O dia amanheceu tarde. Chovia e a luz dos postes já (ou ainda) estava acesa. Bira saira de casa pensando na cama, como sempre. Tomara as três doses de vodka diária, antes de sair, é claro, de que outra forma enfrentaria o frio de São Paulo? Três ônibus depois estava perto do estúdio. Colocara a mão na sacola e uma gota de suor caira de sua testa. Hoje seria o dia da vingança.

-Ei pessoal, vamos ensaiar Summertime mais uma vez, implora Derico. Algo não está saindo bem, pensava ele. No fundo sabia que o problema era com o baixo. O baixo de Bira estava desafinado. E Bira parecia um tanto nervoso, não soltara nenhuma gargalhada até aquele momento. -Desculpe pessoal, estou com um pouco de dor de cabeça. Vamos tentar mais uma vez. Dizia um Bira cada vez mais estranho.

Às 16:33 Jô Soares chega no estúdio com seu New Beetle. O olho de Bira brilha: é a última vez que esse Gordo vai mangar de mim... A banda encerra o ensaio e arruma-se para começar a gravação. Bira tem um desarranjo intestinal e corre ao banheiro. Caga água literalmente. O nervosismo chega ao auge. Bira treme feito uma batedeira, causando uma dificuldade a mais no momento de evacuar. Para não atrasar o pessoal, Bira bota o cu sob pressão, para que a merda saia mais rapidamente de sua bunda. Consegue.

Começa a gravação. Jô Soares mostra a todos o quanto ele é bom e depois apresenta alguns entrevistados. Faz algumas piadas de português dizendo que não faz piadas de português e olha para a banda. Bira já sabe: vai gozar de mim. E eu tenho que aguentar. Será que ele não percebe meu sofrimento? Gordo idiota. Bira estava certo, Jô Soares iria fazer uma gozação, mal sabia ele que seria a última. - O Bira tem merda na cabeça; cria passarinho no cabelo; hauhauhauhauahua! Se esbaldava o apresentador obeso. Bira abaixava a cabeça, seguindo um ritual de anos. O gordo branco e rico avacalhando com o preto velho e pobre.

Bira não se contém e começa a botar em prática o que estava preparado para o dia de hoje. Tira de sua bolsa um machado e parte para cima do gordo. Começa fatiando o braço do barrigudo. Depois parte para a cabeça. Degola o nédio com um só golpe, tamanha era a raiva do baixista. A platéia perplexa acha que tudo não passa de uma montagem pensada pelo gorduroso apresentador e executada com a mais alta tecnologia que a Globo dispõe. No final todos aplaudem e Bira sai nos braços do povo.

(Moral da história: não goze do preto, um dia ele se revolta e corta sua cabeça.)

Alexandre Vanz (25/05/2000)

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