Os 200 anos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Alexandre Figueiredo

No dia 13 de junho, um dos pontos turísticos do Rio de Janeiro completa 200 anos. Não se fala, evidentemente, em pontos naturais como o Pão de Açúcar e o Morro do Corcovado, nem na estátua imponente do Cristo Redentor, que por sinal surgiu em 1931. Trata-se do Jardim Botânico, uma área verde localizada na Zona Sul e que deu origem tanto ao bairro homônimo quanto à principal rua de acesso, também com o mesmo nome.

É considerado um dos dez mais importantes jardins botânicos existentes no mundo. O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é considerado um patrimônio ecológico, tornando-se referência para os outros jardins botânicos existentes no Brasil. No entanto, o jardim, inaugurado em 1808 pela família Real, teve uma origem curiosa.

O jardim nasceu, curiosamente, de uma fábrica de pólvora por Dom João VI, numa área onde funcionava o Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, da família do capitão português Rodrigo de Melo Castro Freitas (cujo nome foi homenageado pela renomeação da lagoa que se situa até hoje no local). Antes dessa construção, a região era conhecida pela presença dos índios tupinambás. O engenho, por sua vez, existia na área desde 1576.

Em 13 de junho de 1808, Dom João decretou a desapropriação do engenho para a construção da fábrica e, três anos depois, desapropriou também as benfeitorias localizadas em suas adjacências. No entorno da fábrica, Dom João plantou um jardim para aclimatar as especiarias que vinham do Oriente, daí o seu primeiro nome, Jardim da Aclimatação. Em seguida, o lugar mudou sua denominação para Real Horto ou Horto Real, dirigido inicialmente por João Gomes da Silveira Mendonça, o Marquês de Sabará, também diretor da fábrica.

A Real Fábrica de Pólvora ali instalada tinha a finalidade de produzir e armazenar explosivos para defesa contra possíveis inimigos de Portugal e do Brasil. Com as sucessivas explosões que acidentalmente ocorreram na fábrica, ela foi transferida, em 1831, para Petrópolis, na região serrana fluminense.

Em 1809, Dom João plantou várias palmeiras que havia recebido de presente do amigo Luiz de Abreu Vieira e Silva, que havia extraído de um jardim, La Plampemousse, nas Ilhas Maurício. Outras espécies de palmeira foram trazidas da América Central e das Antilhas e recebeu o nome de Palma Mater. O primeiro exemplar desta espécie plantado por Dom João acabou destruído por um raio durante uma tempestade que atingiu o Rio de Janeiro, em 1972.

Também foram trazidas mudas de plantas e frutas de outras partes do mundo, como a mangueira e a jaqueira, originárias da Ásia, e o abacateiro, originário do México e da América Central. Nos viveiros também existiam mudas de cânfora, nogueira, jaqueira, cravo-da-índia e outras plantas originárias da Ásia.

Mas Dom João - que, numa visita ao engenho em 1809, foi acolhido por um protesto obsceno de escravos - desejava assumir o monopólio do cultivo de chá, na medida em que a Inglaterra, que tinha no chá seu produto mais típico, estava proibida de exportar quaisquer produtos, por determinação de Napoleão Bonaparte, imperador da França, país então inimigo da Inglaterra.

Para cultivar o chá, Dom João decidiu iniciar os trabalhos de cultivo em 1811, chamando 300 chineses para realizar a atividade. Mas a plantação não deu o resultado esperado e os trabalhadores chineses acabaram fumando ópio. No ano anterior, foi contratado o botânico alemão Kancke para como diretor das culturas das plantas exóticas dos Jardins e “Quintas Reais”. Seis anos depois, outro botânico, Karl Friedrich Phillip Von Martius e o zoólogo Jean Baptiste Von Spix, integrantes de uma missão austríaco-alemã que desembarcou no Rio de Janeiro em 1817 para fazer casar a princesa Leopoldina com Dom Pedro I, realizaram muitos estudos sobre a flora e a fauna do Jardim Botânico que resultaram no livro Reise in Brasilien ("Viagem pelo Brasil"), além do projeto Flora Brasiliensis que depois foi continuado pelos colaboradores de Von Martius. Viagem pelo Brasil relata as experiências de Von Martius e Von Spix entre 1817 e 1820, e foi publicado originalmente em 1831.

Em 1822, o jardim foi aberto à visitação pública. Seu nome então foi mudado para Real Jardim Botânico. Nesta época seu diretor foi o Frei Leandro do Nascimento, professor e pesquisador de flora botânica. Frei Leandro realizou várias melhorias no jardim, organizando catálogos de várias planta e orientando as alamedas de mangueiras, nogueiras, jaqueiras e outras árvores.

Atualmente, existem no Jardim Botânico árvores nativas e de espécies notáveis como o Ipê, Andiroba, Jequitibá, Palmeira-imperial, Pau-Brasil, Pau-Mulato, Serigueira, Sumaúma, Vitória-régia, entre outras. Existem também espécies da fauna típica das florestas tropicais incluindo aves, insetos, mamíferos, como caxinguelês, bichos-preguiça, macacos-prego, gambás e micos-estrela. Além disso, o Jardim Botânico guarda um acervo informatizado com mais de 450.000 espécies botânicas, várias delas espécies vindas de outras partes do mundo, há 200 anos, e que foram aclimatadas.

Ao longo desses dois séculos, o Jardim Botânico tem sido visitado por pessoas comuns e também por autoridades e personalidades diversas. Destacam-se, por exemplo, a Rainha Elizabeth da Inglaterra e o cientista Albert Einstein como seus ilustres visitantes.

O Jardim Botânico foi tombado pelo então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN), devido ao seu valor histórico, cultural e paisagístico. E ainda, pelos critérios mais recentes de patrimônio histórico, em que o aspecto ambiental ganha especial atenção nesses tempos de aquecimento global, o Jardim Botânico também apresenta esse valor. Em 1991, a UNESCO classificou o Jardim Botânico como Reserva de Biosfera da Mata Atlântica.

O patrimônio arquitetônico do Jardim Botânico inclui, entre outras edificações, a sede do Engenho Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, construída em 1596 e considerada a mais antiga edificação da Zona Sul carioca, e que abriga atualmente o Centro de Visitantes; o Museu Sítio-Arqueológico Casa dos Pilões, cujo prédio fez parte do complexo da Fábrica de Pólvora; o Portal da Antiga Academia de Belas Artes, projeto criado por Grandjean de Montigny, em 1821; o Solar da Imperatriz, construído em 1750, onde atualmente funciona a Escola Nacional de Botânica Tropical; e a Ruína da Fábrica de Pólvora; o Aqueduto da Levada e Casa Pacheco Leão, esta última uma construção do final do século XX.

FONTES: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico (RJ), Memória Bravo Brasil, Riotur, Wikipedia, Museu da Pessoa, Ciência Hoje On Line.

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