RESSONÂNCIA
Despertar.
Despertar e descobrir que se é um ser vivo. Enfim.
Não como das outras vezes. Agora diferente.
Perceber um corpo acústico. Uma concha que propaga.
Notar que o monólogo foi sempre o diálogo.
Perguntar a si mesmo, e aguardar alguma resposta.
A vida opera neste receptáculo. Experimentamos o instrumento com
o ouvido desatento.
O que vibra?
Qual é o som que ecoa?
Será música?
É a melodia do assombro? Do desassossego? Ódio?
O que vibra nesta caixa temporária?
É infância de sonhos acústicos?
É o medo de amar e não querer acordar?
É descobrir-se alienígena de si mesmo?
Quantas dúvidas.
Qual é a essência contida neste presídio eletrificado de dor e pontos
erógenos?
Esta música particular atrai aplausos ou vaias? Ou ambos?
Estamos sempre na fronteira entre lustrar e abraçar egocêntricos
o instrumento e, ou quebrá-lo e jogá-lo em cima da platéia.
Vibrações.
Vibrações que encantam serpentes.
Vibrações do coração apaixonado pelo medo e egoísmo.
Melodia que quando bela vem do Alto; quando desaforada vem do íntimo
perverso.
Nave acústica que quer voar, mas não sabe.
Artistas interpretando mocinhos e bandidos.
Deus nos toca até aprendermos a ressoar a Pura Música que
desmistifica, que exemplifica e ensina a amar, verdadeiramente.
Quem nos dera ter um realejo – nunca se sabe de onde ele vem - e ficar
em praça pública distribuindo a boa música, através da qual até mesmo
os mais insensíveis tornar-se-ão crianças com o poder de recuperarem o
encanto de viajar e sonhar pelas rotas do pensamento.