Agricultura no Brasil Industrial*

A agropecuária emprega cerca de 24% da população ativa nacional e participa com menos de 10% na formação do produto interno bruto (PIB) do país. Desde a década de 30, sua importância no interior da economia brasileira vem decaindo constantemente.
No pós-guerra, os dois saltos industriais registrados no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e nos anos do chamado "milagre brasileiro" (1968-1973) transformaram definitivamente a economia, consagrando a supremacia do setor urbano-industrial sobre o setor agrícola.
A urbanização e a industrialização do país não apenas reduziram a importância do setor agrícola. Esse processo de modernização subordinou a agropecuária às necessidades do capital urbano-industrial, definindo novas funções para a economia rural no interior da economia nacional. Atualmente, a agricultura funciona como retaguarda do crescimento do setor industrial e financeiro.
A economia rural transformou-se, antes de tudo, em fornecedora de matérias primas para as indústrias. As culturas agrícolas que conheceram um maior desenvolvimento foram justamente aquelas voltadas para a produção de insumos industriais, enquanto as culturas tradicionais de alimentos básicos viviam um longo período de estagnação. A alta lucratividade da produção de insumos agroindustriais atraiu capitais e investimentos para culturas como as da laranja (cítricos), soja (óleos vegetais) e cana (açúcar e álcool combustível).
A economia rural tornou-se, além de fornecedora de insumos industriais, consumidora de mercadorias do setor industrial. À medida que se voltava para as necessidades da economia urbana, a agricultura modernizava a sua base técnica, incorporando tratores, arados mecânicos, colhedeiras e semeadeiras, adubos, fertilizantes e pesticidas. Com isso, ela alargou o mercado de consumo dos produtos fabricados pelas indústrias de máquinas agrícolas e pelas indústrias químicas. Nas duas pontas - na saída e na entrada de mercadorias - a economia agrícola integrou-se à economia industrial.
A modernização da base técnica indica um processo de capitalização da agricultura que diferencia cada vez mais os produtores rurais empresariais dos produtores rurais familiares. Assim, os primeiros ingressam em um nível de produtividade e lucros mais elevados, enquanto os segundos continuam atolados no círculo vicioso que conduz das técnicas arcaicas à baixa produtividade, desta aos baixos lucros e destes à ausência de capital para a aquisição de tecnologias.
Esse mesmo processo de modernização implicou na crescente mecanização das atividades agrícolas, especialmente no Centro-Sul do país. Em conseqüência, ocorreu intensa liberação de trabalhadores, expelidos da agropecuária e forçados a procurar ocupação na indústria e nos serviços. Desse modo, a economia rural comportou-se como fonte de força de trabalho para a economia urbana.
Nas duas últimas décadas, o Brasil empreendeu um esforço exportador, direcionado para a conquista de saldos comerciais positivos e crescentes. Essa é uma outra função crucial que o Brasil rural cumpriu: a de gerador de divisas. A riqueza oriunda das exportações acaba revertendo em benefício do setor urbano, tanto na importação de maquinaria para as fábricas como no pagamento de juros e serviços da dívida externa contraídos precisamente para o desenvolvimento industrial.
Há três décadas, as exportações agrícolas concentravam-se no café. Muito atrás, vinham produtos como o açúcar, o algodão e o cacau. Atualmente, as exportações cresceram vertiginosamente e se diversificaram. Produtos como a soja, a laranja, o fumo e as carnes de aves juntaram-se ao café como itens exportados de grande peso. Isso significa que o mercado externo absorveu uma parcela considerável do aumento da produção de insumos industriais. A modernização da agricultura brasileira está, portanto, orientada pelo binômio industrialização-exportação.
Nas duas últimas décadas, a produção per capita de alimentos básicos como o arroz, o feijão e a mandioca retrocedeu consideravelmente. O baixo poder aquisitivo da população torna pouco lucrativa a produção de alimentos para o mercado interno, levando os agricultores empresariais a se dedicarem à produção de matérias-primas industriais e produtos de exportação. Cada vez mais, as culturas alimentares tornam-se um (mau) negócio dos camponeses familiares.
O poder aquisitivo limitado do mercado consumidor representa um obstáculo decisivo para o desenvolvimento da pecuária de corte e de laticínios. A produção de carne per capita também conheceu importante declínio. A produção de leite aumentou na década de 70 mas estagnou na década de 80, mesmo com a continuidade do movimento de urbanização que normalmente deveria ampliar muito o mercado para os laticínios (manteiga, queijo, iogurte etc.). Enquanto o Brasil produz cerca de 90 litros de leite por habitante, a Comunidade Européia tem uma produção nove vezes maior: 810 litros por habitante! A pobreza urbana sabota o desenvolvimento rural.

Á produção capitalista caracteriza-se pelo predomínio do trabalho assalariado. O desenvolvimento da economia urbana transformou quase todos os trabalhadores em assalariados, eliminando pouco a pouco as antigas e precárias manufaturas domésticas, onde os produtores trabalhavam em sistema familiar e vendiam as suas mercadorias para os consumidores. Nas grandes cidades brasileiras, subsistem algumas fábricas domésticas de tecidos, pequenas vendas e empórios familiares; são sinais de uma época que já terminou.
No campo tudo se passa de maneira diferente. O desenvolvimento capitalista não eliminou a produção camponesa familiar. De uma força de
trabalho agrícola total que gira em torno de 17,5 milhões de pessoas, mais de 11 milhões participam de unidades familiares de produção.
O sistema familiar de produção agrícola não foi dissolvido pela modernização da economia brasileira, mas foi subordinado e integrado às necessidades do capital urbano e industrial e da agricultura empresarial.
A produção agrícola dos camponeses familiares está voltada, principalmente, para as culturas alimentares de mercado interno (arroz, feijão, mandioca, milho, legumes). A estagnação dessas produções é um reflexo do fato de terem se tornado "culturas de subsistência", não interessando aos empresários agrícolas.
Os camponeses familiares normalmente dispõem de estabelecimentos agrícolas reduzidos, com menos de 50 hectares, incapazes de prover integralmente o seu sustento. Em conseqüência, freqüentemente uma parte da família precisa trabalhar em outros estabelecimentos durante uma parte do ano. Transformam-se então em assalariados temporários, ocupados nas colheitas das fazendas em regime de empreitada. Por isso, o sistema agrícola familiar representa um "viveiro de mão-de-obra" para a agropecuária empresarial.

A modernização e capitalização da economia rural está associada ao desenvolvimento urbano e industrial. No plano espacial, essa ligação se exprime através do preço da terra.
Nas áreas mais urbanizadas e industrializadas, o preço da terra agrícola é mais elevado, pois a proximidade dos mercados consumidores aumenta a concorrência pelo uso da terra.
A faixa litorânea úmida do Nordeste constitui um espaço singular, marcado pelo predomínio da agricultura comercial tradicional (plantations), organizada em torno de grandes propriedades e culturas tropicais. Em Pernambuco e Alagoas esse sistema de produção está combinado com a agroindústria canavieira, voltada para a produção de álcool e açúcar. Mais longe do litoral, nas zonas semi-áridas do Agreste, predomina a pequena produção camponesa de tipo familiar.
As regiões interiores, distantes dos centros urbanos e industriais e, portanto, dos mercados consumidores, apresentam preços da terra muito menores.
O Centro-Sul e o Nordeste são pólos de onde partem fluxos migratórios em direção às fronteiras agrícolas. Trata-se de excedentes populacionais expulsos da economia rural dessas áreas, os quais se instalam em terras distantes como posseiros ou pequenos proprietários.
Os fluxos migratórios que deixam o Nordeste refletem a estagnação econômica regional, marcada pelo domínio do latifúndio e pela fragmentação intensa das propriedades camponesas. Em geral, estabelecem-se como posseiros na Amazônia oriental.
Os fluxos migratórios que deixam São Paulo e os estados do Sul (acima) refletem as conseqüências da modernização da economia rural regional. A valorização das terras provoca mecanização e concentração fundiária, expulsando os sitiantes, pequenos camponeses e assalariados rurais. As rodovias de integração que cortam o Centro-Oeste na direção da Amazônia orientam as migrações.

A economia rural da Região Sul, diversificada e complexa, está na base de um conglomerado de indústrias de alimentos, óleos vegetais, fumo, carnes e têxteis.
O norte do Paraná (ocupado há meio século com a chegada do café e a derrubada das matas tropicais) foi um espaço de expansão da agricultura paulista. Nas últimas décadas, o avanço da soja e do milho produziram mudanças radicais em sua organização agrária. A mecanização liberou mão-de-obra e aquela área transformou-se em pólo de expulsão de migrantes que se dirigem para as cidades ou para as fronteiras agrícolas amazônicas.
No outro extremo, a Campanha Gaúcha modernizou a sua tradicional pecuária extensiva de bovinos e ovinos, enquanto se multiplicavam os frigoríficos e centros de abate. Na Serra Gaúcha concentra-se a principal região vinícola do país, centralizada nos municípios de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi.
O domínio da pequena propriedade materializa a subordinação do camponês ao mundo urbano e industrial. O produtor rural familiar depende de financiamentos bancários para modernizara produção, adquirindo máquinas, sementes selecionadas, adubos e pesticidas. Consome das indústrias todos esses insumos para a produção agrícola e fornece para outras indústrias as matérias-primas de que elas necessitam. Compra a preços elevados e vende a preços aviltados pois compete com um grande número de agricultores familiares e faz negócios com oligopólios industriais. Está ilhado pelo oceano da economia industrial capitalista e funciona como uma das suas engrenagens mais frágeis.

  1. Algodão – um dos primeiros produtos a serem introduzidos no país, cultivado principalmente em São Paulo e Norte do Paraná, associado com o café.
  2. Arroz – Alimento de consumo generalizado, plantado em todos os estados, mas com destaque para o Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina.
  3. Cacau – Originário da Amazônia, cultivado principalmente no Sul da Bahia e Espírito Santo, voltado principalmente para a exportação.
  4. Café - O país é o maior exportador mundial do produto. Os maiores produtores nacionais: MG, ES e SP.
  5. Cana de açúcar – Introduzida no país durante a colonização, atualmente o produto é também exportado, sendo os principais produtores SP, MG, PE.
  6. Feijão – Presença destacada na dieta da população. Cultivado atualmente em todo o país, com destaque para o PR, SP, MG, BA.
  7. Milho – De grande difusão no Brasil, é nativo da América, o país mantém o terceiro lugar na produção mundial. Grandes produtores: PR, RS, MG, SP, SC.
  8. Soja – De grande procura no mercado internacional, devido a sua diversidade de usos, o país é um grande produtor mundial, com destaque para o RS, PR, MT, GO, MG, SP.
    Os rebanhos brasileiros são compostos por Bovinos, Suínos, Ovinos e Aves, estas também destinadas a exportação.

A tendência a monocultura em muitas regiões do país acentua a sazonalidade do trabalho agrícola, pois não há colheita em todas as épocas do ano. Outro fator associado a redução dos postos de trabalho no campo tem sido a política de comércio exterior. Devido às alíquotas de importação agrícola serem baixas, torna-se mais vantajoso importar matérias primas, que favorecer a produção interna. Esse processo eliminou um número considerável de postos de trabalho.

Apesar da modernização, as relações de trabalho continuam as tradicionais. Vemos abaixo:

 

Fonte:

  1. Moreira, Igor. O espaço Geográfico – Geo Geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2001
  2. Magnoli, Demétrio. A nova Geografia – Estudos de Geo do Brasil. São Paulo: Moderna, 1994.

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