A camada de ozônio
Soou o alarme...


Carlos Renato Fernandes
Gazeta do Povo, 09 de julho de 2004 página 15

A diminuição da camada protetora de ozônio na atmosfera superior e o conseqüente aumento da nociva radiação ultravioleta UV-B, para todos os seres vivos no nosso planeta, tem sido uma das questões ambientais globais mais preocupantes desde a sua constatação no início da década de 1980. Medições recentes revelaram um aumento da rarefação do ozônio na atmosfera, voltando a povoar os pesadelos de cientistas e estudiosos.
Há 2 bilhões de anos, a atmosfera da Terra não continha ozônio. Ele foi criado, assim como o oxigênio, por meio da fotossíntese pelos microorganismos oceânicos. Assim que surgiu na atmosfera o oxigênio O2, reagiu com os raios ultravioleta de alta energia e formou o ozônio, O3. Seu acúmulo mudou a atmosfera e a história da vida na Terra. Estava preparado o grande palco para que a vida, abrigada até então pelo oceano protetor, prosperasse também em terra firme. Assim formou-se a tênue camada de ozônio na estratosfera, numa altura de 15 a 50 quilômetros, que protege a vida contra a radiação ultravioleta UV-B, radiação biologicamente ativa com comprimento de onda de 280 a 320 nanômetros. É a mesma radiação que bronzeia, calcina, envelhece a pele, causa cataratas nos olhos, degrada os ecossistemas dos oceanos, reduz a pesca e as colheitas, e danifica o DNA que contém informações genéticas necessárias para a reprodução e manutenção da saúde de plantas e animais. Mutações indesejáveis no DNA, causadas pela radiação UV-B, durante a reprodução celular, podem levar a um crescimento tumoral como o melanoma, freqüentemente fatal, e outras formas de câncer de pele. A Academia de ciências dos Estados Unidos calcula que apenas naquele país estejam surgindo anualmente 10 mil casos de carcinoma de pele por causa da redução da camada de ozônio. Há estimativas indicando que uma redução de 50% na camada de ozônio em todo o planeta provocaria cegueira e queimaduras de pele com formação de bolhas num prazo de apenas 10 minutos. As substâncias responsáveis pela destruição do ozônio protetor são compostas de nitrogênio, bromo e cloro. Algumas dessas substâncias ocorrem naturalmente na estratosfera vindos de fontes como o solo, vapores d'água, vulcões e oceanos. O maior vilão, porém, são os clorofluorcarbonos, CFCs, sintetizados pelo homem. No início do século 20, os químicos sintetizaram uma substância química ideal para usar nos refrigeradores e condicionadores-de-ar. Essas substâncias são estáveis, não interagem com outras substâncias, não corroem os aparelhos e nem causariam problemas à saúde humana. São moléculas de base carbono com átomos de cloro e flúor. Justamente por ser uma substância estável e não interagir com outras, ela não participa dos ciclos da matéria da Terra. Fica flutuando, deixando-se levar quilômetros acima do planeta até alcançar a atmosfera superior. Ali, a radiação ultravioleta de alta energia quebra sua molécula por meio da fotocomposição e libera o cloro. Para cada átomo de cloro que é liberado na atmosfera, cerca de 100 mil moléculas de ozônio são destruídas. Descoberto esse fenômeno, a comunidade científica mundial se organizou para tomar as providências necessárias. Ministros do meio ambiente de 24 paises, representando grande parte do mundo industrializado, reuniram-se na cidade de Montreal em 1987 e, em 1990, ratificaram o acordo preestabelecido de limitar a produção de substâncias que prejudicam a camada de ozônio. Para despertar a atenção para o problema da diminuição da camada de ozônio, foi instituído também o Dia Internacional de Proteção à camada de ozônio, celebrado no dia 16 de setembro, todos os anos.
Em setembro de 2003, o buraco na camada de ozônio atingiu o alarmante pico de 28 milhões de quilômetros quadrados. Não se limita mais à Antártida, mas atinge também o norte da Europa, Sibéria, Alasca e Canadá. No Sul do Brasil houve um aumento de 18% no buraco de ozônio, atingindo os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O diretor do Laboratório de Ciências Espaciais de Santa Maria, Paulo Sarkis, adverte que os habitantes dessas regiões devem evitar a exposição ao sol. Chegamos à conclusão de que estamos começando a compreender que mesmo quantidades pequenas de substâncias sintéticas inexistentes na natureza, para os quais os processos naturais de degradação e reciclagem são ineficazes, podem mudar dramaticamente características importantes dos sistemas do nosso planeta. Porém o que mais preocupa é que essa situação tão grave, da destruição da camada de ozônio, não vem tendo a repercussão necessária. Está havendo também um aumento do comércio ilegal dos CFCs, minando os esforços internacionais para proteger a estratosfera.
As notícias têm sido fragmentadas no tempo, e o impacto que deveriam ter fica como os clorofluorcarbonos, pairando no ar, mesmo porque nós, seres humanos, fazemos o que for preciso para esquecer o mais rapidamente possível tudo que nos pareça desagradável.

Carlos Renato Fernandes Membro do Instituto Histórico e Geográfico Do Paraná e do Centro de Letras do Paraná. Autor dos livros "O Paraná" e "Floresta Atlântica - Reserva da Biosfera". [email protected]
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