CONTRAMÃO
Imagina-se que devemos buscar caminhos fáceis nas relações interpessoais, mas nem sempre há sinalizações indicadoras.
Ficamos
perdidos.
Quantas
mulheres se sentem amparadas e, ao mesmo tempo, sufocadas por um teto,
por um prato feito, com direito a não reclamar ou exteriorizar suas
necessidades mais íntimas ao homem macho cumpridor de suas obrigações,
incluídas as sexuais. Este tipo de homem, com este comportamento, canta
como galo orgulhoso de sua virilidade que dá conta de muitas galinhas.
- ele não sabe, mas as mulheres assim “confundidas” e
tratadas, é certo, todas serão insatisfeitas o tempo todo.
E
as preocupações com as particularidades dos sentimentos? O ser
humano necessita sonhar, ser bem tratado, bem cuidado, respeitado, em
todas as questões e momentos -principalmente a mulher.
Não
dá para viver de faz de conta.
Será
que a vida é só comida? Só roupa? Só abrigo?
Há
aquele homem que fica no sofá, hipnotizado, sendo comandado pela
televisão, proibindo qualquer interrupção, ordenando servidão;
quando não, fica todo o tempo sempre com os amigos consolado pela
cerveja, tomado de glórias dos feitos do dia e da noite: é
o futebol, é a sinuca, é a p...; toma atitude após a outra, sem cerimônia,
esquecendo-se ou neutralizando a companheira para ser único e absoluto,
sem contestação.
Justifica-se,
o homem, na enferrujada frase “ninguém é de ferro”. Sim,
todos querem desfrutar a “confraternização do ócio”, mas e a
mulher esquecida nos afazeres domésticos não tem lugar para esse
“grandioso momento”? Ser lembrada, sentir-se notada é isto
que ela quer.
-
“O quê? Estudar, trabalhar, crescer intelectualmente, conquistar,
esbarrar-se com outros homens - todos safados-, nem pensar, minha mulher
não. Dê um tanque de roupa que faz passar todas essas idéias
anarquistas; vá pilotar fogão...”- bufa o maridão coçando a parte
baixa, que julga ser sua melhor.
Há
também o tipo intelectual, refinado, todavia inescrupulosamente impõe
chantagens psicológicas ordinárias. Arma uma disputa que só existe em
sua cabeça, numa estratégia doentia, a supremacia do lar. Nem pensar
em ver a mulher-companheira ser bem sucedida.
O
homem que esmaga sua companheira com rancor, sem razão alguma, perde
uma grande chance de ser feliz; perde o respeito, o carinho, e todas as
delícias do ápice sexual só conseguido com a intimidade e
cumplicidade entre o casal amigo.
Mulher,
vá tomar o seu “sol”, até os prisioneiros têm esse direito, não
fique na sombra.
Faz
prevalecer que sua vida também é importante, e você estará pronta
para o relacionamento maduro e verdadeiro. Caso contrário não vale a
pena. Não é amor.
Muitas
vezes nos conformamos que devemos descer o rio, aproveitando a
correnteza, parecendo ser o natural, contudo, devemos lembrar que para
haver a eclosão da vida, a continuidade da espécie, os peixes seguem
rio acima, indo contra a correnteza, se arriscando e lutando.
O
que se eterniza são as relações bem cuidadas, e não as mais fáceis.
O carinho no falar, no calar, no ouvir; valorizar as qualidades; a
vida a dois com preocupações mútuas tem que prevalecer sempre.
Mulher,
nenhum ditador doméstico tem “direitos estabelecidos” para lhe
impor o sofrimento. Ele não pode ser um cavalheiro com os amigos
e um pré-histórico com a família. Tome uma atitude de valorização
de sua própria vida. Aquela velha máxima ainda é válida:
“aprender a se respeitar, antes de exigir o respeito dos outros”.
Mas
e os filhos? E a idade? E o despreparo profissional desses anos todos? E
toda a dedicação, tudo perdido? - poderá perguntar assustada a mulher
prisioneira.
Todos
têm o livre arbítrio, não é mesmo? Quem gostar ou aceitar ser
escravizada num papel submisso, ser maltratada como doméstica sem
direito a remuneração, ou tipo “ele me bate, mas me ama”, o que se
pode fazer?
Mas
aquela que se gosta como pessoa, e quer ser valorizada, ainda que
mantendo a “relação com seu homem” tem que ir à luta e mostrar
seu valor e exigir respeito através das atitudes diárias.
Liberdade,
ainda que tarde, liberdade sempre a liberdade, pois a sensação da
conquista valerá todos os sacrifícios, todas as lutas. E o homem
que estiver ao seu lado deverá lhe dar o devido valor, e saber
claramente que ele está com você não porque ele é seu dono, e sim
porque você o quer. Mas sem amor, e todas as coisas inerentes, como
carinho, respeito, plano de luta conjunta para um melhor futuro... sem
acordo!
Tanto
homem, como mulher, em certas circunstâncias na vida devem
vomitar as coisas ruins, e o vômito nada mais é que o reverso, a
contramão do natural, tirar o sofrimento, os “sapos”; é subir rio
acima, contra a correnteza para ter possibilidade da vida continuar.
Conseguir respirar.
Como
disse meu grande amigo, hoje, de forma poética:
É
uma luta diária, difícil, que cansa, que decepciona muitas
vezes, no entanto para ser feliz e livre, tudo vale a pena,
pois o bom relacionamento liberta, não escraviza.
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