ANGÉLICA MARIA LIMA MANSANO GARCIA

Assuntos Missionários


EMOÇÕES E BÊNÇÃOS: INÍCIO DAS MISSÕES NO BRASIL!
 


Emoções e Bênçãos: Início das Missões no Brasil!

Embarque conosco nessa emocionante aventura! 
 

1. O Descobrimento do Brasil e o Mundo Cristão Naquela Época

        As expedições que se lançavam ao mar a fim de descobrir novas terras naquelas épocas levavam consigo frades e sacerdotes católicos romanos, pois seus governos acreditavam que a extensão do Cristianismo era uma parte do seu dever junto às novas terras.
Assim, com o descobrimento do Brasil, no final da Idade Média, o então novo mundo passou a ser alvo também da intenção e ação missionária da Igreja que existia, a Católica Romana. Posteriormente à Reforma, teria atenção dos protestantes europeus, e mais tarde da dos norte-americanos, que tinham como objetivo trazer as boas novas da salvação, e não simplesmente ‘converter’ os nativos a uma religião (proselitismo) como veremos adiante.

Aqueles primeiros anos viriam a coincidir com a Reforma Protestante, de 1517.  Esta teve êxito através de Martin Luther, o Martinho Lutero (1483-1546), monge agostiniano saxão desde os 22 anos de idade, que aos 34, prega as suas famosas 95 teses na porta da Igreja do Castelo, em Wittenberg, no dia 31 de Outubro de 1517, gerando o movimento da Reforma.
De modo que o Brasil tinha apenas 17 anos quando esta surgiu (e Lutero, 17 anos quando o Brasil nasceu!).
Na Europa daquele tempo, a Reforma foi se expandindo rapidamente, dando grande contribuição ao desenvolvimento do mundo por causa da luz do evangelho jogada sobre ele. Espalhava-se na Alemanha, enquanto Guilherme Farel levava Genebra a se render à Jesus, obra essa posteriormente sedimentada pelo francês Jean Calvin, o João Calvino  (1509-1564), responsável também pela expansão da Reforma na França. (note que Calvino nasceu 9 anos após o descobrimento do Brasil, e estaria na sua última década de vida quando o evangelho reformado começa a chegar por aqui)
Não tardaria violenta reação da Igreja Católica ao movimento da Reforma, como é sabido, e uma das ações mais eficazes foi a da Companhia de Jesus, que na prática era conhecida como os “Jesuítas”.
Formada em 1540 dentro do Movimento de Contra-Reforma da Igreja Católica Romana, foi organizada pelo espanhol Inácio de Loyola (1491-1556).
Loyola tinha o grande desejo de se tornar famoso como soldado, mas, aleijado aos 28 anos por um grave ferimento entra anos mais tarde para o convento, buscando agora, ser um ‘grande santo’ como São Domingos ou São Francisco de Assis.
Ele era de caráter forte, influenciado tanto pelos anos de exército quanto pelos conceitos da idade média; era extremamente zeloso e muito influente. Anos depois de estar no convento, estudou Teologia por mais outros seis anos, seguindo conselhos dos seus superiores.
Loyola cria cegamente na divina instituição da Igreja romana, e que a verdadeira religião consistia numa absoluta devoção aos interesses dessa Igreja e ao papa.

Organizada por ele, então, recrutou cuidadosamente os melhores homens para a Companhia, com o fim de os espalhar como missionários pelo mundo a fim de promover o progresso eclesiástico e espalhar o domínio da Igreja de Roma pelo mundo, lutar contra os inimigos dessa Igreja, e controlar o avanço do protestantismo a qualquer custo e meios possíveis, com total obediência ao papa, sob juramento, função que se atiravam com heroísmo, e zelo excessivo.

Na França, a aristocracia adere à Reforma e não se submetia facilmente à perseguição, e um movimento armado tem início.
Os adeptos são chamados de “Huguenotes” – “parentes do (Rei) Hugo” - apelido jocoso, inicialmente imposto aos protestantes da cidade de Tours, na França, pelos católicos romanos, instigados pela pregação de um monge, dizendo que assim deveriam ser chamados, já que costumavam reunir-se à noite no portão do palácio do Rei Hugo, porque o povo do lugar cria que o espírito desse Rei perambulava durante a noite, como faziam aqueles protestantes. 
Finalmente, a guerra estoura em 1562; os protestantes foram dirigidos pelo Almirante Coligny e pelo Príncipe Condè (que lutavam também contra a Rainha regente Catarina de Médicis).
Os católicos foram dirigidos pelos Jesuítas e pelo Rei Filipe II da Espanha.
Essa foi a primeira de oito “Guerras Religiosas” que duraram trinta anos. Mas, mesmo antes dessa, houve conflitos e perseguições contra os Reformadores e seus adeptos.

O partido católico romano estava decidido a lançar mão de toda e qualquer crueldade, e assim o fez.
Na terrível noite de São Bartolomeu, em 1572, num período de paz, Catarina de Médicis ordena um massacre onde dezenas de milhares de Huguenotes se reuniam para o casamento de Henrique de Navarra, matando líderes protestantes inclusive Coligny.
A partir daí, outros massacres vieram, e cerca de setenta mil protestantes morreram.
O papa daquela época enviou congratulações à Catarina e ambos se regozijaram no grande feito da Rainha.
Os crentes se reabilitaram e continuaram a lutar até 1598, quando termina a guerra, e o então Édito de Nantes garante aos crentes maior tolerância.

Então, huguenotes fogem para o Brasil

Fugindo daquela França de perseguição, muitos Huguenotes vieram para o Brasil aportando na Baía de Guanabara em 7 de março de 1557.
Tinham o propósito de ajudar a estabelecer um lugar de refúgio para a comunidade Huguenote francesa.
Muitos morreram no mar, outros foram expulsos, outros perseguidos também aqui, e ainda, outros quatro foram condenados à morte no ano seguinte, 1558, pelo então governador da província, o francês Nicolas Durand de Villegaignon
(*), fundador da primeira povoação francesa no Brasil.

Eram crentes calvinistas

Esses primeiros crentes calvinistas a pisarem quando presos foram obrigados a dar razão da sua fé, “a professar por escrito sua fé no prazo de doze horas, respondendo uma série de perguntas que lhes foram entregues. Eles assim o fizeram, e escreveram a primeira Confissão de Fé na América, em 1558, sabendo que com ela estavam assinando a própria sentença de morte”. Esses irmãos (Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon), usaram suas Bíblias como instrumento. Sabe-se que o carrasco não conseguiu levar o enforcamento a termo, pela fé demonstrada por aqueles crentes. Então, o jovem José de Anchieta (1534-1597, portanto, com 24 anos de idade nessa época), padre jesuíta que havia chegado ao Brasil em 1553 toma para si mesmo a responsabilidade de acabar com os ‘hereges’, provavelmente crendo que assim estivesse defendendo os interesses de Deus. Os quatro huguenotes são mortos.

Pois, embora eles professassem o Credo Apostólico e se baseassem na Bíblia foram assim julgados: hereges. Na Confissão afirmaram a intercessão de Jesus por nós, como único mediador junto a Deus; rebatem o celibato e a questão dos votos, a transubstanciação, a questão do livre-arbítrio, e as tradições humanas incorporadas aos ensinos bíblicos. Ademais, enfatizam o sacerdócio de Cristo e o poder de perdoar os pecados, e tratam da questão do culto aos mortos. (“Confissão de Fé da Guanabara”, 1558;
veja mais em:
http://www.geocities.com/arpav/biblioteca/confissaoguanabara.html).
 



(*)
Nicolas Durand de Villegaignon (1510-1572) (...) era um católico fervoroso e pouco flexível. Pertencia à Ordem de Malta, uma entidade meio religiosa, meio militar que exigia fidelidade e obediência cegas e voto de castidade de seus membros. Esse personagem vive em uma época tumultuada por guerras de religião. A divisão da cristandade surgida com a reforma protestante vai se refletir na colônia fundada no Brasil. Conflitos entre protestantes e católicos são transplantados para os trópicos e ajudam a explicar o fracasso da colonização francesa.
O pano de fundo também explica o retrato muitas vezes péssimo de Villegaignon, caluniado há quatro séculos por cronistas protestantes, sobretudo pelo livro de Jean de Léry, "Viagem à Terra do Brasil", cujas repetidas edições renovam periodicamente as acusações descabidas dos pastores calvinistas que fracassaram no Rio de Janeiro". (Extraído de
"Villegagnon e a França Antártica” - Ações do colonizador francês no século 16 são contextualizadas, por Ricardo Bona Lume Neto em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1702200120.htm .
[Note que esse livro citado nesse artigo sobre Villegaignon é também citado no texto sobre a “Confissão de Fé da Guanabara”. Com isto temos duas visões diferentes sobre um mesmo fato histórico, provavelmente dado à diferente posição religiosa de seus autores]. 

 

AVANÇO DO EVANGELHO

[Figura grande: aguarde a carga se a conexão estiver lenta]


 


2. Como o Brasil começou a ser evangelizado?

Embora no Brasil a obra missionária só tenha começado pouco depois de meados do século XVI, em 1549 (quando a Reforma Protestante tinha apenas 32 anos de idade), aqueles religiosos que aportavam nas terras descobertas vindos nos navios dos descobridores, tratavam de ‘converter’ os nativos (no caso, índios) à religião dos seus dominadores, e muitos índios eram batizados ‘em massa’. Alguns enfrentaram ‘a cruz ou a espada’ para decidirem a favor do batismo, embora não fosse hábito de rotina.  Com o intuito de domesticá-los ou socializá-los, foram vestidos com roupas semelhantes às dos seus colonizadores, porém, no íntimo, esses nativos mantinham as mesmas crenças e logo voltavam às práticas pagãs com as quais estavam acostumados, por falta de cuidados pastorais.

Há relato de que os franciscanos batizaram três mil índios no ano do descobrimento, e os jesuítas ‘converteram’ 100 mil até 1584. Enquanto que na parte espanhola das Américas os espanhóis tivessem cerca de 200 cidades e vilas com uma população hispânica combinada de cerca de 160.000 pessoas, a coroa espanhola reinava sobre sete milhões de índios e sobre 40 mil escravos negros, recebendo um afluxo de centenas de missionários hispânicos que ganharam a grande maioria desses índios para a fé ‘cristã’ (católica), e estabelecerem a hierarquia eclesiástica com mais desenvoltura; no Brasil, o processo de organização da religião foi mais lento, apresentando apenas uma diocese quando a América Hispânica tinha “dúzias”!

O primeiro bispo brasileiro foi Dom Pedro Fernandes Sardinha que desde o início tinha conflitos com os jesuítas, havendo quebra da resistência que estes exerciam quanto à escravização dos índios que protegiam em aldeias. O rei de Portugal, por sua vez, não dava liberdade plena para que a Igreja crescesse e realizasse sua tarefa, apesar do interesse real de que o país fosse católico, “mas não demasiadamente”. Assim, comparativamente falando, depois de 100 anos de instituição canônica nos Estados Unidos da América, a Igreja Católica tinha 84 bispos e arcebispos, enquanto que no Brasil, em 100 anos de catolicismo tinha uma só diocese; em 200 anos apenas sete, no fim de 300 anos, apenas 10 dioceses!

Não haviam Missões Transculturais naquela época!

As Igrejas Reformadas lutavam pela própria sobrevivência e não tiveram interesse (ou condições emocionais?) por missões.
A julgar pelo catolicismo existente tanto no Brasil como pela América Latina o feito dos missionários romanos é considerado ‘um sucesso extraordinário’, não se podendo julgar seus métodos, seus motivos ou suas mensagens, pois trouxeram “dois continentes inteiros com seus milhões de habitantes em joelhos diante de Cristo” em menos de 100 anos. Porém, se a intenção dos missionários era certa –salvar almas - o conteúdo da mensagem não estava correta!  

Como foi dito, salvar um nativo era convertê-lo à religião dos colonizadores: o índio, para ser salvo, deveria adotar a cultura portuguesa (ou espanhola, no caso da América Hispânica -proselitismo).
Somente muito mais tarde é que se entendeu que era necessário compreender suas práticas, seus costumes e suas crenças, e não tratá-lo como ‘criança’ incapaz de assimilar e desenvolver-se socialmente, raciocinar por si mesmo, e tornar-se ‘adulto’.
“Os missionários não conseguiam ser abertos diante dos valores inerentes destas culturas, e somente percebiam que (os índios) eram idólatras e atrasados”. Entretanto, curiosamente, pouco se preocupavam com os escravos negros africanos que existiam naquela época! 

3. Chegam os primeiros missionários protestantes

Muito tempo se levou para que o Evangelho literalmente entrasse em terras brasileiras. Como imaginar que um começo assim como contamos, possa ter tornado o Brasil a segunda ou terceira igreja evangélica do mundo? Somos 26.184.491 crentes de acordo com o Censo 2000, 20% da população, apresentando uma expectativa de crescimento anual de 4,4%, segundo o Intercessão Mundial. Além disso, somos um dos países que no momento, mais enviam missionários para o mundo! O mundo tem visto que ‘há um mover do Espírito’ a favor de conversões, abertura de igrejas e de missões no Brasil, levando o maior país católico do mundo a conhecer o evangelho e tornar-se um dos maiores países evangélicos da atualidade. Há 2000 missionários brasileiros transculturais servindo em 92 agências missionárias e 85 nações! 

Mas nem tudo são flores!

Escrito assim mesmo no Intercessões, os livros mais vendidos no Brasil são sobre magia negra e ocultismo, e no geral, o povo lê pouco, incluindo o povo evangélico: a comunidade evangélica lê apenas um livro por ano por pessoa, embora a taxa de leitura da Bíblia seja elevada, 84%. Se somos o maior país católico do mundo, o segundo ou terceiro país evangélico do mundo, somos também, o maior país Espírita: em 1975 havia 14.000 centros espíritas dirigidos por 420 mil médiuns; 7.000.000 de kardecistas (“alto espiritismo”) e milhares de praticantes de umbanda e candomblé (“baixo espiritismo”). Muitos brasileiros se envolvem nestas atividades, mesmo se dizendo cristãos.

Além disso, somente uma minoria (75.000 congregações evangélicas) é dirigida por líderes treinados com ensino teológico básico, e dos que são treinados, poucos se dispõem a ir onde a necessidade de pregação da palavra é maior. Há 10 anos havia 321 seminários e institutos onde 12 mil alunos estavam em treinamento para o ministério. As Assembléias de Deus tinham 275 escolas bíblicas com mais de 12 mil alunos, e em 1999, mais de 7.000 alunos estavam em preparo nas escolas batistas.

É importante chamar a atenção para o fato de que são os pentecostais da Assembléia de Deus, seguidos de outras pentecostais (e neopentecostais), que compõem o maior quadro de membros no meio evangélico no Brasil. Igrejas tradicionais como as Batistas, Metodistas, Luteranas, e as Presbiterianas estão numericamente em desvantagem: enquanto na Assembléia de Deus congregam cerca 8,5 milhões de pessoas, na Igreja Batista são pouco mais de 3 milhões, os da Igreja Luterana 1,27 milhões, os Presbiterianos menos de 1,0 milhão. Os Metodistas somam apenas 200 mil em todo o Brasil.

Lembrem-se de que foram os metodistas os nossos primeiros missionários, seguidos de batistas americanos, e depois os presbiterianos, que chegaram em meados do século 19. Os Assembleianos são praticamente recentes: datam das primeiras décadas do século 20, tendo chegado primeiramente ao norte do Brasil de onde se espalharam. Analistas atribuem este crescimento devido o envolvimento assembleiano com a comunidade, tendo todos os membros da igreja igual oportunidade nos trabalhos e ofícios da igreja. Além disso, demonstram alegria no compartilhar a palavra e têm no ministério de música e louvor um grande e forte ponto de apoio (Intercessões Mundiais).   


Por falta de visão missionária, as igrejas demoraram no despertar para expandir o reino de Deus, e deixaram de ser sal e luz para o mundo ao redor.
Esses dados nos fazem pensar o quanto nós crentes chamados tradicionais temos levado missões a sério!     


Dinamismo evangélico

Samuel Escobar, missionário e teólogo peruano, professor no Seminário Teológico Batista do Leste, na Filadélfia, EUA, no seu livro “Desafios da Igreja na América Latina” cita alguns teólogos católicos que se impressionam pelo dinamismo das igrejas pentecostais e neo-pentecostais. Ele cita ‘nada menos que um católico vindo do Brasil’, chamado José Comblin, que comenta o método usado por pessoas leigas e simples dessas igrejas pentecostais -às quais se refere como seitas - e ao tipo de evangelismo por elas desenvolvido tido ‘mais como proselitismo’, e segundo o seu parecer ‘tudo poderia ser explicado pela formação intelectual e pela facilidade da palavra habitual nas classes dirigentes’ caso essas fossem pessoas assim.

Mas, admira-se pelo aspecto espiritual dessas pregações que está ‘na conversão radical’ dessas pessoas, pois ‘os mudos falam’! E ainda admirado continua: “A palavra surge das energias que estavam escondidas no fundo secreto das pessoas. A palavra começa a ressuscitar”!

Por não reconhecerem o sacerdócio universal dos crentes é que comentários como este podem ser feitos. Mas, o referido católico admite que ‘a leitura da Bíblia pelos pobres produz efeitos extraordinários’ e acrescenta que a ‘descoberta pessoal da Bíblia pelos convertidos pentecostais lhes dá um senso de superioridade absoluta’ diante dos quais os ‘católicos se sentem envergonhados porque não lêem a Bíblia, enquanto os “crentes” sabem citá-la e tirar dela argumentos a que os católicos não sabem responder’! Admite, no entanto, que a leitura direta da Bíblia entre os católicos também ‘transforma a personalidade’ e que ‘descobre-se o mundo’: antes eles recebiam tudo do sacerdote e que agora, os leigos começam a pensar por si mesmos’. (Samuel Escobar,“Desafios da Igreja na América Latina”, Ed. Ultimato, pg 47-48).

4. O início da evangelização: o gigante começou a se levantar

Como já vimos,
franceses calvinistas tentaram se estabelecer no Brasil, mas uns naufragaram, outros foram expulsos e outros condenados à forca. Os holandeses também vieram e se fixaram na Bahia em 1624, onde permaneceram por 30 anos até serem expulsos, acompanhados daqueles que abraçaram a fé protestante.

Em 1836 chega ao Brasil Justin Spaulding, metodista americano que estabelece a primeira escola dominical no país, mas esta tem curta duração. Um ano depois, Daniel Kidder e sua esposa vêm para vender Bíblias. Foram esses os primeiros missionários estrangeiros a iniciar o trabalho de evangelização aqui. Com a Guerra Civil nos Estados Unidos da América não houve novo envio de missionários pela Igreja Metodista Americana até 1876, quando chega J.J. Ranson. São descritos como ‘abnegados colportores bíblicos – espécie de peregrinos que assumiram a missão de colocar a Bíblia nos lares brasileiros’.

Muitos dos missionários adoeceriam de doenças tropicais, como Febre Amarela, Tifo, Malária. Muitos faleceriam aqui, outros teriam que voltar para sua terra natal por causa destas. Muitas mulheres, esposas de missionários, morreram ao dar à luz ou também contraíram doenças.

Em 1885, Dr. Robert Kalley chega ao Brasil, presbiteriano de origem britânica e o primeiro a fundar Igrejas protestantes em língua portuguesa por aqui. Trabalhava na Ilha da Madeira após sua conversão (lendo Deuteronômio pelo testemunho de uma paciente idosa), e tendo feito o evangelho disseminar por aquela ilha, apesar do bom testemunho como médico, passou a ser perseguido e teve que fugir de lá. Rumou para o Oriente Médio, onde sua esposa morre. Casa-se novamente, e em visita a madeirenses nos Estados Unidos da América, ouve falar da oportunidade de missões no Brasil, para onde parte com sua esposa, Sarah Poulton (Kalley). Fixam residência em Petrópolis, no Estado do Rio, e estabelecem a primeira Escola Dominical em português que funcionou em caráter definitivo.

Dr. R. Kalley enfrentou forte perseguição por sua expansão, pois como médico não deixava escapar a oportunidade de pregar o evangelho, usando da medicina, gerando polêmica e reação da sociedade que expunha suas opiniões nos jornais da época, como “O Liberal”, que sustentava o direito de reunião aos protestantes. Conquistou o direito ao culto protestante mediante perigos iminentes de sua própria vida diante de inimigos hábeis e implacáveis, e o reconhecimento do casamento protestante para fins civis. No ano de 1859 o casamento protestante era válido apenas para crentes estrangeiros; assim, pelos seus esforços foi aprovado o decreto de Lei em 1863, que aprovava o casamento apenas para as “religiões toleradas”.

Veio dele e de sua esposa o hinário “Salmos e Hinos” que passou a ser usado a partir de 1861, que ainda existe entre os evangélicos brasileiros e portugueses. Em 1859 estava ameaçado de expulsão do país quando um missionário enviado pela Igreja Presbiteriana Americana chega: Ashbel Green Simonton. Era o dia 12 de agosto de 1859.

O Reverendo Ashbel Green Simonton (foto abaixo, à esquerda) (1833-1867) era jovem, solteiro, “ousado e cheio de entusiasmo” contando com 26 anos de idade, querendo trabalhar abertamente.

Mas o Dr. Kalley sugeriu “moderação” ao jovem recém-chegado, pela experiência experimentada. Os crentes seguidores de Kalley prestaram apoio ao novo missionário, na implantação do trabalho presbiteriano na Rua do Ouvidor, no Rio, em 1861.

Simonton dedicou-se a aprender a língua portuguesa, estudando e aprimorando-se, até que dominou completamente a língua escrita e falada. Objetivava a publicação de matérias evangélicas como meio de expandir o reino de Jesus Cristo no Brasil. Publica, com sucesso, o jornal “Imprensa Evangélica”, que muitos liam e reliam.

Simonton dizia que “a Bíblia e também livros e folhetos evangélicos devem inundar o Brasil. É impossível envolver um país tão vasto sem o auxílio da palavra impressa”. (Você não acha que isto continua verdadeiro e atual?).

O Reverendo tinha sede de Cristo e por expandir o seu reino. A primeira igreja viria em 1862 (três anos de ministério), resultado do trabalho da Escola Dominical entre os filhos de amigos e vizinhos, usando Bíblias e folhetos. Indo aos Estados Unidos no ano seguinte para visitar a mãe que adoecera, conhece e se casa com Helen Murdoch, voltando ao Brasil com a esposa. Cheio de alegria e felicidade, Simonton deixa registrados seus sentimentos em seu diário. Essa felicidade, porém, duraria pouco, pois Helen morre no nono dia pós-parto; à menina recém-nascida deram o nome da mãe, que mais tarde é enviada aos tios missionários em São Paulo. 

Conversão de um padre: o primeiro ministro presbiteriano

Contemporâneo, o padre
José Manoel da Conceição professa sua fé em Cristo e é batizado. Simonton vivia para pregar o evangelho. Ambos se tornam colaboradores na implantação de igrejas e no jornal “Imprensa Evangélica”. No ano de 1865 é criado o primeiro Presbitério; e José Manoel da Conceição é ordenado Ministro do Evangelho, o primeiro ministro presbiteriano do Brasil.

No seu oitavo ano de ministério, as contribuições de Simonton para o evangelismo brasileiro constavam então, da primeira Escola Dominical e a Igreja Presbiteriana no Rio, onde também funcionava uma Escola Primária, com 70 alunos; de um Jornal, de um Presbitério, e pouco depois, de um Seminário para a formação de ministros brasileiros. Simonton vivia o que pregava; era incansável na luta de levar e pregar o evangelho pelo interior, zelando pelo testemunho fiel de cada membro e do evangelismo pessoal, cada crente comunicando o evangelho à outra pessoa.

Este foi o seu ultimo ano de ministério, que durou, assim, apenas oito anos, de 1859 a 1867: ele morre acometido por Febre Amarela, no mês de Dezembro de 1867, aos 34 anos de idade. A Igreja Presbiteriana no Brasil deve muito a esse homem, jovem, abnegado ousado, cheio de amor por Cristo e certamente pelas almas perdidas. Suas palavras dois dias antes de sua morte, dirigidas à sua irmã foram de que “o Senhor levantaria alguém para tomar o seu ligar... usaria alguém para continuar a Sua obra”.

O dia 12 de agosto passou a ser considerado como a data de estabelecimento do Presbiterianismo Nacional por causa da chegada de Ashbell Simonton no Brasil.

                                                                   *** 

O Rev. João Alves (*) num de seus trabalhos cita a “cadeia da evangelização e da obra missionária”:  
“Se hoje temos a igreja estabelecida em nosso país foi porque ela saiu de suas fronteiras. Primeiro de Jerusalém, depois da Palestina, depois da Ásia, depois da Europa, e depois da América do Norte para chegar até aqui. E se hoje cremos é porque alguém atravessou fronteiras e cruzou mares para nos trazer o evangelho. Este é o propósito de missões”,
diz o professor. 

Com isto em mente, é necessário que tenhamos Missões como uma das prioridades na nossa vida cristã, acolhendo os missionários nos nossos corações, orando por eles, contribuindo para com eles, e se possível, fazendo o que eles fazem: Indo sempre, pregando o evangelho a toda a criatura! 

Olhando para o gráfico abaixo, vemos quão importantes são as Missões. Homens e mulheres atravessaram tais fronteiras, arriscaram suas vidas, deixaram seus lares e relativamente, se humilharam em terras cujas culturas e condições de vida eram inferiores às que viviam em suas terras natais. E assim continua até os dias de hoje: da América do Norte para um lugar distante, da Europa para a Ásia ou América Latina, do Brasil para a Índia... Das espaçosas casas de alvenaria da cidade grande para choupanas de palha no meio do nada; do que comprar para o que ganhar, do abrir mão do ter para só receber se ofertarem, do constante necessitar dos donativos e do levantar fundos para isso e aquilo, do nascer da visão em amor pelas almas, do comodismo para a ação!  

Louvado seja o Senhor por tantas vidas enviadas a todas as partes do mundo, para que alguém pudesse morrer em paz, tendo certeza de salvação, em Cristo, Senhor, o Senhor! Oremos pelo nosso país, para que haja real expansão da Palavra de Deus e do seu reino ente nós. Que possamos continuar essa obra que custou sangue derramado...na cruz! Que Deus nos abençoe e nos capacite a realizar aquilo que depender de cada uma de nós, fazendo em Cristo, aquilo que de antemão Deus preparou para que fizéssemos. Amém. 


(*) O Prof. Dr. João Alves dos Santos, Bacharel em Advocacia, Letras e Teologia, é Mestre em Divindade e em Teologia do Antigo Testamento pelo Faith Teological Seminary da Filadélfia, USA e Mestre em Teologia do NT pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição; é Professor da área de Novo Testamento, de Grego, de Exegese do NT e de Teologia Sistemática.


AVANÇO DO EVANGELHO 200 ANOS DEPOIS

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BIBLIOGRAFIA: 1. Ruth Tucker, “... até os confins da terra” – Uma História Biográfica das Missões Cristãs, Ed. Vidanova, 1996; 2. Samuel Escobar, “Desafios da Igreja na América Latina – História, Estratégia e Teologia de Missões”, Ed. Ultimato, 1997; 3. Nichols. Robert H., História da Igreja Cristã, Ed. Cultura Cristã, 2000; 4. Patrick Johnstone & Jason Mandryk, “Intercessão Mundial”, Missões Horizontes, 2003; 5. Bíblia Apologética, ICP, 2000.


Angélica Maria Lima Mansano Garcia 

 

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