DESABAFO DE MUTUARIO

VEM PRA CAIXA, VEM............

Entendemos compartilhar com vocês o editorial abaixo, que resume o sentimento de vários companheiros mutuários e que resume um pouco de algumas de nossas lutas diárias.
Esta semana me livrei do maior abacaxi da minha vida: uma casa financiada pela Caixa Econômica Federal.
Meu contrato era de 1989. Eu era então um jovem muito bobo, em começo de carreira, que acreditava sinceramente nas boas intenções do governo brasileiro no sentido de me ajudar a realizar o sonho da casa própria.
Bastaram alguns anos pra perceber que alguma coisa estava errada: eu pagava, pagava, pagava... e o saldo devedor só subia, subia, subia...
Não vou dizer que assinei o contrato sem ler, como fez o Genuíno, mas não entendia nada de termos jurídicos e... pôxa, estava fazendo negócios com o governo! Então juro que estou sendo sincero quando digo que tomei o maior susto do mundo ao descobrir que só a casa não garantia o empréstimo. Nem mesmo assumindo que a dívida era impagável, entregando a toalha e me propondo a devolver o imóvel, sem qualquer restituirão dos valores pagos, eu me livraria do problema. Pela letra fria da lei, a diferença entre o valor do imóvel e os altíssimos juros acumulados continuaria pesando sobre minha cabeça.
“Não é justo”, me lembro de ter protestado ao responsável pela área habitacional da agência que me atendeu. “Eu comprei uma casa. Se eu devolvê-la, não tem sentido continuar devendo!”. Mas foi aí que ouvi a frase que ecoaria na minha mente pelos próximos anos: “Você não comprou uma casa. Fez um financiamento bancário para a compra de um imóvel”.
Veja bem, gente: era um banco do governo! A casinha era um abacaxi mal construído numa rua sem asfalto! Aquele “financiamento bancário” apareceria nas propagandas políticas como não sei quantas mil casas “entregues a famílias de classe média e baixa renda”.
Entrei na Justiça, claro. E como eu, milhares de brasileiros que procuraram a Caixa pra resolver o “sonho da casa própria”.
A lista de desprazeres que tive na minha relação com o “agente financeiro” que me vendeu uma casa e me cobrou um empréstimo bancário foi enorme. Mas, só pra resumir, a história terminou assim: depois de 12 anos de prestações pagas e mais quatro anos de pagamento em juízo, desembolsei o equivalente ao valor de mercado do imóvel pra me livrar da dívida. O saldo devedor do financiamento já passava dos R$ 100 mil reais. O governo, caridoso, deixou por cinqüenta e poucos mil. Vendi a casa, paguei a dívida e ficou por isso mesmo. Dezesseis anos de prestações jogadas no ralo.
O alívio de me livrar daquela bola de neve é tão grande que a perda de tempo, paz e dinheiro não me incomoda. O que me tira do sério mesmo ver a mesma Caixa anunciando, neste momento, a realização de seu “Feirão da Casa Própria”. Nos cartazes fixados nas agências, e nos comerciais de TV, em nenhum momento ou lugar estão explicitadas as condições de financiamento, taxas de juros e outros detalhes que as empresas privadas são obrigadas a divulgar segundo o Código de Defesa do Consumidor. O próprio nome que os marketeiros deram a essa linha de crédito é propaganda enganosa: “Feirão da Casa Própria”. Uma ova. Quando muito é “Feirão para empréstimos bancários destinados aquisição da casa própria”.
E ainda usam o craque Raí, coitado, pra divulgar – todo sorridente – esse absurdo. Claro que ele levou o cachê dele. Mas duvido que saiba que está vendendo gato por lebre.
Na audiência de conciliação em que topei negociar a dívida, uma advogada a serviço da instituição reconheceu, diante da juíza, a “diferença de discurso” entre os departamentos de Marketing e Jurídico da Caixa.
Pra não ficar só no choro, como cidadão brasileiro entrei com uma reclamação formal e protocolada junto à Procuradoria da República. Peço que eles adeqüem a propaganda à realidade. Ou a tirem do ar.
E se você ainda sonha em financiar uma casa pelo Sistema Financeiro Habitacional, especialmente pela Caixa, deixa-me esclarecer um ponto importante, sob a ótica de quem viu a coisa por dentro: o governo não vende casas, gente. Nas suas propagandas, astros sorridentes juram que o governo quer resolver seu sonho, mas no fim o que ele faz mesmo é lhe emprestar dinheiro a juros.

(Maurício Ricardo Quirino, criador do Charges.com.br, é ex-mutuário da Caixa.)

 

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