UM DIA EU ACORDEI Um dia eu acordei. Um dia eu acordei e percebi que antes não estava dormindo. Um dia eu acordei e percebi que passei muito tempo achando possuir a noção exata de minha vida. Um dia eu acordei e não sabia onde estava, tudo parecia ser novidade. Um dia eu acordei e não me reconheci. Um dia eu acordei e percebi que havia muitas ferramentas e pouca obra. Um dia eu acordei e vi que meus sofrimentos eram placas cancerosas de egoísmo, vaidade, orgulho... Um dia eu acordei e vi que sempre esteve em minhas mãos vitória ou derrota, alegria ou tristeza... Um dia eu acordei e me mostraram que eu estive torto na maior parte do tempo. Um dia eu acordei e vi que eu não era sozinho no mundo; que o mundo não estava para me servir. Um dia eu acordei e vi diante de mim um corpo inerte, morto, se decompondo; era o meu. Um dia eu acordei e vi algumas pessoas orando. Uns oravam com sincero fervor, outros só pediam para si. Um dia eu acordei e percebi que eu estava vivo, eternamente vivo, por muito a servir, por muito a amar. Um dia eu acordei e passei a plantar flores na minha alma árida, preparando-me para outras mais. Um dia eu acordei e percebi que a vida faz mais sentido no plural, no coletivo...
Um dia eu acordei e o copo quebrado, o amor desfeito, o objeto enferrujado, não
mais me incomodavam. Um dia eu acordei para dormir na manjedoura, falar nas sinagogas, morrer na cruz, e viver Deus. |
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