JOGO DRAMÁTICO

O jogo dramático é aquele fazer-de-conta que não possui intencionalidade de exibição para observadores ou “plateia”.

Trata-se de uma representação lúdica de natureza dramática que busca satisfazer as necessidades afectivas, cognitivas e psicomotoras dos jogadores. As acções representacionais do sujeito podem ser dirigidas para os parceiros corporalmente engajados no jogo mas não têm qualquer preocupação de exibição para eventuais observadores externos àquele fazer-de-conta.

Exemplos do que se denomina aqui jogo dramático


O FAZ-DE-CONTA

Podem ser identificadas três modalidades de

 brincadeira do “fazer-de-conta”

(1) Faz-de-conta com personificação

(2) Faz-de-conta com personificação e projecção

(3) Faz-de-conta projectado

Uma discussão do papel do faz-de-conta no desenvolvimento cultural da criança encontra-se em JAPIASSU, Ricardo. “O faz-de-conta e a criança pré-escolar”. In: Revista da Faeeba. Salvador: Uneb, Ano 9, n. 14, jul/dez 2000, p. 135-153. Para adquirir a Revista da Faeeba basta ir ao site da Uneb, clicar sobre publicações e em seguida sobre revistas


Faz-de-conta com personificação

Esse tipo de “fazer-de-conta” refere-se à brincadeira na qual a criança experimenta papéis sociais do seu meio cultural (mãe, filho, doutor, motorista de autocarro, etc).

O sujeito, nesta modalidade de actividade lúdica, procura agir “como se fosse” uma personagem (heroína de conto-de-fadas, super-herói do cinema, TV, vídeo-game, revista em BD, etc) ou busca representar coisas (igreja, automóvel, avião), seres vivos, reais e imaginários (animais, plantas, alienígenas), elementos e fenómenos da natureza (fogo, trovão), antropomorfizando-os.

O que se denomina aqui faz-de-conta com personificação diz respeito então ao engajamento activo (corporal) da criança na tomada de papéis em representações lúdicas de natureza dramática, tanto solitárias como intersubjetivas ( Ex: crianças em grupo brincando de “médico”; criança sozinha brincando com seus bonecos de “escolinha”, no papel de professor).

O faz-de-conta com personificação tem sido denominado também jogo de papéis (J. L. Moreno, Gilles Brougére e Zilma de Oliveira entre outros), jogo protagonizado ( Danil Elkonin ), dramatização e até mesmo, inapropriadamente, de teatro infantil 

(Observe a distinção entre jogo dramático e jogo teatral que se faz aqui)

 

Faz-de-conta com personificação e projecção

O faz-de-conta com personificação e projecção é o comportamento lúdico da criança que, ao brincar de “mãe (pai)-e-filhos” com bonecos, por exemplo, empresta sua voz aos bonecos sem no entanto abrir mão de “protagonizar” o papel de “mãe (pai)”. Ao agir dessa maneira o sujeito, neste caso, “contracena” consigo mesmo, recorrendo à sua “projeção” nos bonecos, para exercer, através deles, paralelamente, os papéis de “filhos”.

Neste tipo de conduta lúdica a criança exterioriza tanto a fala da “mãe” como a fala dos “filhos”. Sua voz é emprestada aos bonecos, para ela poder dialogar imaginariamente com eles.

Trata-se de um comportamento de grande complexidade porque o sujeito torna-se capaz de tomar a perspectiva de um interlocutor imaginário, alternando sua actuação dramática em diferentes papéis ou personagens.

A esta modalidade sofisticada de faz-de-conta pesquisadores do comportamento lúdico infantil não têm se referido.

 

O faz-de-conta projectado

O faz-de-conta projectado refere-se à brincadeira de “fazer-de-conta” na qual a criança se utiliza de brinquedos que são “animados” por intermédio de manipulações por parte do sujeito. Tais objectos podem ser utilizados para representar PAPÉIS, PERSONAGENS, LUGARES ou COISAS de um enredo dramático que se desenvolve sobretudo no plano intra-mental da criança.

Esse “enredo” imaginário conduz e determina a movimentação lúdica dos brinquedos por parte da criança. O sujeito, neste caso, converte-se em uma espécie de “encenador” ou “diretor cinematográfico” porque coordena (ao tempo em que também observa) o desenrolar dos acontecimentos nos “lugares” imaginados por ele. É por isso que este tipo de faz-de-conta costuma ser denominado jogo de encenação (Gilles Brougère e D. Elkonin ).

Trata-se de um “fazer-de-conta” quase sempre mais solitário e que apresenta um maior grau de dificuldade para interacções entre os sujeitos, embora isso possa também ocorrer. Geralmente esta modalidade de faz-de-conta é acompanhada por vocalizações e verbalizações do sujeito que tendem à uma interiorização progressiva à medida que a criança vai crescendo.

Esta modalidade de faz-de-conta refere-se portanto à actividade lúdica de natureza representacional dramática infantil na qual a criança manipula objectos projectando-se neles para o exercício de papéis a partir de um “enredo” subjectivo e intra-mental (Ex: manipulação de soldados miniaturizados em uma “batalha”).


 Dramatização

Conceitos

Sabemos que cada menino vive de uma forma profunda o que ele está representando, colocando neste papel gestos, expressões, personalidades e espírito coerentes com o que ele acredita ser o personagem vivido. Se isto realmente for verdade, com uma pequena orientação e correcção por parte dos adultos a respeito dos detalhes da representação o menino poderá ganhar por meio dela uma vivência maior, compreendendo e conhecendo os mais diversas personagens, personalidades, impulsos emocionais e instintos do ser humano, adaptando-se com istomais facilmente à vida social, com vantagens de desenvolver um senso de ponderação e justiça mais aguçado.

 

Técnicas de Aplicação

Três elementos essenciais são encontrados nas técnicas de dramatização:

Entre os tipos poderemos encontrar os seguintes:

livres, mímicas, pantomimas, marionetas, sombras, óperas, dobragens, radionovelas, coreografias, jograis, monólogos, noticiários, sombras, dobragens.

Como temas poderemos usar os seguintes:

contos infantis, fábulas, passagens bíblicas, história (pré-história, medieval, antiga, brasileira, etc.), povos (chineses, nações indígenas, egípcios, romanos, etc), lendas folclóricas, poesias, canções, quadros parados, frases (provérbios), palavras (liberdade, lealdade, honestidade), situações do quotidiano (no lar, passeios, na escola,...), heróis (BatMan, Tarzan, Robinson, etc) profissões (carpinteiro, bombeiro, médico, etc) itens do adestramento (segurança, serviço, trânsito, etc), sendo naturalmente admitido o tema livre.

Finalmente, com relação à forma, entendem-se os seguintes elementos:

enredo, organização das falas, expressão corporal, caracterização, cenário, sonorização, luz.

A combinação destes elementos é que formará a apresentação, sendo admitidas inúmeras variações, p. ex.:

 ou

 ou

Com base nos exemplos acima, fica fácil visualizar a riqueza que as dramatizações representam na elaboração das nossas actividades.

É importante salientar que as dramatizações devem ser aplicadas progressivamente, oferecendo-se primeiro desafios mais simples quanto ao tipo, ao tema e a forma, assim: quadros parados são muito mais simples do que fazer uma opereta e serão vencido facilmente pelos mais tímidos. Aliás, em se tratando de timidez, as formas em que não se exige a exibição do próprio corpo são as mais adequadas (p. ex.: a radionovela e os fantoches e sombras).

A dificuldade é também progressiva no tocante ao tema: uma fábula conhecida é muito mais simples de representar do que a palavra "lealdade", por exemplo.

Finalmente, podemos alternar as solicitações feitas aos alunos com a forma. Podemos p. ex. oferecer o enredo pronto, porém os alunos deverão desenvolver a caracterização e o cenário. Isto será um excelente exercício de criatividade.

As dramatizações são preciosas também porque se combinam com outros recursos de ensino, pois na elaboração de um cenário ou na confecção de roupas exercitam-se as habilidades manuais. A confecção de fantoches, a elaboração do teatro com seu respectivo cenário, o enredo, os ensaios e a posterior apresentação poderão ser um belíssimo projecto da classe, com proveito em vários aspectos.

Existem vários jogos que se combinam com elementos teatrais e podem ser usados como exercícios de dramatização.

Finalmente, é bom notar que existe uma diferença entre as histórias e as dramatizações na proporção da utilização de seus elementos e nos benefícios que os alunos tiram deles.

Na dramatização temos uma participação preponderantemente activa, os alunos usam de suas emoções no seu desempenho. Assim, o conteúdo da dramatização, ou seja "a mensagem", fica em segundo plano.

Já nas histórias, por termos uma conduta passiva de parte dos alunos, não encontraremos os benefícios da exteriorização. Em primeiro plano temos o conteúdo e por meio dele trabalharemos internamente com os alunos As histórias desenvolvem o carácter, o raciocínio, a imaginação e o senso crítico.

 

Exemplos

(1)      Uma criança fazendo de conta que é “mãe”, ao brincar solitariamente com suas bonecas, em que ela, a criança, não está preocupada em “exibir-se” para possíveis observadores de suas acções representacionais. Se há alguma intencionalidade, com este tipo de actividade lúdica, por parte do sujeito, ela encontra-se na busca de satisfação inconsciente de desejos e necessidades afectivas, cognitivas e psicomotoras pessoais, enredadas circunstancialmente no brincar da criança. O sujeito permanece de tal forma envolvido com o seu fazer-de-conta que não percebe se está, ou não, sendo observado. Não há portanto intenção, por parte da criança, de “exibir” sua actividade lúdica para possíveis observadores de suas acções representacionais.

 

(2)      Crianças brincando juntas de “Polícia e ladrão”. Neste caso, as acções representacionais dos sujeitos são intencionalmente dirigidas para os parceiros corporalmente engajados naquele fazer-de-conta intersubjetivo, ou colectivo, mas não levam em conta se existem ou não observadores externos à actividade lúdica do grupo.  

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