Geopolítica da hibernação

 

O “equilíbrio do terror” entre os grupos de estados rivais é o dado essencial mais visível da política mundial, e supõe atualmente um equilíbrio da renuncia: a de cada um dos protagonistas à permanência do outro; e no interior de suas fronteiras, a renuncia das pessoas a um destino que lhes escapam tão completamente, que a própria existência do planeta se apresenta como uma vantagem aleatória, dependente da prudência e da habilidade de impenetráveis estratégias. Isso implica decididamente uma renuncia generalizada diante o existente, os poderes coexistentes dos especialistas que organizam esta fatalidade. Estes falam de uma vantagem agregada neste equilíbrio que por enquanto permite a rápida liquidação de toda experiência original de emancipação surgida à margem de seus sistemas, principalmente no atual movimento dos países subdesenvolvidos. Mediante este mesmo encadeamento de neutralização de uma ameaça por outra – qualquer que seja o protetor que jogue separado em cada ocasião – se esmagou o impulso revolucionário do Congo com o envio do corpo expedicionário das Nações Unidas (dois dias depois de seu desembarque, em primeiro de julho de 1960, as tropas de Gana, que foram as primeiras a chegar, serviram para arrasar a greve de transporte de Leopoldville), que é igual à de Cuba com a formação de um partido único (em março de 1960, o general Líster, cujo papel na repressão da revolução espanhola é conhecido, acaba de ser nomeado Chefe do Estado Maior adjunto do exército cubano).

Nenhum desses dois campos prepara a guerra efetiva, mas sim a conservação indefinida desse equilíbrio à imagem da estabilização interna de seu poder. Também não quer dizer que ele deverá mobilizar recursos gigantescos, pois é imperativo manter sempre a escalada no espetáculo da guerra possível. Barry Commoner, que preside o comitê científico encarregado pelo governo do Estados Unidos da América de avaliar as destruições previstas por uma guerra termonuclear, anuncia que uma hora depois de se iniciar, haveria 80 milhões de americanos mortos, e os demais não teriam esperança alguma de seguir vivendo normalmente. Os estados maiores, que em seus preparativos ao calculam mais que em megabody (unidade que representa um milhão de cadáveres), tem admitido a futilidade de aventurar seus cálculos além do primeiro meio dia, o carecer de informação experimental para uma planificação ulterior. Segundo Nicolas Vichney (Le monde, 5 de janeiro de 1962) já existe uma tendência vanguardista na doutrina da defesa americana que considera que “o melhor procedimento de dissuasão consistiria na possessão de uma gigantesca bomba termonuclear enterrada no subsolo. Quando o adversário atacar, ela se estouraria e a Terra se deslocaria”.

Os teóricos deste “Sistema do Juízo Final” (Doomsday System) têm encontrado certamente a arma absoluta da submissão; pela primeira vez tem traduzido em poderes técnicos precisos o retrocesso da história. Mas a lógica rigorosa desses doutrinários só responde a um aspecto da necessidade contraditória na sociedade da alienação, cujo projeto indissolúvel reside em impedir a vida das pessoas organizando sua sobrevivência (cf. a oposição entre os conceitos de vida e de sobrevivência, Vaneigem descreve mais detalhadamente em Banalidades Básicas). Assim, com seu desprezo pela sobrevivência que pesa a tudo constitui a condição indispensável da exploração atual e futura do trabalho humano, o Doomsday System só pode jogar o papel de ultima parte das burocracias reinantes, ser paradoxalmente, a garantia de suas necessidade. Mas no conjunto, para ser plenamente eficaz, o espetáculo da guerra futura deve modelar desde o presente o estado de paz que conhecemos servindo suas exigências fundamentais.

A este respeito, o extraordinário desenvolvimento dos refúgios antiatômicos durante 1961 constitui certamente a rotação decisiva da guerra fria, um salto qualitativo cuja imensa importância no processo de formação de uma sociedade totalitária e cibernetizada em escala planetária será reconhecida mais tarde. Este movimento tem começado no Estados Unidos da América, onde já em janeiro passado, em sua Mensagem sobre o estado da União, Kennedy assegurava ao Congresso: “o primeiro programa sério de refúgios de defesa civil se encontra em vias de execução, com a identificação, localização e reserva de cinqüenta milhões de lugares; e solicito a aprovação do apoio outorgado pela autoridade federal para a construção de refúgios antiatômicos em escolas, hospitais, e centros similares”. Esta organização estatal da sobrevivência tem se estendido rapidamente, com maior ou menor segredo, aos demais países importantes de ambos os blocos. A Alemanha Ocidental, por exemplo, tem se preocupado principalmente com a sobrevivência do Chanceler Adenauer e de sua equipe, e a divulgação das realizações neste campo tem provocado o seqüestro da revista de Munich Quick. Na Suíça e Suécia instalam-se refúgios coletivos escavados em suas montanhas, onde os trabalhadores enterrados com suas fábricas podem continuar produzindo ininterruptamente até a consagração do Doomsday System. Mas a base da política de defesa civil se encontra no Estados Unidos da América, onde numerosas sociedades florescem, como a Peace O’Mind Shelter Company do Texas, a American Survival Products Corporation de Maryland, a Fox Hole Shelter Inc. da Califórnia ou a Bee Safe Manufacturing Company de Ohio, e asseguram a publicidade e a instalação de grande quantidade de refúgios individuais, quer dizer, edificados em regime de propriedade privada para a organização da sobrevivência de cada família. Sabe-se que em torno desta moda se desenvolve uma nova interpretação da moral religiosa, afirmando alguns eclesiásticos que constituiria claramente um dever de negar o acesso a estes refúgios e seus amigos desconhecidos, inclusive a mão armada, para garantir assim a salvação de sua única família. Na realidade, a moral deve se adaptar à situação para contribuir no perfeccionismo deste terrorismo da conformidade subjacente a toda a publicidade do capitalismo moderno. Já era difícil de suportar o fato de a família e os vizinhos não terem o modelo de automóvel que permite adquirir determinado nível de salário (sempre reconhecível nas grandes concentrações urbanas do tipo americana, posto que a localização do habitat se efetiva precisamente em função do dito nível de salário). Contudo não será mais garantida a nós a marca da sobrevivência acessível segundo a conjuntura do mercado.

Considerava-se geralmente que no Estados Unidos da América, a partir de 1955, a saturação relativa da demanda de “bens duradouros” provocaria uma insuficiência no estímulo que o consumo deve proporcionar à expansão econômica. Pode-se compreender assim a extensão da onda de todo tipo de gadgets[1] que representam um excremento muito maleável do setor de bens semiduradouros. Mas a importância do refúgio se revela plenamente desprezível na perspectiva do necessário relançamento desta expansão. Com a implantação de refúgios e suas previsíveis prolongações cai tudo por consertar na humilde terra. As possibilidades de equipamentos de habitat devem se reconsiderar pelo falso jogo. Trata-se realmente da instalação de uma nova durabilidade em uma dimensão nova. Estas invenções subterrâneas em camadas até hoje abandonadas na sociedade da abundância introduzem por si mesma um relançamento de bens semiduradouros já em uso na superfície, como a explosão dos alimentos em conserva, de que cada refúgio necessita de um estoque de grande abundância; mas também de novos gadgets específicos como esses paletós de matéria plástica para conter as pessoas condenadas a morrer no refúgio e a permanecer nele, naturalmente, com os sobreviventes.

É fácil se dá conta de que estes refúgios individuais que já se disseminam por todas as partes jamais terão utilidade alguma – por negligências técnicas tão estúpidas como, por exemplo, a falta de autonomia no abastecimento de oxigênio – e que os refúgios coletivos mais aperfeiçoados não oferecerão mais que uma margem muito reduzida de sobrevivência caso, por acidente, se desencadeie efetivamente a guerra termonuclear. Mas como em todas as máfias, a proteção aqui é apenas um pretexto. A verdadeira utilidade dos refúgios consiste na medição – e por tanto na consolidação – da submissão das pessoas, e a manipulação dessa submissão no sentido mais favorável para a sociedade dominante. Os refúgios, enquanto  criação de um novo artigo consumível na sociedade da abundância, demonstram mais que nenhum dos produtos anteriores podem fazer os homens trabalharem para satisfazerem necessidades abertamente artificiais, que sem dúvida alguma “seguem sendo necessidades, ainda não são desejos” (cf. Preliminares em 20 de julho, 1960) nem correm perigo de chegar a sê-los. Este caso é limite da medida do poder desta sociedade, de seu temível gênio automático. Chega-se a proclamar brutalmente que impõe uma existência vazia e desesperante até o extremo em que renunciar parece a melhor solução para todo o mundo, conseguindo, contudo fazer um negócio saudável e rentável com cordas padronizadas. Todavia, com toda sua riqueza capitalista, o conceito de sobrevivência significa um suicídio adiado até o momento do esgotamento, uma renuncia diária da vida. A rede de refúgios – que não estão destinados à guerra, mas sim ao imediato – esboçam a imagem, ainda que exagerada e caricaturada, da existência desprezível do capitalismo burocrático levado ao seu grau de perfeição. Um neocristianismo acode para repensar seu ideal de renuncia, uma nova humildade compatível com o relançamento industrial. O mundo dos refúgios se reconhece a si mesmo como um vale de lágrimas com ar-condicionado. A coalizão de todos os dirigentes e de seus sacerdotes de todo tipo poderá aproveitar o desprezível lema unitário: o poder da catalepsia mais o hiper-consumo.

Ainda que a sobrevivência, como o contrário da vida, raras vezes se elege por plebiscito tão claramente como no caso dos compradores de refúgio de 1961, ela se reencontra em todos os níveis da luta contra a alienação: na antiga concepção da arte que acentua a sobrevivência através da obra-de-arte, como confissão da renuncia da vida, como pretexto e consolação (principalmente desde a época burguesa da estática, substituto laico do trans-mundo religioso), e igualmente no estágio mais irredutível da necessidade, nos imperativos da sobrevivência alimentícia ou de moradia com a “chantagem da utilidade” que denuncia o Programa elementar da oficina de urbanismo unitário (cf. Internacional Situacionista, nº 6), o qual elimina toda crítica humana “com o simples argumento de que faz falta um teto”. O novo habitat que conforma as “grandes concentrações” não é realmente diferente da arquitetura dos refúgios. Esta só reapresenta um grau inferior, ainda que seu similar seja estreito e passe de um a outro sem solução prevista para continuidade: o primeiro exemplo na França é um conjunto atualmente em construção em Niza, cujo porão tem sido adaptado como refúgio anti-atômico para os seus habitantes. A organização concentradora da superfície é o estado normal duma sociedade em formação, cuja conclusão subterrânea representa seu excesso patológico. A enfermidade revela fielmente a estrutura da saúde. O urbanismo da indignação está a pondo de fazer-se dominante na superfície, e não só nos núcleos de população do Estados Unidos da América, mas também em países muito mais atrasados que a Europa, e inclusive, por exemplo, na Argélia durante o período néocolonialista proclamado atrás do “Plano de Constantine”. No final de 1961, a primeira versão do plano nacional de regulamentação do território francês – cuja formulação se suavizou mais tarde – lamentava no capítulo dedicado à região parisiense a “obstinação de uma população inativa em habitar-se no território da capital”, enquanto que nos arredores, especialistas graduados na felicidade e no possível, assinalavam que “poderia morar mais comodamente fora de Paris”. Pediam, por tanto, a eliminação desta penosa irracionalidade legalizando “a dissuasão sistemática da permanência destas pessoas inativas” em Paris.

Como a principal atividade válida consiste evidentemente em questionar sistematicamente os cálculos dos gestores encarregados do funcionamento de uma sociedade semelhante, basta sua eliminação concreta, e como eles mesmo pensam neles com muito mais constância que a massa manipulada de executantes, os planejadores dispõe suas defesas em todas as ordenações modernas do território. O planejamento de refúgios para a população, já consiste normalmente em um teto singelo ou em um panteão familiar habitável preventivamente na “abundância”, e há de servir na realidade para manter seu próprio poder. Os dirigentes que controlam a conservação e o isolamento máximo de seus súditos sabem entrincheirar-se, pela mesma razão, com fins estratégicos. Os Haussman do século XX já não têm que assegurar o desdobramento de suas forças repressivas na quadrícula das velhas aglomerações urbanas. Ao mesmo tempo em que dispersam a população em um raio amplo, em cidades novas que apresentam esta quadricula em estado puro (onde a inferioridade das massas desarmadas e privadas dos meios de comunicação se agrava claramente em relação com as forças cada vez mais especializadas da polícia), edificam capitais fora de seu alcance onde a burocracia dirigente poderá constituir, para maior segurança, a totalidade da população.

Pode-se indicar em diferentes estágios de desenvolvimento destas cidades-governo: a “zona militar” de Tirana, um bairro separado da cidade e defendido pelo exercito, onde se concentram as habitações dos dirigentes da Albânia,  o edifício Comitê Central, assim como os estabelecimentos escolares e sanitários, os depósitos e as distrações para esta elite que vive na autarquia; a cidade administrativa de Rocher Noir, edificada em um ano para ser a capital da Argélia quando as autoridades francesas se mostraram incapazes de manter a normalidade em uma grande cidade, corresponde exatamente a função da “zona militar” de Tirana, mas se reergueu em campo aberto; temos finalmente o exemplo mais notável de Brasília, construída ao centro de um vasto deserto e cuja inauguração coincidiu precisamente com a destruição do presidente Quadros por seu exercito e os preâmbulos de uma guerra civil no Brasil que por muito pouco não sofreu os moldes de uma capital burocrática, a qual constitui ao mesmo tempo, como se sabe, o triunfo exemplar da arquitetura funcional.

Diante deste estado de coisas, muitos especialistas começam a denunciar numerosos absurdos inquietantes. Não compreendem a racionalidade central (a racionalidade do delírio coerente) que domina esses aparentes absurdos parciais a que forçosamente conduz sua própria atividade. Sua denuncia do absurdo não pode ser nada que não um absurdo, tanto em sua forma como em seus meio. O que pensar dos novecentos professores de todas as universidades e institutos de investigação das regiões de Nova York e Boston que em 30 de dezembro de 1961 se dirigiram solenemente no New York Herald Tribune ao presidente Kennedy e ao governador Rockefeller – alguns dias antes de se orgulhar em ter selecionado, para começar, 50 milhões de refúgio – para persuadi-los do nefasto desenvolvimento da “defesa civil”? Ou do bando abundante de sociólogos, juizes, arquitetos, policiais, psicólogos, pedagogos, sanitaristas, psiquiatras e jornalistas que não deixam de encontrar-se em congressos, comissões e colóquios de todo tipo, todos à busca de uma solução urgente para humanizar as “grandes aglomerações”? A humanização das grandes aglomerações é uma mitificação tão ridícula como a humanização da guerra atômica, e pelas mesmas razões. Os refúgios não trazem consigo a guerra, mas destina a ameaça da guerra à “ordem humana” no sentido que define ao homem no capitalismo moderno: seu dever de consumidor. Esta investigação sobre a humanização pretende, de boa fé, o estabelecimento comum das mentiras mais eficazes para sufocar a resistência das pessoas. Enquanto o tédio e a falta completa de vida social caracterizam os grandes conjuntos periféricos de forma tão imediata e tangível como o frio de Verkhoïansk, as revistas femininas consagram reportagens a ultima moda dos novos bairros periféricos, fotografando seus manequins nessas zonas e entrevistando as pessoas satisfeitas. Como o poder embrutecedor da decoração pode se medir pelo grau de desenvolvimento intelectual das crianças, se acentua em um penoso legado de mal-viver derivado da miséria clássica. A ultima teoria reformista põe suas esperanças numa espécie de centro cultural, sem empregar essa palavra para não espantar ninguém. Nos planos do Sindicato de Arquitetos do Sena, o “bistrot-club” pré-fabricado, que humanizará por todas partes sua obra, se apresenta (cf. Le Monde, 22 de dezembro de 1961) como uma “cela plástica” retangular (28x18x14m) que comporta “um elemento estável: o bistrot sem álcool que vende indistintamente tabaco e periódicos; o resto poderá reservar-se a diferentes atividades artesanais de bricolagem... tem que converter-se em uma vitrine com todo o caráter de sedução que ele comporta. Pela concepção estética e pela qualidade dos materiais serão escrupulosamente estudados para conseguir seu pleno efeito tanto de noite como de dia. O jogo de luzes deve informar sobre a vida do bistrot club”.

Eis aqui, e apresentado em termos profundamente reveladores, o descobrimento que “pode facilitar a integração social a um certo nível que forjaria a alma de uma pequena cidade”. A ausência de álcool não significa nada: sabemos que atualmente na França a juventude das bandas não necessita deste para romper com tudo. Os blousons noirs (blusões negros) parecem ter quebrado com a tradição francesa de alcoolismo popular, que segue jogando um papel tão importante no hooliganismo do Leste, e não utilizam, porém como a juventude americana, a marihuana nem entorpecentes mais fortes. Ainda que ligados ao transito vazio entre as duas excitantes etapas históricas distintas, não por que manifesta uma violência menos nítida em resposta precisamente a este mundo que descrevemos e à horrível perspectiva de ocupar no seu buraco. Deixando de lado o fato da subversão, o projeto dos arquitetos sindicados é coerente: seus clubes de cristal pretendem chegar a ser um instrumento do controle agregado encaminhado a essa alta vigilância da produção e do consumo que constitui a famosa integração perseguida. O recurso simplesmente manifestado à estética da vitrine se esclarece perfeitamente através da teoria do espetáculo: nesses bares desalcoolizados os consumidores fazem a si mesmos espetaculares na mesma medida em que devem sê-lo os objetos de consumo na falta de outro atrativo. O homem perfeitamente alienado tem seu lugar na vitrine como imagem desejável da alienação.

A falha interna do sistema reside em que não pode alienar totalmente aos homens; necessita fazê-los atuar e obter sua participação, sem a qual dependeria tanto a produção da alienação como seu consumo. O sistema reinante encontra, pois em disputa com a história, com sua própria história, que é às vezes a história de sua consolidação e a de sua contestação.

Atualmente o mundo dominante, apesar de certas aparências, se dá mais que nunca (depois de um século de lutas e da liquidação entre as duas guerras de todo o movimento operário clássico, que representava a força de contestação geral) por definitivo sobre a base do enriquecimento e da extensão infinita do modelo sem prazo, a percepção deste mundo não pode fundamentar mais que sua contestação. E essa contestação não é verdadeira nem realista se não com contestação da totalidade.

A pavorosa falta de idéias que possa se reconhecer em todos os atos da cultura, da política, da organização da vida e de tudo mais, se explica por esta mesma razão, e a debilidade dos construtores modernistas de cidades funcionais não é mais que um exemplo particularmente visível. Os especialistas inteligentes só têm inteligência para jogar o jogo dos especialistas: daí o conformismo medroso e a falta fundamental de imaginação que os fazem admitir que tal qual a produção é útil, boa, necessária. Na realidade, a raiz da falta de imaginação reinante não pode compreender-se se não unir-se à imaginação da falta; quer dizer, conceber o que está ausente, proibido e oculto, e é por tanto possível na vida moderna.

Não estamos ante uma teoria desvinculada do modo em que as pessoas tomam a vida; pelo contrário, estamos em uma realidade desvinculada da teoria na mente das pessoas. Quem levando bastante longe a “coexistência com o negativo”, no sentido hegeliano, reconhece explicitamente esta carência como sua força principal e seu programa, fará aparecer o único projeto positivo capaz de derrubar os muros do sonho, a medida da sobrevivência, as bombas do juízo final e os megatons da arquitetura.

I.S., 1962


[1] Dic. Michaelis: dispositivo mecânico ou eletrônico, aparelho, equipamento eletrônico (em geral pequeno e moderno). (N.T)

 Artigo publicado no nº 7 da revista Internacional Situacionista, abril de 1962.
Segunda tradução (espanhol – português) por membros do Gunh Anopetil.

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Ver também: Programa para um novo urbanismo e Outra cidade para outra vida.

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