Sonhos
Os sonhos permeiam
toda a existência humana. Sonhos pequenos, grandes, coloridos ou em preto e
branco transitam nos corações, pulsando descompassadamente em doce frenesi.
Transeuntes, posseiros, inquilinos, acabam por colorir em tons de arco-íris as
paisagens da nossa alma, fazendo-nos descobrir novas matizes, à medida que
nossos olhos os vislumbram. Muitas vezes, nem notamos sua presença...ficam a
nos espiar sorrateiramente, aguardando sabiamente que os nossos corações
possam vê-los e senti-los.
Os sonhos nunca andam sozinhos...terminam por acasalar-se com outras emoções.
São como corredeiras que ao passarem por entre penhascos, arrastam o que
abarrota as prateleiras da nossa alma.
De certo, o maior parceiro dos sonhos é a esperança. Andam de mãos dadas, cúmplices
a nos acenar afetivamente...acarinham a nossa tez, fazem serenatas nos portais
da nossa vida, entoam melodias, criando notas musicais desconhecidas, Aportam
como nau em busca de porto seguro, falam-nos de beijos guardados e de abraços
roubados...lançam-nos âncoras, fazem-nos aprender a conjugar verbos esquecidos
em porões.
Existem sonhos que permanecem dormindo...jamais despertam, esgueiram-se da vida,
da possibilidade do encontro com o sol e do namoro com a lua. Aprisionam-se em
teias, enroscam-se nos limites dos nossos passos, nas amarras da nossa
incredulidade. Existem sonhos que bocejam, espreguiçam-se...apesar de
acordados, resvalam nos nossos precipícios, nas nossas censuras. Enxergam o
mundo, escutam os sons da vida, todavia permanecem em casulos. Ouvem o barulho
das ondas, avistam o azul do céu, porém o mistério e a grandiosidade do mar
os detêm. Sonolentos, acabam por fincar raízes em cárceres privados...e, são
sufocados em pesadelos.
Existem sonhos que acordam, que se expõem...correm sem máscaras ou disfarces,
soltos no mundo. Andam descalços em nossas ruas, desejosos por fazerem almas
sorrirem. Céleres, ousam, assumem riscos, brincam numa roda de ciranda...não
se perdem em ensaios ou em labirintos; gritam por vida e são esculpidos em
algum lugar deste imenso planeta. Concretizados, lançam-se de novo como
sementes, porque estes sonhos não param, são incansáveis...partem como pássaros
em busca de outros céus que acreditem em novas quimeras.
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