ANGÉLICA MARIA LIMA MANSANO GARCIA

Assuntos Teológicos


NADA SEREI


“Ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei”. (1Cor 13.3) 

Porquê?

Porque o amor é o dom sublime, “o caminho sobremodo excelente” (1 Cor 12.31) porquanto o próprio “Deus é amor” (1 Jo 4.8) e a vida que nos foi dada em abundância, como conseqüência do amor do Pai por nós, uma vez que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho para que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (Jo 3.15-16). 

Tiago diz que apesar de se ‘observar a lei régia segundo a Escritura que diz “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” e que fazemos bem em assim proceder, e que, todavia, se fazemos acepção de pessoas cometemos pecado sendo argüidos pela lei como transgressores, “pois, qualquer que guarda toda a lei (i.e, fazer tudo corretamente e ‘direitinho’  por religiosidade ou observância da lei, cumprindo ritualismo e ordenanças, sem o amor no foco correto) mas que tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos (os outros pontos” -cf Tiago 2.8-10), “porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gálatas 5.14). O outro ‘primeiro e grande mandamento é semelhante a este’: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e profetas” (Mt 22.40). O amor é a base, o centro da lei! Assim, antes de amar ao meu próximo e a mim mesma devo amar a Deus em primeiro lugar. Daí se infere que se eu O amo, saberei como amar a mim e aos outros, de acordo com esse novo padrão. 

Porquê?

Porque “se não tiver amor, eu nada serei”. Sem Ele, Jesus, nada podemos fazer (João 15.5). Precisamos aprender a amar segundo o padrão de Deus; o nosso conceito de amor e o nosso jeito de amar são diferentes do divino, só amamos verdadeiramente quando aprendemos dEle, quando estamos reconciliados com Ele através de Jesus, “em quem Ele (Deus Pai) se compraz” (Marcos 1.11; 9.7; leia Romanos 8.29). O pecado que existe em nós nos deforma, ou seja, a nossa prévia perfeição com a qual Deus nos criou (no paraíso) decaiu com o pecado cometido, e afastou-nos de Deus, por causa de seus atributos. Se você disser que não estava no paraíso e não tem nenhuma responsabilidade em relação ao erro deles lá, conscientize-se de que em qualquer época da sua vida você, como eu, além de ter nascido com essa herança espiritual, cometeu pecado de qualquer natureza, e assim, já não está ‘perfeito’ aos olhos de Deus, e perdeu igualmente a comunhão com Ele, pois como está escrito “as nossas iniqüidades fazem separação entre nós e o nosso Deus; e os nossos pecados encobrem o seu rosto de nós, para que (Ele) não nos ouça” (Isaías 59.2). Conscientize-se da necessidade urgente do reconciliador, o Salvador, o Sumo Sacerdote que intercede diretamente na presença do Pai a nosso favor, do Senhor e Rei, o Cristo, Jesus. 

Esse mandamento Ele nos deu: que nos amemos uns aos outros como Ele nos amou (João 13. 34-35). No contexto dessa passagem, Jesus está comendo com seus discípulos, e levantando-se no meio da ceia, cingiu-se com a sua túnica, e começou a lavar os pés dos seus apóstolos, num gesto de humildade, no qual lhes revela que o “servo não é maior que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou”, e assim diz que ele “nos deixou o exemplo, para que assim como ele fez, façamos nós também (Jo 13, 1-35). 

Naquela atmosfera de ceia e ensinamento prático é que ele dá esse “novo mandamento”, estando em particular com os discípulos, dando uma mensagem específica àqueles que Ele mesmo quis chamar a si (cf. Jo 15.16; Mc 3.13) aos quais enviaria para propagação da sua palavra (cf. Mc 16.15, 20; Mt 28.19-20). Assim, num verso pouco mais à frente, Ele diz: “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” ( João 13.35). E adverte: “se sabeis estas coisas, bem aventurados sois se as praticardes” (João 13. 17). 

Isto implica em ser misericordioso, amar entendendo que sem o Cristo tanto aquela pessoa a quem devemos amar como cada um de nós estaríamos sem salvação, separados eternamente de Deus, se não fosse pelo sacrifício do Filho por nós. E o Pai se compraz no Filho porque foi o único que O obedeceu perfeitamente crendo nele até o fim, além de não ter caído em pecado, por obediência e fé, mesmo sabendo que se encaminhava para morte, e morte de cruz, a mais humilhante daqueles tempos. Cumpriu, assim, toda a exigência da lei em nosso lugar! 

Veja a marca com que Jesus distingue seus seguidores, nada mais nem além do que o amor! (Quem ama obedece, não discute: não se discute com Deus!) O amor na verdade, jamais acaba; dos outros três dons –fé, esperança e o amor-, descritos no versos 8 só o amor permanece (v.13), pois lá na glória já não precisaremos da fé, uma vez que ela se tornou realidade, e do mesmo modo, a esperança, pois alcançamos o nosso objetivo: estar na glória –chame de céu, se quiser- pela fé!  

O amor é o “caminho sobremodo excelente” (1 Cor 12.31b) e nós sabemos que Jesus é o caminho (Jo 14.6), que “Ele e o pai são um”, que “Deus é amor”, e que ele nos exorta a permanecermos nele (Jo 15.4), e todo aquele que permanece nele dá frutos (v. 2, 4, 16) para que assim, o Pai seja glorificado e nos tornemos seus discípulos (v.8), uma vez que ele disse que permanecemos no seu amor “se guardamos os seus mandamentos” (v. 7 e 10), segue-se que estas  verdades podem, realmente, ser resumidas nessa “uma só palavra”, escrita anteriormente: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22. 37 e 39; cf. Gálatas 5.14). 

Frutos: “...e todo aquele que permanece nele dá frutos”. Interessante notarmos que o primeiro dos frutos do Espírito é o amor! (Gl 5.22: “os frutos do Espírito são: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, mansidão e domínio próprio”), pois se estamos nele, como ele determina (“permanecei em mim”) ele “permanece em nós” (João 15.4), e conseqüentemente, as nossas ações só poderão ir se distanciando das ações e atitudes puramente “carnais em que outrora andávamos, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos, segundo o curso deste mundo” (Ef 2.1-3), visto que quando somos convertidas a ele, “por ser Deus rico em misericórdia e por causa do seu grande amor com que nos amou” (v.4) fomos “regeneradas pela ação do seu Santo Espírito” (Tt 3.5), “pois pela graça somos salvos mediante a fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus, não de obras para que ninguém se glorie, pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.8). 

Isso é amor!

Assim, passando Jesus a ser senhor das nossas vidas, nos esforçamos para que elas estejam, de fato, submissas à sua vontade, fazendo-nos co-participantes da natureza divina, uma vez que “nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas nos tornemos co-participantes da natureza divina, livrando-nos da corrupção das paixões que há no mundo; por isso mesmo, reunindo toda a nossa diligência, associando com a nossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em nós e em nós aumentando, fazem com que não sejamos nem inativos nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Pe 1.3-8). 

Assim, “cresçamos na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”! (2 Pe 3.18) 

(Isso é amor! – notem que tudo gira em torno do amor, e se resume nele também, pois “Deus amou o mundo de tal maneira...” e “somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”! cf. Ef 2.10). 

E, então, eis que se abre diante de nós um imenso, reto e perfeito canal de bênçãos, pois a vontade dele é que estará prevalecendo na nossa vida para o nosso bem, pois temos um “Deus zeloso” (Dt 5.9) “que tem cuidado de nós (1Pedro 5.7); pois quem há de “nos maltratar se formos zelosos do bem?” (1Pe 3.13). É ele quem tem a palavra da verdade para não nos deixarmos confusos, sem saber para onde ir: “Para onde iremos, Senhor, só tu tens a palavra de vida eterna?” (Jo 6.68).

Enfim, nós amamos porque ele nos amou primeiro (1 Jo 4.19). É-nos oferecido um Amor de um Deus todo-poderoso, santo e criador, para seres pecadores incapazes de boas ações a não ser nele, e por ele (Ef 2.10; Jo 15.5). A Ele cabe a honra e a glória. 

Amor é poder enxergar nele a luz da vida, pois quem anda nele e o segue, não anda nas trevas, ao contrário, terá a luz da vida! (Jo 8.12). Andar nas trevas é não ter amor (1Jo 2.9), e as Escrituras nos dizem que nos fazemos mentirosos se dissermos que estamos na luz, mas não amamos o nosso irmão, que conhecemos a Deus, mas não conseguimos amar um irmão (1Jo 1.6), e que também somos assassinos quando não amamos e permanecemos na morte por falta de amor ao irmão! (1Jo 3.14-5). 

Palavras duras!... 

Mas há esperança e novidade de vida nele mesmo: em primeiro lugar “porque as trevas já se vão dissipando, e a verdadeira luz já brilha!” (1Jo 2.8); pois de nós mesmos, por nossa própria vontade amaríamos no seu sentido correto? Ou não escolheríamos a quem amar, dada a nossa natureza caída pelo pecado? Se não fosse a regeneração operada em nós (Tito 2.5), estaríamos ainda nas trevas, “mortos em nossos pecados e delitos” (Ef 2.1). 

E em segundo lugar, somente conseguiremos esta difícil façanha nele, guardando a sua palavra e os seus mandamentos, como está escrito: “aquele que guarda sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus” e “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama, e o que me ama será amado por meu pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (1 Jo 2.5; Jo 14.21). 

Não seria necessário demonstrar que não temos forças nem para amar corretamente, segundo Seu padrão, nem em espírito e nem em verdade, sem ele, pois, o amor é definido como “paciente e benigno”; que “não arde em ciúmes”, “não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura seus próprios interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta; o amor jamais acaba” (1Cor 4-8): quem de nós ama realmente assim?  

E mais ainda: qualquer coisa ou tentativa de amor fora dele é tolice e “correr atrás do vento”. Está escrito que “no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus, porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias” (1Pe 4.2-3), como “também todos nós andávamos outrora, seguindo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3). Devemos ser “todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes (...), pois para isso mesmo fomos chamadas” (...) “busque a paz e empenhe-se por alcança-la” (1 Pe 3. 9,11). 

Até aqui, as coisas continuam redundantes, pois, vão e voltam àquela palavra que resume “toda a lei e profetas”, pois o mesmo que é amor é também paz! Empenhando-nos para alcançá-lo (e isso me faz lembrar de que ele se faz achar: “buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o teu coração” –Dt 4.29; Jr 29.13-) estaremos num fluxo de mão dupla no qual a nossa busca nele é retro-alimentada pelo investimento dele em amor por nós (desde a eternidade!), que nos movimenta nele, por ele e para ele mesmo (cf Ef 2. 8-10), enquanto vivemos e aprendemos com ele aquilo que ele veio ensinar; e estando nele, devemos permanecer nele e andar como ele andou” (1 Jo 1.6) e “assim como recebestes a Cristo, o Senhor, andai nele, nele radicados e edificados, confirmados na fé, tal como fostes instruídos crescendo em ações de graças” (Cl 2.6-7). 

Isso é amor: dele primeiro para nós e de nós por meio dele, para com os outros, na graça de Deus Pai, pela intercessão de seu Santo Espírito, que nos ensina e nos faz crescer quando nos deixamos conduzir pelas suas mãos. Nisto declaramos que o amamos: quando nos deixamos moldar por essas mãos, a sua palavra, como crianças em crescimento! “Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos” (1Jo 5.2). 

“Ora, o nosso mesmo Deus e Pai, e Jesus, nosso Senhor, dirijam-nos o caminho (...) e o Senhor nos faça crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como também nós para convosco” (cf 1Ts 3.11-12) e “acima de tudo isto (...) esteja o amor, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3.14) porque como está escrito, um dia não precisaremos mais de fé nem de esperança, mas quanto ao amor este jamais passará, sendo que desses três, fé, esperança e amor, o amor é o maior! (cf 1Cor 13.13). 

Finalmente, na minha esperança e novidade de vida “não (...) que eu tenha já obtido a perfeição, mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistada por Cristo Jesus” (...) “prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3. 12, 14). 

Só assim, então, deixarei de nada ser... 

Que “o Senhor nos abençoe e nos guarde, faça resplandecer sua face perante nós e nos dê a paz”. Amém.

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