ENTRE PAI E FILHA
Minha filha,

   Sei que lhe ensinaram a ser indiferente, mas a verdade é outra.
   As bombas insanas que matam do outro lado do mundo afetam a você, sim. Ao contrário do que lhe dizem, elas não estão distantes: atingem-nos!
   Lá, onde os loucos gritam por hegemonia, em verdade estão a invadir a nossa casa, a matar nossos irmãos, a ferir e humilhar pessoas que conhecemos desde sempre.
   Temos, filha, nosso direito lesado, usurpado, vilipendiado. Estão, sim, a nos ofender em nossos mais elementares e sagrados direitos, que é o da vida, da locomoção, da fé, da nação. Cada arma que espoca sobre alguém, como aquela menina que vemos sem uma perna na tela da tv, é como se se em nossa carne ferisse.
   Não podemos ser indiferentes. Não temos mais o direito de pensar "ainda bem que é longe daqui". Temos, em contrapartida, o dever de gritar pelo fim das hostilidades, de construir em nossos corações a solidariedade que rompa as distâncias, para que os loucos messiânicos se demovam de seus propósitos, e conheçam a força que ignoram e que não têm em suas armas: o Amor.
  
   Sim, você tem razão, nosso telhado está intacto. Mas ali ao lado há um pai desesperado, agarrado a uma filhinha de seis anos como você e eu, e eles irão morrer, porque um único homem, um único povo, se julga no direito de lhes atacar.
   Dói, minha filhinha, e muito. Estas minhas lágrimas que vê são a resposta que tenho para lhe dar: estão atacando a nossa casa, sim! Porque, Joanna, a nossa casa é o mundo.
   Quando eu lhe fiz neste corpo, quando lhe convidei para vir à vida, foi para o mundo que lhe trouxe.

   Por isso, filha, temos de gritar:
respeitem a nossa casa!
Março de 2003
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