CAMINHOS
Percorri
caminhos retos, caminhos tortos, caminhos de lugar algum, caminhos sem saída.
Escolhi-os de forma calculada, com a roupagem do provável, racional
-descobri mais tarde que não é assim que se obtém a melhor rota.
Fui guerreiro, fui covarde.
Morri algumas vezes com minha bravura de nobre sem feudo, em outras
sobrevivi com a fuga dos disfarces.
Caminhei por terra firme, concreta, palpável - caminhos traçados.
Chegou o tempo em que a terra acabou beira-mar.
Terra, mar.
Mundos diferentes, elementos diferentes, sistemas diferentes.
Não tenho mais controle.
Os caminhos e possibilidades são outros; sem traços, sem traças - tudo
novo.
Agora as “correntes marítimas” serão condutoras do meu destino.
Terei sorte, um bom fado?
Ou amargarei a morbidez dos desgraçados?
Quem é que sabe?
Como poderia me acomodar e ficar feito caranguejo, na costa, na linha
fronteiriça segura, fartando-se das sobras?
Uma força arrasta-me por este mundo desconhecido, mar adentro.
Preciso atravessá-lo simplesmente - é o que eu sei.
Quero saber a vida, saber de mim mesmo, desse amor...
Devo atender ao chamado - é mais forte de que eu
- cantiga de sereia, de minha amada.
Ela me acena, se afasta, me arrasta...
Explicita com sua seminudez, mas encobre tudo mais com profundo mistério.
Este amor transformou-me em mutante:
um zumbi, com encantamento, assustando a razão, e ao mesmo tempo, num lúcido
navegador que não receia motins, dragões ou tormentas; guia-se com a força do
“navegar é preciso”. Deixar-me-ei
envolver pela generosidade das sábias águas que carregam as poesias escritas
sobre as areias. É a forma que essas águas corsárias têm de
"presentear" os que já habitam, confiam e se entregam nos mares das
ilusões.
E nas minhas indagações sobre caminhos, vem uma mensagem trazida lá
das águas orientais: “o mais importante não é o cume da montanha, mas sim o
‘caminho’ para se chegar até ele. O topo é apenas a chegada, o caminho é
o aprendizado, a verdadeira realização”. Assim,
minha amada, quero percorrer e aprender todo este caminho arriscado, perigoso, e
absolutamente cheio de vida.
Ao atirar-me nessas boas águas, sem volta,
encaminhadoras de destinos, terei a prudência de jogar minha garrafa -
elo com o mundo - nas correntezas, com um breve bilhete:
- Não me ajude, deixe-me amar. |
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