A cada mês haverá uma nova coluna nesta seção. Escrita por mim ou por um convidado, mas sempre tratando de assuntos importantes e dando respostas e/ou criando novas perguntas. Sempre que quiserem, podem contatar o autor da coluna, apenas clicando no nome dele, embaixo do título. Não deixe de dar sempre uma nova olhada nessa seção.
A Guerra das
Editoras - 08/01/99
por: Marcelo
Hashimoto
A Image é igual. A
Image é diferente. O que isso quer dizer? Para responder à essa pergunta, temos que
analisar a fundo esse amplo universo que são os quadrinhos. Marvel compra Malibu. DC
compra Wildstorm. Recentemente, a Marvel enfrentou graves problemas e por pouco não
enfrentou a falência. De que se trata toda essa guerra que ocorre no mundo dos
quadrinhos? Ou melhor, no mundo da publicação dos quadrinhos?
Na verdade, o que se passa entre a Marvel e a DC, pode ser comparada à uma luta de
emissoras por Ibope. Tudo está baseado no número de vendas que, é claro, precisa ser
superior à da concorrente. Mas a diferença principal entre os quadrinhos e a TV é que,
enquanto a TV está presa aos limites da realidade, os quadrinhos são uma realidade que
pode ser alterada como se bem entender.
E, assim como nas emissoras, o modo mais rápido de se impulsionar as vendas é
"apelar" com algum fato que chame a atenção de muitos leitores, fiéis ou não
à tal editora. É o que podemos chamar de "efeito empurrão". As vendas de
quadrinhos são como uma bola numa superfície um pouco inclinada. A bola tende a descer
lentamente, ou seja, as vendas sempre tendem mais a cair lentamente do que a subir
(lentamente ou não). Então, é preciso dar um empurrão nessa bola para que ela vá de
uma vez ao topo, para depois voltar a cair lentamente.
Então, o que as emissoras, ou melhor, editoras, começam a fazer, inúmeras sagas que
"revolucionaram todo o universo", sagas que causaram o "fim do mundo como
você o conhece" ou revelações que "vão mudar tudo o que você sabia sobre o
personagem". Mas, sem dúvida nenhuma, a maior das apelações que se existe no mundo
dos quadrinhos é a morte de determinado personagem importante que, é claro, em poucos
meses encontra uma desculpa para ressucitar.
Mais do que causar uma enorme confusão na cabeça dos leitores, toda essa salada de
morre, retorna, destrói o universo e sei lá mais o que mostra um enorme desrespeito das
editoras em relação aos criadores de tais personagens. Como Dave Sim e Todd McFarlane
perfeitamente demonstraram em Spawn #10, os personagens vendidos por seus criadores ficam
como se estivessem presos, sendo submetidos a todo tipo de experiência. Enquanto seus
criadores, tão perto deles, ficam de mãos amarradas sem poder fazer nada a respeito de
tudo o que fazem com seus personagens. Não é exagero que o que as editoras fazem é
crueldade. Tanto com os criadores como com os personagens. Tudo para vender mais.
Vejamos alguns exemplos: a DC se superou no que se refere à morte quando matou o
personagem mais importante de seu universo: o Super-Homem. Isso impulsionou as vendas como
nunca. A mini-série da morte do Super-Homem, depois o funeral e aqueles tipos de
história "como o mundo está se virando agora sem seu maior herói" venderam
como água. Mas aos poucos o empurrão acabou e a bola começou a rolar para baixo
lentamente, as vendas voltaram a cair, como sempre tendem a fazer, e então a DC fez o que
planejara desde o início: outro empurrão quase que em seguida, que foi o retorno do
Homem de Aço. Não satisfeitos com a primeira parte, desta vez foi uma longa mini-série
que apresentou quatro Super-Homens e terminou por retornar um Super-Homem de cabelos
compridos e dois novos personagens. Depois disso, as histórias voltaram ao normal, a bola
voltou a cair, e a DC fez o casamento do Super-Homem. Voltou a cair de novo e desta vez
eles criaram um novo uniforme e novos poderes pra ele. Caiu de novo e eles criaram um
segundo Super-Homem. E assim continua, e vai continuar, num ciclo sem fim.
Enquanto o Super-Homem morria e voltava, Batman ficava paralítico e arranjava um sucessor
mais violento enquanto lutava para se curar, o Lanterna Verde ficava louco e destruía o
planeta, morria e era substituído por um outro Lanterna. O mesmo acontecia com Flash. A
Terra mergulhava numa noite eterna, a Liga da Justiça entrava em sua milésima formação
e havia uma crise nas infinitas Terras, coisa que fundiu o cérebro de todos os leitores.
Mas se a DC dava inúmeros empurrões em suas vendas, a Marvel não assistia a isso sem
fazer nada. E respondeu no mesmo nível (baixo) com a Saga do Clone, que deixou os
leitores mais confusos que o próprio Homem-Aranha, a Queda e o Massacre de mutantes
(aliás, a própria Marvel deve ter preconceito contra mutantes, pois os X-Men são os que
mais sofrem para impulsionar as vendas). Dissolveu equipes, formou novas, criou aventuras
solo para muitos personagens de equipe, criou um universo totalmente novo, no futuro,
criou a Trilogia do Infinito, fez o Demolidor se fingir de morto por um tempão,
transformou o Wolverine num bicho irracional, fez o Hulk inteligente, matou vários
personagens de equipe (mas a equipe quase nunca). Matou Nick Fury, um dos poucos heróis
sem poderes da Marvel, fez o Justiceiro virar um chefão da Máfia e por aí vai. Mas a
Marvel fez a revolução suprema com a saga Massacre, que simplesmente fez os heróis mais
importantes da Marvel se sacrificarem para matar um inimigo comum (aliás, foi um dos
sacrifícios mas inúteis e ridículos que eu já vi. Leia o especial "Massacre
Marvel" e veja se eles podiam ou não arranjar um jeito para derrotá-lo sem precisar
do sacrifício). Mas é claro, eles não morreram, foram lançados num universo
alternativo e em breve vão voltar. Não se esqueça do velho ditado: "Na Marvel nada
morre. Só por um tempinho."
A Image é igual. A Image é diferente. A Image é igual, porque as pessoas que trabalham
nela podem fazer o que quiserem com os personagens. A Image é diferente porque possui um
profundo respeito pelos criadores dos personagens, que são eles mesmos. E as pessoas mais
importantes para os artistas da Image são os leitores. Quando eles mudam algo no
personagem, sim, eles esperam vender mais. Mas não no aspecto financeiro, e sim, no
aspecto de agradar mais o leitor.
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