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Há alguns séculos, o termo "tinta natural" não existia, pois toda tinta provinha da manipulação de elementos naturais e aquilo era simplesmente "tinta". A distinção entre tinta natural e artificial só viria a ser feita por volta de 1856 quando se obteve uma tinta feita somente por compostos químicos manipulados em laboratório.
As primeiras tintas que temos notícias são das pinturas pré-históricas feitas em cavernas (30.000 - 8.000 a.C.). Foram feitas utilizando-se terras coloridas, pó de rochas, carvão vegetal e colas vegetais e animais. Como as terras e rochas são pigmentos altamente duráveis e as pinturas estavam protegidas das ações do tempo, elas conservaram-se até hoje.
Cerca de quatro mil anos atrás, havia poucos corantes e estes eram muito caros. Alguns corantes de que se tem notícia naquela época eram o azul índigo ou anil (retirado da planta Indigofera tinctoria), o vermelho provinha da raiz da Rubia tintorium, chamada de ruiva dos tintureiros por ser usada pelos mesmos (na pintura artística, esta cor ficou conhecida como alizarina), o violeta era obtido a partir de moluscos (Murex trunculis e Murex brandaris). Este era um corante caro devido à alta quantidade necessária de moluscos para produzir tinta: dez mil moluscos equivaliam a um grama de cor (por volta de 1300 d.C., estes moluscos entram em extinção e a cor então passa a ser retirada de um líquen).

Na Índia, o açafrão da terra (Curcuma longa) era largamente utilizado para produzir a cor amarela dos mantos dos monges budistas. O açafrão verdadeiro (Crocus sativus), utilizado no século XIX, também produz uma cor amarela vibrante, mas sua extração é muitíssimo mais complicada, além da cor ser fugaz. No açafrão da terra, a cor é retirada das raízes, e no açafrão verdadeiro, dos estigmas das flores, sendo necessárias mais de 250.000 flores para se obter meio quilo de açafrão.
Portanto, fazer tintas sempre foi um processo demorado e com custos altos. Devido a isso, as cores eram símbolo de nobreza: os ricos usavam cores e os pobres usavam roupas sem tingimento.
No século XII d.C. a pedra lápiz lázuli era utilizada como fonte da cor azul ultramar mas seu uso foi constatado desde 3.000 a.C. em afrescos da Sumária. Como a pedra é semi-preciosa, este era um pigmento muito caro e difícil de ser encontrado.
No fim do século XV, exploradores europeus ganharam a América e a Índia de onde trouxeram novos pigmentos, como o amarelo indiano. Os incas, maias e astecas extraíam o carmim de um pequeno inseto (cochonilha) o que é utilizado até hoje como corante alimentíceo. Pouco depois, houve o descobrimento do Brasil e a exploração das nossas riquezas. O Pau-Brasil, fonte de cor vermelha, passou a ser utilizado na Europa como uma grande novidade, embora aqui fosse muito conhecido pelos indígenas.
Outra tinta utilizada por várias tribos indígenas brasileiras provém do urucum:


"Entre os índios brasileiros era denominado uru'ku, cujo significado é 'vermelho', em referência à cor do revestimento de suas sementes. Este pigmento era considerado por eles tinta sagrada de rito e magia. O urucum era usado na pintura dos recém-nascidos e das meninas, (por ocasiões da primeira menstruação), assim como em cerimônias nupciais, rituais antropofágicos, de sacrifícios de prisioneiros, ritos funerários, e na pintura dos ossos em cerimônias de exumação. Entre os índios, o pó das sementes era considerado afrodisíaco e um antídoto para o veneno da mandioca".

No século XVII, a pintura a óleo ganha popularidade e as tintas são produzidas manualmente. Nos ateliês de grandes artistas, sempre havia um auxiliar encarregado de moer e preparar as tintas.
Desde o início do século XIX muitos pigmentos foram ganhando seus equivalentes químicos como, por exemplo, o azul ultramar.
"Devido ao alto custo do Lápis Lázuli, inúmeras pesquisas foram feitas, sendo descoberto por J.B. Guimet em 1826 e comercializado para os artistas a partir de 1826".

Curiosidade: O amarelo indiano tinha um processo de extração curioso. Era feito de urina de vacas que haviam se alimentado apenas com folhas de manga, sem beber água. A essa urina juntava-se um pouco de terra, esta mistura era esquentada e seca para então depois ser dividida em torrões que eram vendidos. Como isso era muito penoso para os animais, sua produção foi proibida no início do século XX.

Em 1856 o químico inglês Sir William Perkin descobre o primeiro corante sintético em laboratório. A partir desta descoberta, muitas pesquisas foram desenvolvidas e cada vez mais os corantes artificiais passaram a ocupar o lugar dos naturais. Em 1868 a Alizarina ganha seu equivalente químico e em 1880 é a vez do azul índigo.
Na metade do século XX surge a tinta acrílica. Nos laboratórios, novas cores continuam a ser descobertas e criadas, como as tintas fosforescentes. Na década de 80 havia 3 milhões de cores disponíveis. Na década de 90, Estados Unidos, França e Inglaterra proíbem o uso de corantes químicos nas indústrias de alimentos e cosméticos.
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