ENERGIA
EÓLICA
EVOLUÇÃO E
PERSPECTIVA NO BRASIL
ALEXANDRE JOÃO APPIO
Francis Bacon
A
energia é um dos elementos de suma importância, tanto no contexto ambiental como
no contexto econômico, para a evolução e desenvolvimento da humanidade. Sendo
assim, a preocupação para a obtenção e manutenção de fontes energéticas é
primordial.
No Brasil, a matriz energética é baseada,
fundamentalmente, na hidroeletricidade e nos combustíveis fosseis, o que tem
causado considerável impacto ao meio ambiente.
Na atualidade, existe uma crise energética no país, o que tem contribuído para a reavaliação e busca de alternativas como as fontes renováveis, especialmente a eólica. Esta vem sendo incrementada, em virtude da sua comprovada potencialidade no país. Para tanto, tem-se levado em conta, a viabilidade das diversas regiões para a colocação de campos eólicos, pois os mesmos dependem da direção e velocidade dos ventos. No Brasil, já existem várias regiões com potencial instalado e em instalação, apresentando grandes perspectivas.
A energia sempre foi um fator essencial para a
evolução e desenvolvimento da humanidade. Tanto que a preocupação para a
obtenção de fontes energéticas tem sido uma constante. Ao longo de sua
história, o ser humano passou por diversos períodos, nos quais dominaram
matrizes energéticas diferentes, como a biomassa (lenha), o carvão e o petróleo.
Hoje, são buscadas novas alternativas, estimuladas, sobretudo, em virtude da
crise energética e do prejuízo ambiental causado pela queima de combustíveis
fósseis.
O iminente colapso energético, oriundo do rápido
crescimento da economia mundial, nas últimas décadas, principalmente nos anos
1990, e da falta de gerenciamento, tem intensificado a procura por fontes
alternativas de energia, como a eólica e a solar. Estas fontes são consideradas
permanentes, ou seja, sem risco de serem findáveis, e bem menos poluentes,
comparadas aos combustíveis fósseis, que ainda são a base da matriz energética
atual.
1. A NECESSIDADE DE ENERGIA
"Tanto os combustíveis
fósseis, não-renováveis, como os renováveis têm como origem o sol. Este é base
da origem dos seres vivos, vegetais e animais e que, em processo que dura
centenas de milhões de anos, formam os combustíveis fósseis(...)”
(VASCONCELLOS & VIDAL, 1998 p.187).
A história da civilização está intimamente ligada
às fontes energéticas disponíveis. De acordo com Odum (1988), os caçadores e
coletores viviam como partes de cadeias alimentares naturais em ecossistemas de
energia solar, atingindo as maiores densidades em sistemas com subsídios
naturais, em locais litorâneos e ribeirinhos. Com o desenvolvimento da
agricultura, a capacidade de suporte[1]
aumentou muito, à medida que os seres humanos tornavam-se mais hábeis em
cultivar plantas e domesticar animais.
Odum (Op. Cit.) destaca que, durante muitos
séculos, a lenha e outras formas de biomassa forneciam a principal fonte de
energia. As grandes pirâmides, catedrais, cidades e fazendas foram construídas
com a potência muscular animal e humana, movida à biomassa combustível, em
grande parte de escravos. Conforme o referido autor, esse longo período pode ser
chamado a idade da “Potência Muscular”[2].
Posteriormente, veio a idade atual dos “Combustíveis Fósseis”, que forneceu um
certo desenvolvimento e conforto, fazendo com que a população global dobrasse
mais ou menos de cinqüenta em cinqüenta anos até agora. No entanto, também
provocou a degradação nos recursos naturais. No presente capítulo será abordada
a necessidade de energia no contexto ambiental e no contexto econômico, bem como
os resultados desta demanda.
1.1. No contexto ambiental
A Terra deve ser vista como um sistema gigantesco, como um conjunto de componentes interligados por fluxos de matéria e energia, funcionando como uma unidade. Assim sendo, é necessário que se considere o planeta como uma “imensa máquina integrada”, movida a energia, trabalhando subdividida em incontáveis máquinas menores, que operam dentro da estrutura geral do conjunto da grande máquina terrestre (Drew, 1986).
A energia que mantém os processos físicos, químicos e biológicos na Terra provém da gravidade, do âmago do planeta e do seu próprio movimento. Todavia, em grau muito superior, provém do Sol, ou seja, da radiação solar. É esta energia que dá origem às formas de relevo, aos climas e à vida. Sem a radiação solar, a Terra ficaria morta, escura e quase imutável.
Segundo Drew (op. Cit.), a energia solar alcança a superfície via atmosfera, distribui-se de modo variado e desigual pelo planeta, cumpre sua função e depois retorna, modificada, ao espaço. Em um dado período de tempo, a emissão é igual a retirada. Entre a entrada e a saída, a energia flui por diversos canais (transferências), se acumula por longos períodos de tempo (carvão, petróleo) ou pequenos períodos (solo, animais). Os seres humanos são também depósitos de uma fração desta corrente de energia.
Certa, também, é a importância dos oceanos no controle dos fluxos de energia no planeta. Embora os grandes oceanos estejam ligados entre si e as únicas barreiras à troca de suas águas sejam as diferenças de temperatura e salinidade, as águas oceânicas não são tão móveis quanto a atmosfera. Segundo Drew (op. Cit.), o oceano atua como agente eficiente de dispersão e diluição, podendo ser considerado como volante gigantesco da Terra, dando estabilidade ao sistema mundial. Estes armazenam vastas quantidades de radiação solar, mas só ganham e liberam calor lentamente. Seu papel também é fundamental para o funcionamento dos ciclos globais do carbono e do oxigênio, com a ação do fitoplancton[3], liberando 75% do oxigênio livre do planeta, graças ao processo fotossintético.
Nos ecossistemas, por sua vez, a fonte e a qualidade da energia determinam os tipos e a abundância dos organismos, o padrão dos processos funcionais e de desenvolvimento e o estilo de vida dos seres humanos. Pode-se figurar o fluxo energético como a densidade de potência de área do ecossistema, em que este tem maior ou menor capacidade de se desenvolver (Odum, 1988).
1.2. No contexto econômico
A questão energética está sempre ligada ao
desenvolvimento de uma região ou país, sendo a base para tal. Hoje, precisa-se
mais energia que em qualquer outro período da humanidade. Em decorrência, também
são mais visíveis seus efeitos poluidores, e busca-se, com relativa pressa
outras alternativas para uma matriz energética mundial.
No Brasil, a questão energética é motivo de
reflexão para as empresas responsáveis e governantes. A energia associada ao
bem-estar da população, manteve altos níveis de consumo, como é o caso da
eletricidade residencial e comercial, da gasolina automotiva e do querosene de
aviação. Em conseqüência, o consumo final de energia obteve um crescimento de
3,0%, só em 1998/1999. Este e os demais dados a seguir foram obtidos do
Ministério de Minas e Energia (1999).
Em dezembro de 1998, as reservas
totais (medidas, indicadas e inferidas) de petróleo, e gás natural atingiram
17,3 bilhões de barris equivalentes de petróleo - bep, volume 2,4% superior ao
de 1997. Ao se considerar somente as reservas medidas de petróleo, de 7,4
bilhões de barris, verifica-se que correspondem a cerca de 20 anos da produção
atual.
A produção média de petróleo foi de
972 mil barris/dia, em 1998, crescendo 16,4% em relação a 1997. O consumo de
derivados de petróleo cresceu 3,6% (1.666 mil bep/dia, incluindo o consumo
próprio do Setor de Petróleo). No mesmo ano, as importações de petróleo e
derivados chegaram a 820 mil bep/d e as exportações a 132 mil bep/d. Neste
contexto, a dependência externa de petróleo e derivados ficou em 40%, igual à de
1997.
O consumo de álcool automotivo foi
de 13,0 milhões de m3, em 1998, 2,5% inferior ao consumo de 1997. Em
razão do volume de vendas de veículos novos a álcool ter ficado abaixo do
montante de carros sucateados, o que provocou a redução e o envelhecimento da
frota, o consumo de álcool hidratado decresceu 7,9%, em 1998. Já o consumo de
álcool acompanhou o crescimento do consumo de gasolina.
Em 1998, foram incorporados ao
mercado interno cerca de 1,4 milhões de automóveis, que consumiram, segundo
estimativas, cerca de 1,6 milhões de m3 de gasolina e álcool. No
mesmo ano, foram acrescidos ao mercado 0,6 milhões de m3 deste
combustível (gasolina e álcool), quantidade menor que a exigida pela nova frota.
Assim, cálculos estimados apontam para uma redução de 3,0% no consumo médio por
veículo em 1998.
Conforme o Ministério de Minas e
Energia (1999), o consumo de energia elétrica cresceu 4,2%, em 1998,
impulsionado pelos desempenhos dos Setores Comercial (8,9%)e Residencial (7,2%),
bem superiores ao desempenho da Indústria (0,7%). Embora com menor vigor, o
consumo residencial continuou sendo impulsionado pelas novas ligações e pela
incorporação de bens de consumo durável, principalmente pelas classes menos
favorecidas, que têm seu poder de compra aumentado com a redução da inflação. No
comércio, o consumo de energia elétrica continuou refletindo a expansão e
modernização dos serviços e o uso mais intenso de aparelhos de ar condicionado,
além da abertura de grandes centros comerciais.
Ainda, em relação ao Setor Residencial, cabe
acrescentar que, mesmo tendo havido um acréscimo de cerca de 1,6 milhão de novas
contas em 1998, o consumo médio por conta apresentou crescimento de 4,5% (cerca
de 177 kWh/mês), ainda expressivo, mas menor que os 8,8% (em 1996).
2. A ATUAL MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA
“A Segunda alternativa são os combustíveis extraídos da biomassa, que são os hidratos de carbono na sua forma natural, dividendos da radiação solar. Eles formam-se continuamente e podem ser imediatamente usados como dividendos, ao contrário dos fósseis, que são o capital. Estes são formados ao longo de eras geológicas e, ao serem usados de modo extensivo, se exaurem em poucas gerações" (VASCONCELLOS & VIDAL, 1998 p.187).
A Matriz Energética Brasileira, ou melhor, os
principais tipos de energia utilizados, atualmente, são em parte baseados em
combustíveis fósseis e hidreletricidade, sendo estes os principais
impulsionadores da economia brasileira. Em termos percentuais, isto significa:
eletricidade 40%, derivados de petróleo 23%, carvão 10% e álcool 2%, diferente
da década de 1970, como vemos no Graf. 4.
O setor de transportes contribui com
um terço de toda a emissão de dióxido de carbono. Um carro comum emite, em
média, seu próprio peso em carbono a cada ano, considerando o uso diário. Um uso
maior de transportes públicos poderia reduzir o número de veículos nas estradas,
melhorando a qualidade do ar e a congestão de tráfego.
No que se refere a fontes
renováveis, a hidroeletricidade, o gás natural, os produtos da cana-de-açúcar e
as energias solar e eólica, em menor proporção, contribuem também para a Matriz
Energética Brasileira. O Programa do Álcool (Pró-alcool), criado em 1975,
representou o esforço de maior êxito no desenvolvimento de fontes renováveis
para substituir derivados de petróleo, mediante o uso de álcool adicionado à
gasolina e uso de álcool puro. Dez anos após a criação deste programa, cerca de
3,6 milhões de veículos utilizavam exclusivamente álcool como combustível.
2.1. O destaque da
Hidroeletricidade
A energia elétrica, atualmente, é o insumo mais
importante do país, por sua potencialidade de uso tanto industrial como
residencial, sem restrições, diferentemente do petróleo e outros combustíveis.
A energia elétrica foi introduzida no país quase
que em simultaneidade com outros países do Hemisfério Norte, por volta de 1870.
Anteriormente, utilizava-se óleo de baleia importado da Inglaterra, em lampiões
que eram acendidos à noite e apagados pela manhã. A eletricidade provocou um
salto no desenvolvimento industrial e urbano no Brasil (Eletrobrás, 2000).
Os grandes desafios da indústria da eletricidade
no seu primeiro século (XIX) foram de natureza tecnológica e, principalmente,
econômica, para atender ao crescimento exponencial do consumo, ocasionado pelo
acelerado processo de crescimento econômico nacional. Nesse caso, não podemos
deixar de salientar que houve uma aceleração do consumo geral, não somente da
eletricidade, mas de todos os combustíveis. Na tabela 1 tem-se uma síntese da
evolução do setor elétrico no país.
2.2. A crise energética
brasileira e a onda privativista
De acordo com Benjamim (2001), em hidreletricidade,
o Brasil ocupa no mundo uma posição semelhante a da Arábia Saudita em petróleo.
Graças a isto, mais de 90% da capacidade de geração de energia do país se
baseia em dois elementos: a água das chuvas e a força da gravidade. Bacias
hidrográficas com centenas de rios permanentes e caudalosos, se espalham por
grandes regiões - Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Os rios de planalto,
quando barrados, originam grandes lagos, estocando a energia na sua forma
potencial. Se as barragens forem construídas em seqüência, ao longo do curso de
um rio, a mesma gota d’água seria, em tese, usada inúmeras vezes, antes de se
encontrar com o oceano.
Com o esforço e o talento de várias gerações, a tecnologia de construção de
hidrelétricas se aperfeiçoou. Como as chuvas também variam de região para
região, o sistema foi interligado por linhas de transmissão, de modo a permitir
que um operador central racionalize o uso da água disponível em todo o país. É
por esta razão que os reservatórios situados em diferentes bacias hidrográficas,
que não têm qualquer ligação física entre si, funcionam como se fossem vasos
comunicantes (fig. 01). Se chove pouco na bacia do Rio São Francisco e
muito na bacia do rio Paraná, a usina de Paulo Affonso é orientada a colocar
pouca energia na rede, economizando sua água que se tornou preciosa, enquanto a
usina de Itaipu faz a compensação. Ao colocar mais potência na rede, Itaipu cede
água, indiretamente, para Paulo Afonso. Nos lares, escritórios e fábricas,
ninguém percebe o inteligente rearranjo que permite otimizar o fornecimento da
energia em cada momento (Benjamim, 2001).
Isto tudo colocava o país em evidência, tanto que
os especialistas estrangeiros em hidroeletricidade vinham ao Brasil para
aprender. Que país não gostaria de ter um sistema energético considerado “limpo”[4],
renovável, barato, capaz de estocar combustível para cinco anos, apto a
transferir grandes blocos de energia do Sul para o Norte, do Nordeste para o
Sudeste, gerenciando de forma integrada bacias hidrográficas fisicamente
distantes milhares de quilômetros? Quem não gostaria de gerenciar empresas com
tantas usinas já amortizadas, altamente rentáveis mesmo vendendo barato a
energia que produzem?
Até o fim da década de 1970, o sistema gerava sem
problemas os recursos para sua própria expansão. Isto começou a mudar nos anos
1980, com as crises da dívida externa e da inflação. Sucessivos governos
passaram a usar os recursos das robustas empresas elétricas para obter os
dólares necessários ao pagamento dos juros exigidos pelos credores externos. Ao
mesmo tempo, reprimiam sistematicamente reajustes de tarifas, para conter a
inflação. Com as empresas endividadas (sem que os recursos por elas captados
tivessem sido usados no próprio setor) e tornadas deficitárias, logo se
estabeleceu uma ciranda de calotes. Calotes das distribuidoras, das operadoras
estaduais, deixando as geradoras federais “a ver navios”. Em meados da década de
1990, as dívidas cruzadas atingiam US$ 50 bilhões. Era o argumento de que
precisavam aqueles que passaram a defender o desmonte do sistema. Chegava o
tempo das privatizações (Benjamim, op. Cit.)
O primeiro passo preparatório para as
privatizações foi dado por volta de 1993. O segundo passo foi a modelagem de um
novo sistema não estatal, que seria baseado na atração de investidores privados,
especialmente estrangeiros. A energia passaria a ser uma mercadoria como as
demais, sujeita a oscilações de oferta e demanda, e o sistema estatal
cooperativo daria lugar a um sistema privado concorrencial.
Neste contexto, o sistema elétrico brasileiro
começou a ser financeiramente repartido, como fora em passado longínquo, e suas
fatias foram sendo distribuídas pelo mundo inteiro, entre empresas
multinacionais. Os investidores estrangeiros, por sua vez, preferiram seguir
comprando as usinas prontas, que o governo lhes ofertava.
Benjamin (op. Cit.) também esclarece que,
devido ao crescimento natural da demanda e a necessidade de colocar, a cada ano,
mais potência na rede, restou ao sistema consumir suas reservas de água, sem
investimentos de qualquer natureza. As decisões de investimento, por sua vez,
foram entregues a agentes privados, preferencialmente estrangeiros, que trariam
dólares e tecnologias. Estes decidiriam se deveriam investir aqui ou não.
No novo modelo privatizado, ninguém mais é
responsável pelo problema energético brasileiro como um todo. Isto se verifica,
por sua vez, também na declaração do Ministério de Minas e Energia:
"Não é possível liberar os investimentos das
empresas ainda estatais de energia, pois elas estão submetidas ao Conselho
Nacional de Desestatização, comandado pela Fazenda. Foi informado sobre o risco
de déficit, apontado nos relatórios do ONS. O governo está comprometido pelos
acordos com o FMI, mas foi apoiado o programa emergencial, que prevê a
construção de 49 usinas térmicas, dando aos investidores garantias sobre o preço
futuro do gás." (MME, 2000)
Benjamim (2001) coloca alguns pontos devem ser
salientados para entender a crise:
1.
A decisão de privatizar o sistema energético era técnica e
financeiramente injustificada. Foi tomada por motivos ideológicos (política
neoliberal) e de subalternidade, pela expectativa de propiciar grandes negócios
a alguns grupos, e necessidade de atrair capital em curto prazo.
2.
Tal decisão embutia a necessidade, também técnica e financeiramente
injustificada, de alterar a matriz energética, a qual não corresponde ao padrão
financeiro e tecnológico desejado pelas multinacionais. Para estas, é preciso
importar equipamentos e combustível.
3.
O Brasil devia abrir mão de sua enorme vantagem comparativa no setor, e
passar da hidroeletricidade (barata e baseada em fontes internas) para a
termeletricidade (cara e baseada em fontes externas). As decisões de
investimento em energia, internas desde a década de 1950, também se
transfeririam para fora do país.
4.
Para realizar esta operação, uma escassez controlada era não só
tolerável, mas também desejável. Só uma expectativa de crise energética
(artificialmente criada) justificaria levar até o fim tais decisões.
Segundo Benjamin (op. Cit.), parece que existe um
incentivo para alterar a matriz energética na direção que o capital
internacional deseja. Cabe perguntar se é este o caminho para a sustentabilidade
e autonomia energética necessária ao país.
2.3. Impactos do uso de
combustíveis fósseis
Os impactos resultantes da matriz energética atual[5]
são sentidos na atmosfera planetária, no desequilíbrio dos ecossistemas
naturais, devido à poluição de toda a espécie, e na queda da qualidade de vida
dos centros urbanos. Além disto, há o problema do acesso e da otimização das
fontes não renováveis. Assim, as crises no fornecimento destes energéticos leva
a busca de alternativas ambientais viáveis.
Nos setes anos que antecederam ao
primeiro choque do petróleo, as taxas de crescimento do PIB, da energia elétrica
e do petróleo ultrapassaram os 11 % ao ano.
Em 1973, a participação de derivados de petróleo na matriz energética era de
cerca de 45,2%; dos derivados de biomassa 46% e da energia elétrica 6,2% para um
total de todas as formas de energia.
2.3.1. Ambientais
De acordo com Brown (2000), a
economia global, nestes últimos 50 anos completa uma expansão admirável,
impulsionada por um crescimento quádruplo do combustível fóssil, acompanhado de
um aumento semelhante nas emissões de dióxido de carbono (CO2). A
cada ano, desde que se iniciou o monitoramento sistemático da atmosfera, em
1959, os níveis de CO2 vêm alcançando novos picos, subindo de 317 ppm[6],
em 1959 para 368 ppm, em 1999.
Corson, (1996) já alertava que, a composição da
atmosfera está sendo alterada pela atividade humana mais do que em qualquer
outra época, nos últimos 10 mil anos. Conforme este autor, mesmo se se
reduzissem as taxas de emissão abaixo dos níveis da década de 1990, estas se
estabilizariam a aproximadamente o triplo da concentração pré-industrial de CO2.
Se as nações do mundo quiserem estabilizar a atmosfera no estado já considerado
problemático de hoje, teriam que eliminar imediatamente cerca de três quintos
das emissões deste gás.
Hawken (1999) destaca que quanto mais os gases
estufa são adicionados à atmosfera, mais o aquecimento global aumenta. As
latitudes médias e altas da Terra tendem a ser mais afetadas por este fenômeno,
aquecendo-se o dobro do índice médio do planeta. Assim, a média de temperatura
dessas áreas poderá aumentar 1ºC ou mais por década.
Os aumentos na temperatura podem parecer pequenos
até serem comparados com mudanças climáticas anteriores. Há milhares de anos
atrás, até a última era Glacial, a temperatura global aumentou gradualmente em 3
a 5ºC. O aquecimento previsto neste século é 10 a 40 vezes mais rápido, devido
ao crescimento industrial e populacional. As temperaturas poderão, em pouco
tempo, estar mais elevadas do que em qualquer outra época da história. Uma média
de aumento de 5ºC tornaria a Terra mais quente do que ela já foi nos últimos
milhares de anos.
Uma estimativa geral sugere que os gases estufa (CO2,
CH4, Nox) se acumulam e a temperatura média do planeta se eleva.
Neste cenário, climas locais se tornarão mais vulneráveis – mais quentes e
secos, em algumas áreas, mais frios e úmidos em outras. Hawken (1999) também
esclarece que o aquecimento global poderá aumentar a precipitação de chuvas em
algumas áreas. Regiões de altas latitudes poderão receber mais neve e chuva
durante o inverno. O aumento das temperaturas na superfície dos oceanos pode
aumentar a freqüência e o rigor de furacões e tempestades tropicais. Em virtude
das altas temperaturas, pode haver derretimento das geleiras e calotas polares,
aumentando, assim, o nível dos mares, prejudicando, potencialmente, áreas
costeiras densamente povoadas.
Além destes efeitos, inúmeros outros se fariam
sentir com o aquecimento do planeta. Algumas florestas são sensíveis à variação
de temperatura, podendo sobreviver somente dentro de uma estreita faixa térmica.
Desta maneira, florestas inteiras estarão ameaçadas, bem como determinados
cultivos, exigindo dispendiosas alterações nas práticas agrícolas, provocando a
redução da produção, como no caso das culturas de trigo e frutas cítricas.
2.3.2. Econômicos
Em decorrência da Matriz Energética,
dependente de combustíveis fósseis, o crescimento econômico brasileiro caiu,
entre 1973 e 1979, embora o PIB ainda mantivesse a taxa de 6,7 % a.a. Assim,
devido a crise do petróleo, privilegiou-se o aumento da oferta de energia
alternativa em detrimento de políticas voltadas para o aumento de eficiência
energética e a conservação de energia. Nessa época foram criados o Programa
Nacional do Álcool - PROÁLCOOL, o Programa de Uso do Carvão Mineral na
indústria, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha e a intensificação da prospecção de
petróleo no mar (Petrobrás).
Por outro lado, o
setor elétrico sofreu profundas interferências. Implementou-se a política de
redução gradativa e contínua das tarifas, objetivando o controle da inflação
acelerada pelo aumento dos preços do petróleo. No final do período, o perfil do
consumo de energia apresentava os derivados do petróleo com participação
ampliada para cerca de 50,4 %, os derivados da biomassa reduzidos para 35,4% e a
eletricidade beirando aos 9,3 %. A redução da participação da biomassa ocorreu,
principalmente, em virtude do menor consumo de lenha usada, sobretudo, no campo,
em processo de esvaziamento pelo êxodo para os centros urbanos.
3. ENERGIA EÓLICA E A RECONVERSÃO DA MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA
Conforme verificado nos capítulos anteriores, os
sistemas energéticos de hoje, baseados em combustíveis fósseis, além de
originarem uma concentração de riqueza e poder, e excessiva emissão de poluentes
na atmosfera, têm causado grandes desequilíbrios no uso da energia e do
bem-estar social. Seus benefícios são inacessíveis a cerca de 2 bilhões de
pobres do mundo (um terço da população global), que ainda dependem da biomassa
para cozinhar e não dispõe de eletricidade. Hoje, o quinto mais rico da
humanidade consome 58% da energia mundial, enquanto o quinto mais pobre utiliza
menos de 4% (Flavin, 1999).
Um sistema energético mais descentralizado,
baseado em recursos renováveis, poderá ter mais oportunidade de disseminar com
maior amplitude seus benefícios. Atender às necessidades de 2 bilhões de pessoas
que não dispõe de combustíveis modernos ou eletricidade, e de mais de 2 bilhões
com atendimento precário, poderá se tornar um novo “imperativo social”, conforme
afirma Flavin. (1999).
Fala-se em descarbonização da economia energética,
sabendo-se que o ciclo global do carbono inclui-se entre os processos naturais
de grande escala mais complexos e menos entendidos do planeta. Cerca de 42
trilhões de toneladas de carbono estão contidos ou em circulação entre a
atmosfera, oceanos e biosfera (Dunn, 2000). Este patamar é considerado crítico
por alguns estudiosos, e um elemento importante para esta descarbonização é a
redução da intensidade energética[8].
Desta forma o fornecimento de serviços de energia
mais barata, limpa e renovável, estimularia o desenvolvimento das regiões mais
pobres no Brasil e no mundo, aumentaria a oferta de emprego e reduziria o
impacto ambiental da energia de biomassa.[9]
As “novas”
fontes de energia renovável estão na posição que o petróleo ocupava
aproximadamente a um século atrás, representando uma fração da energia mundial,
mas ganhando espaço em regiões e mercados. A preocupação quanto ao futuro do
petróleo, e vislumbrando que este teria somente mais algumas décadas,
desencadeou um grande interesse nas novas tecnologias, já na década de 1970 e
1980. Nos últimos anos, este interesse foi acentuado, sendo possível incluir
consideráveis melhorias tecnológicas, a baixos custos, e ainda políticas
incentivadoras da redução das emissões de carbono. Um exemplo bastante eloqüente
pode ser visto na Europa, com os incentivos para a produção de energia eólica.
Até a pouco parecia provável que, à
medida que escasseavam os combustíveis fósseis, a terceira idade da humanidade
seria a da “Energia Atômica”. Mas a desordem[10]
associada a esta fonte tem dado problemas até agora insolúveis, sendo
imprevisível seu futuro.
Assim, as alternativas energéticas
oriundas dos recursos renováveis naturais estão sendo retomadas. O Sol e o vento[11],
principalmente, já desempenharam no passado papeis de importância significativa
na História da Humanidade. Com as previsões referentes à exaustão dos recursos
petrolíferos mundiais, os países do Primeiro Mundo, principalmente, aceleraram
as suas pesquisas na obtenção de novas tecnologias alternativas, elegendo as
energias solar e eólica como as grandes alternativas energéticas do futuro
(Bezerra, 2000).
3.1. Estratégias para
melhorar o quadro energético
As emissões de carbono provavelmente
só diminuiriam se as empresas fossem oneradas com um imposto de mais ou menos
cem dólares por tonelada métrica de carbono emitida. Mesmo assim, pode ser que
tamanha carga tributária consiga, no máximo, fazer com que as emissões de 2010
recuem para os níveis de 1990[12]
(Hawken, 1999).
Bem mais da metade da ameaça ao
clima provém do CO2 liberado pela queima dos combustíveis fósseis.
Ela desaparecerá se os consumidores utilizarem a energia com tanta eficiência
quanto for economicamente viável. Alternativamente, grande parte desta ameaça
desaparecerá se os combustíveis com pouca emissão de carbono (gás natural) ou os
não fósseis (solar e eólica) substituírem os combustíveis fósseis mais
intensivos em carbono.
Desenvolver o uso generalizado de
fontes energéticas menos poluidoras, em uma escala global, é uma tarefa difícil,
mas também necessária. Uma das medidas importantes seria melhorar a eficiência
energética nos transportes, no setor industrial e residencial, e seria o meio
mais rápido e mais efetivo para reduzir as emissões de dióxido de carbono e
outros gases que estão alterando a atmosfera.
Uma alternativa também poderia advir
da taxação de combustíveis fósseis, arrecadando uma “taxa de carbono” sobre os
vários combustíveis, de acordo com sua quantidade deste gás. Isto aumentaria o
preço da energia e motivaria investimentos na eficiência energética por parte do
governo, indústria e consumidores. Tal medida deveria ser aplicada nos países
desenvolvidos, que lançam toneladas de CO2 por ano na atmosfera sem
qualquer ônus. Certamente reduziria o uso de veículos como um todo, e estes
valores arrecadados seriam utilizados para desenvolvimento de fontes renováveis.
Baines (1997), defende que limitar o crescimento populacional e incentivar a
agricultura sustentável não podem ser descartados.
Outra medida importante seria
reverter o desflorestamento. A vegetação absorve o CO2 da atmosfera
para seu crescimento, promovendo o equilíbrio térmico e hídrico, entre outros
benefícios.
Subsidiar a utilização de
combustíveis limpos, como a energia eólica, em rápido desenvolvimento no mundo,
é outra estratégia que já produz resultados interessantes, conforme será
constatado no decorrer deste capítulo.
3.2. A transição
A transição de combustíveis fósseis para uma
economia energética, fundamentada nas energias alternativas, acelerou
dramaticamente no mundo nos últimos anos, principalmente na Europa.
O crescimento mais espetacular nos renováveis está
ocorrendo com a energia eólica, com um aumento anual de 24% de 1990 a 1999 (graf.
5), sendo hoje uma indústria de US$ 4 bilhões (Brown, 2000). Os avanços nos
sistemas de turbinas eólicas reduziram significativamente o custo de geração da
energia eólica, nas últimas duas décadas, a ponto de se tornar competitiva, em
termos de custo, com a geração por combustível fóssil, em algumas regiões. Sua
entrada incisiva no mercado se deve muito ao apoio de políticas, como uma
legislação européia que proporciona pagamentos fixos aos empreendedores de
projetos. Sete das principais nações que utilizam energia eólica são européias[13].
Um dos atrativos da eletricidade eólica é seu
custo declinante. Com novos e avançados designs das turbinas eólicas, a
eletricidade é gerada a um custo de US$ 0,4 por quilowatt/hora, um quarto do
custo de uma década atrás e um valor competitivo com as fontes energéticas
tradicionais. Os acréscimos anuais da capacidade eólica, durante o final da
década de 1990, ultrapassaram a energia nuclear.
Brown, (2000) destaca que a Alemanha emergiu como
líder mundial na capacidade de energia eólica, com os Estados Unidos em segundo
lugar. Grandes fazendas eólicas entraram em atividade durante os dois últimos
anos neste país.
O país onde a energia eólica está crescendo com maior rapidez é a Espanha. Partindo do zero a quatro anos atrás, a Espanha atingiu um grande potencial em nível de novas instalações, com 750 MW.
3.3. Recursos eólicos
A energia eólica provém da radiação solar uma vez
que os ventos são gerados pelo aquecimento não uniforme da superfície terrestre.
Uma estimativa da energia total disponível dos ventos, ao redor do planeta, pode
ser feita a partir da hipótese de que, aproximadamente, 2% da energia solar
absorvida pela Terra é convertida em energia cinética dos ventos. Este
percentual, embora pareça pequeno, representa centena de vezes a potência anual
instalada nas centrais elétricas do mundo (Cresesb[14],
2001).
Os ventos que sopram em escala global e aqueles
que se manifestam em pequena escala são influenciados por diferentes fatores,
entre os quais destacam-se a altitude e a rugosidade, ou seja, obstáculos do
relevo.
3.3.1. Me
A energia eólica, conforme colocado
anteriormente, pode ser considerada como uma das formas indiretas da energia
proveniente do Sol, uma vez que são produzidos pelo aquecimento diferenciado da
atmosfera. Esta não uniformidade no aquecimento da atmosfera deve ser creditada,
entre outros fatores, à orientação dos raios solares e aos movimentos da Terra.
As regiões tropicais, que recebem os raios solares
quase que perpendicularmente, são mais aquecidas do que as regiões polares.
Conseqüentemente, o ar quente que se encontra nas baixas latitudes das regiões
tropicais tende a subir, sendo substituído por uma massa de ar mais frio que se
desloca das regiões polares.
Os ventos globais (fig 02) são gerados
principalmente pela diferença de temperatura e pressão e pela rugosidade da
superfície terrestre. Estes se encontram a alguns km de altura a partir do solo.
O vento distribui-se a partir do equador e espalha-se para o norte e sul nas
partes mais altas da atmosfera. Ao redor dos 30º de latitude em ambos
hemisférios ocorre a força de Coriolis[15].
Nesta latitude se encontra uma zona de altas pressões, que começa a ir de novo
em direção ao equador (zona de baixas pressões). Estes ventos são permanentes e
caracterizados também como ventos constantes e podem ser classificados em:
·
Alísios: ventos que sopram dos
trópicos para o Equador, em baixas altitudes.
·
Contra-Alísios: ventos que sopram do
Equador para os pólos, em altas altitudes.
·
Ventos do Oeste: ventos que sopram
dos trópicos para os pólos.
·
Polares: ventos frios que sopram dos
pólos para as zonas temperadas.
Tendo em vista que o eixo da Terra está inclinado
de 23,5o em relação ao plano de sua órbita em torno do Sol, variações
sazonais na distribuição de radiação recebida na superfície da Terra também
resultam em variações sazonais na intensidade e duração dos ventos, em qualquer
local da superfície terrestre. Como resultado, surgem os ventos periódicos que
compreendem as monções e as brisas.
As monções são ventos periódicos que mudam de
direção a cada seis meses aproximadamente. Em geral, as monções sopram em
determinada direção em uma estação do ano e em sentido contrário em outra
estação.
Em função das diferentes capacidades de refletir,
absorver e emitir o calor recebido do Sol, inerentes à cada tipo de superfície
(tais como mares e continentes) surgem as brisas que caracterizam-se por serem
ventos periódicos que sopram do mar para o continente e vice-versa. No período
diurno, devido à maior capacidade da terra de absorver e refletir os raios
solares, a temperatura do ar aumenta e, como conseqüência, forma-se uma corrente
de ar que sopra do mar para a terra (brisa marítima). À noite, a temperatura da
terra cai mais rapidamente do que a temperatura da água e, assim, ocorre a brisa
terrestre que sopra da terra para o mar. Normalmente, a intensidade da brisa
terrestre é menor do que a da brisa marítima devido à menor diferença de
temperatura que ocorre no período noturno (Cresesb, 2001).
3.3.2. Direção e velocidade
dos ventos
A direção do vento também é um importante
parâmetro a ser analisado pois mudanças de direção freqüentes indicam situações
de rajadas de vento. Além disto, a medida da direção do vento auxilia na
determinação da localização das turbinas em um parque eólico. Devido à
existência do problema de "sombra", isto é, a interferência das esteiras das
turbinas, é fundamental o conhecimento da direção predominante.
As direções dos ventos dominantes são sempre
importantes para a colocação de uma aerogerador, visto que é preciso, para uma
boa eficiência, um local ideal com o mínimo de obstáculos para as direções
dominantes do vento. É importante observar todos os aspectos geográficos para um
empreendimento eólico.
Do ponto de vista do aproveitamento da energia
eólica, é importante distinguir os vários tipos de variações temporais da
velocidade dos ventos, a saber: variações anuais, sazonais, diárias e de curta
duração.
3.4. História da Energia
eólica
De acordo com Gipe (1998), acredita-se que foram
os egípcios os primeiros a fazer uso prático do vento. Em torno do ano 2800 AC,
começaram a usar velas para ajudar a força dos remos dos escravos.
Eventualmente, as velas ajudavam o trabalho da força animal em tarefas como
moagem de grãos e bombeamento de água.
Os persas começaram a usar a força do vento poucos
séculos antes de Cristo, e pelo ano 700 DC, eles estavam construindo moinhos de
vento verticais elevados ou panemones, para ser usado como força nas mós,
na moagem de grãos.
Outras civilizações do oriente médio, mais
notavelmente a muçulmana, continuaram onde persas deixaram e construíram seus
próprios moinhos de vento. Ao retornarem[16]
das cruzadas, pensou-se que tinham trazido idéias sobre moinhos de vento e
desenhos para a Europa, mas, provavelmente, foram os holandeses que
desenvolveram o moinho de vento horizontal, com hélices, comuns nos campos dos
holandeses e ingleses.
A força do vento e da água logo tornaram-se a
fonte primária da energia mecânica medieval inglesa. Durante esse período, os
holandeses contaram com a força do vento para bombeamento de água, moagem de
grãos e operações de serraria.
Através da Idade Média, os melhoramentos técnicos
continuaram a ocorrer em tais áreas, como na fabricação de lâminas
aerodinâmicas, desenhos de engrenagens, e de forma geral, os desenhos dos
moinhos de vento. As máquinas mais velhas eram os moinhos de vento em pilar, com
o propelente montado no topo do pilar assentado no chão. O pilar servia como
pivot que permitia ao obreiro direcionar seu moinho de vento da melhor forma
na direção do vento.
Os primeiros moinhos de vento, nas novas colônias
da Inglaterra, eram duplicatas das máquinas inglesas. Muitos dos desenhos
melhorados na Holanda eram, virtualmente, ignorados. Pelos anos de 1850, Daniel
Halliday começou a desenvolver o que se tornou no famoso moinho de vento
americano de fazenda. Usado principalmente para bombear água, esta máquina é o
familiar moinho de vento multi-lâmina, ainda visto hoje em muitas áreas rurais (Gipe,
1998). Mesmo hoje, as fazendas de gado, não seriam possíveis em muitas partes da
América, Europa e Austrália, sem este equipamento.
A geração de eletricidade pelo vento começou por
volta do início do século XX, com alguns dos primeiros desenvolvimentos
creditados aos dinamarqueses. Pelo ano de 1930, aproximadamente uma dúzia de
firmas americanas estavam fazendo e vendendo estes "carregadores de vento", na
maior parte aos fazendeiros do ventoso Great Plains. Tipicamente, estas máquinas
poderiam fornecer até 1000 watts (1kW) de corrente contínua quando o vento
estava soprando.
3.4.1. Os pioneiros da
energia eólica
Charles F. Brush (1849 – 1929) é um dos fundadores
da indústria da energia elétrica americana. Inventou um dínamo[17]
muito eficiente de corrente contínua utilizada na rede elétrica pública, sendo o
primeiro sistema elétrico a nível comercial[18]
(Windpower, 2001).
A energia eólica foi sugerida em vários episódios
para o acionamento de dínamos, parecendo ser a utilidade mais viável e
eficiente.
Poul la Cour (1846-1908), que teve, originalmente,
uma formação como meteorologista, foi mais um pioneiro das modernas turbinas
eólicas geradoras de eletricidade, da moderna aerodinâmica e construiu seu
próprio túnel de vento, para realizar experimentos. Ele se preocupava com o
armazenamento de energia e utilizava a eletricidade de suas turbinas eólicas
para obter hidrogênio para as lâmpadas de gás de sua escola.
Em 1956, foi construído um inovador aerogerador,
por J. Juul para a companhia elétrica SEAS, na costa de Gedser, na parte sul da
Dinamarca. A turbina de 3 pás, com rotor a barlavento, com orientação
eletromecânica e um gerador assíncrono, foi um desenho pioneiro dos modernos
aerogeradores, apesar de seu rotor, com cabos de apoio, pareça atualmente algo
do passado. Esta turbina possuía a opção de regulação aerodinâmica. Foram
inventados freios aerodinâmicos de emergência na ponta das pás, que se soltavam
pela força centrífuga, no caso de supervelocidade. Basicamente, é o mesmo
sistema utilizado hoje em dia nas modernas turbinas de regulação aerodinâmica.
Durante muitos anos, esta turbina foi a maior do mundo, e com incrível duração,
pois permanecem funcionando 11 anos sem manutenção.
O aerogerador de Gedser foi recondicionado, em
1975, a pedido da NASA, que queria resultados de medição da turbina para o novo
programa de energia eólica dos EUA (windpower, 2000).
Depois da primeira crise do petróleo, em 1973,
muitos países despertaram o interesse pela energia eólica. Na Dinamarca, as
companhias de energia dirigiram, imediatamente, sua atenção para a construção de
grande aerogeradores. Em 1979, foram construídos dois aerogeradores de 630kw, um
com regulação de câmbio de ângulo, outro com regulação aerodinâmica. Em muitos
aspectos ocorreu o mesmo processo[19],
nos países vizinhos e EUA, resultando em turbinas extremamente caras e, em
conseqüência, elevando o preço da energia gerada de fonte eólica, representando
um enclave ao desenvolvimento desta energia.
3.4.2. Nos anos 1980
Riisager christian, utilizando o projeto da
turbina do vento de Gedser como um ponto de partida, construiu uma turbina de
22 kW no seu próprio jardim. Usou componentes padrão baratos, como por exemplo,
um motor elétrico como gerador, e partes de um veículo (para a engrenagem e o
freio mecânico) onde foi possível. A turbina de Riisager transformou-se num
sucesso em muitas casas particulares, na Dinamarca. Isto estimulou os
fabricantes dinamarqueses de aerogeradores para projetar seus próprios
geradores, a partir de 1980.
Desta maneira, o rápido desenvolvimento dos
aerogeradores da Dinamarca tornou-se um clamor dos programas de investigação
subvencionados pelo governo sobre grandes geradores, levados a cabo
simultaneamente na Alemanha, EUA., Suécia, Reino Unido e Canadá.
3.4.3. A otimização dos
ventos
O local de colocação é de extrema importância. A
fig. 09 mostra uma maneira particularmente criativa e otimizada para
aproveitar os ventos de uma região da Dinamarca com aerogeradores Nordtank de 55
kW. Descobriu-se, também, com estes geradores que pintando as pontas das pás de
vermelho, os pássaros não voavam através do rotor, diminuindo o impacto à fauna.
Como resultado, este modelo desapareceu completamente do mercado, devido à
procura.
Paralelamente, estes aerogeradores foram
instalados no programa eólico da Califórnia (EUA), também em princípios de 1980.
Foi instalado um parque eólico com mais de 1000 aerogeradores em Palm Springs,
sendo a metade de origem dinamarquesa.
Conforme Windpower (2001), o mercado de energia
eólica, nos Estados Unidos, desapareceu rapidamente com a suspensão dos esquemas
de apoio[20]
californianos, por volta de 1985. Desde então, somente umas poucas novas
instalações foram colocadas em serviço, mesmo agora que o mercado parece ter-se
recuperado. A Alemanha é, agora, o principal mercado mundial, com a maior
potência eólica instalada.
Atualmente a Dinamarca dispõe de uns 2000 mW de
potência, com aproximadamente 6000 turbinas em operação. Cerca de 80% das
turbinas pertencem a proprietários particulares ou a cooperativas locais de
aerogeradores. O maior parque eólico do país conta com 20 aerogeradores Bônus de
2 MW cada um (Fig. 10). Outro, na ilha de Lolland, conta com 35
aerogeradores NEG Micon de 750 kW - uma potencia total de 26,25 MW (windpower,
2001).
A energia eólica marinha é uma aplicação da
energia eólica com um futuro bastante promissor, especialmente em países com
alta densidade populacional, com dificuldade para encontrar locais de instalação
em terra. Os custos são mais altos, mas compensatórios pela falta de espaço. As
companhias elétricas dinamarquesas anunciaram planos mais audaciosos para a
instalação de cerca de 4000 MW de energia eólica marinha nos próximos anos.
Espera-se uma produção de 13,5TWH de eletricidade ao ano, que equivale a 40% do
consumo de eletricidade de toda Dinamarca.
3.5. Sistema de funcionamento
O rendimento global do sistema eólico relaciona a
potência disponível do vento com a potência final que é entregue pelo sistema.
Os rotores eólicos ao extraírem a energia do vento reduzem a sua velocidade, ou
seja, a velocidade do vento frontal ao rotor (velocidade não perturbada) é maior
do que a velocidade do vento atrás do rotor (na esteira do rotor). Uma redução
muito grande da velocidade do vento faz com que o ar circule em volta do rotor,
ao invés de passar através dele.
A condição de máxima extração de energia
verifica-se para uma velocidade na esteira do rotor igual a 1/3 da velocidade
não perturbada. Em condições ideais, o valor máximo da energia captada por um
rotor eólico é limitado pela eficiência dada pelo fator 16/27 ou 0,593. Em
outras palavras, 59,3% da energia contida no fluxo de ar pode ser teoricamente
extraída por uma turbina eólica, conforme o Cresesb (2001). Na prática,
entretanto, o rendimento aerodinâmico das pás reduz ainda mais este valor. Para
um sistema eólico, existem ainda outras perdas, relacionadas com cada componente
(rotor, transmissão, caixa multiplicadora e gerador). Além disto, o fato do
rotor eólico funcionar em uma faixa limitada de velocidade de vento também irá
contribuir para reduzir a energia por ele captada.
Como mencionado, somente a partir de uma certa
velocidade (5,5m/s), chamada de velocidade de entrada (necessária para vencer
algumas perdas), é que o sistema começa a funcionar. Quando o sistema atinge a
chamada velocidade de corte (10,0m/s), um mecanismo de proteção é acionado com a
finalidade de não causar riscos ao rotor e à estrutura.
3.5.1. Componentes do Sistema
Um sistema eólico é constituído por vários
componentes que devem trabalhar em harmonia de forma a propiciar um maior
rendimento final. Para efeito de estudo global da conversão eólica devem ser
considerados os seguintes componentes :
3.5.1.1. O Rotor Eólico:
O rotor é o componente do sistema eólico
responsável por captar a energia cinética dos ventos e transformá-la em energia
mecânica de rotação, e esta, por sua vez, em energia elétrica. É o componente
mais característico de um sistema eólico. Por este motivo, a configuração do
rotor influenciará diretamente no rendimento global do sistema. Os rotores
eólicos podem ser classificados segundo vários critérios e o mais importante é
aquele que utiliza a orientação do eixo como fator de classificação. Assim
tem-se os rotores de eixo horizontal e os rotores de eixo vertical.
Os rotores de eixo horizontal são os mais comuns e
grande parte da experiência mundial está voltada para a sua utilização. São
movidos por forças aerodinâmicas chamadas de forças de sustentação (lift)
e forças de arrasto[21]
(drag). Ambas são proporcionais ao quadrado da velocidade relativa do
vento. Adicionalmente, as forças de sustentação dependem da geometria do corpo e
do ângulo de ataque (formado entre a velocidade relativa do vento e o eixo do
corpo).
3.5.1.2. Transmisão e Caixa multiplicadora:
A transmissão, que engloba a caixa multiplicadora, possui a finalidade de
transmitir a energia mecânica entregue pelo eixo do rotor até a carga. É
composta por eixos, mancais, engrenagens de transmissão e acoplamentos. O
projeto tradicional de uma turbina eólica consiste em colocar a caixa de
transmissão mecânica entre o rotor e o gerador de forma a adaptar a baixa
velocidade do rotor à velocidade de rotação mais elevada dos geradores
convencionais. A velocidade angular dos rotores geralmente varia na faixa de 20
a 150 RPM, devido às restrições de velocidade na ponta da pá. Entretanto,
geradores (sobretudo geradores síncronos) trabalham a rotações muito mais
elevadas (em geral, entre 1200 a 1800 RPM), tornando necessário a instalação de
um sistema de multiplicação entre os eixos.
3.5.1.3. O Gerador:
A transformação da energia mecânica de rotação em
energia elétrica, através de equipamentos de conversão eletro-mecânica, é um
problema tecnologicamente dominado e, portanto, encontram-se vários fabricantes
de geradores disponíveis no mercado.
Entretanto, a integração de geradores a sistemas
de conversão eólica constitui-se em um grande problema, que envolve
principalmente:
·
variações na velocidade do vento
(extensa faixa de rotações por minuto para a geração);
·
variações do torque de entrada (uma
vez que variações na velocidade do vento induzem variações de potência
disponível no eixo);
·
exigência de freqüência e tensão
constante na energia final produzida;
·
facilidade de instalação, operação e
manutenção devido ao isolamento geográfico de tais sistemas, sobretudo em caso
de pequena escala de produção (isto é, necessitam ter alta confiabilidade).
3.5.1.4. Os mecanismos de controle:
Destinam-se à orientação do rotor, ao controle de velocidade, ao controle de
carga, etc. Pela variedade de controles, existe uma enorme variedade de
mecanismos que podem ser mecânicos (velocidade, passo, freio), aerodinâmicos
(posicionamento do rotor) ou eletrônicos (controle da carga).
Os modernos aerogeradores utilizam dois diferentes
princípios de controle aerodinâmico para limitar a extração de potência à
potência nominal do aerogerador. São chamados de controle estol e controle de
passo. No passado, a maioria dos aerogeradores usavam o controle estol simples.
Atualmente, entretanto, com o aumento do tamanho das máquinas, os fabricantes
estão optando pelo sistema de controle de passo que oferece maior flexibilidade
na operação das turbinas eólicas.
O controle estol é um sistema passivo que reage à
velocidade do vento. As pás do rotor são fixas em seu ângulo de passo e não
podem girar em torno de seu eixo longitudinal. O ângulo de passo é escolhido de
forma que, para velocidades de vento superiores a velocidade nominal, o
escoamento em torno do perfil da pá do rotor descola da superfície da pá
(estol), reduzindo as forças de sustentação e aumentando as forças de arrasto.
Sob todas as condições de ventos, superiores à velocidade nominal, o escoamento
em torno dos perfis das pás do rotor é, pelo menos parcialmente, descolado da
superfície, produzindo menores forças de sustentação e elevadas forças de
arrasto. Menores sustentações e maiores arrastos atuam contra um aumento da
potência do rotor. Para evitar que o efeito estol ocorra em todas as posições
radiais das pás ao mesmo tempo, o que reduziria significativamente a potência do
rotor, as pás possuem uma pequena torção longitudinal que as levam a um suave
desenvolvimento deste efeito.
O controle de passo, por sua vez, é um sistema
ativo que normalmente necessita de uma informação vinda do controlador do
sistema. Sempre que a potência nominal do gerador é ultrapassada, devido a um
aumento da velocidade do vento, as pás do rotor giram em torno do seu eixo
longitudinal. Em outras palavras, as pás mudam o seu ângulo de passo para
reduzir o ângulo de ataque. Esta redução do ângulo de ataque diminui as forças
aerodinâmicas atuantes e, conseqüentemente, a extração de potência. Para todas
as velocidades do vento superiores à velocidade nominal, o ângulo é escolhido de
forma que a turbina produza apenas a potência nominal. Sob todas as condições de
vento, o escoamento em torno dos perfis das pás do rotor é bastante aderente à
superfície produzindo sustentação aerodinâmica e pequenas forças de arrasto (Cresesb,
2001).
3.5.1.5. As torres:
São necessárias para sustentar e posicionar o rotor a uma altura conveniente
para o seu funcionamento. É um item estrutural de grande porte e de elevada
contribuição no custo inicial do sistema. Em geral, as torres são fabricadas de
metal (treliça ou tubular) ou de concreto e podem ser ou não sustentadas por
cabos tensores.
3.5.1.6. Um sistema de armazenamento:
Para armazenar energia se faz necessário, em razão do comportamento do vento que
muda ao longo do tempo, para garantir o fornecimento adequado à demanda.
Nos casos em que a energia eólica é utilizada para
complementar a produção de energia convencional, a energia gerada é injetada
diretamente na rede elétrica, não sendo necessário o armazenamento de energia,
bastando que o sistema elétrico convencional de base esteja dimensionado para
atender à demanda durante os períodos de calmaria.
Quando a energia eólica é utilizada como fonte
primária de energia, uma forma de armazenamento se faz necessária para adaptar o
perfil aleatório de produção energética ao perfil de consumo, guardando o
excesso de energia[22],
durante os períodos de ventos de alta velocidade, para usá-la quando o consumo
não puder ser atendido por insuficiência de vento.
3.5.2. Tamanho de
aerogeradores
Quando um agricultor fala da extensão de terra que
está cultivando, normalmente o fará em termos de hectares ou acres. O mesmo
ocorre com os aerogeradores. A área coberta pelo rotor determina
fundamentalmente quanta energia pode-se coletar em um ano.
3.6. Sistemas Híbridos
Durante muito tempo, acreditou-se na interligação
de todos os lugares do mundo através de rede elétrica, mas, na verdade, isto
provavelmente nunca será possível devido ao alto custo da eletrificação de
lugares com baixa demanda e de difícil acesso. Portanto, as necessidades
energéticas de locais isolados devem ser supridas por sistemas autônomos,
descentralizados de geração de eletricidade.
A utilização de energia renovável, como parte ou
principal contribuição de um sistema de geração de eletricidade, pode ser
atrativa para a maioria dos locais isolados. Geralmente, os sistemas isolados
eletrificados utilizam geração termelétrica com grupos geradores diesel. No
Brasil, conforme o Cbee[23]
(2001), existem mais de 400 sistemas isolados de grande porte (com mais de 1400
MW de potência instalada) e inúmeros sistemas pequenos que utilizam óleo diesel
como fonte geradora de energia. Já foi demonstrado que sistemas híbridos de
energia podem representar uma solução mais econômica para muitas aplicações e
também proporcionar uma fonte mais segura de eletricidade devido à combinação de
diversas fontes de energia. Além do mais, o uso de energia renovável reduz a
poluição ambiental causada pela queima de óleo diesel, transporte e
armazenamento.
Sistemas híbridos de energia (Hybrid Power
Systems) são sistemas autônomos de geração elétrica que combinam fontes de
energia renovável e geradores convencionais. O objetivo deles é produzir o
máximo de energia possível das fontes renováveis (Sol e vento), enquanto
mantidas a qualidade da energia e a confiabilidade especificadas para cada
projeto.
Para a implantação com sucesso de um sistema
híbrido de energia, dois fatores são essenciais:
·
a confiabilidade da operação e o
fornecimento de energia;
·
o custo da energia gerada.
Os componentes usados em sistemas híbridos de
energia são padronizados e comercializados tanto para a operação interligados à
rede elétrica como para o funcionamento isolado. Embora a vida útil e a
confiabilidade destes equipamentos, isoladamente, sejam adequadas para a sua
utilização em sistemas elétricos, o funcionamento de sistemas híbridos de
energia modifica este quadro por causa da interação entre os vários componentes
e em decorrência das características de sistemas isolados, isto é, redes fracas
e demandas com grandes variações. Diversos problemas surgem como, por exemplo,
os danos aos motores de partida dos geradores diesel, reparos e ajustes do freio
das turbinas eólicas, degradação dos bancos de bateria, etc.
3.7. A rápida expansão
Quando se fala em energia eólica no mundo, deve-se concentrar principalmente nos
Estados Unidos e no Mercado Europeu. Apesar de existirem milhares de grupos
espalhados por todo o mundo, inclusive no Brasil, são estas as regiões mais
avançadas em termos de pesquisa e implantação de aerogeradores.
Para se ter uma idéia, os investimentos, só nos
Estados Unidos, ultrapassaram 1 bilhão de dólares, e os do mercado Europeu não
ficaram atrás. Segundo a Utility Data Institute (UDI), dos EUA, espera-se que em
2006, o total de energia gerado por aerogeradores no mundo seja da ordem de
686.000 MW.
Entre os países, a Alemanha apresenta um dos
maiores potenciais instalados. Atualmente, apresenta 6.819 turbinas com um poder
avaliado de 3.387,9 MW. Se comparado ao mesmo período de 1998, houve um aumento
de 66,8 % da capacidade geradora, o que corresponde a implantação 49,6% de novas
turbinas Estas, agora, chegam a produzir de 497,6 KW a 843,3KW cada. Em termos
de investimento, isto representa um considerável aumento comparado ao mesmo
período de 1998.
A Dinamarca e Espanha também estão prosperando com
relação à utilização da energia eólica no setor residencial e industrial. A
Dinamarca, país considerado pioneiro na indústria eólica e de equipamento,
ostenta o maior potencial instalado do continente (cerca de 1500 MW). No final
de 1995, o país já produzia cerca de 5% do consumo elétrico do país através de
aerogeradores. Hoje este número é aproximadamente de 7,1%, pretendendo chegar a
10% até o ano de 2005. É também o maior exportador de turbinas eólicas do mundo.
A Espanha também vem aumentando cada vez mais seu potencial instalado e daqui a
algum tempo surgirá como um dos lideres neste setor (já apresenta um potencial
de 500 MW).
Deve-se destacar também a Holanda, que devido a
sua própria geografia, encontrou na energia eólica uma das soluções para a
geração de eletricidade. Atualmente, é um dos principais consumidores deste tipo
de energia e detentor de alta tecnologia de aerogeradores.
Nos Estados Unidos, a utilização de energia eólica
para a geração de eletricidade é cada vez mais comum. O uso residencial vem
aumentando, principalmente em fazendas da região central norte americana.
Algumas chegam a serem auto-sustentáveis. (AWEA, 2000).
De julho de 1998 a julho de 1999, a capacidade
geradora aumentou em 895 MW. Além disto, cerca de 1075 MW foram reinstalados,
tendo suas turbinas trocadas por equipamentos mais eficientes e atuais. Isto
representou um investimento de mais de 1 bilhão de dólares. As principais
regiões produtoras de eletricidade através desta técnica são Oklahoma, Montana,
Washington, Arizona, Dakota do Sul, Nevada, Maine, Texas. (AWEA[24],
Op. Cit.).
Na América Latina, existem alguns lugares viáveis
para a produção de energia eólica como a Patagônia. Em Chubut, Argentina, se
instalou 4 aerogeradores eólicos de 30 KW para análise e pesquisa. Esta região
apresenta um ótimo potencial eólico, com ventos da ordem de 10 m/s.
No Brasil, merece destaque a região de Minas
Gerais, aonde a CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) vem instalando e
analisando o desempenho de aerogeradores. De acordo com a American Wind Energy
Association (AWEA), espera-se que, em 2005, Argentina, Brasil e México tenham um
potencial instalado de 1740 MW, dos quais 400 MW correspondem à Argentina, 940
MW ao Brasil e outros 400 MW ao México. Quem sabe, no futuro, com incentivos
governamentais, este tipo de energia possa vir a melhorar os índices de
participação no mercado interno destes países.
Já na Ásia, merece destaque a Índia que, além do bom potencial eólico que apresenta, tem conseguido incorporar cerca de 1 MW diário a seu sistema elétrico. Na América do Norte, o Canadá se evidencia com uma capacidade instalada de 1,24MW, segundo a Canewa (Canadian Wind Energy Association). E, por último, destaca-se a África do Sul, que vem implantando aerogeradores em algumas fazendas e que, em breve, apresentará um potencial de cerca de 200 MW.
4. O POTENCIAL EÓLICO DO BRASIL
Devido à sua grande extensão territorial, o Brasil
apresenta diversas regiões propícias para a implantação de usinas eólicas.
Análises dos recursos eólicos medidos em vários locais do Brasil, mostram a
possibilidade de geração elétrica com custos da ordem de US$ 70 - US$ 80 por MWh
(Cbee – Centro Brasileiro de Energia Eólica, 2000)
4.1. Panorama Eólico
A energia dos ventos é uma abundante fonte de
energia renovável e disponível em várias regiões[25].
A utilização desta fonte energética para a geração de eletricidade, em escala
comercial, teve início há pouco mais de 30 anos e através de conhecimentos da
indústria aeronáutica, os equipamentos para geração eólica evoluíram
rapidamente, em termos de idéias e conceitos preliminares, para produtos de alta
tecnologia. No início da década de 1970, com a crise mundial do petróleo, houve
um grande interesse de países europeus e dos Estados Unidos em desenvolver
equipamentos para produção de eletricidade que ajudassem a diminuir a
dependência do petróleo e carvão. Mais de 50.000 novos empregos foram criados e
uma sólida indústria de componentes e equipamentos foi desenvolvida. Atualmente,
a indústria de turbinas eólicas vem acumulando crescimentos anuais acima de 30%
e movimentando cerca de 2 bilhões de dólares em vendas por ano (Cbee, 1999).
No Brasil, embora o aproveitamento dos recursos
eólicos tenha sido feito tradicionalmente com a utilização de cataventos
multipás, para bombeamento d'água, alguns estudos e medidas precisas de vento,
realizadas recentemente em diversos pontos do território nacional, indicam a
existência de um imenso potencial eólico ainda não explorado.
4.1.1. O quadro Atual
(potencial)
A avaliação precisa do potencial de vento em uma
região é o primeiro e fundamental passo para o aproveitamento do recurso eólico
como fonte de energia.
Para a avaliação do potencial eólico de uma região
faz-se necessária a coleta de dados de vento com precisão e qualidade. Em geral,
os dados de vento coletados para outros usos (aeroportos, estações
meteorológicas, agricultura) são pouco representativos da energia contida no
vento e não podem ser utilizados para a determinação da energia gerada por uma
turbina eólica - que é o objetivo principal do mapeamento eólico de uma região.
Vários estados brasileiros seguiram os passos de
Ceará e Pernambuco e iniciaram programas de levantamento de dados de vento. Hoje
existem mais de cem anemógrafos computadorizados espalhados por vários estados
brasileiros.
Conforme o Cbee (2001), a análise dos dados de
vento de vários locais no Nordeste confirmaram as características dos ventos
comerciais (trade-winds) existentes na região: velocidades médias de vento
altas, pouca variação nas direções do vento e pouca turbulência durante todo o
ano. Adicionalmente, foram observados fatores de forma de Weibull (da
distribuição estatística de Weibull), k[26],
maiores que 3 - valores considerados muito altos quando comparados com os ventos
registrados na Europa e Estados Unidos.
Dada a importância da caracterização dos recursos
eólicos da região Nordeste, o Centro Brasileiro de Energia Eólica - CBEE, com o
apoio da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL e do Ministério de Ciência
e Tecnologia - MCT lançou, em 1998, a primeira versão do Atlas Eólico do
Nordeste do Brasil (WANEB - Wind Atlas for the
Northeast of Brazil) com o objetivo principal de desenvolver modelos
atmosféricos, analisar dados de ventos e elaborar mapas eólicos confiáveis para
a região.
Em 1999, a companhia paranaense de energia, COPEL,
publicou o mapa do potencial eólico do estado do Paraná. Foram utilizados dados
de vento de cerca de vinte estações anemométricas para simulações em modelo
atmosférico de microescala com apresentação gráfica em ferramenta GIS[27].
Hoje, a capacidade instalada no Brasil é de 20,3
MW, com instalações eólicas de grande porte nos Estados do Ceará, Pernambuco,
Minas Gerais e Paraná, e se trabalha com o objetivo de instalar 1.000MW de
energia eólica no país até 2005, meta estabelecida durante Encontro do Fórum
Permanente de Energias Renováveis, realizado em Brasília.
4.1.2. As possibilidades
(projetos)
Apesar de vários trabalhos e pesquisas científicas
realizadas nas décadas de 1970 e 1980 a geração de energia a partir de turbinas
eólicas, no Brasil, teve início apenas em julho de 1992, com a instalação de uma
turbina de 75kW na ilha de Fernando de Noronha. Esta foi uma iniciativa pioneira
do CBEE, na época conhecido como Grupo de Energia Eólica da Universidade Federal
de Pernambuco.
4.2. Custos da energia
eólica
Considerando o grande potencial eólico existente
no Brasil, confirmado através de medidas de vento precisas realizadas
recentemente, é possível produzir eletricidade a custos competitivos com
centrais termoelétricas, nucleares e hidroelétricas. Análises dos recursos
eólicos medidos em vários locais do Brasil, mostram a possibilidade de geração
elétrica com custos da ordem de US$ 70 - US$ 80 por MWh.
De acordo com estudos da ELETROBRÁS, o custo da
energia elétrica gerada através de novas usinas hidroelétricas construídas na
região amazônica será bem mais alto que os custos das usinas implantadas até
hoje. Quase 70% dos projetos possíveis deverão ter custos de geração maiores do
que a energia gerada por turbinas eólicas. Outra vantagem das centrais eólicas
em relação às usinas hidroelétricas é que quase toda a área ocupada pela central
eólica pode ser utilizada (para agricultura, pecuária, etc.) ou preservada como
habitat natural.
A energia eólica poderá também resolver o grande
dilema do uso da água do Rio São Francisco, no Nordeste (água para gerar
eletricidade versus água para irrigação). Grandes projetos de irrigação às
margens do rio e/ou envolvendo a transposição de suas águas para outras áreas
podem causar um grande impacto no volume de água dos reservatórios das usinas
hidrelétricas e, conseqüentemente, prejudicar o fornecimento de energia para a
região. Entretanto, observando o gráfico da Fig. 17, percebe-se que as
maiores velocidades de vento no nordeste do Brasil ocorrem justamente quando o
fluxo de água do Rio São Francisco é mínimo. Logo, as centrais eólicas
instaladas no nordeste poderão produzir grandes quantidades de energia elétrica
evitando que se tenha que utilizar as águas deste rio.
4.3. Regiões de Maior
Potencial
Entre os indutores necessários ao desenvolvimento
da geração eólica, no Brasil, certamente está a realização de medições
específicas e mapeamentos representativos de seu potencial energético. Estes são
pré-requisitos fundamentais para o planejamento e atração de investimentos
privados no setor (Cresesb, 2001).
No Brasil, apesar de toda a sua costa possuir
ventos razoavelmente contínuos, somente uma parte do litoral é propícia para
implantação de aerogeradores, como observado na figura 14. Atualmente,
estão implantados parques eólicos somente no Nordeste (Fig. 17) e no
Estado do Paraná. O Rio Grande do Sul e Minas Gerais estão em fase de medições.
A direção dos ventos é outro fator de essencial
importância para definir um local para instalação de aerogeradores. Está é
medida durante pelo menos 2 anos, para definir a direção predominante.
É apresentado o mapa do Brasil com suas direções
predominantes, podendo ser observadas as direções das regiões que apresentam
maior potencial eólico.
Atualmente a região está somente em fase de
levantamentos para a instalação, no próximo ano (2002), de alguns parques
eólicos, com diversas parcerias como se pode ver na figura 21.
O litoral do Rio Grande do Sul está bem situado e
com grandes possibilidades de exploração de energia eólica, como é visível
analisando-se a velocidade anual do vento nesta região, pela fig. 22.
Através da Secretaria de Energia, Minas e
Comunicações do Estado, foram instalados 26 pontos de medição de vento no Rio
Grande do Sul. Cada ponto de medição constitui-se de uma torre de 40 a 50m de
altura, anemômetros de velocidade em 2 alturas, anemômetros de direção também em
2 alturas e um armazenador de dados (logger).
Em Agosto de 2001 conforme a SEMC, encontravam-se em operação 18 estações de medição de vento, e previstas 20 novas estações de medição de vento.
CONCLUSÃO
Pelo que foi observado ao longo deste trabalho, a
energia é um fator fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento da
humanidade. No passado remoto, a busca era por uma fonte capaz de aquecer os
dias de inverno (lenha, madeira). No século XVIII, era preciso mover as
indústrias (carvão). Já no século XX, além disto era preciso fazer funcionar
automóveis (petróleo) e eletrodomésticos (eletricidade), entre outros bens.
Mas, os resultados do uso desordenado de
combustíveis fósseis acarretou problemas ambientais, como poluição das águas, do
solo e do ar, o que vem reduzindo, dramaticamente, a qualidade de vida em escala
planetária. Isto tem exigido a busca de fontes alternativas de energia como a
eólica, a solar direta, a biomassa, o hidrogênio, entre outras.
A energia eólica é uma eficiente fonte de produção
de eletricidade, tendo como vantagem o fato de ser considerada limpa e com
custos competitivos comparados aos das tradicionais fontes energéticas. Os
parques eólicos têm, ainda, a vantagem de permitirem que o terreno ocupado seja
utilizado para outros fins, como o agrícola, por exemplo. No entanto, não se
deve esquecer de que, a implantação de obstáculos ou o aumento da rugosidade do
terreno implica numa diminuição da sua produção. Mesmo assim, a área ocupada
por um parque eólico não é excessiva, quando comparada com outros tipos de
aproveitamentos (hídricos, por exemplo).
Os modernos aerogeradores, com alturas das torres
de 40 m e comprimento das pás de 20 m, constituem também uma alteração visual da
paisagem. O impacto visual é muito difícil de avaliar, visto que podem,
inclusive, apresentar uma paisagem admirável.
Em Monteiro (1998) também se constata que, a
energia gasta para produzir, instalar e para operação e manutenção de um
aerogerador típico é produzida por este mesmo aerogerador, em menos de meio ano.
Este fato torna a energia eólica numa das energias mais atrativas, em termos de
planejamento energético mundial.
Quanto à segurança das pessoas, tem-se verificado
que os sistemas eólicos estão entre os de produção de energia elétrica mais
seguros, sem acidentes de trabalho, insalubridade, etc. No que se refere ao
impacto sobre as aves, verificou-se que este foi satisfatoriamente solucionado,
ocorrendo, apenas com alguns tipos de aerogeradores mais antigos.
No Brasil, é visível a crise da energia elétrica,
com a recente elevação de preços, racionamentos e cortes. Como verificado
anteriormente, isto aconteceu por uma falha na gestão do setor energético,
levando, assim, a uma emergencial busca por fontes alternativas de energia.
Neste caso, a instalação de parques eólicos tem sido uma das preocupações de
governos e iniciativa privada, sendo realizadas pesquisas e medições em regiões
de grande potencial, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, além de incrementos
nas regiões já existentes (Paraná, Ceará).
Salienta-se, por fim, que a Geografia ocupa um papel fundamental no processo de planejamento e estudo para implementação de qualquer parque eólico, visto que se trata da ocupação de um espaço pré-determinado. Assim, o estudo das curvas de nível, da rugosidade, ou seja, do relevo, bem como da direção e velocidade predominante dos ventos, e outros determinantes fundamentais para a efetivação de um parque eólico, precisam de subsídios do saber geográfico, o qual também será essencial para o seu posterior monitoramento e gestão.
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[1] Capacidade de suporte refere-se à possibilidade de cultivo e
criação em certas áreas, não abandonando as mesmas após um tempo, como uma
estação, indo para outras regiões, conforme Odum, 1988.
[2] Conforme Homi J. Bhabha, presidente da primeira conferência Internacional sobre “Usos Pacíficos da Energia Atômica”, realizada em Genebra, 1955, que descreveu três idades da humanidade: a idade da potência muscular, a idade do combustível fóssil e a idade atômica (Odum, 1988).
[3] Plantas marinhas microscópicas, principalmente algas.
[4] Apesar de impactos ambientais importantes, como perda dos ecossistemas costeiros, de terras férteis, bem como alocação de pessoas.
[5] Relembrando: Eletricidade 40%, derivados de petróleo 23%, carvão 10% e álcool 2%.
[6] Partes por milhão.
[7] Deve-se salientar que a entrada de um novo combustível não substitui o outro, mas limita seu uso, sendo os outros também utilizados.
[8] Intensidade energética é considerada a quantidade de energia necessária por unidade de produção econômica.
[9] Energia de biomassa aqui referida seria lenha, muito mais poluente a nível atmosférico, liberando CO2 e NO2.
[10] Esta desordem refere-se aos acidentes ocorridos com esta energia , ao alto custo da mesma e a dificuldade de disposição dos resíduos, grande problema ambiental (Brown, 2000).
[11] Os ventos se originam indiretamente da energia solar.
[12] Advertência do colunista da Newsweek Robert Samuelson, in Hawken, 1999.
[13] Dinamarca, Alemanha, Espanha, França, Escócia, Holanda, Inglaterra.
[14] Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito.
[15] Devido a rotação do globo, qualquer movimento dos fluidos de ar no hemisfério Norte é desviado para a direita, e no hemisfério Sul para a esquerda. Este desvio é provocado pela força de Coriolis.
[16] Teoricamente, indo para os combates, os muçulmanos traziam conhecimentos e cultura dos povos por onde passavam.
[17] Sistema de rotação que transforma energia mecânica em elétrica.
[18] Brush era proprietário da Brush Eletric, em Cleveland (Ohio), que foi vendida em 1889 e, em 1892, uniu-se com a Edison General Eletric Company com o nome de General Eletric Company (GE).
[19] Processo este que deixou mais cara esta energia, em virtude da alta demanda somente em aerogeradores de grande porte.
[20] Sopõe-se que estes esquemas referem-se a incentivos por parte do governo, sendo suspensos por causa do petróleo.
[21] Forças de sustentação são as forças que atuam perpendicularmente ao escoamento, e as forças de arrasto são as forças que atuam na direção do escoamento, movendo a hélice em velocidade (Cresesb, 2001)
[22] Uma das formas mais conhecidas de armazenamento de energia eólica é através de baterias.
[23] Centro Brasileiro de Energia Eólica.
[24] Europen Wind Energy Association.
[25] Sempre dependendo de estudos e medições mínimas de um ano para definir um local propício.
[26] Distribuição de potencial de ventos do país.
[27] GIS, em português SIG: Sistema de Informações Geográficas.
[28] Subsidiária da Enercon, líder de mercado na Alemanha.