Este é o grupo de aranhas, escorpiões, ácaros
e carrapatos, entre outros. De acordo com o registro fóssil, as formas
primitivas eram aquáticas. Os representantes atuais, entretanto, ocupam principalmente
o ambiente terrestre, sendo mais comuns em regiões quentes e secas. A grande
maioria dos membros do grupo têm tamanho reduzido. As aranhas, por exemplo,
costumam medir menos de 25 milímetros de comprimento (as espécies avantajadas
são poucas) e muitos ácaros não têm mais que 0,5 milímetro de comprimento.
É um grupo que desperta curiosidade e também temor, embora, na maioria das
vezes, infundado. Isso ocorre porque alguns membros do grupo apresentam estruturas
de inoculação de veneno, utilizado na captura de pequenas presas, sobretudo
insetos, o que se constitui um benefício para o homem. Entretanto, algumas
aranhas e escorpiões podem eventualmente atacar o homem, causando problemas
sérios com o seu veneno potente. Existem ácaros que atacam plantas, prejudicando
a agricultura, além de parasitarem o homem ou transmitir-lhe doenças. Chama
muito a atenção o fato de aranhas e outros aracnídeos produzirem, em glândulas
especiais, fios de seda que são usados para a construção de ninhos e abrigos,
como as conhecidas teias.
Aranhas
As aranhas
vivem em habitáts variados e são os aracnídeos mais abundantes, com cerca
de 32 mil espécies descritas. Variam em tamanho desde espécies diminutas,
com menos de 0,5 milímetro de comprimento até as grandes tarântulas e caranguejeiras,
que, só no corpo, descontando-se as patas, chegam a 9 centímetros de comprimento.
Algumas espécies de tarântulas da América do Sul alcançam
cerca de 25 centímetros com as patas distendidas. Seu corpo consiste
de um cefalotórax (cabeça fundida ao tórax), coberto dorsalmente por
uma carapaça sólida, e um abdome, unidos por um pedículo delgado.
No cefalotórax, geralmente existem oito olhos simples na região anterior,
e pares de apêndices articulados. O par mais anterior é o de quelíceras, usadas
na captura de alimento. Cada uma apresenta um acúleo em forma de garra onde
se abre o ducto de uma glândula de veneno situada no cefalotórax. O
segundo é o par de pedipalpos, que são curtos e usados no esmagamento
do alimento, mas, em machos, podem atuar como estruturas copulatórias. Servem
também como estruturas de percepção tátil. Os quatro pares restantes são patas
locomotoras. Não há antenas. As aberturas corporais, com exceção da boca,
são abdominais e ventrais, com o destaque para a abertura genital,
as aberturas respiratórias, as fiandeiras por onde saem os fios
de seda para a construção da teia, e o ânus.
Morfologia e anatomia de uma aranha (fêmea).
As aranhas
são animais de vida livre, solitárias e predadoras. Alimentam-se principalmente
de insetos, que podem ser caçados ou aprisionados nas teias. Espécies maiores
utilizam pequenos vertebrados como alimento. A presa
é segura pelas quelíceras, imobilizada e morta pelo veneno. Há espécies que
envolvem a presa em seda antes ou depois de picá-la, de modo a permitir
melhor imobilização. Enzimas produzidas no tubo digestivo são introduzidas
no corpo da presa, permitindo sua digestão antes da deglutição. Depois que
a presa está reduzida a um material quase líquido, é sugada pela aranha,
que não tem mandíbulas e está adaptada somente à ingestão de material líquido
ou partículas pequenas. Quando o alimento está disponível, as aranhas comem
com freqüência. Sofrem várias mudas (de 7 a 13) até atingir
a maturidade. As fêmeas têm vida mais longa: umas morrem após
a postura, outras chegam a durar até 15 anos, acasalando-se e procriando
anualmente. Algumas aranhas em cativeiro, especialmente tarântulas,
podem jejuar durante semanas e viver até 20 anos.
A seda é uma secreção protéica, semelhante àquela
produzida pelas lagartas, originária das glândulas sericígenas abdominais,
e eliminada pelas aberturas das fiandeiras, solidificando-se em um fio quando
entram em contato com o ar. As teias apresentam formatos que variam de acordo
com a espécie e têm múltiplas utilidades. Podem servir como estruturas de
dispersão para aranhas jovens, podem conter gotículas pegajosas que permitem
a captura de presas, podem funcionar como estruturas de hibernação e acasalamento.
Uma função da seda, comum à maioria das aranhas, é o seu uso como fio de guia.
Conforme a aranha se move, deixa atrás de si um fio de seda seco, que é fixado,
de tempos em tempos ao substrato, com uma secreção adesiva. Este fio atua
como um dispositivo de segurança, semelhante ao utilizado por alpinistas.
Quando se vê uma aranha suspensa no ar, após cair de algum objeto, é devido
à continua retenção do fio de guia.
As aranhas caçadoras são dotadas de patas mais grossas e apresentam olhos
muito desenvolvidos. As aranhas papa-moscas saltam sobre a presa graças a
uma distensão repentina das patas, tendo antes prendido um fio guia ao substrato.
As chamadas aranhas-de-alçapão constróem buracos revestidos de seda que são
cobertos por terra ou musgos. Posicionam-se dentro dos buracos, aguardando
a passagem de uma presa sobre a armadilha. Já as teias de captura de presas
apresentam formatos variados e a aranha percebe a captura quando o toque da
presa faz vibrar a teia. As teias são geralmente substituídas todos os dias
ou noites. As aranhas tecedoras de teia têm patas mais finas e não possuem
boa visão, embora sejam muito sensíveis a vibrações.
Aranhas caçadoras possuem olhos mais desenvolvidos.
As aranhas são animais dióicos e o dimorfismo sexual é comum, sendo as fêmeas
maiores que os machos. Em geral, o macho expele os espermatozóides sobre uma
espécie de teia por glândulas seminais localizadas no ventre
formando "pacotes", denominados espermatóforos. Estes são sugados
pelos órgãos copuladores, localizados na extremidade dos pedipalpos,
que são munidos de um êmbolo. Os espermatóforos são transferidos
à fêmea através dos pedipalpos, que são inseridos em sua abertura genital.
Normalmente há uma corte elaborada, que permite o reconhecimento dos parceiros.
Isso é extremamente útil para esses animais, que apresentam hábitos predatórios
sofisticados. Podem ser usados estímulos químicos e tácteis, mas algumas espécies
valem-se de movimentos de dança ou posturas especificas. A fêmea, em algumas
espécies, mata e devora o macho após o acasalamento, mas isto não é comum.
Há espécies que se acasalam vezes durante a vida; outras só realizam o acasalamento
uma vez. A fecundação interna é outra adaptação à vida em meio terrestre.
Após a postura, os ovos são depositados em um casulo formado por fios de seda.
Este casulo ou ooteca pode ficar preso à teia ou ser carregado pela
fêmea. Não há estágios larvais, ou seja, o desenvolvimento é direto. Existem
cuidados com a prole; após a eclosão, os filhotes são protegidos pela mãe,
podendo ser carregados sobre o abdome durante os primeiros dias de vida. Existem
certas formas que realizam um fenômeno chamado aerostação. Neste caso, a aranha
jovem sobe os ramos de uma árvore ou mesmo na grama, libera um fio de seda
e quando o vento é suficiente para arrastar o filamento, a aranha se liberta
e é levada pelas correntes de ar. Com isso podem ser carregadas a grandes
distâncias, permitindo a dispersão da espécie.
Aranha com ooteca.
O veneno da maioria das aranhas não é tóxico ao homem, mas há algumas espécies
perigosas. A viúva-negra tem veneno neurotóxico, causando, algum tempo após
a picada, sintomas graves e dolorosos. Casos fatais são raros. As aranhas-marrons
possuem veneno hemolítico, que causa ulceração e necrose no local da picada.
O veneno das grandes aranhas caranguejeiras não é perigoso para os
humanos, porém elas liberam cerdas defensivas irritantes do abdome
que penetram na pele de outros organismos, podendo causar erupções na pele
do homem.
Escorpiões
Os escorpiões
são os mais antigos artrópodes terrestres conhecidos, como demonstra o registro
fóssil. Apresentam vida noturna e, ao contrário do que imagina-se, não se
restringem a zona áridas, sendo que muitas espécies necessitam de ambiente
úmido. São aracnídeos grandes, geralmente variando de 3 a 9 centímetros de
comprimento, embora o escorpião imperial africano (Pandinus imperator)
atinja 18 centímetros. Têm o corpo alongado, com o cefalotórax curto e abdome
segmentado terminando em uma projeção, o pós-abdome, em cuja extremidade
existe um aguilhão venenoso utilizado na captura de presas de maior porte.
Os pedipalpos são grandes, terminando em pinças, sendo utilizados para
a captura de presas e defesa.
Morfologia externa de um escorpião.
O escorpião eleva o pós-abdome sobre o corpo, dobrando-se para a frente, realizando
um movimento de punhalada ao efetuar a picada. Embora tóxico o suficiente
para matar muitos invertebrados, o veneno da maioria dos escorpiões não chega
a ser fatal para o homem. Apenas algumas espécies apresentam veneno com toxidade
suficiente para matar pessoas, como Androctonus, do deserto do Saara,
que pode provocar a morte em seis a sete horas. O veneno é neurotóxico, causa
fortes dores, e pode provocar paralisia dos músculos respiratórios e parada
cardíaca.
Nos escorpiões, as quelíceras não são venenosas e servem apenas para rasgar
a presa durante a alimentação. Ventralmente, no
abdome, há um par de pentes lamelares, que são exclusivos dos escorpiões
e têm função sensitiva. Antes do acasalamento algumas espécies realizam uma
dança de cortejamento, na qual o macho fixa um espermatóforo no solo, depois
agarra a fêmea com as pinças e a conduz de modo a passar sua abertura genital
sobre o esperma. São ovovivíparos ou até mesmo vivíparos, ou seja, os ovos
são incubados no aparelho reprodutor feminino. Os filhotes, quando nascem,
têm apenas alguns milímetros de comprimento e imediatamente se arrastam sobre
o dorso da mãe, vivendo alguns dias sobre o abdome. Aos poucos, os filhotes
tornam-se independentes, alcançando a idade adulta em cerca de um ano.
Carrapatos
e Ácaros
Ácaros e carrapatos são pequenos, muitos chegam a ser microscópicos, e apresentam
o cefalotórax e o abdome fundidos e
não segmentados, cobertos por uma carapaça protetora. Estão distribuídos por
todo o planeta, até mesmo em regiões polares, desertos e fontes termais. Acredita-se
que a miniaturização tenha sido um fator fundamental no sucesso dos ácaros,
permitindo a exploração de habitáts não-acessíveis a aracnídeos maiores. Muitos
são parasitas e por isso mesmo muito importantes para o homem. Apresentam
desenvolvimento indireto, com estágio larval de seis patas que, após uma muda,
origina um indivíduo de oito patas. Ácaros são comuns em todos os lugares,
alimentando-se de material vegetal e animal frescos ou em putrefação, além
de seivas de plantas, pele, sangue e outros tecidos de vertebrados terrestres.
Carrapatos alimentam-se de sangue de répteis, aves e mamíferos, utilizando
suas pinças bucais sugadoras. Chegam a expandir o corpo quando repletos de
sangue. Os hábitos alimentares são muito variados, mas conservam a característica
dos aracnídeos de ingerir líquidos e, no caso de alimentos sólidos, realizar
digestão externa que prepara o alimento para a ingestão. Alguns ácaros causam
sérios problemas para plantações de algodão e árvores frutíferas, entre outras.
Entre os ácaros parasitas do homem, existem os que atingem os folículos pilosos
e glândulas sebáceas, como Demodex folliculorum, que provoca a formação
de cravos, e parasitas cutâneos, como Sarcoptes scabiei, o causador
da sarna humana. Este forma túneis na epiderme e libera secreções que provocam
forte irritação. A deposição contínua de ovos nos túneis garante a perpetuação
da infestação. O contato com áreas infestadas da pele pode transmitir o ácaro
para outro hospedeiro.
Outros
aracnídeos
Os escorpiões-vinagre
são semelhantes aos escorpiões, mas possuem um delgado pós-abdome sem aguilhão
venenoso, o que os torna inofensivos ao homem. O par de patas dianteiros são
mais compridos e finos
que os outros três pares, sendo usados para tatear o caminho ao andar,
encontrar água e comida. Vivem próximos de pedras, pedaços
de madeira, e folhas úmidas. Seu tamanho aproximado é de 6 centímetros.
Possuem hábito noturno, se alimentando de insetos, aranhas etc. Embora
possa picar com as quelíceras, o escorpião-vinagre não
possui glândulas de veneno nelas. No abdome existem glândulas que se
abrem próximas do ânus e produzem uma secreção rica em ácido acético, que
é eliminado quando o animal é perturbado. O jato pode alcançar até
meio metro de distância e a mira é precisa. Este líquido, com
forte odor de vinagre, pode causar queimaduras ao homem. A fêmea
põe cerca de 35 ovos grandes e quando os filhotes nascem sobem no abdome
da mãe, até que cresçam e possam cuidar de si mesmos.
Durante esse período eles realizam várias mudas.
Os opiliões
têm o corpo ovalado e patas longas, muito semelhante à aranhas, mas
eles são "parentes" distantes. Possuem cefalotórax
e abdome fundidos, formando um só bloco. Atingem, em média,
4 centímetros de comprimento, contando as grandes patas. Vivem em lugares
úmidos, precisando beber muito líquido em épocas secas,
senão seu corpo endurece, dificultando a locomoção. Se
alimenta de invertebrados, incluindo outros opiliões, restos de carne
e vegetais. Embora não apresentem glândulas de veneno, possuem glândulas de
"mau cheiro" para defesa. Também podem perder uma pata ou fingir de
morto quando ameaçados.
O escorpiaõ-ventania
é um parente do escorpião que corre velozmente e é dotado
de um apetite voraz. São também conhecidos como solífugos,
vivendo em regiões desérticas e bem quentes. É considerado
um dos mais rápidos invertebrados terrestres, atingindo a velocidade
de 12 km/h. Muitos deles, durante o dia, escondem-se em tocas na areia, na
terra ou sob pedras. Alguns costumam sair de suas tocas durante o dia e por
isso são chamados de "aranhas do sol". O corpo do solífugo
é pequeno em relação aos quatro pares de patas longas
e peludas, alcançando com elas entendidas, o comprimento de 15 centímetros.
Além de se deslocar a grandes velocidades, ele também pode
mudar de direção bruscamente, andando até de "costas".
É um animal carnívoro e caçador. Utilizando as seis patas
traseiras, corre com os pedipalpos e o par de pernas dianteiras estendidos
para frente, a fim de "sentir" a presença de comida. Todo
seu corpo é recoberto por longos pêlos sensoriais, além
de possuir excelente visão. Escorpiões-ventania do norte da
África detêm um recorde: suas mandíbulas, comparadas com
os 7 centímetros de seu corpo (sem as patas), são as mais fortes
do mundo animal. Seu veneno não é perigoso ao homem, mas sua
picada é dolorosa. Possue dieta variada, incluindo insetos, aranhas,
escorpiões, vermes e ainda lagartixas e em alguns casos pequenos pássaros.
Come tanto que chega a prejudicar seus movimentos. O acasalamento é
muito difícil, já que o macho corre o risco de ser devorado
ao chegar perto da fêmea. Depois do acasalamento, a fêmea come
muito, reunindo forças para a dura tarefa que tem pela frente: escavar
o solo com as mandíbulas e pôr de 100 a 250 ovos. Enquanto os
filhotes não se tornam independentes, a mãe fica levando comida
para eles e protegendo a toca contra invasores.
Escorpião-ventania do norte da África.
Os pseudo-escorpiões são como escorpiões em miniatura, mas não têm o pós-abdome,o aguilhão e os pentes. As glândulas de veneno são associadas aos pedipalpos. Produzem seda em glândulas próximas às quelíceras, usada para construir ninhos para se abrigar do inverno, se proteger após realizar a muda e cuidar das crias. São encontrados no solo, em pedras e sob as cascas de árvores. Embora bastante comuns, são raramente vistos, devido seu pequeno tamanho, alcançando em média 0,5 milímetro de comprimento. Locomovem-se "pegando carona" em outros animais, como formigas. São parecidos com os escorpiões devido a presença das garras dos pedipalpos. Possuem um ou dois pares de olhos pequenos e seus apêndices são recobertos por longas cerdas sensitivas usadas para detectar presas (pequenos insetos, aranhas e outros animais terrestres pequenos) e evitar predadores. Capturam suas presas com as garras dos pedipalpos, injetando veneno antes de ingeri-las. Se reproduzem da mesma maneira que os escorpiões e a fêmea põe de 2 a 50 ovos em uma bolsa sob o corpo. Podem se dispersar da mesma maneira que as aranhas (através do vento).
Variedade de espécies de pseudo-escorpião.