O Lobo Ibérico em vias de extinção?

Vítor Maia (Prof.)

 

Existem no mundo trinta e duas subespécies de lobos, as quais, atendendo à cor da sua pelagem, formam quatro grupos distintos: lobos brancos, lobos vermelhos, lobos cinzentos e lobos pardos. A subespécie que habita a Península Ibérica pertence ao grupo dos lobos pardos e o seu nome científico é Canis lupus signatus. Esta designação fica a dever-se ao facto de esta subespécie apresentar uma série de sinais ou marcas na pelagem, que os diferencia do lobo europeu:

-manchas brancas no focinho (bigodes);

-mancha escura na parte posterior da cauda;

-mancha escura no dorso, conhecida por sela de montar;

-linhas verticais negras ou muito escuras na frente das patas dianteiras.

Aspectos que distinguem o lobo ibérico do lobo europeu.

 

Um lobo adulto pode atingir 100 a 120 centímetros de comprimento e 60 a 70 centímetros de altura. O seu peso varia entre os 30 e os 50 Kg. As fêmeas, além de apresentarem peso e dimensões inferiores ao macho, distinguem-se facilmente deste, já que o volume da cabeça nos machos é significativamente maior.

Em boas condições de sobrevivência, o lobo pode atingir 16 anos de idade.

 

 

Distribuição

 

Não se sabe ao certo o número de lobos que existem na Península Ibérica. Existem dados que estimam um número compreendido entre 1800 a 2000 indivíduos, dos quais cerca de 300 em território nacional.

Distribuição do lobo ibérico na Península.

 

Em Portugal, existem cinco núcleos populacionais de lobos, associados às montanhas: o núcleo da serra do Gerês, o núcleo da serra do Alvão, o núcleo de Bragança, o núcleo da serra de Montemuro-Arada e o núcleo da serra de Malcata-Penamacor.

A distribuição da população lupina em Portugal não é contínua, existindo uma clivagem profunda entre as populações que existem a norte do rio Douro, as quais se encontram estáveis e em contacto com a população lupina espanhola, e aquelas que se encontram a sul do rio Douro, distintas e isoladas, onde é evidente uma fragmentação que compromete o futuro da espécie, a curto prazo.

 

Alimentação

 

O lobo é um carnívoro que se alimenta de corços, veados, javalis, coelhos e lebres. Nos lugares onde o Homem destruiu as suas presas naturais ou onde elas são escassas, o lobo alimenta-se principalmente de animais domésticos, como o cavalos, vacas, ovelhas, cabras e cães.

 

Vida social

 

O lobo vive em grupos designados por alcateias. Uma alcateia de lobos é uma família, formada geralmente por um casal reprodutor e pela sua descendência. Nas alcateias, existe uma hierarquização social bastante forte, que se baseia apenas na idade, força e experiência.

O topo da hierarquia é ocupado pelos líderes, um macho e uma fêmea, que constituem o chamado “par alfa”. Depois destes encontra-se um macho adulto, o “beta”, que mantém com os líderes uma estreita relação, podendo mesmo chegar a acasalar com a fêmea alfa. Os restantes membros da alcateia são de diferentes idades e são descendentes do par “alfa”.

O par “alfa “ é responsável por todas as decisões da alcateia e, ao não permitirem que outros lobos da alcateia procriem, funcionam como uma espécie de controladores de nascimentos.

 

Reprodução

 

Os lobos acasalam uma vez por ano, entre Janeiro e Março, sendo o período de gestação de cerca de 63 dias. Durante este período, a fêmea prepara a toca onde ocorrerão os nascimentos (são preparadas várias para prevenir eventuais imprevistos). Cada ninhada é formada por três a oito crias, as quais nascem cegas e completamente dependentes dos cuidados dos pais. O período de lactência dura aproximadamente um mês. Durante este período, a fêmea fica na toca alimentando as crias e o macho vai procurar alimento para os dois; depois de caçar e de comer as presas, o macho volta à toca e regurgita a comida.

Com um mês de idade os lobitos começam a sair da toca, iniciando então um período de aprendizagem extremamente importante. Além de aprender a caçar e a evitar inimigos, o jovem lobo aprende as regras sociais da alcateia.

Jovens lobos no Centro de Recuperação do Lobo Ibérico.

Durante o primeiro ano de vida, os jovens lobos ficam em geral com a alcateia. Ao fim deste tempo, atingem o estado adulto e, ou permanecem na alcateia aumentando o seu número, ou abandonam-na e tentam eles próprios estabelecerem-se noutro território não ocupado e constituírem uma família.

 

A diminuição do número de lobos

 

À semelhança do que aconteceu e acontece noutros países, a diminuição do número de lobos deve-se única e simplesmente à acção do Homem. Além da destruição dos habitats e das suas presas naturais, o Homem continua a perseguir de forma implacável este animal, utilizando armas de fogo, laços, armadilhas e iscos envenenados. Crenças antigas de “besta maligna devoradora de homens, mulheres e crianças, mitos do “lobo mau” e de lobisomens e a morte de gado supostamente atribuída ao lobo, estão na origem desta perseguição.

 

O que está a ser feito

Logotipo do Grupo Lobo.

 

Em 1985, foi fundado o Grupo Lobo, associação não governamental que, através de palestras e conferências, divulga informação sobre este carnívoro. Actualmente, esta associação encontra-se a elaborar uma videoteca e um diaporama, e possui uma exposição itenerante de divulgação denominada “Uivo pela Sobrevivência”, a qual apresenta condições para visitar todo o país.

Em 1989, com o objectivo de proporcionar um abrigo para lobos feridos e arranjar um novo lar para os lobos mantidos em más condições de cativeiro, Robert Lyle criou o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (CRLI). Este centro, que conta com o apoio científico do Prof. Francisco Fonseca, Presidente do Grupo Lobo, está localizado numa propriedade de 17 hectares da Fundação Bernd Thies.

Logotipo do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico.

 

 

Em 1990, o lobo foi considerado pelo estado português como uma espécie em perigo de extinção e, como tal, foi criada legislação a proibir a sua perseguição, abate e captura. Com o objectivo de travar a perseguição a este animal, o estado assegura uma indemnização aos proprietários de animais mortos pelo lobo.

Localização geográfica do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico.

Actualmente e face à situação crítica em que se encontra este animal, estão a ser feitos vários estudos sobre a sua ecologia e conservação. O Grupo Lobo está a realizar uma série de projectos, nomeadamente o radioseguimento de lobos marcados, utilização de sistemas de informação geográfica para a definição de corredores ecológicos para populações fragmentadas, estudos genéticos, programas de revitalização do uso de cães de gado e estudos antropológicos.

 

 

* Trabalho efectuado com base em informação diversa disponibilizada na Internet, nomeadamente pelo Grupo Lobo e pelo Projecto Signatus.

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