Não há outro...
  Quando, na noite fria em que o vento de setentrião soprava, desci aos infernos, vi minha alma arder num fogo sombrio que, ao contrário das chamas cálidas dos incêndios, sorvia toda a luz, absorvia todo o calor que porventura houvesse ainda em mim, e na mente, no centro de toda a alma, vi o que restava de mim consumir-se sem poder acabar.
   Homens riam sobre a dor, caíam sobre si mesmos curvos no gargalhar como se o sofrimento fosse risível, e tinham em suas fácies o escárnio e o desdém dos que julgam, dos que se satisfazem, dos que se vendem antes de receber a conta.
   Morte em vida, a experiência dorida arranca-nos do ser, para o anti-ser, a dor pior, a dor d'alma, sobre não o corpo, mas em si o corpo é a própria dor. Não há semblante, não há aspecto, não é descritível.
   Então, no meio do anti-existir, do caos e do medo e do horror, um sonho aporta como se houvesse um paraíso, um lago sereno, um porto, um tudo, um ser...
   Os risos se calam, para esperar a própria dor imortal, as faúlas estridentes da zombaria não mais ardem, pois silentes se fazem. O céu plúmbeo converte-se, transmuta-se, abre-se em róseas corolas de pétalas nuviosas, e como um som de clarins ecoam, forjando sobre a desgraça uma só palavra, sobre o ser e o ser sobre o corpo, que é renascimento, que é a vida, a conversão, a esperança!
   E, nesta noite que se faz dia, Ele paira, sereno, suave, leve, altaneiro, todo Luz e Paz... E só uma voz se ouve, a voz do bem:
voltar ao Índice
André Koehne - opiniào - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2003 - Todos os direitos pertencem ao Autor.
_Há tanto te esperavas...
Hosted by www.Geocities.ws

1