uma ilha.
Berthán
Quera
|