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2.
ASPECTOS BIOLÓGICOS 2.1
Plâncton
Pertencem
ao plâncton os organismos que flutuam ou vivem suspensos a mercê dos
movimentos das águas, sem locomoção própria suficientemente forte
para dirigir seus movimentos. Geralmente são organismos pequenos, a
maioria microscópicos. O plâncton composto por vegetais recebe o nome
de fitoplâncton e o que é formado por animais se denomina zooplâncton.
Nos
viveiros de cultivo, o fitoplâncton está representado principalmente
por algas diatomáceas, cianofíceas, dinoflagelados, euglenofíceas e
clorofíceas, enquanto que no zooplâncton estão presentes copépodos,
protozoários, cladóceros, ostracodas, rotíferos, e formas larvais de
vários tipos de animais.
O fitoplâncton é a base da cadeia trófica do viveiro, ou seja,
são os organismos produtores.
Já o zooplâncton, do ponto de vista trófico é formado por
consumidores primários
(herbívoros)
e consumidores secundário.
2.2
Bentos
São
os organismos que vivem sobre o fundo dos viveiros lagos ou rios.
Caracteriza-se por ser muito rico em formas e espécies, sendo
representado por praticamente todos os filos, a maioria invertebrados. A
fauna bentônica pode constituir a epifauna
(ou epipsamon, animais que vivem sobre o sedimento) ou a infauna
(ou endopsamon, animais
que vivem no ambiente intersticial).
Em
locais onde a profundidade é baixa, e a luz solar penetra até o fundo
do viveiro, forma-se o fitobentos,
importante produtor primário, e componente da alimentação dos camarões
e de outros consumidores. 2.4
nécton São
os organismos que nadam livremente pela água por possuírem um sistema
de locomoção eficiente. São organismos nectônicos os peixes, e crustáceos
como os camarões, além de invertebrados como os insetos e algumas
formas larvais. 2.5
neuston São
os organismos que nadam ou caminham sobre a lâmina d’água. A maioria
são insetos. Podem, ser chamados de infraneuston, quando os organismos
constituintes flutuam contra a camada interna da lâmina d’água.
2.6
Seston Termo
recentemente adotado, se refere a mistura heterogênea de organismos
vivos e não-viventes que flutuam sobre as águas. 2.7
Perifíton São
organismos vegetais ou animais que aderem aos talos e folhas de plantas
com raízes presas ao fundo. Têm grande importância na produção primária,
por isso seu crescimento, limitado pelo espaço físico disponível, é
estimulado através do uso de substratos artificiais. 2.7.1
Substratos Verticais Artificiais
Têm
como objetivo
incrementar o desenvolvimento de alimento natural, reduzindo, desta
maneira, o uso de ração, favorecendo a manutenção da qualidade da água
e redução nos custos de produção. São especialmente utilizados em
sistemas de berçários. Camarões
juvenis demonstram uma forte preferência para superfícies
bentônicas. A competição por alimentos e espaço de descanso e
alimentação leva a grandes disparidades e canibalismo de animais
menores pelos maiores. Estas
estruturas satisfazem
a tendência natural do camarão de procurar superfícies para se
alimentar bem como para proteção.
Existem vários tipos de substratos artificiais, alguns
produzidos e vendidos comercialmente. Um meio simples e eficaz consiste
em telas de cerca de um metro de altura, a cerca de 10 cm do fundo do
viveiro, fixas por um sistema de estacas. Devem representar cerca de 10%
ou mais da área total do viveiro. 2.8
Bactérias As
bactérias tem grande importância na carcinicultura, seja como agente
patógeno, como probiótico, ou mesmo como biorreator no ciclo do nitrogênio. Os
camarões cultivados excretam amônia, que pode tornar-se tóxica em níveis
elevados. Entretanto, a amônia pode ser utilizada por bactérias
heterotróficas, que também podem usar o nitrogênio em compostos orgânicos,
como a ração não ingerida e os excrementos, levando a uma regeneração
do amônio. A amônia excretada pelas espécies cultivadas e
regenerada pelas bactérias heterotróficas pode também ser utilizada
pelas bactérias nitrificadoras. Estas bactérias oxidam amônia em
nitrito, que pode tornar-se tóxico em níveis elevados, e,
finalmente, em nitrato, que pór sua vez pode ser utilizado por
organismos heterotróficos. Além
disso, foram desenvolvidas técnicas para o uso
de bactérias benéficas (probióticos) para afastar patógenos através
de processos naturais. As bactérias probióticas inibem o crescimento
de patógenos através da excreção de compostos antimicrobianos (na
verdade, a grande maioria das bactérias excreta compostos
antimicrobianos, porém as probióticas não afetam a produção de
camarão, além de competir com os patógenos). Seu efeito porém é
muito diferente do causado pelo uso de antibióticos adicionados a ração
animal, pois eles também competem diretamente por comida e espaço. Os
vibrios que são resistentes à antibióticos podem facilmente tornar-se
dominantes no intestino, quando seus competidores são removidos pelos
antibióticos no alimento. Porém com o uso de probióticos eles têm
também que competir por comida. 2.9
Enfermidades na carcinocultura Nas
últimas décadas, as doenças tiveram um efeito devastador no cultivo
de camarão marinho, causando o colapso na produção de grandes países
produtores. Apesar de algumas destas doenças ocorrerem habitualmente em
fazendas de cultivo no Brasil, seu impacto econômico não é
considerado expressivo quando comparado a outros países. Contudo, estas
infecções afetam consideravelmente o desempenho dos cultivos e causam
alterações na aparência física dos camarões e conseqüentemente na
qualidade do produto final. A
atividade da carcinocultura, por sinal uma monocultura, sob uma análise
do ponto de vista ecológico, representa uma imensa concentração de
energia em um nível trófico. Um ambientes assim desequilibrado, é
altamente susceptível a patógenos oportunistas, que estão
constantemente sendo selecionados pelo uso de antibióticos e
esterilizantes, evoluindo silenciosamente para surgir em surtos e
epidemias. Dentre
as mais importantes doenças, estão: -
IHHNV (Infecção Viral na Hipoderme e Necrose do Tecido Hematopoético)
Foi
inicialmente observado em 1980 no Havaí, em populações cultivadas do Litopenaeus
stylirostris. O IHHNV apresenta como principais sinais clínicos
deformidades no rostrum, flagelo antenal enrugado, deformidades
cuticulares e taxa de crescimento reduzida. No Litopenaeus
vannamei, o IHHNV pode se manifestar através de animais nanicos
com deformidades ao longo do corpo (RDS, “Runt Deformity Syndrome”).
A transmissão do IHHNV pode ser vertical, durante o desenvolvimento
embrionário, ou horizontal, através da ingestão de tecido infectado
com o vírus e contato com água ou equipamentos contaminados. Não
existe tratamento disponível para erradicação do IHHNV. Seu controle
se dá através da aquisição de pós-larvas de boa procedência. Está
presente no Brasil (NUNES, A. J. P., MARTINS, P. C., 2002). -
TSV (Vírus da Síndrome de Taura) Desde
1992 o TSV já se manifestava em fazendas de camarão marinho no
Equador, onde inicialmente se achava que a causa era o uso de fungicidas
e pesticidas utilizados em plantações de banana. Contudo em 1994, um vírus
foi identificado como sendo o agente causador da Síndrome de Taura,
responsável pelo colapso da indústria Equatoriana em 1993. Este vírus
apresenta em sua fase aguda, camarões avermelhados em função da
expansão de cromatóforos. Os camarões moribundos não conseguem
completar o processo de muda, morrendo com o exoesqueleto ainda mole. Na
fase aguda, as mortalidades geralmente ocorrem entre 15 e 45 dias após
a estocagem de pós-larvas no viveiro. A taxa diária de mortalidade
pode alcançar 25%, restando no final entre 5% e 25% de sobreviventes.
Na fase crônica da doença, os camarões conseguem sobreviver a muda,
podendo apresentar comportamento ativo e alimentar-se normalmente. Neste
estágio, os indivíduos infectados apresentam lesões e melanizações
na cutícula, podendo sucumbir nos ciclos de muda subseqüentes. Algumas
vezes apresentam cutícula mole e expansão avermelhada dos cromatóforos.
Transmissão e controle semelhante ao IHHNV. Está presente no Brasil
(NUNES, A. J. P., MARTINS, P. C., 2002). -
WSSV (Vírus da Mancha Branca) Os
primeiros relatos da ocorrência do WSSV ocorreram entre os anos de 1992
e 1993 em países do Nordeste asiático. A partir de então, o WSSV
dispersou-se muito rapidamente nas principais regiões produtoras de
camarão da Ásia. Em 1999, foi detectada a ocorrência do WSSV em
diferentes países da América Central, inicialmente em Honduras e na
Nicarágua e logo em seguida no Panamá e Equador. O diagnóstico do
WSSV para as espécies asiáticas baseia-se em sinais macroscópicos,
como a presença de manchas brancas cuticulares sobre o exoesqueleto.
Estas manchas podem ser facilmente observadas a olho nu em casos mais
avançados e são mais evidentes no Penaeus monodon devido
a sua típica coloração escura. As manchas são depósitos excessivos
de sais de cálcio na epiderme cuticular No
Litopenaeus vannamei o aparecimento de manchas brancas
cuticulares pode não ocorrer ou não ser facilmente vistas a olho nu.
Os sintomas da Mancha Branca se manifestam até que os camarões tenham
atingido PL20 - PL21. Os principais sintomas da infecção são: (a)
camarões letárgicos, exibindo um nado lento na superfície; (b) baixo
consumo alimentar; (c) corpo com uma coloração rosada a
pardo-avermelhado; (d) cauda vermelha associada à expansão de cromatóforos
(condição similar àquela causada pelo TSV); (e) mortalidade de até
100% nos primeiros 3 a 10 dias após a exibição dos sinais clínicos;
(f) morte de camarões no fundo dos viveiros, e; (g) manchas brancas de
0,5 mm a 2,0 mm de diâmetro no interior da superfície do exoesqueleto,
resultante de um depósito anormal de sais de cálcio. Até hoje, não há
relatos da presença do WSSV no Brasil (NUNES, A. J. P., MARTINS, P. C.,
2002). -
NHP (Hepatopancreatite Necrosante) O
NHP é causado por bactérias gram-negativas e intracelulares, do grupo
das Ricktesia que atacam o hepatopâncreas. Inicialmente, os
camarões afetados pelo NHP podem apresentar um quadro clínico sem
sintomas evidentes (assintomático). Em seguida, os camarões cessam a
alimentação e o crescimento, exibindo um exoesqueleto amolecido. O
trato digestivo apresenta-se sempre vazio com brânquias descoloradas e
visíveis alterações no hepatopâncreas (esbranquiçado, reduzido e túbulos
lesionados). O NHP aparentemente não ocorre em salinidades inferiores a
10 ppt. O NHP pode ocorrer em camarões cultivados no Brasil (NUNES, A.
J. P., MARTINS, P. C., 2002). -
Vibrioses Surtos
de vibrioses são geralmente causados por um desequilíbrio na população
das bactérias do gênero Vibrio que se encontram naturalmente
nos ecossistemas estuarino e marinho. As vibrioses são classificadas
como infecções secundárias e oportunistas, atacando todos os estágios
de vida do camarão (larval, pós-larval, juvenil e adulta). Problemas
com vibriose ocorrem quando condições de estresse surgem no sistema de
cultivo, tais como: (a) queda de oxigênio; (b) densidade de estocagem
excessiva; (c) manuseio inapropriado do estoque; (d) lesões na cutícula
dos camarões; (e) subalimentação; e, (f) altas concentrações de
compostos nitrogenados no ambiente de cultivo. O processo de infecção
da vibriose pode ser cuticular, entérico (intestinal) e sistêmico
(envolvendo vários órgãos). Quando localizada, apresenta lesões
melanizadas na carapaça e (ou) abscessos pontuais no hepatopâncreas.
Na vibriose crônica, camarões mortos ou moribundos podem ser
canibalizados, rapidamente contaminando outros indivíduos na população
(NUNES, A. J. P., MARTINS, P. C., 2002).
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