O Dono do Terreiro
(bem poderia ser um libelo contra o personalismo - mas foi isto)
  Teofrasto tinha um terreiro. Como todo bom terreiro, Teofrasto herdara aquele, que tinha sido já antes herdado e assim sucessivamente até perder-se na noite dos tempos.

   No
Terreiro de Teo, era como o chamavam, qualquer pessoa entrava. Era, contudo,  estranho o fato de que ninguém, além de Teo, ficava por ali muito tempo - além do próprio Teo. Homens e mulheres iam uma, duas, até três vezes, e depois simplesmente desapareciam. Teo nunca se preocupou com isto. Jamais admitiria que o culpado era ele, Teo, por as pessoas se afastarem.

   No Terreiro de Teo, porém, havia lá seus
habituées, os cavalos de sempre, que iam para receber as entidades que Teo deveria orientar. O mais assíduo no terreiro era o Espírito de Corpo, que fazia com que Teo mentisse para defender os interesses de seus coleguinhas. Teo não entendera ainda que a mentira afasta os bons espíritos, além das pessoas de boa-fé...

   Outro dos que davam amiudadamente as caras por lá era o
Espírito de Sistema, aquele que não admite variações na fé, nem pensamentos diversos ou modificações para melhor nos trabalhos.

   Aliás, sob orientação direta desta entidade, Teo expulsou muitos
intrusos em seus trabalhos.

   Justiça seja feita: Teo era esforçado para aprender. Sempre que alguém lhe dizia algo que desconhecia, primeiramente ele não admitia ignorar o assunto, depois movia céus e terra para inteirar-se e, então, rechaçar a novidade que, dizia, era por ele ja sobejamente sabida. E tudo continuava como dantes, no quartel de Abrantes...

   Outro orientador de Teo, sem dúvida, era o
Espírito de Contradição. Este nunca se apartava do pupilo, fazendo com que toda argumentação feita para o próprio bem de Teo fosse prontamente repelida. Sob seu império Teo era conhecido como um homem muito bravo.

   Não adiantaram os desforços para fazer com que Teo modificasse suas companhias. Queria seu terreiro daquele jeito e pronto. Era uma obra pronta e acabada (mais acabada que pronta, na verdade). Mas ele pensava assim, que fazer?

   Afinal, Teo nunca soube, mas o Espírito que o guiava, em todas as horas, que o inspirava nas grandes decisões, não era nenhum daqueles já citados. Não. O amigo sempre presente no Terreiro de Teo, e no próprio Teo, era outro.

   Graças a este gênio tudo permanecia sempre vazio. Graças a ele Teo era capaz de falar uma hora seguida sobre Jesus Cristo e não pronunciar a palavra
AMOR uma vez sequer - como se Jesus viera para nos ensinar outra coisa...

   Era devido a este companheiro que Teo cumpria seu desiderato de comandar um terreiro, herdado - já se disse, que muitas vezes estava vazio - já se falou, por muitos e muitos anos.

   Este Espírito, que fazia de Teo isso que já vimos, era não outro, ninguém mais nem menos que o famoso e consagrado
Espírito de Porco!

Amém.
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