A PISCINA DO FUNDÃO
  É... a inspiração é algo mesmo difícil, que nos prende justo quando mais dela precisamos. A memória, entretanto, esta fica a nos forçar certas recordações, apenas quando olhamos para uma figura, como esta, do fundo nesta página...
   Tinha eu 13 anos. Junto aos amigos, rumamos para o Fundão, local pouco distante duma Caetité pacata, no ano de 1980.
   Lá, uma grande turma reunia-se, para banhar-se na piscina que o Germano Gumes fizera (e que, uma dia, foi-lhe roubada por um destes marginais que, ricos, fazem-se
elite).
   Eu, aos 13 anos, era baixo, gordinho, nada atlético. Robinson Sérgio, colega de escola, porém, era um jovem de porte avantajado, apesar de apenas um ano a mais que eu. Como éramos os mais novos ali, ficamos papeando.
   Então, como o Sol já ia a pino, e o calor aumentara, julguei chegado o momento de divertirmo-nos na água. Sem que ele esperasse, joguei-o dentro da piscina do Fundão. E Robinson, apelidado de "Corcel" no colégio por seu modo "elegante" de correr, foi... ao fundão da piscina!!!
   Achando que fosse uma brincadeira dele, esperei. E o sujeito nada, ou melhor, nada de nadar!
   Finalmente, ele conseguiu colocar a cabeça pra fora d'água e deu um grito. Desesperado, vi que estávamos sozinhos, todos os outros tinham saído pelo mato. Que fazer?
   Nunca gostei de ver-me assassino, tinha pois de proceder eu mesmo ao salvamento, fosse como fosse.
   Mas, que sabia eu de salvamentos? Joguei-me dentro da água turva, mergulhei até onde afogava-se o companheiro. Então veio-me a brilhante idéia: seguro-o para fora da água, ele respira e, claro, grita por socorro.
   Por mais incrível que possa parecer, foi o que aconteceu: com a cara pra fora, ele berrou o bastante. Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali, parado, com todas as forças segurando Robinson pelas pernas, naquele que foi o meu mais longo mergulho.
   Alguém veio, finalmente, tirando-o, de forma que  pude sair, sem compreender como alguém maior e mais velho não soubesse nadar.
   Molhado, cansado, aflito, tinha ao mesmo tempo colocado em risco a vida de alguém e salvo logo em seguida. Não era um bandido, não era um herói também...

   Muitas vezes somos assim, pela vida: metemo-nos em enrascadas, causamos aflição, e somos impelidos a tentar uma salvação esdrúxula, cujo sucesso não nos torna vencedores... mas vítimas de nossa invigilância, de nossas próprias ações impensadas.

   Na piscina do Fundão eu conheci o lado mais fundo de mim mesmo. E aprendi algo que nunca mais repetiu-se: a vida alheia é algo precioso, frágil, e todos temos o poder de tirá-la... salvar uma vida, isto, sim, é verdadeiramente difícil.
   Os que não acreditam em Deus ignoram, mas Ele, realmente, é o único capaz de operar o milagre da vida: e neste mundo desenfreado, muitos afogam-se, afogando seus semelhantes.
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Textos de André Koehne - Academia Caetiteense de Letras - Caetité - Bahia - 2004 - Direitos do Autor.
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