JOGO
DRAMÁTICO
O
jogo dramático é aquele fazer-de-conta
que não possui intencionalidade de exibição para
observadores ou “plateia”.
Trata-se
de uma representação lúdica de natureza dramática que busca satisfazer as
necessidades afectivas, cognitivas e psicomotoras dos jogadores. As acções
representacionais do sujeito podem ser dirigidas para os parceiros corporalmente
engajados no jogo mas não têm qualquer preocupação de exibição para
eventuais observadores externos àquele fazer-de-conta.
Exemplos
do que se denomina aqui jogo dramático
O
FAZ-DE-CONTA
Podem
ser identificadas três modalidades de
brincadeira
do “fazer-de-conta”
(1)
Faz-de-conta
com personificação
(2)
Faz-de-conta
com personificação e projecção
Uma
discussão do papel do faz-de-conta no desenvolvimento cultural da criança
encontra-se em
Faz-de-conta
com personificação
Esse
tipo de “fazer-de-conta” refere-se à brincadeira
na qual a criança experimenta papéis sociais do seu meio cultural (mãe,
filho, doutor, motorista de autocarro, etc).
O
sujeito, nesta modalidade de actividade lúdica, procura agir “como se
fosse” uma personagem (heroína de conto-de-fadas, super-herói do cinema, TV,
vídeo-game, revista em BD, etc) ou busca representar coisas (igreja, automóvel,
avião), seres vivos, reais e imaginários (animais, plantas, alienígenas),
elementos e fenómenos da natureza (fogo, trovão), antropomorfizando-os.
O
que se denomina aqui faz-de-conta
com personificação diz respeito então ao engajamento activo
(corporal) da criança na tomada de papéis em representações lúdicas de
natureza dramática, tanto solitárias
como intersubjetivas ( Ex: crianças
em grupo brincando de “médico”; criança sozinha brincando com seus bonecos
de “escolinha”, no papel de professor).
O
faz-de-conta
com personificação tem
sido denominado também jogo de papéis
(J. L. Moreno, Gilles Brougére e Zilma de Oliveira entre outros), jogo
protagonizado ( Danil
Elkonin ), dramatização
e até mesmo, inapropriadamente, de teatro
infantil
(Observe
a distinção
entre jogo dramático e jogo teatral que se faz aqui)
Faz-de-conta
com personificação e projecção
O
faz-de-conta com personificação e projecção
é o comportamento lúdico da criança que, ao brincar de “mãe
(pai)-e-filhos” com bonecos, por exemplo, empresta sua voz aos bonecos sem no
entanto abrir mão de “protagonizar” o papel de “mãe (pai)”. Ao agir
dessa maneira o sujeito, neste caso, “contracena” consigo mesmo, recorrendo
à sua “projeção” nos bonecos, para exercer, através deles,
paralelamente, os papéis de “filhos”.
Neste
tipo de conduta lúdica a criança exterioriza tanto a fala da “mãe” como a
fala dos “filhos”. Sua voz é emprestada aos bonecos, para ela poder
dialogar imaginariamente com eles.
Trata-se
de um comportamento de grande complexidade porque o sujeito torna-se capaz de
tomar a perspectiva de um interlocutor imaginário, alternando sua actuação
dramática em diferentes papéis ou personagens.
A
esta modalidade
sofisticada de faz-de-conta pesquisadores do comportamento lúdico
infantil não têm se referido.
O
faz-de-conta projectado refere-se à brincadeira de
“fazer-de-conta” na qual a criança se utiliza
de brinquedos que são “animados” por intermédio de manipulações
por parte do sujeito. Tais objectos podem ser utilizados para representar PAPÉIS,
PERSONAGENS, LUGARES ou COISAS de um enredo dramático que se desenvolve
sobretudo no plano intra-mental da criança.
Esse
“enredo” imaginário conduz e determina a movimentação lúdica dos brinquedos
por parte da criança. O sujeito, neste caso, converte-se em uma espécie de
“encenador” ou “diretor cinematográfico” porque coordena (ao tempo em
que também observa) o desenrolar dos acontecimentos nos “lugares”
imaginados por ele. É por isso que este tipo de faz-de-conta costuma ser
denominado jogo de encenação (Gilles
Brougère e D.
Elkonin ).
Trata-se
de um “fazer-de-conta” quase sempre mais solitário
e que apresenta um maior grau de dificuldade para interacções
entre os sujeitos, embora isso possa também ocorrer. Geralmente esta modalidade
de faz-de-conta é acompanhada por vocalizações e verbalizações do sujeito
que tendem à uma interiorização progressiva à
medida que a criança vai crescendo.
Esta
modalidade de faz-de-conta refere-se portanto à actividade
lúdica de natureza representacional dramática
infantil na qual a criança manipula objectos projectando-se neles para o exercício
de papéis a partir de um “enredo” subjectivo e intra-mental (Ex: manipulação
de soldados miniaturizados em uma “batalha”).
Conceitos
Sabemos que cada menino vive de uma forma profunda o que ele está representando, colocando neste papel gestos, expressões, personalidades e espírito coerentes com o que ele acredita ser o personagem vivido. Se isto realmente for verdade, com uma pequena orientação e correcção por parte dos adultos a respeito dos detalhes da representação o menino poderá ganhar por meio dela uma vivência maior, compreendendo e conhecendo os mais diversas personagens, personalidades, impulsos emocionais e instintos do ser humano, adaptando-se com istomais facilmente à vida social, com vantagens de desenvolver um senso de ponderação e justiça mais aguçado.
Técnicas de Aplicação
Três elementos essenciais são encontrados nas técnicas de dramatização:
Entre os tipos poderemos encontrar os seguintes:
livres, mímicas, pantomimas, marionetas, sombras, óperas, dobragens, radionovelas, coreografias, jograis, monólogos, noticiários, sombras, dobragens.
Como temas poderemos usar os seguintes:
contos infantis, fábulas, passagens bíblicas, história (pré-história, medieval, antiga, brasileira, etc.), povos (chineses, nações indígenas, egípcios, romanos, etc), lendas folclóricas, poesias, canções, quadros parados, frases (provérbios), palavras (liberdade, lealdade, honestidade), situações do quotidiano (no lar, passeios, na escola,...), heróis (BatMan, Tarzan, Robinson, etc) profissões (carpinteiro, bombeiro, médico, etc) itens do adestramento (segurança, serviço, trânsito, etc), sendo naturalmente admitido o tema livre.
Finalmente, com relação à forma, entendem-se os seguintes elementos:
enredo, organização das falas, expressão corporal, caracterização, cenário, sonorização, luz.
A combinação destes elementos é que formará a apresentação, sendo admitidas inúmeras variações, p. ex.:
ou
ou
Com base nos exemplos acima, fica fácil visualizar a riqueza que as dramatizações representam na elaboração das nossas actividades.
É importante salientar que as dramatizações devem ser aplicadas progressivamente, oferecendo-se primeiro desafios mais simples quanto ao tipo, ao tema e a forma, assim: quadros parados são muito mais simples do que fazer uma opereta e serão vencido facilmente pelos mais tímidos. Aliás, em se tratando de timidez, as formas em que não se exige a exibição do próprio corpo são as mais adequadas (p. ex.: a radionovela e os fantoches e sombras).
A dificuldade é também progressiva no tocante ao tema: uma fábula conhecida é muito mais simples de representar do que a palavra "lealdade", por exemplo.
Finalmente, podemos alternar as solicitações feitas aos alunos com a forma. Podemos p. ex. oferecer o enredo pronto, porém os alunos deverão desenvolver a caracterização e o cenário. Isto será um excelente exercício de criatividade.
As dramatizações são preciosas também porque se combinam com outros recursos de ensino, pois na elaboração de um cenário ou na confecção de roupas exercitam-se as habilidades manuais. A confecção de fantoches, a elaboração do teatro com seu respectivo cenário, o enredo, os ensaios e a posterior apresentação poderão ser um belíssimo projecto da classe, com proveito em vários aspectos.
Existem vários jogos que se combinam com elementos teatrais e podem ser usados como exercícios de dramatização.
Finalmente, é bom notar que existe uma diferença entre as histórias e as dramatizações na proporção da utilização de seus elementos e nos benefícios que os alunos tiram deles.
Na dramatização temos uma participação preponderantemente activa, os alunos usam de suas emoções no seu desempenho. Assim, o conteúdo da dramatização, ou seja "a mensagem", fica em segundo plano.
Já nas histórias, por termos uma conduta passiva de parte dos alunos, não encontraremos os benefícios da exteriorização. Em primeiro plano temos o conteúdo e por meio dele trabalharemos internamente com os alunos As histórias desenvolvem o carácter, o raciocínio, a imaginação e o senso crítico.
Exemplos
(1)
Uma
criança fazendo de conta que é “mãe”, ao brincar solitariamente com suas
bonecas, em que ela, a criança, não está preocupada em “exibir-se” para
possíveis observadores de suas acções representacionais. Se há alguma
intencionalidade, com este tipo de actividade lúdica, por parte do sujeito, ela
encontra-se na busca de satisfação inconsciente
de desejos e necessidades afectivas, cognitivas e psicomotoras pessoais,
enredadas circunstancialmente no brincar da criança. O sujeito permanece de tal
forma envolvido com o seu fazer-de-conta que não percebe se está, ou não,
sendo observado. Não há portanto intenção,
por parte da criança, de “exibir” sua actividade
lúdica para possíveis observadores de suas acções
representacionais.
(2)
Crianças
brincando juntas de “Polícia e ladrão”. Neste caso, as acções
representacionais dos sujeitos são intencionalmente dirigidas para os parceiros
corporalmente engajados naquele fazer-de-conta intersubjetivo, ou colectivo, mas
não levam em conta se existem ou não
observadores externos à actividade
lúdica do grupo.