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Tinta é uma mistura de dois elementos: pigmento (ou corante) e aglutinante. O pigmento é o que confere a cor à tinta, e o aglutinante é o que une as particulas fazendo a tinta aderir à superfície. Existem diferentes aglutinantes e como conseqüência diferentes tipos de tinta: óleo, cola, goma, ovo, etc.

As tintas naturais podem ser obtidas por diversos processos abaixo relacionados. Depois de obtido o pigmento ou o corante, mistura-se o aglutinante.

 : : : : : : : PIGMENTOS LÍQUIDOS : : : : : : :


 Cocção:
Cozinhar a matéria-prima, até que a água adquira sua cor. Podem ser cozidos repolho roxo, beterraba, erva-mate, café, casca de uva preta, de jabuticaba e de pinhão, hibisco, rosas, etc. O líquido colorido pode ser aplicado diretamente no papel, mas um pouquinho de cola lhe dará maior resistência ao tempo;

 Maceração: Consiste em deixar a matéria-prima de molho na água fria, por volta de 12 horas. Este tempo é estipulado para inverno ou meia estação, no verão deve ser deixado por menos tempo, senão começa a fermentar. São macerados café, erva-mate, feijão preto, etc. Usar puro ou com aglutinante;


 Infusão: Os elementos são picados e deixados em infusão no álcool até atingirem o seu ponto máximo de cor, cujo tempo varia (minutos, dias, semanas). Quanto mais tempo em infusão, melhor. Podem ser colocados em infusão: pétalas de diversas flores, folhas, raízes, semente de urucum, lascas de madeira, repolho roxo, beterraba, etc. Algumas infusões (como as pétalas de rosas) dão líquidos quase incolores, e sua cor só aparece depois de algum tempo de colocada no papel. Algumas folhas verdes dão cores alaranjadas.
O corante obtido pode ser aplicado puro ou com cola. Neste caso, torna-se visguento e para limpar o pincel deve-se usar álcool, e nunca água;


 Fricção:
A fricção, como o próprio nome diz, consiste em friccionar elementos diretamente sobre o papel. São friccionadas as plantas que contém uma quantidade razoável de água, principalmente pétalas coloridas. Flores ou folhagens podem ter uma cor por fora e outra por dentro;

 Liquidificação: Bater em liquidificador com água. Folhas verdes (espinafre, rúcula, salsinha), beterraba, repolho roxo, pétalas de flores, etc. Usar puro ou com aglutinante.

Existem, nas regiões do Brasil, outros vegetais dos quais se extraem cores: o índigo ou anil é extraído das folhas do anileiro quando maduras; o vermelho do pau-brasil produz uma tinta vermelha muito usada pelos indígenas para colorir o corpo.

Noutros países do sul da Europa e países do Oriente, a ruiva dos tintureiros (Rubia tinctorum) desempenhou papel importante como promotora da cor vermelha, sendo muito cultivada na Antiguidade. Também no Oriente, África do Norte e até na Índia, utiliza-se ainda hoje a hena (Lawsinia inermis), tinta para colorir os cabelos, processo que consiste na secagem e redução das folhas a pó, que já ficam prontas para o uso. A partir das fêmeas do inseto cochonilha (Dactylopius croccus (Costa)), colhido de uma espécie de cactus que se desenvolve principalmente no Peru, extrai-se o carmim, uma cor muito estável.

Desde 1868, entretanto, com a descoberta dos corantes sintéticos derivados do alcatrão da hulha, o interesse pelas matérias-primas naturais diminuiu consideravelmente.

 : : : : : : : PIGMENTOS EM PÓ : : : : : : :

 Trituração: carvão, giz, cascas de ovos, tijolos, urucum, café e outros são moídos até serem reduzidos a um pó muito fino;

 Calcinação: ossos, sementes, madeiras são queimados e reduzidos a carvão, o qual, após sofrer trituração, é reduzido a pó. O carvão também poderá ser usado de forma compacta para grafar;


 Peneiramento e Decantação: pedras e tijolos triturados devem passar pelo processo de peneiramento através de telas ou malha de meias de náilon esticadas. No caso das terras, devem ser peneiradas (para tirar os grãos maiores, pedrinhas e impurezas) e postas para decantar em água. Escorre-se a água, utiliza-se a lama de cima e descarta-se a de baixo, que contém os grãos mais grossos. Quanto menor a partícula de pigmento, melhor seu poder de cobertura, pois a tinta fica mais uniforme.
O aglutinante para terra pode ser cola, goma (polvilho, trigo, maisena), ovo ou óleo.

 Lixação: as madeiras, como cedro, pessegueiro, canjerana, louro e outras, quando lixadas, são transformadas em pó muito finos, de diversas cores. Os pós obtidos podem ser usados puros nos aglutinantes ou em associações entre si;

 Imersão: os pós contidos dentro de uma trouxinha de tecido são submergidos em movimentos contínuos por várias vezes na água de cinco recipientes, passando de um ao outro. Com isso, os pós ficam depositados no fundo dos recipientes, então, basta escorrer lentamente a água que estarão prontos para o uso.

 A produção dos pigmentos em pó permite que se façam três tipos de têmpera:

 1- têmpera-cola: os pigmentos são adicionados às colas sintéticas, compostas de acetato de polivinila, formando uma tinta resistente;
 2 - têmpera-goma: é obtida pela adição dos pigmentos à goma de polvilho ou arábica. É menos resistente que a têmpera cola;
 3 - têmpera-ovo: os pós das terras e das ocas podem ser adicionados à gema ou clara de ovo, resultando numa tinta de boa consistência que, à medida que seca, adquire brilho, se for com clara, e suave aveludado, se for com gema.

Pelo acréscimo de óleo de linhaça aos pigmentos em pó, é possível obter-se a tinta à óleo, tal como procediam os pintores renascentistas.
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