CHUVA
Hoje
é um dia de chuva que me traz paz.
Hoje, nem mesmo poeta, nem operário, nem carne, nem
realidade; sou chuva, sou condensação, sou precipitação. Sou dor no peito
vindo dos ares, das alturas, das vertigens...
Queria eu ter a mesma sensação das gotas a esperá-la passar pelas ruas
para logo mais mergulhar, escorrendo sobre seus cabelos, sua face, seus lábios,
seus contornos... ficar assim misturado em sua pele, seu suor, seu calor, que me
fará evaporar novamente em ciclo vicioso.
Queria estar agora, como as gotículas, grudado em sua janela para poder
vislumbrar sua figura absorta em suas preocupações diárias.
E você sem ao menos perceber, iria olhar de vez em quando para longe de
si, para o horizonte, e sentir um arrepio de frio, que deveria vir com a chuva,
mas, no entanto, provocado pelos meus desejos...
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