O papel da OPEP(histórico)

Criação da OPEP
Em 1960, os principais países exportadores criaram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que é fortnada por Arábia Saudita, Irã, Iraque, Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Líbia, Argélia, Venezuela, Equador, Nigéria e Gabão. Essa associação, unindo os principais exportadores e evitando a concorrência entre eles, conseguiu ter um importante peso na fixação dos preços do produto.
A enorme importância do petróleo para a nossa época, juntamente com as informações sobre a possibilidade de esse recurso se esgotar num faturo não muito distante, também contribuiu para que os países produtores resolvessem aumentar seu preço.

Atuação das "Sete Irmãs"
A maior parte da produção e da comercialização mundial do petróleo concentra-se em um número reduzido de grandes empresas, as chamadas "Sete Irmãs"*. Antes de 1973, essas grandes empresas petrolíferas sempre evitaram aprovar grandes aumentos nos preços do produto, chegando às vezes a provocar irritações em alguns países árabes, que em certos casos até nacionalizaram as firmas petrolíferas do país, expulsando as multinacionais. Após 1973, portanto, as "Sete Irmãs" começaram a aprovar todo aumento reclamado pela OPEP, devido em especial a dois fatores:
o Na guerra árabe-israelense de 1973, os Estados Unidos e a Europa ocidental permaneceram passivos diante da atitude de Israel de não devolver os territórios sírios, jordanianos e egípcios ocupados na Guerra dos Seis Dias (1967). Além disso, venderam armamentos e prestaram auxílio financeiro a Israel. Tal atitude irritou profundamente os países árabes, levando-os a utilizar o petróleo como arma política. Diante disso, as empresas multinacionais do petróleo corriam o sério risco não somente de serem nacionalizadas em outros países do Oriente Médio onde ainda tinham filiais, mas também de sofrerem atentados terroristas em outras partes do mundo. Resolveram, portanto, acatar tal política.
o Aprovando esses aumentos, as "Sete Irmãs" sabiam que se daria uma corrida para outras fontes de energia (carvão, átomo, xisto betuminoso, etc.), com a conseqüente valorização também destas fontes. Já na década de 60, as grandes empresas petrolíferas procuraram constituir conglomerados**, acabando por controlar, a baixos preços, a pesquisa, a produção e o comércio dessas outras fontes de energia. Assim, no início da década de 70 elas já estavam bem instaladas, já tinham um razoável controle sobre tais fontes e o aumento do preço do petróleo acabaria por beneficiáIas tanto a curto prazo (o petróleo) como a longo prazo (as demais fontes).

A partir de 1981, contudo, os preços do barril de petróleo começaram a se estabilizar no mercado internacional e, de 1985 em diante, começaram a sofrer sucessivas quedas, chegando a custar novamente apenas 11 dólares o barril, em 1990. Mas, já em 1995, o barril de petróleo era vendido por 18 dólares. Como se vê, os preços do petróleo eram extremamente baratos até 1973, depois subiram assustadoramente até 1981 e passaram a declinar novamente, chegando a um patamar médio mais ou menos estável nos anos 90.
As causas desse declínio dos preços do petróleo nos anos 80 estão ligadas fundamentalmente ao excesso de produção e de oferta. Com os elevados preços de 1973 até 1980, muitos países passaram a investir mais na extração desse combustível; e muitas áreas que não eram exploradas, porque o preço do óleo importado era, até 1973, mais barato que os gastos com a extração (caso de certas regiões oceânicas, por exemplo), começaram a produzir na década de 80. Além disso, muitos países que não eram importantes exportadores de petróleo - como o México, a Rússia ou a China - passaram a sê-lo a partir de 1981.
Tudo isso contribuiu para aumentar a oferta do produto no mercado internacional e, consequentemente, para a queda de seus preços. Mas os cálculos que mostraram as possibilidades de esgotamento desse combustível, em especial na Rússia e na China, fizeram com que eles deixassem progressivamente de exportar petróleo nos anos 90, estabilizando novamente os preços, que agora tendem mais a subir (pouco) do que a declinar.
Na realidade, os preços do petróleo como os da imensa maioria das mercadorias importantes para a economia moderna dependem bastante das relações geopolíticas internacionais. Há várias décadas os Estados Unidos controlam a oferta de cereais no comércio mundial, especialmente de trigo, fazendo com que seus preços sejam compensadores para o produtor norte-americano. Essa superpotência tem até um lema - Food is power (Comida é poder) -, que sugere a importância estratégica do controle da oferta de alimentos em nível internacional.
O petróleo possui uma grande importância estratégica para a economia internacional, e seus preços variam bastante conforme a conjuntura política. Quando o Iraque invadiu o Kuwait em 1990, por exemplo, o preço desse combustível subiu durante algumas semanas para quase 40 dólares o barril. Durante a chamada Guerra do Golfo*, os preços sofreram seguidas oscilações, para baixo e para cima, dependendo das notícias do conflito, Mas os países ricos, liderados militarmente pelos Estados Unidos, não admitem uma grande subida nos preços do petróleo, e até mesmo os grandes exportadores com governos moderados - caso da Arábia Saudita, principalmente, que tem muito capital investido em empresas dos países desenvolvidos -, também colaboram para manter uma certa estabilidade desse mercado.

Os petrodólares e a modernização nos países da OPEP
Os sucessivos aumentos no preço do petróleo, após 1973, acarretaram uma notável transferência de riquezas para os países da OPER Para ter uma idéia do volume de dinheiro ganho por esses países com as exportações de petróleo, vejamos os seguintes exemplos: apenas no período de 1973 a 1980 a Arábia Saudita acumulou uma receita de cerca de 200 bilhões de dólares em exportações; o Iraque, nesse mesmo período, acumulou 80 bilhões de dólares; e o Irã, em torno de 180 bilhões de dólares.
É bem verdade que no início (1973 e 1974) os ganhos foram bem maiores, diminuindo depois progressivamente devido à inflação internacional e à desvalorização do dólar em relação ao marco alemão, ao iene j aponês e às outras moedas fortes. Apesar disso, no entanto, tais países acumularam enorme quantidade de dólares (que receberam o nome de petrodólares, devido à sua origem) e tiveram talvez uma grande chance de superar a situação de países subdesenvolvidos. Mas tal não aconteceu, por vários fatores:
o Esses países, como a maioria no Terceiro Mundo, têm uma estrutura social caracterizada por desigualdades extremas, com uma grande maioria da população vivendo de baixos rendimentos, uma classe média normalmente pouco numerosa em relação à população total e uma elite econômica que possui a maior parte da renda nacional. Uma grande parcela dos petrodólares foi aplicada por essa elite no exterior, na compra de ações de empresas estrangeiras (principalmente nos Estados Unidos, no Japão e na França). Fica claro, portanto, que muito do dinheiro obtido com o petróleo não chegou a beneficiar o conjunto da população dos países produtores.
o Em alguns casos houve uma rápida modernização do país - isto é, urbanização, industrialização e adoção de valores e hábitos "modernos", tais como intenso uso de jeans e outras vestimentas ocidentais, de fastfood, automóveis, etc. - como no Irã e na Venezuela, mas foi um desenvolvimento econômico subordinado aos países capitalistas desenvolvidos, com maior penetração de empresas estrangeiras principalmente no setor industrial, tecnologia importada (e, portanto, sempre dependente do exterior), etc. Em outros casos, como no Iraque e também no Irã, grande parte dos ganhos foi despendida em armamentos e na reconstrução das perdas de guerra. E na Arábia Saudita, onde os recursos adquiridos foram maiores, houve tanto aplicações no exterior, beneficiando somente uma elite, como investimentos duvidosos no próprio país: através da modernização agrícola e do uso da água subterrânea para irrigação no deserto, a agricultura saudita teve um acréscimo de 1500% nos anos 80, o maior do mundo; só que esse recurso fundamental ao país, a água de lençóis artesianos, deverá se esgotar no máximo até o ano 2020, algo que compromete o futuro dessa modernização agrícola.
De fato, o substancial aumento da renda per capita verificado nos países exportadores de petróleo, que foi substancial até 1981 (e vem declinando desde então), acabou não correspondendo a uma sensível melhora da qualidade de vida, do nível cultural ou dos salários reais da maioria da população. As estruturas sociais, com violentas desigualdades, não se alteraram; pelo contrário, em geral até se reforçaram.
Todavia, existem enormes diferenças entre os países exportadores de petróleo. Na Venezuela, por exemplo, desde os anos 70 se verifica uma melhoria do padrão de vida da população, até mesmo da classe trabalhadora, a ponto de atrair imigrantes de praticamente todo o restante da América do Sul; só que o aumento da dívida externa e as quedas nos preços do petróleo criaram uma nova crise nesse país, no final dos anos 80. E alguns países árabes de elevada renda per capita, como o Kuwait, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita, investiram razoavelmente na saúde e na educação elementar e média, praticamente eliminando a mendicância e a pobreza absoluta antes existentes. Mas essa pobreza continua a existir nas massas de trabalhadores imigrantes que foram para esses países nos anos 70 e 80, criando assim um abismo entre os operários nacionais, que têm mais direitos sociais, e os estrangeiros, que são discriminados e ganham bem menos.
Por outro lado, a regra geral nesses países árabes é a extrema concentração das riquezas nas mãos de duas ou três famílias importantes. Muitas vezes o poder político é privilégio da família do governante principal: seu primo ou seu cunhado é ministro da economia, o irmão controla o exército, o sogro é presidente do Banco Central, o outro irmão ou primo é o chefe da polícia, e assim por diante. O Estado nacional é quase uma imensa fazenda, com uma concentração da riqueza e do poder político que dificilmente encontra paralelo no restante do mundo. Atualmente essas nações ainda contam com sensíveis ganhos vindos do petróleo, mas estarão despreparadas para sobreviver quando o petróleo se esgotar. Grande parte do que foi obtido com as exportações encontra-se investida, em nome de poucos, em ações ou propriedades no Primeiro Mundo.

* "Sete Irmãs": nome que se dá às grandes empresas petrolíferas: Exxon (Standard Oil of New Jersey), Royal DutchShell, Gulf Oil Company, Texaco, Mobil, Standard Oil of Califomia e British Petroleum. O termo irmãs é utilizado pelo fato de tais empresas não concorrerem muito umas com as outras, entrando sempre em acordo sobre os aumentos de preços e os locais onde cada uma vai atuar mais intensamente.
** Conglomerados: grupos de empresas diversificadas cujo controle acionário pertence aos mesmos proprietários. Assim, uma grande indústria acaba adquirindo um banco, ou vice-versa, uma indústria de outro ramo, uma empresa de seguros, uma cadeia de supermercados e assim sucessivamente, constituindo conglomerados. As "Sete Irmãs" do petróleo vêmse diversificando não apenas em outros setores de atuação, mas principalmente no da energia, tendo já o controle de boa parcela das reservas mundiais de xisto betuminoso, carvão, areia asfáltica, urânio e tório, etc.


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