Sobre a repressão social na cultura

SPUR
Lothar Fisher, Dieter Kunzelmann, Uwe Lausen,
Heimrad Prem, Helmut Sturm, Hans-Peter Zimmer

 Individualmente, os artistas da época moderna que não reproduzem simplesmente as mistificações admitidas são relegados com mais ou menos claridade à margem da vida social, porque se vêm obrigados a plantar, ainda que seja através de meios ilusórios ou fragmentários, a questão do significado desta vida, a questão de sua utilização. Enquanto esta segue carecendo de significado, se encontra desprovida de toda utilização lícita que não seja o consumo passivo. Por tanto os artistas sinalizam, naturalmente, as más condições de um mundo inabitável, e sua exclusão pessoal deste mundo, seja mediante a separação confortável, ou mediante a eliminação trágica, se produz, assim dizendo, naturalmente.

Pelo contrário, os grupos de vanguarda que formulam claramente um programa de modificação de todas estas condições ou de algumas delas chocam-se com uma repressão social consciente e organizada. As formas desta repressão têm mudado muito, por exemplo, há quarenta anos, com a evolução da sociedade e de seus inimigos.

Por volta de 1920 na Europa o que provocava o escândalo contra os valores admitidos da cultura e da vida social era sinalizado com o dedo. A vanguarda estava maldita então, e era conhecida como tal. Na sociedade que tem se desenvolvido desde a última guerra mundial já não há valores, e a acusação floreada de não respeitar uma convenção qualquer só pode encontrar a adesão dos setores atrasados do público, que seguem apegados a sistemas coerentes de convenções muito fora de moda (como a concepção cristã). Os controladores da cultura e da informação já não levantam escândalos em volta dos que são portadores de um novo sistema de valores: tendem a organizar somente o silêncio.

Estas novas condições de luta atrasam, sobretudo, o trabalho da nova vanguarda revolucionária: obstruem sua formação e logo retardam seu desenvolvimento. Mas possuem também um significado muito positivo: a cultura moderna está vazia, nenhuma força sólida poderá se opor às decisões desta vanguarda enquanto houver alcançado fazer-se reconhecer como tal. A tarefa desta vanguarda deve ser unicamente impor um dia seu reconhecimento antes de ter desejado que sua disciplina e seu programa se pervertam. É o que a Internacional Situacionista Pensa saber.

Spur, 1961.

Declaração publicada em fevereiro de 1961 no n° 04 de Spur, órgão da seção alemã da I.S. e no n° 06 da Internacional Situacionista. Tradução do espanhol por membros do Coletivo Gunh Anopetil (em www.geocities.yahoo.com.br/anopetil).

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Ver também: Programa para um novo urbanismo e Arquitetura para a vida

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